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- Maria João Pires – A Arte como Partilha de Ideias
Uma imagem vale por mil palavras, e um trecho de música também. Maria João Pires de certeza sabe disso. "Temos tantas emergências com que lidar na nossa sociedade nos dias de hoje, assuntos como o colapso da família, desastres ambientais", afirma. "Temos que nos perguntar: 'Como é que a maneira como fazemos música pode ser mudada, para ajudar as pessoas a enfrentar estas coisas?" Citação traduzida do inglês, copiada daqui: Maria João Pires: 10 facts about the great pianist - Classic FM (nº 10) Conhecida mundialmente pelas suas interpretações de compositores como Mozart, Schubert e Chopin, já colaborou com numerosos músicos de renome como Martha Argerich, Claudio Abbado, Daniel Barenboim, Augustin Dumay, entre outros, para além de inúmeras orquestras como, por exemplo, a Berliner Philarmoniker, a Boston Symphony Orchestra, a London Philharmonic e a Orchestre de Paris. A sua gravação dos Noturnos de Chopin já foi descrita pela magazine da sua gravadora, Deutsche Grammophon, como a melhor versão disponível, e não é de admirar: as suas gravações maravilhosas com a Deutsche Grammophon do repertório deste compositor nunca deixam a desejar. Desde os Prelúdios, op. 28, até ao 1º Concerto para Piano e Orquestra, a delicadeza e profundidade com que ela interpreta é incomparável, já para não falar do seu fraseado incrível. Em suma, não admira que tenha dado o seu primeiro recital aos cinco anos de idade. Nascida em Lisboa no dia 23 de julho de 1944, Maria João Pires não só deu o seu primeiro recital aos 5 anos como tocou publicamente concertos de Mozart aos 7. Iniciou os seus estudos de música e piano com Campos Coelho e Francine Benoît, continuando mais tarde na Alemanha, com Rosl Schmid e Karl Engel. Tudo isto levaria ao primeiro marco na sua carreira, que iria revolucionar o seu reconhecimento e apreciação para sempre: o Concurso do Bicentenário de Beethoven. Realizado em Bruxelas, em 1970, teria esta pianista no primeiro lugar do pódio, que lhe trouxe fama internacional – e desde aí, a atenção em torno da pianista continuaria a disparar. Desde então, ela tem dedicado o seu tempo a explorar novas estratégias para desenvolver esta forma de pensamento na sociedade, ao mesmo tempo em que se concentra no impacto da arte na vida, na comunidade e na educação. Procura também novas abordagens que promovam o compartilhamento de ideias, respeitando a evolução das pessoas e civilizações. Depois do seu sucesso no concurso, realizou várias estreias, nomeadamente as de Londres (1986) e Nova Iorque (1989), ambas fortemente elogiadas pela imprensa. Ainda antes desta última estreia em Nova Iorque, em 1987, apresentou-se em Hamburgo, Paris e Amsterdão, por ocasião da digressão inaugural da Orquestra Juvenil Gustav Mahler, sob a direção do reconhecido maestro Claudio Abbado. Voltaria a trabalhar com este músico apenas um ano depois da sua estreia na Grande Maçã, ocasião esta que representaria a sua estreia no Festival de Salzburgo juntamente com a Orquestra Filarmónica de Viena. Foi a partir de 1989 que esta pianista, exímia e ativa intérprete de música de câmara, decidiu priorizar a sua colaboração com o violinista francês Augustin Dumay, com quem tinha realizado a sua estreia em Londres. Apresentar-se-iam principalmente em França, mas também em países como a Holanda, a Bélgica e a Suíça. Estes dois músicos deram também recitais no Japão em 1992 e 1994, este último sendo o ano em que Maria João Pires se viria a apresentar com a Orquestra Nacional de Lyon. Deu-se então um interregno nesta colaboração que deu lugar a uma digressão a solo pela Europa por parte da pianista, e o duo voltou a juntar-se depois desta, com o intuito de realizar concertos na Alemanha, na Jugoslávia e na Bélgica, no final de 1997. A este duo juntar-se-ia ainda o violoncelista chinês Jian Wang, formando assim um trio que realizou diversos concertos em França e empreendeu uma digressão a Espanha. Foi no meio de toda esta ação que se desenrolou o que até hoje é conhecido como um dos momentos mais caricatos e impressionantes na história da música clássica, em 1999, na companhia do maestro Riccardo Chailly. Deu-se em Amesterdão, num ensaio que estava previsto para a hora do almoço e como sendo um concerto livre, para além de ter sido previamente acordado que seria gravado para um documentário. Maria João Pires estava preparada para tocar, em frente a uma plateia cheia de ouvintes, o Concerto para Piano nº 9 de Mozart, mais conhecido por Jeunehomme, uma peça alegre e despreocupada. Mas o maestro, aparentemente também alegre e despreocupado e com uma toalha à volta do pescoço, ordena que a orquestra comece a tocar. A pianista entra em pânico. Não era o concerto nº 9 que ela ouvia. Era o inquietante e obscuro começo de outra peça completamente diferente – o Concerto para Piano nº 20 em Ré Menor. O maestro continua a dirigir a orquestra e não há nenhuma partitura que ela possa usar. Ela segura a própria cabeça em desespero. "Este concerto não é o que eu preparei", sussurra ela a Chailly. Chailly não para a orquestra e apenas lhe diz "mas tu conhece-lo, tocaste-o no ano passado. Confio na tua memória." Ele continua a fazer o seu trabalho e a pianista improvisa a introdução, até entrar, finalmente, numa versão irrepreensível da peça. Tudo de memória. Foi neste mesmo ano que ela decidiu pôr as suas ideias sobre a arte a influenciar a sociedade, comunicação e educação em prática, esta iniciativa culminando na criação do Centro de Artes de Belgais, situado em Belgais, Castelo Branco, um local para a plena implementação das suas conceções musicais e humanísticas. Neste espaço, as crianças recebiam educação não só sobre música mas também sobre outras artes e cidadania, criando assim a "utopia" de uma escola de artes. Para além disso, ao Centro vinham também artistas provenientes de todo o mundo para enriquecer os conhecimentos das crianças por meio de atividades como residências artísticas e workshops. No entanto, os resultados deste projeto ficaram bastante abaixo do esperado, o que fez Maria João Pires zangar-se com Portugal. E, para agravar ainda mais a situação, em Março de 2006 esteve sujeita a uma operação ao coração para a colocação de um "bypass", cirurgia que realizou em Espanha com sucesso e que levou a uma pausa na sua atividade profissional. Antes de sequer voltar aos palcos, Maria João Pires viria a anunciar que ia morar para o Brasil, declarando à Antena 2 e ao Aguarrás que tinha sofrido muito ao tentar implementar o seu projeto em Portugal. "Vim para o Brasil para me salvar dos malefícios que Portugal me estava a fazer. Sofri fisicamente todos os anos que dediquei àquele projeto e não consegui mais do que um início", afirmou a artista, que viria então a pedir a dupla nacionalidade, e não renunciar à nacionalidade portuguesa, como teria sido sugerido por boatos anteriores. Dizia ainda que "Não temos patrocinadores privados, nem provavelmente algum dia teremos, num país como Portugal que se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras nem por projetos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, respeito pelo ambiente, amizade e camaradagem", mais anunciando que tinha comprado uma casa no estado da Bahia, no Brasil, mais precisamente em Lauro de Freitas, município situado na Região Metropolitana de Salvador. Assim, o Centro de Artes de Belgais perdeu a sua fundadora em 2006, que, no entanto, ficou a cargo de Joana Pires, filha de Maria João Pires, e a pianista acabou por se oferecer para continuar a colaborar no projeto, apesar de não gostar de Portugal. No entanto, a nova gerência foi sol de pouca dura. O Centro fecharia apenas três anos mais tarde, em 2009, devido a dificuldades económicas. Maria João Pires acabaria por se mudar do Brasil para a Bélgica, e depois da Bélgica para a Suíça. Em 2010, apenas um ano depois do encerramento do projeto de Belgais, numa entrevista ao jornal Evening Standard, de Londres, a pianista declarou que "gostaria de se poder retirar". "Já toquei muito. Toquei durante 60 anos, e acho que é demais". Nesta mesma entrevista, mais declarou que ainda sentia "o mesmo entusiasmo pela música", que continuava a gostar de tocar, embora sentisse uma diferença para o que eram as suas performances de antigamente: "Eu não gosto de estar no palco - eu nunca gostei - mas uma coisa é não gostar, outra é não conseguir lidar com isso. Não estou a lidar bem com isso agora. Uma vez que começo a tocar, é o mesmo de antes, mas depois sinto-me muito mais cansada, porque é tão exigente - não física, mas psicologicamente". Apesar de tudo, Maria João Pires havia de regressar a Belgais 11 anos depois. Regressando a Portugal em 2017, a pianista decidiu depois tomar as rédeas do projeto outra vez. "A forma de se promoverem as artes está num impasse e tem que haver um lugar em que se experimentem novas formas que sejam úteis para as pessoas. Belgais é um laboratório. Há muitos no mundo e em Portugal, também. Sinto que posso e tenho a capacidade de colaborar com todas as pessoas que queiram encontrar soluções", afirmaria Maria João Pires em 2019, ao receber a Medalha de Mérito Cultural portuguesa. "Não estava de todo à espera. Fiquei surpreendida e fiquei muito feliz, na medida em que eu vejo um futuro para Belgais", declarou ainda nessa mesma ocasião. E a história de Maria João Pires ainda não acabou, porque apesar de se ter retirado de trabalhos mais cansativos, ainda atua em algumas ocasiões, especialmente fora de Portugal. Mas seja quantos mais concertos der, quantos mais prémios receber, quantos mais discos gravar, vai ter sempre um legado para passar à sociedade de hoje: que a música é unificadora. É humanística. É experimental. Mas mais do que isso, a música ensina-nos sobre a natureza, a arte, a palavra, a emoção. E há alguma coisa melhor do que isto para ensinar às gerações futuras? Abaixo, alguns discos importantes de sua carreira. Mariana Rosas Sou a Mariana, nasci em 2008 e sou de Ovar, Aveiro, Portugal. Toco piano desde os 8 anos. Gosto também de ler, desenhar, ouvir e compor música. Sou autora do blog Pianissimo, em que escrevo sobre variados temas relacionados com a música clássica e, por vezes, outros géneros de música. Os meus pianistas preferidos são Martha Argerich, Evgeny Kissin e Khatia Buniatishvili e o meu compositor preferido é Franz Liszt. Desde que comecei a tocar que sempre desejei tocar piano profissionalmente e no futuro pretendo ainda tornar-me compositora. Blog: https://pianissimo.ovar.info/ Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui: como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Vamos entender a Orquestra Sinfônica
Essa postagem está atrasada. Devemos urgentemente compreender como é uma orquestra. No sentido mais básico: que instrumentos a compõem. A orquestra sinfônica moderna - usamos a designação sinfônica para distinguir de uma orquestra de câmara - é um equipamento que foi evoluindo a partir dos consorts na música renascentista e barroca. No classicismo (Séc. XVIII) ela foi estabelecida como o conjunto padrão para execução de sinfonias e óperas. Mas no romantismo (Séc. XIX) ela ainda foi se dilatando, novos instrumentos sendo acrescentados e instrumentos preexistentes sendo aumentados em quantidade. Observe os dois conjuntos abaixo. O primeiro é uma orquestra sinfônica moderna (também chamada de orquestra sinfônica romântica, pois foi no romantismo que ela adquiriu as proporções de hoje). O segundo é um consort dedicado à execução de música medieval e renascentista. A organização, os instrumentos usados e a quantidade de instrumentos nos dão a diferença entre um conjunto de câmara e uma orquestra sinfônica. Vamos tomar um exemplo de sua evolução. Na época de Beethoven, os primeiros violinos podiam ser apenas 4 ou 6. Hoje são 14. Tocando a mesmíssima coisa. Daí temos mais 12 segundos violinos (que se comportam como um naipe à parte, tendo pouco a ver com os primeiros), 10 violas, 8 violoncelos e 6 contrabaixos. Isso, para que se toque hoje uma obra de Beethoven. Lembrando que o mesmo Beethoven, em 1800 tinha que se contentar com seus 4 primeiros violinos. Além disso, temos os sopros, que são divididos em 2 categorias: as madeiras (flautas, clarinetes, oboés e fagotes) e os metais (trompas, trompetes, trombones e tuba). Temos também as percussões, que são variadas, mas cujo principal instrumento são os tímpanos. São de dois a cinco tambores que formam a alma percussiva da orquestra. Os Instrumentos A orquestra atual se configura da seguinte maneira: 14 primeiros violinos; 12 segundos violinos; 10 violas; 8 violoncelos; 6 contrabaixos; 2-3 flautas; 2-3 oboés; 2-3 clarinetes; 2-3 fagotes; 4 trompas; 3 trompetes; 3 trombones; tuba e tímpanos. Além desses, temos os instrumentos ocasionais, pois o fato é que cada obra pede uma orquestra diferente: o corne inglês, o contrafagote, o clarinete baixo, o clarinete em mi bemol, o flautim, o piano, a celesta, as harpas e diversos instrumentos de percussão. Existem algumas formas de dispor, em uma meia-lua, em frente ao maestro, os instrumentos. Mais algumas dessas formas já estão mais consolidadas. Veja a seguir um cenário possível: Já no Século XX, ainda mais instrumentos foram se adicionando, como o saxofone, o theremin e outros, mas sempre como instrumentos ocasionais. Temos aqui um belo panorama do que é uma orquestra sinfônica. A organização O maestro e o diretor musical são as presenças mais fortes na orquestra. O primeiro violino, chamado Spalla (ele fica imediatamente à esquerda do regente), assim como o primeiro intrumentista de cada naipe tem sua importância, também. Eles podem ditar as articulações, as arcadas (se uma nota é atacada com a ponta do arco ou com a parte perto da mão) etc. Além disso, várias orquestras estão ligadas a sociedades filarmônicas, que são o que podemos chamar de patrocinadores. Não existe diferença entre Orquestra Sinfônia e Filarmônica. Muitas cidades, como Londres, Berlim e Viena, têm uma Sinfônica e uma Filarmônica. Hoje em dia é só para diferenciar uma da outra. Veja nessa postagem as mais importantes orquestras do nosso tempo. E aqui, aprenda um pouco sobre as orquestras que tentam resgatar a maneira de fazer e de tocar no período barroco e clássico. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui: como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- FEMINISTA DESSAS
Certo dia uma amiga postou algo no Instagram que me gerou a imediata reação de perguntar: "Tu vai ser uma dessas feministas?" Ela lacrou: "Sou dessas, daquelas..." O fato é que eu não quis dizer "Vai ser feminista?". E sim "Vai ser uma feminista dessas?" Destaque bem específico no dessas, porque me refiro a uma categoria específica de militante. Claro que sou a favor da militância, acho que ainda tem muita luta pra ser lutada. Eu só não contribuo mais porque sou antissocial, mas sou a pessoa mais veemente contra a homofobia, o machismo, o racismo e o fascismo. Deve estar pensando: mas é homem, o que saberá de feminismo? Alto lá. Todos nós temos uma vida pelas costas, de dores, de sofrimento. Uma coisa que eu sempre digo é: nunca diminua o sofrimento alheio, tampouco a validade de suas lutas. Ocorreu que tive um amigo muito próximo que, isso lá pra 2007, "olavou". O Olavo de Carvalho, para mim, ainda era só um doido que falava besteira - note, naquela época ainda não se fazia nem ideia do mal que o olavismo faria. Pois bem, inicialmente não rompemos, eu e meu amigo. Eu ficava até curioso com as acrobacias monumentais que ele tinha que fazer para manter um argumento. Pra gente, de fora, ficava óbvio que uma coisa que ele queria que fosse verdade só era "verdade" porque ele acreditava em outra "verdade". Coisa A fazia sentido porque Coisa B, validada por Coisa C, ia ajudando. Uma mentira sobre outra. Simples. Se uma fosse falsa, as outras cairiam, mas Olavo fez de um jeito que você nunca soubesse qual era a mentira original. A que calaria todas as outras. Voltando ao meu amigo. Eu ficava sabendo em primeira mão quais eram os argumentos que eles tinham. Vc acha que eles dizem "sou machista porque sou mal"? Não. É mais ou menos assim: "eu não sou machista, acho que os direitos deveriam ser iguais, mas vocês querem que a mulher fique acima do homem". Ou "Os gays podem ser gays, só não me obrigue a ter que explicar pro meu filho por que que tem dois homens se beijando na porta do prédio". Garanto eu que, como pai, já me vi na situação de ter que explicar para minha filha por que tem gente justamente que agride os LGBTQI+, como é que existem os olavistas, isso sim. Cheios de ódio e de remorso. Ela não compreendida. Mas tem atitudes que alimentam a mentira deles. No caso dessa amiga, se não me engano, o que me chateou foi que ela parecia ter saído por aí no Instagram procurando um indício de machismo pra gritar pra todo mundo "olha aqui! Detectei mais um! Fiz um print!". Mas não fica claro que, se baixar a tolerância rápido demais vai acabar por sufocar os machistas? Assim, se uma atitude levemente machista é denuncuada e o sujeito é cancelado, ele vai acreditar que é um machista escroto e via acabar debandando pro lado errado de vez. O que aconteceu com tentarmos educadametne explicar que tal atitude foi machista? Na verdade, olha o que aconteceu. Gente que nem era machista raiz, acabou vendo que seus amigos estavam encrencados e correu pra defender. E a coisa inchou, e inchou até que papocou. Outra coisa, se as feministas ficarem denunciando e cancelando atitudes machistas "leves" (digamos assim), o bolsomínion vai dizer: "Estão vendo? É uma ditadura do feminismo, não querem que a gente fale nada." Agora esses imbecis estão ganhando. E não digo que a culpa seja dela. A culpa é do filho da mãe que é machista. Toda. Mas a gente não pode ceder a eles nada, nada. Eles pegam qualquer migalha, centelha, ilusão de verdade e transformam em mentira. Eles vivem disso.
- Corrupião / Ode Aos Ratos - Argonautas Interpretam Edu Lobo
Essa faixa encerra nosso 3º disco, "Argonautas Interpretam Edu Lobo". Fundi - não, isso não soou bem... Fiz a fusão de dois baiões do Edu: Corrupião, instrumental e Ode aos Ratos, com letra do Chico Buarque. Veja as outras postagens sobre os Argonautas aqui. Ode aos Ratos (Edu Lobo e Chico Buarque) Rato de rua Irrequieta criatura Tribo em frenética proliferação Lúbrico, libidinoso transeunte Boca de estômago Atrás do seu quinhão Vão aos magotes A dar com um pau Levando o terror Do parking ao living Do shopping center ao léu Do cano de esgoto Pro topo do arranha-céu Rato de rua Aborígene do lodo Fuça gelada Couraça de sabão Quase risonho Profanador de tumba Sobrevivente À chacina e à lei do cão Saqueador da metrópole Tenaz roedor De toda esperança Estuporador da ilusão Ó meu semelhante Filho de Deus, meu irmão Heriberto Porto flauta Rafael Torres violão, voz e arranjo Ayrton Pessoa piano Ednar Pinho baixo Luiz Orsano percussão Gravado em 2019 no estúdio Trilha Sonora, Fortaleza, Ceará Produção: Rafael Torres Direção Artística: Rafael Torres Gravação: Hugo Lage e Luiz Orsano Mixagem e Masterização: Luiz Orsano
- Schumann - Estudos Sinfônicos - Análise
Mistura de Tema com Variações, Estudos e movimento de Sonata, esta peça, os Études Symphoniques, ou Estudos Sinfônicos são o Op. 13 de Robert Schumann, compostos entre 1834 e 1837. De fato, a obra começou como um Tema com Variações e passou por várias evoluções. Por Estudos Sinfônicos, entende-se que não são estudos como os de Chopin, que podem ser tocados separadamente (uma música tem pouco a ver com a anterior). Nos de Schumann, cada movimento é consequência do anterior. Entende-se também que são para orquestra, mas aí é que está: não são. São para piano. A palavra sinfônicos, então, nos dá a entender que a obra vai tratar de formar um organismo só, ter uma narrativa coesa. Abaixo, o magistral Sviatoslav Richter nos dá uma belíssima interpretação. Na primeira edição, vinha escrito "É obra de um amador". Schumann fazendo charminho. Porque ele já era um dos maiores gênios do seu período, o romantismo. Mas ele se referia ao tema original da obra, do Barão von Fricken (que estava para ser seu sogro, mas não foi), no qual a peça se baseia para fazer as 9 variações. Acontece que Schumann compôs 16 variações, mas só achou que ficava muito difícil: publicou estas 9. Anos depois de sua morte, seu amigo e dicípulo Johannes Brahms selecionou mais 5 das restantes (que chamou de Variações Póstumas) e a obra ficou como é conhecida agora. Quando você estiver escutando Schumann, lembre-se sempre dos seus dois personagens-pseudônimos: Eusebius e Florestan . Um é o provocador de mudanças, o ativador da multidão e o outro é o sonhador romântico. Há estudiosos que dizem que isso reflete uma bi-polaridade do compositor. O fato é que ele quase sempre escreve as obras de modo que alterne as duas personalidades, e isso vocês vão notar facinho aqui também. A Obra Tema - Andante (5s) É um tema trágico, romântico e bonito. Ele tem um caráter especial que o torna perfeito para variações. Estudo I (Variação 1) - Un poco più vivo (1m36s) Um pouco mais vivo, começando a aquecer as mãos para as partes mais difíceis que virão. É um estudo de acordes. Estudo II (Variação 2) - Andante (2m41s) Estudo de notas repetidas, repare na inscrição "Marcato il Tema sempre con Pedale", na partitura. Aos 4m11s repare a facilidade com que Richter toca a mão esquerda, que nem parece que está oitavada. Estudo III - Vivace (5m18s) Um estudo rápido de arpejos em staccato na mão direita, enquanto o que caracteriza o tema está na esquerda. Depois de uma parte legato, com pedal, retornamos para o staccato. Estudo IV (Variação 3) - Allegro marcato (6m28s) Bem mais uma variação do que um estudo, trata de acordes curtos tocados nas duas mãos, sempre lembrando o tema. A escrita é extremamente criativa, com o uso das apojaturas. Estudo V (Variação 4) - Scherzando (7m29s) Esse é difícil, porque alterna oitavas e sextas, nas duas mãos. Scherzando significa brincando. Variação póstuma I - Andante, Tempo del tema (8m34s) A primeira variação adicional tem um ostinato em legato na mão direita (que depois se complica e até passa para a esquerda), enquanto a melodia se desenvolve na esquerda. É um dos mais bonitos. Variação póstuma II - Meno Mosso (10m11s) A mim, parece mais um estudo de expressividade. Extremamene Schumanniano e romântico. Variação póstuma III - Allegro (12m19s) Outro estudo de expressão, parece levar adiante a ideia do anterior. Variação póstuma IV - Allegretto (13m50s) Esse também é mais uma variação do que estudo. É belíssimo. Você percebe que o tema está sempre por aí? Variação póstuma V - Moderato (16m33s) Mais uma variação lenta, essa é difícil de acertar. Aqui, o que conta não é a velocidade e habillidade do pianista, mas sua musicalidade. Sua capacidade de fazer essa passagem com inspiração, leveza e caráter. Estudo VI (Variação 5) - Agitato (19m12s) Voltando aos estudos canônicos, esse, agitado, é daqueles Chopinianos, cheios de truques de mão. Estudo VII (Variação 6) - Allegro molto (20m06s) Um estudo divertido e criativo. Parece mais difícil do que é. Estudo VIII (Variação 7) - Sempre marcatissimo (21m16s) Essa peça é uma jóia. Ele varia de uma maneira completamente marcante, inédita. Além de dramática. Estudo IX - Presto possibile (23m44s) Presto possibile é o mais rápido possível. É extremamente complicado e igualmente criativo. É uma sucessão ligeira de acordes. Estudo X (Variação 8) - Allegro con energia (24m33s) Também é uma variação mais que um estudo, embora seja relativamente difícil. Estudo XI (Variação 9) - Andante espressivo (25m43s) Extremamente expressiva, essa variação já nos dá o tema em outra circunstância, realmente desenvolvendo-o. Estudo XII (Finale) - Allegro brillante (28m04s) O finale é o trecho mais longo da obra. Ele acaba em Réb maior, que é o mesmo que Dó# maior. Lembrando que o resto da peça quase todo é em Dó# menor. Típico de Schumann, este movimento é realmente brilhante e termina a peça recapitulando várias das dificuldades que tivemos no decorrer da obra. Considerações finais Enquanto Chopin e Liszt fizeram estudos com a finalidade única de explorar e extrapolar as possibilidades técnicas do piano, Schumann estava interessado na capacidade que esse instrumento tem de ser praticamente uma orquestra, com suas possibilidades de mudança de cor e de textura. No final, os Estudos Sinfônicos acabam sendo tão difíceis ou mais que os Estudos de Chopin, pois o pianista precisa usar toda a sua musicalidade e estratégia para atingir esses desígnios sinfônicos. Gravações recomendadas - Mikhail Pletnev - É considerada a referência. Pletnev é um dos maiores pianistas da atualidade. - Shura Cherkassky - Uma espécie de "poeta do piano" (argh, coisa cafona) Cherkassky toca tudo sem uma técnica avassaladora, mas é um colorista nato e sua expressividade está sempre apropriada. https://open.spotify.com/album/4ZT08vBLu10E31cIj0LFcR?si=VhUYETneRGa1Yg8ppSirHA - György Cziffra - Outra leitura bem poética e linda por um gênio húngaro. Cziffra podia ser confuso, tentando demonstrar sua técnica invejável mais do que o necessário, mas às vezes acertava em cheio. - Éric Le Sage - Bem vivo e juvenil, essa interpretação é cativante. - Andrei Gavrilov - O contrário da anterior, essa versão é explosiva e extremamente técnica. - Nelson Freire - A versão ideal, entre o técnico e o poético. Embora seja ao vivo e o piano esteja um tanto desafinado. Mas Nelson dá um show de precisão e de musicalidade. https://open.spotify.com/album/5EHbWsumx6WvRBDlDvkjVf?si=e8wcZOlwS6Kq4wqOlgItCw Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. E veja nossas famosas listas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams
O compositor inglês Ralph Vaughan Williams é um orgulho da sua terra. A música brtânica foi gloriosa na Renascença e depois, passou mais de um século sem nos trazer compositores dignos de nota - acho arriscado falar isso, porque deve ter existido um bom punhado de bons compositores nesse lapso. O fato é que quando falamos de música britânca temos. Renascença: John Dunstaple, Thomas Tallis, William Byrd, John Bull, John Dowland, Orlando Gibbons; Barroco: foi diminuindo, com Henry Purcell, George Frideric Handel (alemão, mas tá valendo), John Blow; Classicismo: Seu ninguém; Romantismo: Seu ninguém até que Edward Elgar, compositor do final do romantismo que voltou a trazer música de qualidade e força incontestáveis. Foi o chamado renascimento britânico. Dele vieram os modernos: Século XX: Frederick Delius, Ralph Vaughan Williams, Gustav Holst, Arnold Bax, William Walton, Benjamin Britten, Peter Maxwell Davies e tantos outros; Século XXI: aí não parou mais, com Mark-Anthony Turnage, Thomas Adès e uma profusão de outros. Então, está entendido. Teve John Dowland e Orlando Gibbons, da chamada música virginal, na renascença, e depois, nada, até Elgar, que fez os uma outra infinidade sair do armário. Três desses compositores têm obras muito tocadas. Muito, mesmo. Gustav Holst compôs a célebre suíte Os Planetas, atribuindo uma personalidade a cada um dos 8 planetas do sistema solar. Ele não conhecia Plutão, que foi descoberto depois, daí um monte de compositores tentou "completar" a suíte. Nunca deu certo. E aí, acabou que Plutão nem planeta era. Holst estava certo. Benjamin Britten tem o fabuloso Réquiem de Guerra e o famoso Guia da Orquestra para Jovens. E, por fim, Ralph Vaughan Williams compôs 9 sinfonias e muita música de câmara. É dele que vamos falar aqui. Esse hiato não foi uma coisa discreta, não. Até que surgisse Elgar, achava-se que a Inglaterra tinha esgotado. Então, quando essa nova leva vem, eles fazem muitas homenagens aos compositores da Renascença. Mas compositores como esses que eu falei, eram mestres na orquestração e tinham uma inspiração que, se às vezes um pouco sonolenta, deu de nos trazer sons de beleza incontestável. Vaughan Williams era considerado o ápice desse letargia. Dizia-se que "escutar sua música era como ficar olhando para uma vaca, olhando uma porteira". Isso é uma besteira que disseram e ficou famosa. Mas é um pouquinho verdade. A música dele não anda pra frente. Parece uma sucessão suspensa de sons bonitos, pelo menos na maior parte das vezes (ele pode pegar fogo, como na 4ª e na 6ª Sinfonias). Mas eu lhes trago aqui uma peça de beleza incontestável. A Fantasia Sobre um Tema de Thomas Tallis ou, simplesmente, Fantasia Tallis. Não falei que eles homenageavam compositores renascentistas? O tema de Tallis é um dos 9 que compõem Tunes for Archbishop Parker's Psalter, que é uma coleção de Salmos do Arcebispo Matthew Parker que ele musicou. O Salmo é Why fum'th in sight. Esta belezinha aqui: Vaughan Williams extraiu desse coro o tema para a sua Fantasia, para orquestra de cordas. Agora observe que beleza essa obra. Quanta expressividade ele extrai de uma orquestra só com cordas! Ouça, na versão da Orquestra Philharmonia, regida por John Wilson: A obra é uma Fantasia, ou seja, não tem pretensão de se comportar como uma arquitetura muito complexa. Se bem que o trabalho de contraponto é fenomenal. Ela dura uns 15 minutos, podendo ser mais ou menos, a depender dos executantes. Qualquer dia venho falar sobre as Sinfonias Nos. 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Gravações recomendadas - John Barbirolli com a Orquestra Sinfonia of London (sim, tenho certeza) - É simplesmente de cair o queixo. O som dessa orquestra, o tratamento que se dá às dinâmicas e a desinibição da interpretação (muito mais sonora do que a que você ouve nesse vídeo aí em cima), fazem dessa gravação, bem como de todas as outras nesse belo disco de 1963 chamado "Música Inglesa para Cordas", uma coisa rara. É um daqueles discos que são preciosos do começo ao fim. - Antonio Pappano, regendo a Orquestra Sinfônica de Londres - Uma gravação lançada como single, de 2021. Também é de uma beleza sem par. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui: como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal)
Felix Mendelssohn Bartholdy foi um dos principais compositores alemães do começo do romantismo. Nascido em 1809, teve uma morte prematura, em 1847. Era dotado de um talento extraordinário, não apenas para música, mas para literatura. E tinha interesse em artes, matemática e ciência. Sua irmã mais velha, Fanny, também tinha um talento musical imenso, de modo que até certa idade, a família pensava que seria ela a estrela da casa. Só que não deixaram. O próprio Mendelssohn e outros parentes achavam inapropriado uma mulher seguir carreira artística. E olha que era uma família esclarecida e educada, para a época. Mas voltando a Felix. Ele nasceu em Hamburgo, mas foi morar em Berlim muito cedo. Era de família muito rica (banqueiros judeus), e esta providenciou uma educação musical exemplar para ele. Através da sua professora Sarah Levy, que tinha sido aluna dos filhos de Johann Sebastian Bach, conheceu a música deste mestre dos mestres. Desde pequeno executava fugas ao piano. Começou a compor muito cedo, tendo completado as suas 12 Sinfonias para Cordas aos 14 anos. Este contato com a música de Bach foi muito importante na formação do caráter musical de Mendelssohn: tendências conservadoras (Bach era do Barroco) e apreço por música pura (desprovida de um programa, de uma narrativa). Daí que, muitos anos depois de sua morte, Richard Wagner, que defendia que música deveria necessariamente descrever alguma coisa, difamava e degradava a imagem de Mendelssohn (e de todos os judeus). Uma linha de pensamento xenófobo e racista que desembocaria, anos depois, no Nazismo. Vamos ver hoje uma das suas peças orquestrais mais famosas. A Abertura As Hébridas (ou A Gruta de Fingal). Abaixo, a Orquestra Sinfônica de Londres a executa, sob a regência de John Eliot Gardiner. História Composta em 1830, revisada em 1832 e publicada em 1833, a abertura foi concebida durante uma viagem à Escócia. O fato de que ele chama a peça de Abertura de Concerto revela que não tinha outros planos para ela, como fazer outros movimentos e encaixar numa sinfonia. Na verdade, é um poema sinfônico, só que o nome poema sinfônico ainda não era usado. Em 1829, Felix visitou a ilha de Staffa, na Escócia. Nesta ilha encontra-se a Gruta de Fingal. Ficou tão impressionado que enviou um cartão à sua irmã com o tema anotado e dizendo: "para você entender como extraordinariamente as Hébridas me afetaram, eu lhe mando o (tema) presente, que veio à minha cabeça enquanto estava lá". Ele também escreveu sua Sinfonia Nº 3, chamada "Escocesa", nessa viagem. Hébridas é o nome do pequeno arquipélago onde fica a ilha de Staffa. O próprio Mendelssohn causou a confusão quanto ao nome da peça. De início queria chamá-la de "A Ilha Solitária", mas quando publicou, foi com o nome "As Hébridas" na capa, mas "A Gruta de Fingal" na partitura dos músicos. A Obra A intenção dele era retratar as sensações que a gruta o trouxera, não contar uma história específica. Estruturalmente, como se trata de uma abertura de concerto (embora não preceda uma ópera, como é de se esperar de uma abertura), não é muito arquitetônica. É como se fosse uma sucessão de sensações de um observador a explorar a gruta. Sua atmosfera é densa, grave e soturna. É muito conhecida a afirmação de Johannes Brahms: "Eu contentemente abriria mão de tudo que escrevi para ter escrito algo como As Hébridas". O nome Abertura Sinfônica As Hébridas, dá certamente a ideia de que se trata de uma abertura de ópera. Mas não é o caso. Esta obra não se destinava a preceder ópera alguma. Como disse, ele só não usou o nome Poema Sinfônico, porque esse nome ainda não estava na moda. De qualquer forma, trata-se de uma peça de certa de 10 minutos para orquestra sinfônica, a ser tocada em concerto. E é certamente compensadora de ouvir, as sonoridades são belas e atmosféricas. Gravações indicadas - Christoph von Dohnányi regendo a Filarmônica de Viena - Uma gravação de 1978, tem um som muito bom e a orquestra está magnífica. Dohnányi é um maestro ainda pouco valorizado. - Claudio Abbado conduzindo a Sinfônica de Londres - Gravação de 1988, talvez a mais bem sucedida. Abbado tinha uma conexão especial com a Sinfônica de Londres, e isso transparece nessa gravação. Existem, talvez, centenas de gravações dessa peça. Fica difícil indicar a melhor. Mas qualquer uma das duas acima faz jus à obra. Gostou? Comente! Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Devemos evitar Concertos com compositores Russos?
A guerra na Ucrânia criou uma situação muito rara e difícil. Alguns dos mais executados e amados compositores nas salas de concerto são Tchaikovsky, Rachmaninoff, Stravinsky, Prokofiev... São russos. As orquestras se deparam com uma decisão difícil. Algumas já tinham preparado a temporada inteira muito antes da guerra começar, e certamente incluíram compositores russos. Alguns defendem que tocar compositores russos nesse momento é, no mínimo, indelicado. Outros acham absurdo prejudicar a difusão da música desses compositores por causa das atitudes de um homem só. Criaram até um termo: Russofobia. Pois bem. Eu acho que tem 3 soluções: Tocar a música russa, mas deixando escrito no programa de concerto que não se concorda com a postura do governo russo e que tal compositor nada tem a ver com os desejos imperialistas de Putin, ou talvez o maestro possa dar um discurso antes do concerto explicando isso; Não tocar, por enquanto, compositores russos. Tocar a música e reverter parte do faturamento em doações para a Ucrânia; Eu sou a favor da 3ª opção, que acho que resolve tudo. Se o concerto incluir, por exemplo, Rachmaninoff, vale explicar que ele fugiu da rússia depois da revolução de 1917, além do que mais, ele nunca ficou sabendo quem era esse tal Putin. O problema tem semelhantes históricos, de modo que podemos nos espelhar nas soluções encontradas. Por exemplo, o compositor soviético Dmitri Shostakovich era frequentemente executdo fora do seu país (no próprio país ele quase era executado de verdade, algumas vezes). Em alguns casos, ele chegava a viajar para ver sua obra tocada nos EUA, por exemplo. Com permissão do Kremlin e cercado de agentes da KGB. Em 2001 o maestro judeu Daniel Barenboim executou um trecho da ópera Tristão e Isolda, do alemão antissemita Richard Wagner em plena Jerusalém. Houve protestos, mas também ele foi ovacionado de pé e quase levado às lágrimas. Até aqui, já temos duas nacionalidades que podem levar a complicações. E se encasquetarmos que o maior país imperialista do mundo é Estados Unidos? Ou que os compositores vitorianos nunca se opuseram ao imperialismo da Inglaterra? Se descobrirmos que Beethoven batia em mulher (isso é só uma hipótese, ok?)? Que o Safadão está dentro de um esquema que faz prefeituras pobres pagarem cachês superfaturados para tocar? Na minha visão, o que deve ser levado em conta é a qualidade do artista. Eu juro que, se a Regina Duarte trabalhasse bem, eu podia gostar dela, mesmo tendo ela passado por uma lavagem cerebral olavista profunda. E juro também que, mesmo que o dinheiro que o Safadão recebesse fosse o mais limpo e reluzente, não iria para um show dele. Não me apetece, sua música. Não podemos parar de tocar música tão nobre quanto a de Stravinsky. (Agora, tocar Stravinsky na Ucrânia, nesse momento está longe de ser uma boa ideia.) E tem casos mais complicados. Monteiro Lobato sendo o mais emblemático. Era racista, defendia o nazismo e a eugenia. Os livros são excepcionais. Nesse caso, cada um que adote sua postura. Eu, por exemplo, não consigo mais ler O Sítio do Pica-Pau Amarelo. Simplesmente não rola. Mas consigo escutar Wagner. É que, no caso de Wagner, acho eu, o tempo tornou sua postura irrelevante e sua música relevante. O fato é que, na arte, sempre se buscou valorizar a obra, a despeito do comportamento do artista. Sinto que isto está para mudar e, talvez, precise mudar, mas seria uma perda cultural enorme. O que nos resta fazer é esperar. O tempo resolve tudo. Mas e você? O que acha disso tudo? Comente aí embaixo!
- Top 10 maiores Pianistas Brasileiros
O Brasil tem uma surpreendente tradição de pianistas de renome internacional. Atenção, a lista abaixo não está em ordem de idade, nem de qualidade, nem de fama. São apenas os 10 pianistas brasileiros mais bem sucedidos até aqui. Jacques Klein (1930-1982) Cearense de Aracati, flertou muito com a música popular. É um dos pioneiros da tradição pianística nacional. Um certo disco em que ele toca concertos de Rachmaninoff e Tchaikovsky mostra o excelente pianista que ele foi. Amigo do lendário pianista austríaco Friedrich Gulda, no mercado de usados você encontra até mesmo o programa de um recital que fizeram juntos no Rio de Janeiro. Magda Tagliaferro (1893-1986) Fluminense de Petrópolis, Magda foi um fenômeno. Aos 11 anos, fez um recital no qual estava presente o violoncelista Pablo Casals. Este ficou impressionado e disse que ela tinha que estudar em Paris. Estudou com Alfred Cortot, um dos maiores pianistas de todos os tempos. Tocou com regentes como Felix Weingartner, Pierre Monteux, Wilhelm Furtwängler e Hans Knappertsbusch. Guiomar Novaes (1895-1979) Paulista de São João da Boa Vista, Guiomar foi outro fenômeno. É famosa a história de que ela foi fazer o teste para estudar no Conservatório de Paris, concorrendo com mais de 300 alunos para a vaga de estrangeiro, e ganhou o primeiro lugar. O juri era formado por, dentre outros, Gabriel Fauré, Claude Debussy, Moritz Moszkowsky. Debussy, em uma carta, escreveu sobre a "brasileirinha que veio ao palco e, esquecendo do público e do juri, tocou com tremenda beleza e completa absorção". Teve uma carreira imensamente prestigiada e fez gravações muito celebradas. Arthur Moreira Lima (1940*) Carioca, é amplamente responsável por difundir o piano pelo Brasil. Pelo fato de ter se tornado tão popular, muitos o consideram apenas um talento que não se deve levar muito a sério. Esquecem que ele foi segundo lugar no Concurso Chopin, em 1965, em Varsóvia, e terceiro lugar no Concurso Tchaikovsky, em 1970, em Moscou e São Petersburgo. São os dois maiores concursos de piano do mundo. Poucas pessoas se saíram tão bem nos dois. Arthur gravou muito, principalmente Chopin. Também são famosas suas gravações de Ernesto Nazareth. Arnaldo Cohen (1948*) Também carioca, é um pianista mais discreto que Arthur. Enquanto aquele é talento puro, Arnaldo é fruto de trabalho intenso. Não que não seja talentoso, é um dos grandes pianistas da atualidade (já foi considerado um dos 10 maiores pianistas vivos). Gravou, com a OSESP, 3 dos 4 concertos de Rachmaninoff e a Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, além de muita coisa de Liszt. Hoje é professor na Jacobs School of Music, Indiana, Estados Unidos. Miguel Proença (1939*) De Quaraí, Rio Grande do Sul, Miguel também é um dos responsáveis pela divulgação do piano clássico no nosso país. Gravou mais de uma vez toda a obra de Alberto Nepomuceno, além de muita música de Villa-Lobos. Há uma caixa excelente com 10 CDs dedicados apenas a compositores nacionais. Acredito que a maior parte da sua carreira seja no Brasil. Cristina Ortiz (1950*) A baiana Cristina, de Salvador, é o contrário: teve sempre mais sucesso no exterior. Gravou com Antônio Meneses e Vladimir Ashkenazy. Costuma dar masterclasses na Royal Academy of Music, em Londres, e na Juilliard School, em Nova Iorque. Gravou de Rachmaninoff a Villa-Lobos, passando por Beethoven e Mozart. Nelson Freire (1944-2021) Mineiro de Boa Esperança, Nelson é o mais bem sucedido pianista brasileiro. Um jornal dos Estados Unidos escreveu algo como: "Pianista tenta ser discreto, mas seu talento não permite". A Martha Argerich diz que nunca viu ninguém ler uma partitura à primeira vista tão bem quanto Nelson. Tem um volume pra ele (único brasileiro) na coleção de CDs de luxo Great Pianists of the 20th Century. Tem contrato com a DECCA, lançando CDs a cada 2 anos, em média. Claro que é meu favorito brasileiro; e um dos meus 3 favoritos de todo o mundo. * Nelson morreu no dia 01/11/2021 Leia mais sobre ele aqui. João Carlos Martins (1940*) Exemplo de superação e perseverança, o paulistano João Carlos Martins passou por muita coisa. Teve problemas em uma mão, nas duas, em uma de novo e nas duas de novo. E cada vez ele voltava a tocar. Tenho um CD que ele gravou sem os movimentos de um dos dedos! Tenho outro que ele gravou só de obras para a mão esquerda. Depois ele acabou perdendo boa parte da coordenação de ambas mãos irremediavelmente (será que essa palavra existe pra ele?), e então virou maestro. Antes de se concentrar mais nessa parte de fazer o Faustão chorar, tocando piano com dificuldade, ele era um pianista realmente formidável, especialmente na música de Johann Sebastian Bach. Roberto Szidon (1941-2011) Gaúcho de Porto Alegre, Roberto Szidon também teve uma carreira maior no exterior. São famosas suas gravações de Liszt e Scriabin, mas também de Marlos Nobre, Alberto Nepomuceno e até Chopin. Eu sempre achei que ele deveria ser mais famoso, porque sua qualidade é incrível. Gravou muito para a Deutsche Grammophon.
- As Maiores, melhores e mais belas Sinfonias já escritas
Não é muito a intenção do blog ficar apontando as "10 músicas clássicas para relaxar", ou "10 músicas clássicas mais lindas de todos os tempos" etc. Mas, afinal, quem não é familiarizado com música clássica fica perdido, sem saber por onde começar. Pois eu digo: pegue qualquer uma das sinfonias abaixo e escute com atenção. Se for difícil ficar 1h escutando uma música (até pra mim, às vezes, é cansativo), pegue o primeiro movimento da obra. Geralmente ele vai durar entre 10 e 15 minutos, e é a alma da sinfonia. Faça isso: dê o play e escute alguns segundos. Depois, a próxima, e a seguinte, até achar uma que te cative. Aí, se dedique a ela. É muito melhor conhecer bem um movimento de uma sinfonia do que conhecer todas elas mal - e isso vale até pra quem é amante de música clássica. Então, venha comigo explorar, em ordem cronológica, as 10 sinfonias chaves do repertório. Mozart - Sinfonia Nº 41 "Júpiter" (1788) A única sinfonia propriamente clássica, isto é, do período musical conhecido por "Classicismo", que eu incluí na lista. As outras, a maioria, pertencem ao "Romantismo", ou seja, são do século XIX. Wolfgang Amadeus Mozart tem sinfonias mais atraentes, como a 40ª. Mas essa aqui é infinita. Você escuta 100 vezes e não esgota os seus segredos. Foi a última sinfonia que ele compôs, 3 anos antes de morrer. O nome "Júpiter" não foi dado por Mozart, só apareceu depois de sua morte. Tem a ver com as tormentas do planetão e a música meio tempestuosa. Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Simon Rattle - Orchestra Mozart, regente: Claudio Abbado Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" (1804) Esta Sinfonia é rebelde. A norma culta da música de então tinha padrões muito firmes, não acontecia nada de muito arrebatador numa obra. Os tempos eram bem quadrados, os temas eram bonitos e a orquestra usava principalmente os violinos, com os sopros apenas pontuando agumas ideias. Mas com a "Eroica", Beethoven traz acordes tronchos, acentuações rítmicas em tempos inusitados e uma orquestração muito diversificada. Tão inovadora é a sinfonia, que seu primeiro ensaio foi um desastre. Os músicos não sabiam o que fazer, as acentuações eram inusitadas, a hora de entrar era esquisita, até os temas eram muito fortes. O que, claro, significa que é genial. Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Claudio Abbado Berlioz - Sinfonia Fantástica (1830) Esta é a Sinfonia que moldou a música do romantismo. Hector Berlioz fala de delírios, tem toda uma história, é descritiva. Cada movimento tem sua personalidade: uma valsa, um pesadelo, uma decapitação... Além de a orquestração ser magnífica. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Boston (Boston Symphony Orchestra) - Regente: Seiji Ozawa. Bramhs - Sinfonia Nº 1 (1876) Johannes Brahms tinha um problema. A comunidade germânica inteira esperava por um herdeiro de Beethoven. Sobretudo um grande sinfonista. Ele levou 14 anos preparando essa Sinfonia que, em compensação, acabaria por ser apelidada de a 10ª de Beethoven. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Herbert von Karajan. César Franck - Sinfonia em Ré Menor (1888) O belga César Franck compôs apenas uma Sinfonia. Ela é importantíssima porque faz uso do chamado tratamento temático cíclico, em que as ideias de um movimento invadem os outros. E é linda. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony Orchestra) - Regente: Pierre Monteux. Dvořák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" (1893) Antonin Dvořák era um compositor de melodias nato. Todos os temas dessa sinfonia ficam na nossa cabeça. É uma das mais fáceis de gostar, embora tenha quem não curta sua força trágica. É a "Sinfonia do Novo Mundo", porque ele a escreveu nos Estados Unidos. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra) - Regente: Eugene Ormandy. Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Patética" (1893) Essa é uma das Sinfonias mais profundas já escritas. Pyotr Tchaikovsky possivelmente sabia que ia morrer ou até planejara isso (veremos em um post dedicado). E a concebeu como um Réquiem, uma despedida. Repare que ela parece terminar ao fim do 3º movimento, mas vem um 4º. E este, acaba aos poucos, morrendo... Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan - Orquestra Filarmônica de Nova Iorque (New York Philharmonic), regente: Leonard Bernstein Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2 (1907) As sinfonias de Sergei Rachmaninoff demoraram a ser reconhecidas. Foi lá pelos anos 70, muito depois da sua morte. Essa, a Segunda, é seguramente a mais bela. Especialmente em seu primeiro e terceiro movimentos. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Lorin Maazel. Mahler - Sinfonia Nº 9 (1910) Gustav Mahler tinha tanto medo de morrer depois da 9ª sinfonia, como tantos compositores, que depois da oitava escreveu uma sinfonia sem número: "A Canção da Terra". Só então escreveu a nona. E morreu. É uma bela obra, um momento de perdão e de conciliação com a morte. Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Claudio Abbado - Orquestra Filarmônica de Seul (Seoul Philharmonic), regente: Myung-Whun Chung Shostakovich - Sinfonia Nº 5 (1937) Dmitri Shostakovich escreveu essa sinfonia quando estava mal aos olhos do regime soviético. Sua 4ª tinha sido considerada subversiva. Nessa época, muita gente sumia só por ser subversivo. Mas a Quinta ele fez pra agradar ao Kremlin, e, ao mesmo tempo, deixar um recado de cumplicidade aos seus companheiros soviéticos - é que, por baixo de todo o triunfo que a obra representa, ela é repleta de ironia e de significados. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Semyon Bychkov.
- Rachmaninoff - Concerto Nº 1 - Análise
Já falamos do Segundo, do Terceiro e do Quarto concertos para piano e orquestra de Sergei Rachmaninoff. É a vez, por algum motivo, do 1º. História Composto aos 18 anos, em 1891, foi a peça de formatura de Rachmaninoff do Conservatório de Moscou. Dois anos antes, o aspirante a compositor tinha tentado um concerto que ele abandonaria e nunca mais tocaria no assunto. O primeiro concerto de fato é esse, em Fá Sustenido menor, Op. 1. Isso mesmo, Opus 1. Foi a primeira obra com que ele se deu por satisfeito. A melhor forma de se aprender a compor é analisando e copiando obras de grandes compositores. É mesmo. Quando eu estudava, me pediam para, por exemplo, orquestrar uma peça de Villa-Lobos. Dessa forma, você estuda a obra como se a dissecasse e aprende os procedimentos que o compositor usou. Então, no caso de Rachmaninoff, seu professor Alexander Siloti pediu um concerto para piano nos moldes do Concerto em Lá menor de Edvard Grieg. A escolha foi perfeita, porque a peça tem um caráter juvenil, é melodiosa e a estrutura é bastante óbvia. A obra foi estreada em 17 de março de 1892, no Conservatório de Moscou, com Rachmaninoff ao piano e Vassily Safanov regendo a orquestra. O curioso é que ele só tocou o 1º movimento. Os concertos, especialmente os de conservatórios, eram repletos de obras diversas, pois tinha-se que dar espaço aos outros alunos. Muito depois, em 1917, Rachmaninoff revisou a obra, especialmente (mas não só) na orquestração. O que antes eram espaços vazios ele preencheu com bastante categoria, melhorando substancialmente a peça. Mudou também algo da música, mas relativamente pouco. Essa versão é a que conhecemos hoje, com a primeira, de 1891, tendo sido gravada pela primeira vez apenas recentemente, em 2001, pelo pianista Alexander Ghindin e a Orquestra Filarmônica de Helsinque, regida pelo especialista em Rachmaninoff, Vladimir Ashkenazy. É da versão de 1917 que falaremos aqui. Abaixo, o pianista moscovita Nikolai Lugansky com a Orquestra de Paris, regida por Stanislav Kochanovsky. Tem horas que você acha que a performance vai por água abaixo, mas dá tudo certo. O Concerto 1º Movimento - Vivace A peça começa com um chamado de trombones que leva a uma série de oitavas descendentes do piano (o de Grieg começa com um rufar de tímpanos seguida de uma série de oitavas descendentes do piano). O piano faz um acorde de dominante (40s) e some, para que a orquestra assuma e faça a exposição do 1º tema, que é belíssimo (45s). A 1m13s o piano repete esse tema, terminando em uma passagem virtuosística (1m45s) que vai levar ao piano tocando mais uma vez o acorde de dominante para desembocar no 2º tema (2m57s), em diálogo entre o piano e a orquestra. Aos 3m49s eles apresentam uma ponte que leva ao desenvolvimento. Quero que perceba como ele brinca com os dois temas, tocando ora um, ora outro, destacando-os, juntando-os (4m28s), começando em um e acabando em outro. Até que os trombones mudam o caráter do movimento. Aos 5m43 a trompa apresenta o 1º tema, o piano respondendo imediatamente com o 2º (5m50s), ainda estamos no desenvolvimento. Aos 6m25s temos mais uma ponte, que vai crescendo, até que aos 7m03s o fagote anuncia o começo da recapitulação. Aos 7m09s o piano reapresenta o 1º tema como o conhecemos, com os belos contracantos das violas e dos violoncelos. Nova ponte aos 7m45s e aos 8m50s temos a recapitulação do 2º tema. Aos 9m26s a orquestra faz novamente a ponte para dar lugar à cadência do piano (9m40s). Essa cadência começa ecoando o chamado de trombones e a série de oitavas descendentes. Ele ameça entrar com o 1º tema (10m22s), mas de fato toca o 2º (10m53s). A cadência vai ficando cada vez mais expressiva, ganhando força até que, aos 11m47s, cai no 1º tema, de modo trágico, extremamente romântico. Rachmaninoff viria a usar esse mesmo modelo de cadência na cadência Ossia do Terceiro Concerto. Aos 12m16s a orquestra entra para fazer o coda e encerrar o movimento. 2º Movimento - Andante cantabile O belo movimento lento (12m47s) começa fazendo modulações. Ele precisa passar de Fá sustenido menor para Ré maior. E o faz de modo magistral, usando modulações de terça cromática, sua especialidade. O seu longo tema (13m58s) é apresentado pelo piano. Aos 15m20s temos um breve diálogo do fagote com o piano, ao qual, depois, se juntam as violas. Temos aos 15m57s uma alusão às modulações, com a trompa. O fagote anuncia a volta ao grande tema (17m07s), agora de toda a orquestra com um belo acompanhamento do piano. As madeiras fazem umas carreirinhas maravilhosas (ele adicionou isso em 1917). O movimento encerra como o de Grieg, com cadências plagais (iv-I). 3º Movimento - Allegro scherzando Começa aos 18m55s. Esse movimento também bebe do finale do concerto de Grieg. É um movimento extremamente agitado, que bem no meio, sofre uma intervenção do trombone (20m48s), lembrando o começo do primeiro movimento e muda de caráter. Faz uma suave cantilena (20m59s), como Grieg, mas melodicamente típica de Rachmaninoff. Aos 23m38s volta repentinamente a parte agitada. A escrita para piano é bem virtuosística. Ele faz uma subida muito parecida com a do 2º Concerto (25m05s) que leva ao breve coda. Para ser obra de um compositor de 18 anos, é muito atraente. Tem muita gente que gosta dele, embora seja ofuscado pelo Segundo e pelo Terceiro. Eu particularmente adoro, especialmente os dois temas do 1º movimento, a cadência e a bela melodia do Andante. Vou listar algumas gravações pra você conhecer. Gravações Importantes - Sergei Rachmaninoff, com a Orquestra de Filadélfia, regida por Eugene Ormandy - O compositor gravou, nos anos 30 e 40 (ele morreu em 1943), seus concertos. Ele, obviamente, registrou a versão revisada. Aliás, todas as gravações aqui, exceto quando mencionado, são da versão de 1917. Sua gravação mostra um pianista em completo domínio do instrumento, tocando com facilidade as passagens mais complicadas. É um registro histórico e artístico importantíssimo. - Krystian Zimerman, com a Sinfônica de Boston, regida por Seiji Ozawa - O pianista polonês simplesmente arrebenta nessa obra. Assim como no 2º Concerto, ele deixa seu sentimentalismo de lado e faz uma versão que é perfeita. Repare a cadência do 1º movimento. Ninguém toca como ele. Ozawa dá o acompanhamento dos sonhos de qualquer pianista, assertivo quando precisa, discreto quando devido e sempre preciso. - Valentina Lisitsa, com a Sinfônica de Londres, regida por Michael Francis - É uma versão empolgante, extremamente bem gravada e tocada. Valentina tem o dom de tocar com extrema clareza passagens que outros pianistas borram. Eu não sei se é verdade, mas ouvi que ela era apenas mais uma pianista ucraniana, quando resolveu juntar dinheiro e gravar esses concertos com a Sinfônica de Londres. Deu certo. Hoje é famosíssima. Seu toque é, como disse, bem claro, mas não tem nada de leve. - Byron Janis, com a Sinfônica de Chicago, regida por Fritz Reiner - Essa gravação é considerada um clássico. Tem tudo: bom gosto, técnica e profundidade. - Vladimir Ashkenazy, com a Sinfônica de Londres, sob a regência de André Previn - Foi a versão com que conheci a obra. Eles fizeram todo o ciclo (os 4 concertos), e deles, o 1º me parece que saiu melhor. Tem também a versão de Ashkenazy com a Concertgebouw e Bernard Haitink, que é boa. Mas essa me parece impactante. - Alexander Ghindin, com a Filarmônica de Helsinque, regida por, Vladimir Ashkenazy - Aqui é a gravação do original, de 1891. É substancialmente diferente, o que não significa que seja irreconhecível. Na revisão ele mais acrescentou coisas do que retirou. É como se esse fosse o esqueleto da obra. É muito interessante de ouvir, mas não chega aos pés da versão final.
- Anitta e a Busca Pelo Sucesso Mundial
Todos sabemos da labuta e da preparação da Anitta para conseguir aclamação no exterior, especialmente nos EUA – isso fica bem claro pra qualquer um que acesse algum portal de notícias brasileiro, a maioria dos quais noticia diariamente alguma novidade sobre ela. Acho, sinceramente, que, um dia, ela consegue. Vai fazer diferença? Vai trazer relevância para a música brasileira? Talvez, não. Mas acho que não é esse o ponto. Eu digo que não, porque ela não está levando aos EUA o padrão brasileiro de música. Ela está dando a eles mais do mesmo. Talvez com um pinguinho de exotismo, mas sempre seguindo a mesmíssima fórmula que eles mesmos, os americanos, criaram. Não tenho muito a dizer sobre isso, mas, esses dias, escutei algumas coisas que me incomodaram um pouco. Vou, portanto, adicionar meus pensamentos sobre o assunto Anitta e seus diversos sub-tópicos. 1 – Que ela teria manipulado, com a ajuda dos seus fãs, o algoritmo do Spotify Sim, talvez tenha, mesmo. Ela ficou no topo das paradas por algum tempo. Mas você acha mesmo que quem quer que a tenha destituído desse topo não usou exatamente as mesmas ferramentas? Que Rihanna, Ed Sheeran e Beyoncé não fazem o mesmo? É a atualização do jabá – um tipo de propina que os produtores e as gravadoras davam às rádios para que estas tocassem determinada música. No caso do Spotify, existe um rico e casual mercado de “curadoria” para entrar em playlists que já têm milhões de seguidores. Eu já pesquisei. R$ 20 mil para os Argonautas entrarem em alguma playlist de MPB bacana. Eu conheço um cara cujas músicas, no Spotify, têm, geralmente, umas duas mil execuções. Mas tem umazinha específica que bate os 400 mil. Ele entrou em uma ou mais dessas playlists, provavelmente pagando. No caso, ele continua virtualmente desconhecido, suas outras músicas aguardando esperançosas para cair em uma lista. Enquanto isso, um cidadão faz sua corrida na calçada da Beira Mar escutando todo dia aquele pequeno sucesso do meu amigo, sem saber e sem querer saber de quem se trata, tranquilo por ter delegado ao próprio Spotify a tarefa de escolher o que ele deve escutar. Basta buscar “Músicas para Correr” e pronto. Não precisa ter gosto musical (isso talvez nem exista mais), o algoritmo e a moda (e o jabá) fazem tudo por você. 2 – Que a música de Anitta é boa e que você é preconceituoso, arrogante e elitista se não gostar Vamos lá. Eu proponho o seguinte raciocínio: existe música que você precisa sentar e escutar em silêncio pra poder absorver a “mensagem”. E existe música que não te exige absolutamente nada, o refrão é repetido 40 vezes pra se certificar que não passe despercebido; a letra é cheia de palavras simples do cotidiano, pelas quais você nunca vai ter que procurar no dicionário; a batida faz você querer dançar; e, acima de tudo, todo mundo gosta, você parece estar no caminho certo. Eu vou questionar a legitimidade dessas duas maneiras de fazer e de desfrutar música? Não, não, mesmo. As duas formas são válidas. Não podemos julgar o funk (e metade da música que se toca hoje) com base em diretrizes que aplicamos a outros tipos de música. Riqueza melódica, sutileza e ambiguidade na letra e instrumentação caprichada, simplesmente não se aplicam aqui. Seria injusto comparar Anitta com Tom Jobim. O que ela busca é outra coisa. Sim, musicalmente, em termos técnicos, muito mais pobre do que o que já se fez na música brasileira. Mas ela e outros parecidos têm que ser julgados com outros parâmetros. Agora, chamar de elitista quem não gosta é um baita preconceito. Tem um milhão de razões musicais e líricas para alguém não admirar a música dela e, pelo menos no meu caso, nenhuma tem a ver com o poder aquisitivo dos seus fãs ou coisa parecida. 3 - Que a Anitta se expõe muito Sim, como eu disse, todo santo dia tem notícia. Mas acho que isso vem com a fama (e uma baita assessoria de imprensa). Na verdade, como meu pensamento é de esquerda, eu acho uma beleza as respostas rápidas e sagazes que ela dá no Twitter a respeito de Bols@#$¨& e afins, embora suponha que seja tudo cautelosamente estudado por ela e uma imensa equipe de marqueteiros. 4 - Que a música dela é imoral Amigo, me poupe. Que história é essa de imoral? Faz clara referência a sexo? Faz, sim. Mas, a não ser que você ache que sexo é imoral, não vejo problema. Pensemos assim, os poetas mais raiz costumam, todos eles, falar de sexo, só que, claro, de maneira mais sutil. Não é o caso da Anitta. Esse tipo de música não deixa espaço para interpretação. A pessoa quer sentar no colo da outra, definitivamente com penetração. Podemos argumentar que isso diminui o tempo de infância dos seus fãs, mas aí é outra história. Se você coloca para tocar e recomenda a música dela para seus filhos, você que veja as consequências. 5 - Que ela merece todo esse sucesso Mais uma vez entramos na seara do opinativo. Ela se esforçou (e fez questão de mostrar isso)? Sim. Seu esforço merece recompensas. Eu não me incomodo, contanto que não venham dizer que ela é um gênio da música. Pode até ser um gênio de outra coisa. Sabe o que é? Eu conheço muita gente extremamente talentosa e trabalhadora que não tem um pingo de oportunidade de se evidenciar. Simplesmente porque o padrão da música mudou. Mudou em nome da igualdade, mas acaba excluindo bonito que não está nele. Então, se ela merece sucesso, milhares de outros artistas merecem também. Mas não têm oportunidade, seja na mídia, seja no imaginário do povo, que insiste nessa bobagem de que qualquer música mais elaborada ou introspectiva é elitista. Enfim. Se você gosta de Anitta, não deixe ninguém lhe fazer ficar pensando que você é burro e vazio. Também não julgue a música de Chico Buarque no mesmo patamar da dela. Não, está em outro. Mas o que importa é o que cada pessoa busca em música. Conheço idiotas que ouvem música clássica e pessoas amáveis que têm PhD e só escutam Safadão. Tem quem escute Chico e não ouça nada e sinta super representado pela Anitta. Deixa, para com isso. Vamos fazer as pazes, que coisa feia!
- Top 10 - Os Maiores Maestros do Brasil
Assim como tem uma grande tradição de pianistas, o Brasil tem um rol respeitável de regentes em toda a sua história. Não desde o começo. Em 1886 uma companhia de ópera italiana veio fazer uma turnê no Rio de Janeiro e se deparou com um maestro local de pouca aptidão - era Leopoldo Miguez, mais conhecido como compositor. Eles fizeram um verdadeiro motim e acabaram escolhendo para reger o seu violoncelista principal e assistente do coro. Que era Arturo Toscanini. Ele regeu Aida de cor e começou uma carreira que o faria o maestro dominante da primeira metade do século XX. Só que ele era italiano. Mas tivemos vários maestros de grande importância, e o primeiro deles é o cearense Eleazar de Carvalho. Abaixo vai uma lista, à guisa dessa dos 10 Maiores Pianistas Brasileiros, ou seja, não está em nenhuma ordem. Nem alfabética, nem cronológica, nem de importância. Eleazar de Carvalho (1912-1996) Cearense de Iguatu, Eleazar começou tocando tuba na Banda do Batalhão Naval do Rio de Janeiro. Foi para os EUA em 1946 estudar música na Universidade Estadual de Washington. Lá ele chamou a atenção de Sergey Koussevitzky, o lendário regente russo que tinha tornado a Sinfônica de Boston na "melhor orquestra francesa do mundo". Tornou-se assistente de Koussevitzky ao lado de ninguém menos que Leonard Bernstein. Regeu no mundo inteiro, em orquestras como a OSESP (Sinfônica Estadual de São Paulo), OSB (Sinfônica Brasileira), Sinfônica da Paraíba, Sinfônica da Rádio Bávara, Filarmônica de Berlim, Sinfônica de Londres e outras. Era uma lenda. Em 1996, logo depois da sua morte foi criada a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, em Fortaleza. Coordenou, de 1973 até a sua morte, o Festival de Inverno de Campos do Jordão. Foi professor de Seiji Ozawa, Claudio Abbado, Charles Dutoit, Zubin Mehta e muitos outros. Onde ouvir - Tem um disco em que ele toca o Uirapurú, de Villa-Lobos, com a Orquestra Sinfônica da Paraíba. Noutro, ele rege o 2º Concerto para Piano de Franz Liszt, com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara e Nelson Freire ao piano. John Neschling (1947*) Carioca, sobrinho do compositor Arnold Schönberg, Neschling é um talento, tendo recebido vários prêmios de regência na sua carreira. Foi aluno de Leonard Bernstein e Seiji Ozawa em Tanglewood. Em 1999 houve aquele projeto monstruoso de transformar a OSESP num conjunto de calibre internacional, com a construção de uma sala de concertos maravilhosa, a Sala São Paulo, e ele estava à frente. Regeu a orquestra até 2008. Onde ouvir - com a OSESP ele gravou Villa-Lobos, Beethoven, Schumann, Rachmaninoff e Brahms. Gravou com solistas de renome, como a flautista Sharon Bezaly, os pianistas Arnaldo Cohen e Yevgeny Subdin e o violinista Vadim Gluzman. Na Bélgica, com a Orchestre Philharmonique Royal de Liège, tem feito gravações muito aclamadas de Ottorino Respighi. Isaac Karabtchevsky (1934*) Isaac Karabtchevsky é um regente paulistano. É um dos maestros de maior notoriedade do Brasil. Dada sua discografia, podemos dizer que é um especialista na música de Heitor Villa-Lobos, tendo gravado as sinfonias com a OSESP. Isaac já foi regente da Orquestra Sinfônica Brasileira (1969-1994), da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (2003-2010) e da Petrobras Sinfônica (desde 2003). Um dos trabalhos mais importantes que ele realiza é o de Diretor Artístico do Instituto Baccarelli, em Heliópolis, São Paulo. São 1500 estudantes atendidos num programa de incentivo à música clássica. Eles têm 5 orquestras sinfônicas. Onde ouvir - Ouça Karabtchevsky regendo as Sinfonias Nº 6 "Sobre a Linha das Montanhas do Brasil" e Nº 7, com a OSESP. Também o disco maravilhoso de Choros de Camargo Guarnieri. Roberto Minczuc (1967*) Outro paulistano, Roberto trabalha com a Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo, com a Sinfônica Brasileira e com a Filarmônica de Calgary, no Canadá. É o atual diretor do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Já regeu muito no exterior, tocando com a Filarmônica de Los Angeles, Filarmônica de Israel, Sinfônica de Londres, Orquestra Hallé, Orquestra de Filadélfia e muitas outras. Onde ouvir - É de Roberto a melhor gravação completa das Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos, com a OSESP. Diogo Pacheco (1925*) Um maestro que foge da imagem de regente sério, ambicioso e mandão. Diogo é simpático e amistoso. Nos anos 90 a gente sempre assistia ao programa "Concertos Internacionais", nas madrugadas de 2ª, na Globo. Ele fazia a apresentação do programa, falando da música, da orquestra e dos regentes que passariam no vídeo. Ele veio a Fortaleza com Eleazar de Carvalho e a OSESP nos anos 90, num concerto ao ar livre, muito bonito. Júlio Medaglia (1938*) O paulistano Júlio Medaglia é um dos mais conhecidos e talentosos regentes do Brasil, tendo estudado com Pierre Boulez e John Barbirolli. Trabalhou com todas as orquestras que você imaginar, no Brasil e no mundo. Em 1997 fundou a Amazonas Sinfônica, uma orquestra de nível internacional, em Manaus. Ele apresenta o programa-concurso Prelúdio, na TV Cultura, em que jovens músicos se apresentam como solistas acompanhados de uma orquestra e concorrem a algum prêmio. Medaglia também é compositor, arranjador e escritor. Seu livro "Música Impopular" é um dos mais divertidos olhares sobre a Música Moderna. Roberto Tibiriçá (1954*) Também paulistano, Roberto Tibiriçá começou a carreira como pianista. Foi aluno e assistente de Eleazar de Carvalho. Regeu a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra do Teatro São Carlos, em Lisboa e a Sinfônica Petrobras Pró Música. Rege como convidado a OSESP e a Orquestra Sinfônica Simón Bolivar, de Caracas. Onde ouvir - tem um disco maravilhoso dele com a Orquestra Municipal de São Paulo e Arnaldo Cohen (piano) tocando o lindo Concerto Para Piano em Formas Brasileiras, de Hekel Tavares Benito Juarez (1933-2020) Mineiro de Januária, Benito Juarez merece destaque pelo trabalho que fez com a Sinfônica de Campinas, de 1975 a 2001. Durante esse período ela foi uma orquestra sólida, de belo som e conhecida em todo o país. Ligia Amadio (1964*) Paulistana, Ligia Amadio tem construído uma bela carreira. Com a Orquestra Sinfônica Nacional, no Rio de Janeiro, e, mais recentemente, com a Filarmônica de Montevideo, no Uruguai, a Filarmônica de Mendoza, Argentina e a Filarmônica de Bogotá, Colômbia. Regeu orquestras no mundo inteiro: Sinfônica da Cidade de Tóquio, Sinfônica da Islândia, orquestras na Holanda, na Alemanha e na América Latina intera. Tem uma carreira altamente prestigiada e premiada. Claudio Cruz (1967*) Paulistano, Claudio era spalla (1º violino) da OSESP. Como violinista e como regente ganhou vários prêmios, como o da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Prêmio Carlos Gomes e Grammy. Sua discografia é mais farta como violinista que como regente, mas ele é talentoso nas duas frentes. Onde ouvir - Ouça Claudio Cruz regendo Edward Elgar e Hans Gál, com Antônio Meneses e a Northern Sinfonia, de Londres. Ouça-o tocando os Trios de Villa-Lobos com Antônio Meneses e Ricardo Castro. Gostou? Comente, por favor! E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer
- Top 10 - Livros sobre Música Clássica (ou quase)
Inspirado parcialmente pelo vídeo do meu caro Rafael Fonseca, resolvi fazer uma lista de 10 livros que vão lhe ajudar muito a conhecer mais profundamente a história da música, a história dos compositores, a história das obras e outras coisas muito importantes. Por exemplo, como perceber uma música. Às vezes a gente não sabe bem o que era para esperar de uma obra, e acaba não enxergando seu ponto. A percepção, o aguçamento do ouvido, melhora com audição, obviamente, mas também com leitura. Incluí também alguns que não falam exatamente sobre música clássica. Vocês verão. 1 - A Vida dos Grandes Compositores, de Harold Schonberg Esse livro, que teve a primeira edição em 1970, é um dos que eu mais recomendo. É uma bela iniciação à música através de uma breve história da vida de cada um dos mais importantes. Ele mescla compositores por período e por afinidade. Schonberg também trata de reabilitar a reputação de compositores como Antonín Dvořák, Camille Saint-Saëns, Carl Maria von Weber e outros. Narrado de maneira bem casual, trata das angústias, dificuldades, alegrias e triunfos dos grandes compositores. É uma leitura leve, pelo menos pra mim. E rápida. Pode ser lido linearmente, mas também é um ótimo livro de consulta. https://www.amazon.com.br/Vida-dos-Grandes-Compositores/dp/8576793873/ref=sr_1_1?keywords=a+vida+dos+grandes+compositores&qid=1642511002&s=books&sprefix=a+vida+dos+grandes%2Cstripbooks%2C138&sr=1-1 2 - A Música do Homem - Yehudi Menuhin e Curtis W. Davis Escrito pelo grande violinista americano Yehudi Menuhin com Curtis W. Davis, é um livro passional, que tenta unir a história da música e a da humanidade de forma que compreendemos as motivações da própria arte e seus desdobramentos. Baseado em uma série televisiva canadense de mesmo nome, apresentada por Menuhin, A Música do Homem nos insere em cada contexto musical a que se propõe, de maneira sempre informativa e bem-humorada. A primeira edição é de 1979. https://www.amazon.com.br/Musica-Do-Homem-Yehudi-Menuhin/dp/8533606583 3 - A Sagração da Primavera - Modris Eksteins Outra excelente leitura, mesmo para quem não se interessa particularmente por música erudita, A Sagração da Primavera parte dos acontecimentos da noite de 29 de maio de 1913, no Théâtre des Champs Elysées, em Paris: a estreia do balé de mesmo nome de Igor Stravinsky. Mas muito mais do que retratar a peça em si, ele nos transporta à Europa da época, com todas as questões que nos levariam à 1ª Guerra Mundial e, mais adiante, à 2ª Guerra. É uma leitura encantadora, em que, através de personagens como Serge Diaghilev, o famoso empresário, dono da companhia Ballets Russes, acaba nos dando uma figura bem maior do cenário carregado em que o mundo se encontrava no começo do século XX, tentando encontrar na arte e na guerra as respostas para seus dilemas. https://www.amazon.com.br/Sagra%C3%A7%C3%A3o-Primavera-Primeira-Nascimento-Modernidade/dp/6587138624/ref=asc_df_6587138624/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379793566310&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=14596496568898506251&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=1001538&hvtargid=pla-1434693790723&psc=1 4 - Guia da Música Sinfônica - François René Tranchefort e colaboradores Um excelente livro de consulta. Voltado, obviamente, à música sinfônica, ele se propõe a fazer uma breve, mas concisa, análise das obras mais importantes dos compositores mais importantes. Os compositores são listados em ordem alfabética; e as obras, divididas em categorias: poemas sinfônicos, aberturas, sinfonias, concertos. De cada obra ele nos informa a duração e a instumentação, nos dá dados históricos acerca da composição e da estreia; e tece comentários às vezes pessoais, mas muito bem dosados. Acaba que, quando você quer conhecer uma nova sinfonia, por exemplo, você lê a entrada existente e escuta ao mesmo tempo, tendo assim, maior clareza sobre o que está escutando. https://www.amazon.com.br/Guia-Musica-Sinfonica-Tranchefort-Fran%C3%A7ois-Rene/dp/8520902251/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=13KYKJ4KKK5PO&keywords=guia+da+m%C3%BAsica+sinf%C3%B4nica&qid=1642512011&s=books&sprefix=guia+da+m%C3%BAsica+sinf%C3%B4nica%2Cstripbooks%2C149&sr=1-1 5 - Música Impopular - Júlio Medaglia Música Impopular, do maestro Júlio Medaglia, é uma leitura maravilhosa. E leve. Adquirimos intimidade com a música de Debussy, Satie, Stravinsky e até compositores de cinema. A abordagem é bem simples, e ele trata os compositores como anedotas, fazendo a leitura ficar fácil e atraente. Lembro que li várias vezes na adolescência. Adorava ler que Eric Satie tinha dois pianos, um em cima do outro! Com poucos dados técnicos, o livro vai agradar mesmo a quem não é músico, assim como vários dessa lista. https://www.amazon.com.br/Musica-Impopular-J%C3%BAlio-Medaglia/dp/8526002074 6 - O Discurso dos Sons - Nikolaus Harnoncourt Musik als Klangrede (Música como Fala), ésse é o título original do livro de Harnoncourt. Lançado em 1982, ele contém muitos dos preceitos da chamada abordagem HIP (historically informed performance), em que os músicos utilizam técnicas e instrumentos do século XVIII para tocar as músicas desse período. O que acontece é que, a partir de Beethoven, no começo do século XIX, as orquestras foram crescendo, tanto no número de instrumentos solistas, como de repetidos - antes, se tínhamos 2 violinos tocando uma linha só, agora tínhamos 10. E, no século XX isso se expandiu ainda mais. Para tocar algum dos Concertos de Brandemburgo, de JS Bach, no século XVIII precisavam-se de, digamos, 9 músicos. Nos anos 50 estávamos nós a tocar com 60 músicos. Alguns grupos de músicos e musicólogos começaram a apontar que estávamos fazendo música antiga com técnicas modernas e instrumentos modernos, e que, por algum motivo, isso não era bom. O fato é que iniciou-se um movimento que visava a trazer de volta os maneirismos e trejeitos do barroco de volta às execuções modernas. A ideia não é má. Graças a ela tivemos vários discos imensamente importantes de maestros como o próprio Nikolaus Harnoncourt, Reinhard Goebel, Christopher Hogwood e tantos outros. Só que depois eles foram avançando. Passou-se a tocar Mozart (do classicismo) com interpretação HIP. Depois, Beethoven (do romantismo). E hoje, vemos até Stravinsky sendo tocado com instrumentos construídos exatamente em 1912, ou coisa assim. Passaram um pouco do ponto, mas a ideia foi boa. Esse livro de Harnoncourt eu indico mais a músicos que queiram entender a retórica da música barroca, sua instrumentação e valores de interpretação. https://www.amazon.com.br/Discurso-dos-Sons-Nikolaus-Harnoncourt/dp/8571101221 7 - Música, Cérebro e Êxtase - Robert Jourdain Jourdain explora aspectos físicos e psicológicos sobre como a música afeta a gente. Por que um determinado encadeamento de acordes pode soar obscuro, ou sublime? Por que tal melodia é tão triste? Ele explica ainda que os ouvintes de música clássica desenvolvem um tipo de memória a curto prazo, que os possibilita decorar os temas do começo de uma música e entender quando eles são trazidos depois, com desdobramentos e transfigurações tão variadas. É um livro brilhante, que eu recomendo a qualquer um que já tenha se submetido ao êxtase na música. https://www.amazon.com.br/M%C3%BAsica-c%C3%A9rebro-%C3%AAxtase-Robert-Jourdain/dp/8573021845 8 - A Arte da Regência - Sylvio Lago Junior Sylvio Lago Junior eplora a história da regência de orquestra de maneira fascinante. Também nos dá ferramentas para reconhecer o que há de diferente na técnica e na interpretação de diferentes maestros. Depois nos dá biografias e comentários sobre os mais importantes maestros do século XX, divididos em: Os grandes maestros históricos; Os grandes modernos; Maestros representativos da atualidade; Teóricos e divulgadores da música no século XX; Maestros autenticistas; As mulheres regentes; Os maestros brasileiros etc. A divisão em partes tão diferentes facilita a leitura e o torna um excelente livro de consultas. https://www.amazon.com.br/Arte-Reg%C3%AAncia-Antonio-Lago/dp/8560187103/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=125HBSE00F5GX&keywords=a+arte+de+regencia&qid=1642764755&sprefix=a+arte+da+regencia%2Caps%2C144&sr=8-1 9 - Ensaio Sobre a Noção de Profundidade em Música - Eric Rohmer (Mozart em Beethoven) Um ensaio muito interessante do cineasta francês Eric Rohmer. Parte do princípio de que você não precisa ser músico para poder falar e, principalmente, sentir, música. É uma leitura interessante, embora você possa terminar o livro com a impressão de que não aprendeu nada. É engano. Você aprendeu a pensar na música de maneira menos técnica e mais intuitiva. Aprendeu que pode compreender música em toda a sua profundidade sem muito aparato teórico (embora eu defenda que, quanto mais você ler, melhor). https://www.amazon.com.br/Ensaio-sobre-no%C3%A7%C3%A3o-profundidade-m%C3%BAsica/dp/8531205816 10 - As Suítes para Violoncelo - Eric Siblin Este livro narra em paralelo um pouco da história de Johann Sebastian Bach e do violoncelista catalão Pablo (Pau) Casals. Da maneira casual com que Casals encontrou num sebo em Barcelona uma edição das 6 Suítes para Violoncelo Solo de Bach e como essas obras se tornaram pilares na literatura para o instrumento. Ele nos faz entrar na vida desses dois músicos, com elementos biográficos dos dois. E ainda nos mostra um pouco o que é e o que foi a luta da catalunha para ser um país independente. Tudo com sensibilidade e simplicidade. https://www.amazon.com.br/Su%C3%ADtes-Para-Violoncelo-Eric-Sibilin/dp/8580331579 Estes não são, nem de longe, os "livros mais importantes já publicados sobre música clássica". Alguns podem até ser, mas eu separei aqui livros interessantes sobre música a partir de várias perspectivas. E que podem agradar tanto a músicos quanto a ouvintes casuais. Espero que tenha gostado da lista. Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- TOP 10 sinfonias que você tem que conhecer
A sinfonia é, talvez, a mais importante forma de criação musical. Aqui listo 10, mas ressalto que foi quase impossível chegar nessa seleção. Criada no período clássico (século XVIII), a sinfonia é uma forma. Isto é, é uma espécie de molde dentro do qual o compositor vai inserir suas ideias. Não raro, sinfonias se estabelecem como as peças mais importantes de seus compositores. São também peças-chave no repertório das orquestras sinfônicas. A seguir, tome 10 delas para conhecer. Se você não conhece muito música erudita, sugiro que escolha uma e escute bastante. No futuro, vou escrever mais sobre cada uma delas. Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Sinfonia Nº 29 A primeira da lista é também a mais antiga (da lista), de 1774. Criou um paradigma para sinfonias do futuro e é um dos maiores marcos da evolução e maturidade de Wolfgang Amadeus Mozart. É uma peça doce e serena, ou seja, clássica (o classicismo foi apenas um dos períodos, de cerca de 50 anos, da história da música erudita, que chamamos toda de música clássica por teimosia. Não está, no entanto, errado falar música clássica, porque nada mais chato do que um cidadão lhe corrigindo o tempo todo: é "erudita", "de concerto", blá blá blá...). A música do classicismo tem essa característica de ser elegante, meio "música pra relaxar" (argh!) e, entretanto, um pouco impessoal. É aí que Mozart se destaca dos seus contemporâneos, e o motivo de ele ser até hoje adorado: sua música nada tem de fria. Pelo contrário, demonstra uma personalidade passional e criativa como uma criança. Aliás, a imagem de Mozart crianção, como retratada no filme Amadeus (Miloš Forman), não está tão distante da realidade quanto costumam falar. Essa é a minha sinfonia favorita dele. Porque é despretensiosa, iluminada e sutil. Gravação recomendada - Orchestra Mozart - Regente: Claudio Abbado. Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) - Sinfonia Nº 5 Sabe quando você tenta fugir do óbvio, mas não dá? Essa sinfonia tem que estar em qualquer lista das mais importantes. Como são só 10 na lista, resolvi colocar apenas uma de Ludwig van Beethoven, mas o fato é que a 3ª, a 6ª, a 7ª e a 9ª facilmente poderiam estar aqui. Aqui temos uma guinada ao romantismo (século XIX). Da humanidade e de Beethoven: ele liderou o rol de compositores responsáveis por criar a linguagem romântica. Já na terceira, a "Eroica", ele vinha com uma paixão, um fervor, quase uma raiva, que arrebatavam a todos. Chegava-se a dizer que sua música era imoral (já repararam que cada geração tem a sua "música imoral"?). A 5ª, de 1808, é uma obra imponente. O primeiro movimento é todo baseado num motivo, o famoso tan tan tan taaaaan. Com essas quatro notas começa uma incrível manifestação que, mesmo não verbalizando (não gosto, mas existem sinfonias com voz), fala de redenção, de dúvidas, enfim, de uma grande jornada. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Carlos Kleiber. Hector Berlioz (1803 - 1869) - Sinfonia Fantástica Aqui o romantismo já estava consumado. Pode-se até argumentar que a Sinfonia Fantástica, de 1830, é o ponto final do primeiro parágrafo. Pensando melhor, ela começa o segundo parágrafo. A juventude, a plenitude da música romântica. É uma obra programática, ou seja, segue uma espécie de roteiro, que Hector Berlioz descreve no programa do concerto e no próprio nome dos movimentos. São cinco. Vão do singelo "Um Baile", ao atormentado "Sonho de uma Noite de Sabá". O personagem está apaixonado, mas, não sendo retribuído, resolve se matar com uma dose de ópio. Essa dose não o mata, mas o carrega para um sono cheio de premonições de morte, bruxas, e ele chega a sonhar que matou a amada e foi condenado à morte. Trágico? Romântico. Berlioz, que era um rei na arte da orquestração, (a habilidade de escrever efetivamente para orquestra, sabendo a linguagem e as peculiaridades de cada instrumento e de cada combinação) chegou a escrever um tratado sobre o tema. Essa sinfonia é tremendamente bem escrita, além de inspirada e revolucionária. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Boston (Boston Symphony Orchestra) - Regente: Seiji Ozawa. Robert Schumann (1810 - 1856) - Sinfonia Nº 2 É impossível falar de música, especialmente do séxulo XIX, sem mencionar Robert Schumann. Compositor excepcional, ele foi o arquétipo do homem do romantismo. Apaixonado, depressivo, doente, beirando a loucura... Schumann ouvia a nota lá na sua cabeça de maneira tão real que chegava a impedi-lo de compor esta mesma sinfonia. Sobre ela, é simplesmente maravilhosa. O terceiro movimento (19m40s) é de chorar de dor. Tem uma forma um pouco incomum para a época, especialmente pelo fato de todos os movimentos serem no mesmo tom (o usual era que se compusessem os movimentos centrais em tonalidades distintas dos movimentos extremos). De 1847, esta não é a sinfonia mais popular das 4 de Schumann, mas eu a coloco aqui sem hesitar, porque, se música é pra levar a gente ao êxtase, ela faz um ótimo trabalho. Assim como a 5ª de Beethoven, ela lida com a luta entre o fracasso e o triunfo. No final, parece prevalecer o bem, mas fica aquela pulga atrás da orelha (o que é fantástico). Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Rafael Kubelik. Johannes Bramhs (1833 - 1897) - Sinfonia Nº 1 Johannes Brahms fez 4 sinfonias. Escolher uma pra colocar aqui foi como escolher um filho favorito, mas a primeira tem mais importância. Veja, Brahms, nascido em 1833, era considerado o sucessor de Beethoven, falecido em 1827. Além das sonatas, as sinfonias são as obras mais importantes de Beethoven. Não sei se dá pra compreender, elas são um patrimônio da humanidade. E o que se espera do sucessor de Beethoven? Sinfonias milagrosas! Imagina a pressão! Então o que Brahms fez? Ele adiou bastante. Entregou um concerto para piano colossal, duas serenatas para orquestra lindas (que são ensaios, tateando o caminho, sem compromisso de ser sinfonias...). Trabalhou em rascunhos durante 14 anos. E, em 1876, fez-se a 1ª. E não era uma sinfonia. Era um soco. Ele a fez tão perfeita que imediatamente ganhou o apelido de 10ª de Beethoven. Ponto final. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Herbert von Karajan. César Franck (1822 - 1890) - Sinfonia em Ré Menor O belga César Franck compôs, em 1888, uma única sinfonia. E é uma das mais importantes de toda a história. Tecnicamente, depois dessa, os compositores tiveram que se reinventar (odeio essa expressão, mas me foge uma melhor). Franck usa um artifício chamado "estilo temático cíclico", o que significa que os temas (as melodias principais da sinfonia) estão entrelaçados. Os movimentos, em vez de terem cada um sua independência, são interligados por ideias. A bem da verdade, isso já ocorrera, por exemplo, na Sinfonia Fantástica e até na 2ª de Schumann. Mas aqui é considerado o ponto máximo da forma cíclica, em que Franck era mestre. Mas vamos além disso: é uma sinfonia existencial, um tanto pesada, agridoce. É simplesmente genial, mesmo que você escute sem se preocupar com a forma. As melodias e a orquestração vão cativar você, e até te extasiar. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony Orchestra) - Regente: Pierre Monteux. Antonin Dvořák (1841 - 1904) - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" Alguns compositores que faleceram após a nona: Beethoven, Dvořák, Vaughan Williams, Schubert, Bruckner. Existe, na Wikipédia em inglês, um artigo sobre "A maldição da nona". O compositor austríaco Gustav Mahler tinha medo de morrer depois da 9ª, então escreveu uma sinfonia sem número depois da oitava: "A Canção da Terra". Depois escreveu uma nova sinfonia, mas não podia chamar de 10ª, então fez o seguinte: chamou de 9ª e imediatamente começou a décima. Deu certo? Non! Morreu enquanto trabalhava nos esboços da décima. Antonin Dvořák foi apadrinhado por Brahms, e seu talento era óbvio. Compunha melodias fáceis de acompanhar, que ficavam na cabeça (o que alguns poderiam ver com maus olhos, mas no caso dele gerava simpatia), e, ao mesmo tempo, fazia um trabalho de orquestração sólido e lidava bem com a forma (lembre-se, a sinfonia é, antes de tudo, um molde, um esqueleto musical, em que o compositor tem que trabalhar respeitando várias formalidades). Sua Sinfonia Nº 9, apelidada "Do Novo Mundo" (especificamente "proveniente do novo mundo", e não "pertencente ao novo mundo"), foi escrita no período que ele passou nos EUA e estreada em 1893. Muito já foi dito sobre o quanto a sinfonia apresenta elementos da música americana e o quanto isso é balela. Era conhecida até os anos 50 como a 5ª Sinfonia, pois as 4 primeiras eram desconsideradas. Mas é uma obra do final do romantismo (é minha peça musical favorita) que, não obstante, aponta para o futuro. É sofisticada, viva. A rigor, a 7ª e a 8ª de Dvořák são trabalhos estruturalmente mais maduros: é como se ele tivesse escrito a nona para agradar o público. E agradou. Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra) - Regente: Eugene Ormandy. J. Sibelius - Sinfonia Nº 2 O Finlandês Jean Sibelius escreveu sete monumentais sinfonias. Não necessariamente em termos de comprimento, mas elas são superqueridas e importantes. Não à toa. De 1902, este trabalho já foi descrito como sublime, meditativo e triunfante. Sibelius disse que a sinfonia era uma "confissão da alma". É de uma beleza ímpar. Gravação recomendada - Orquestra do Concertgebouw (Concertgebouworkest) - Regente: Mariss Jansons. S. Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2 Algum bonitão aqui vai comentar: "mas Rachmaninoff?". É que ele só escreveu três sinfonias, que são consideradas obras primas, mas não AS obras primas. Até porque ele é mais conhecido pelos concertos e obras para piano. Não é conhecido como "o grande sinfonista Sergei Rachmaninoff". Mas eu incluí a peça aqui porque, além de ser uma das minhas favoritas, é uma das mais fáceis de se gostar. Especialmente o 1º e o 3º (29m30s) movimentos. Meu momento favorito é a tensão absurda criada a partir de 35m51s. Repare nos metais, em contraste com as cordas. Claro que têm aqueles que dizem que é romântico em excesso (Rach era um romântico anacrônico, pois já se havia iniciado o modernismo), mas peraí. Não é de mau gosto. É muito bonito. O século XX (1907) começava e ele nos dava essa peça arrojada e brilhante. Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Lorin Maazel. D. Shostakovich - Sinfonia Nº 5 Dmitri Shostakovich é o compositor mais enigmático da história. Não abandonou a Rússia após a revolução (como Rachmaninoff fizera). Em vez disso, viveu uma relação de amor e ódio com o regime. Às vezes era denunciado, que é quando uma obra de arte era considerada inapropriada para o público soviético, e o artista ficava encrencado, tendo que se justificar, era ameaçado... Foi o que aconteceu com a 4ª sinfonia. E aí o que ele fez? O que ele fez tem várias camadas. Publicou, em 1937, a 5ª, com o subtítulo "Resposta de um artista soviético à crítica justa". Nossa, que subserviente! Mas a música tem recados. Ele simula tiros e explosões com as percussões. Simula gelo e, nesse gelo, uma única voz se levantando (um oboé, no 3º movimento). Simula coros da igreja ortodoxa. O Kremlin olhava e pensava: "gostei, está falando do sofrimento do nosso povo nos anos de opressão". O público olhava e pensava: "está falando do nosso sofrimento nos anos de opressão". Percebam que eu escrevi "anos de opressão" duas (tecnicamente três) vezes. É simples. Os anos que o regime considerava de opressão eram os anos antes da revolução. Já o público, sabia que Shostakovich falava da opressão do próprio regime. Na estreia, relatam-se diversas pessoas chorando. Ao final da apresentação, Shostakovich foi aplaudido de pé por mais de meia hora! Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Semyon Bychkov. Essa lista, reconheço, é polêmica. Porque tem quatro compositores que estão entre os maiores sinfonistas de todos os tempos e eu não incluí. Confesso que ainda tenho que aprender a gostar de Haydn, Schubert (se bem que adoro a 5ª e a 8ª), Bruckner e Mahler (até gosto de várias das suas sinfonias, mas não estão entre as nove que eu levaria a uma ilha deserta). Estas ausências provam, de qualquer forma, que é uma lista pessoal. São peças que eu adoro desde criança ou adolescente, formaram minha personalidade. E quando você vai recomendar uma coisa a alguém, tem que ser algo por que você tenha, sobretudo, afeto. Farei ainda 2 listas de sinfonias indispensáveis, quem sabe a sua favorita esteja nestas.
- Ravel - Bolero - O Exercício que saiu do Controle
Quando, em 1928, Maurice Ravel compôs o seu Bolero, ele já era um compositor famoso e amado pelo mundo inteiro. Sua intenção, assim como em La Valse, era escrever um balé. Mas novamente a obra se tornou muito mais conhecida como uma peça sinfônica. Se pararmos para analisar, no sentido estritamente musical, a peça não deveria funcionar despida da dança. É uma simples melodia repetida incessantemente pela orquestra, que nunca traz nenhuma novidade. A não ser na orquestração. Ela cresce e cresce e cresce. Ouvimos vários instrumentos destacados como solistas e várias combinações. Até a apoteose final, em que a orquestra toda está dominada pelo ritmo do bolero espanhol. Está marcardo Tempo di bolero - Moderato assai, que significa muito moderado. A maioria dos regentes a toca mais rápido do que o concebido por Ravel. Aliás, temos duas indicações conflitantes do que seria o tempo ideal para o compositor: a partitura atribui 72 bpm para cada semínima, o que resultaria em um tempo de pouco mais de 14 minutos; e a gravação que Ravel fez tem 17 minutos. Lembrando que originalmente ele atribuiu 66 bpm à semínima, o que dá realmente os 17 minutos. Depois é que foi mudado, em edições posteriores, para 72. Eu sempre achei mais impressionantes as gravações mais lentas. Especialmente as que conseguem ser excitantes sem correr. O controle que o regente tem que ter é absurdo. Porque a orquestra quer correr. Se aumenta a dinâmica e a textura orquestral, o natural é que aumente também a velocidade. Mas não se pode fazer isso: em nenhum momento a partitura indica variação de tempo. O maestro tem que ficar inabalável. A caixa clara, por exemplo, toca durante todos esses minutos, a seguinte célula rítmica: Para um percussionista é facinho tocar isso, mas por 17 minutos? E sem correr? Torna-se um desafio. A orquestra que ele pede é a seguinte: 1 Flautim 2 Flautas (1 alternando para Flautim) 2 Oboés (1 alternando para Oboé d'Amore) 1 Corne Inglês 2 Clarinetes (1 alternando para Clarinete em mi bemol, chamado Requinta no Brasil) 1 Clarinete Baixo (Clarone) 3 Saxofones 2 Fagotes 1 Contrafagote 4 Trompas 4 Trompetes 3 Trombones 1 Tuba 3 Tímpanos Percussão (Gongo, Pratos, 2 Caixas Claras, e um Bumbo Sinfônico) 1 Celesta 1 Harpa Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos A peça começa com esse ritmozinho tocado pela caixa, com golpes pizzicato das cordas. É só o acompanhamento. A melodia surge logo na flauta. E vai passar por diversos instrumentos, principalmente das madeiras: o clarinete, o fagote, o saxofone, o flautim. Sempre num incessante crescendo. Quando eu era pequeno lembro de ter perguntado aos meus pais de quem era o Bolero de Ravel. Porque o nome já vem assim. Bolero de Ravel. Depois, quando conheci outras peças dele, sobretudo Daphnis et Chloé, fiquei impressionado como um mesmo compositor podia escrever as duas peças. Daphnis é uma obra prima de sutileza, parece que nunca repete uma nota sequer. O Bolero é essa coisa quase irritante e infinitamente repetitiva. Depois a gente se acostuma e aprende a apreciar justamente a repetição, o movimento quase sexual da obra. Por falar nisso, ela foi encomendada, como já falei, como um balé, por Ida Rubinstein, que a dançou na estreia e causou alvoroço. Parecia realmente sexual, a intenção da música e da dança. Aos poucos a peça foi se desvencilhando do balé e ficando mais conhecida e tocada em salas de concerto. Isso se dá porque, embora seja atípica de Ravel, a peça se tornou a mais conhecida do compositor. Ele se irritava: "textura orquestral sem música"... Pode-se dizer que a obra se tornou mais famosa que o compositor. Saiu do controle. Mas a música é insistente. Tanto em sua estrutura, quanto em sua carreira. Permanece como uma das melodias mais reconhecíveis da história da música clássica, e por quase um século vem sendo gravada e executada em tudo que é disco e concerto. Particularmente, repito que aprendi a apreciar a insistência da peça, o ostinato crescente que, no fim, explode, como se estivesse, antes, preso numa gaiola. Gravações recomendadas - Daniel Barenboim, com a Orquestra de Paris - Essa é uma das mais famosas gravações. O controle de Barenboim e dos músicos é extraordinário. Foi gravada em 1981. https://open.spotify.com/album/4iFMjQ9K032UvHJTjFAhvd?si=jPxkfG7ESZ2s0AJZ1HDOiw - Jean Martinon, com a Orquestra de Paris - Uma versão mais rápida com a mesma orquestra da gravação anterior. Martinon faz uma interpretação famosamente excitante, quase descontrolada, da música. É de 1975. https://open.spotify.com/album/5mPyahvfWUvgXneRoNHZde?si=2MINHAmHTJ2o3VCI6kFlhg - André Cluytens, regendo a Orchestre de la Société des Concerts du Conservatoire - De 1963, essa versão é excepcional. Não é polida como costumamos ouvir hoje, mas tem um temperamento efusivo que também não é mais comum. https://open.spotify.com/album/6dSnUURfdvttgvVmeTz26X?si=2uUFMBGMTJ29B3pxzAhHNw - Herbert von Karajan, regendo a Filarmônica de Berlim - De 1987, essa gravação também é muito famosa. O som é limpo, mas a selvageria está lá. https://open.spotify.com/album/0WYg0YfdTZxROBvnogZWdo?si=vF-1NnR1SsGCH3qSf1gYRQ Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Ravel - La Valse - A apoteose da Valsa vienense
O francês Maurice Ravel (1875-1937) foi o rei da arte da orquestração. Ele conseguia tirar cores únicas da orquestra, atribuindo suas melodias sempre aos instrumentos mais perfeitos, criando massas sonoras e texturas que nos encantam até hoje. Seu trabalho La Valse, um poema coreográfico, de 1920, é um perfeito exemplo disso. A obra começa difusa, turva, como se enxergássemos um ou outro casal dançando um arremedo de valsa. No seu decorrer, ela vai tomando proporções cada vez mais concretas até que somos levados às últimas consequências da valsa vienense. Ravel tinha em mente um balé, e o ofereceu a Serge Diaghilev. Este, depois de escutar a versão para dois pianos disse que era uma obra prima, mas não era um balé. Era um retrato de um balé. Ravel se ofendeu e a amizade dos dois se abalou. Apesar das aspirações cênicas do compositor, a obra é muito mais executada como peça de concerto. Uma espécie de poema sinfônico. E também existem versões para piano e para dois pianos. Todas, mas sobretudo a sinfônica, são gravadas com frequência. O compositor anotou na partitura o que ele tinha em mente como programa da peça: "Nuvens em turbilhões deixam entrever, em frestas de luz, casais que valsam. Elas se dissipam pouco a pouco; pode-se então distinguir um salão imenso povoado por uma multidão que gira. O palco ilumina-se progressivamente. A luz de lustres explode no teto e temos uma corte imperial por volta de 1855." A orquestra que ele pede é a seguinte: 2 Flautas 1 Flautim 2 Oboés 1 Corne Inglês 2 Clarinetes 1 Clarinete Baixo 2 Fagotes 1 Contrafagote 4 Trompas 3 Trompetes 3 Trombones 1 Tuba Tímpanos Percussão (triângulo, pandeiro, bombo sinfônico, tambor, pratos, castanholas, gongo etc) Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos 2 Harpas Abaixo, temos a Sinfônica da Radio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester), regida por Alain Altinoglu. Note como a escrita começa confusa, como se estivesse despertando. O próprio ritmo não fica claro. Os instrumentos graves dominam essa seção inicial. Aos poucos vai-se discernindo uma valsa, com seu ritmo 3/4 ficando mais explícito. Quando os violinos assumem a melodia (2m08s), já está tudo um tanto mais claro. Nesta seção central ela é bem tradicional, com belas melodias nas cordas, ou no oboé. Mas aos 3m59s o tímpano quebra o raciocínio da música e traz desdobramentos mais exuberantes, de ritmo forte. Ravel alterna sabiamente, e com muita técnica, momentos mais calmos com outros mais exaltados. Aos 4m56 os oboés itroduzem uma ideia bem vienense, bem típica. Mas a orquestra tem suas explosões e seus conflitos. Uma hora tudo parece voltar ao normal, só para depois sermos surpreendidos por um ataque mais furioso. No final, a dança vai ficando frenética e louca. As melodias já não se distinguem mais, as percussões avançam sempre, a velocidade almenta. O aturdimento é completo, como se fosse mesmo um retrato de uma alucinação. A escrita orquestral é maravilhosa, ora destacando instrumentos (um oboé, um trompete), ora mesclando suas sonoridades para criar as texturas mais imaginativas. Aos 12m12s começa o febril coda, em que a ideia de casais valsando tranquilamente já parece distante. Considerações finais Ravel já era um compositor extremamente famoso, tido como um dos maiores do mundo, quando escreveu La Valse. O balé estreou em 1926 na Bélgica, inicialmente como música cênica, mesmo, pelo Royal Flemish Opera Ballet. Diversas encenações se sucederam, como as coreografadas por Bronislava Nijinska (irmã do lendário bailarino Vaslav Nijinsky), por George Balanchine e por Frederick Ashton. Mas à medida em que as os discos se tornavam populares, ela foi se tornando cada vez mais presente em gravações e concertos. O próprio Ravel providenciou as versões: para piano e para dois pianos. Gravações recomendadas Versão orquestral - Charles Dutoit, regendo a Orquestra Sinfônica de Montreal - Essa gravação, de 1982, é muito famosa. Dutoit explora bem os contrastes da peça e cria um cenário perfeito. https://open.spotify.com/album/07g1hfGy288giLhTE18BHS?si=PjebYCNBT02yFKToqvQ_aQ - Seiji Ozawa, regendo a Sinfônica de Boston - Uma versão altamente polida, de 1975, mas que não deixa de ficar insana quando precisa. https://open.spotify.com/album/5qSe8soVjEvU4D2yeaHx0E?si=M_3YBxGkRBKDAIuV72ZsFA - André Previn, com a Filarmônica de Viena - Gravada ao vivo em Viena, em 1985, essa interpretação é bem contundente e lindamente tocada. https://open.spotify.com/album/6OeEKk3jmR3NaGutUhM9PR?si=U3hYJ47bSROwlADaA1mrfA - Myung-Whun Chung, com a Filarmônica de Seul - A orquestra coreana toca com vigor e paixão. É uma das gravações mais excitantes. https://open.spotify.com/album/0qXen3wAcMVWZCUdl5M5HQ?si=t8Fy30mjTIS0I9H6XLGbAQ - Robert Trevino, com a Orquestra Nacional Basca - De 2021, talvez seja a versão mais enlouquecida da valsa. Elogiadíssima pela crítica, é uma leitura realmente espetacular. https://open.spotify.com/album/0BtIh9WFd4Cwcc9SKgP2Vd?si=d9vM-xiIRUyohUi_AJE5wg Versão para piano solo - Juja Wang - Lançada no seu álbum Transformations, de 2010, é uma leitura invejável, que combina a técnica perfeita e a musicalidade sublime da pianista chinesa. https://open.spotify.com/album/5Z1jSeZk8dmX4TU21VBjT1?si=mhH8MG_5RP6nb_eG_zWpUw - Khatia Buniatishvili - A Georgiana Khatia gravou La Valse no seu disco Kaleidoscope, de 2016. É uma leitura apaixonada e expressiva da obra. https://open.spotify.com/album/0R9WJLnbORViLq7fuJiK54?si=DMe24-PfQcaKBUR7icQITw Versão para 2 pianos - Martha Argerich e Nelson Freire - No disco Salsburgo, gravado ao vivo nessa cidade em 2009, Martha e Nelson arrasam. Os dois parecem um só pianista de 4 mãos. A carga, a densidade da gravação é arrebatadora. https://open.spotify.com/album/0jYF4GxiBl2aDyyQdETdnC?si=ES6mT9EURcqQwXdut4mj4g Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Análise
A Sinfonia Nº 8, em Sol maior, Op. 88 de Antonín Dvořák, foi composta na República Tcheca (na Boêmia) e finalizada em 1890. Trata-se da segunda sinfonia mais conhecida do compositor Tcheco, depois da 9ª, "Do Novo Mundo". Foi composta para a ocasião da eleição de Dvořák para a Academia Boêmia de Ciências, Literatura e Artes. Ele a compôs em pouco mais de dois meses em sua casa em Vysoka. Ele quis deliberadamente fazer uma obra com uma densidade diferente da 7ª Sinfonia, uma obra sombria e soturna. A 8ª tem fortes elementos de música Tcheca e Eslava, e, embora tenha 4 movimentos, apresenta várias inovações e uma abundância de temas incomum. Mesmo consideravelmente mais leve que a anterior, ela não deixa de ser interessante sob vários aspectos, como a orquestração, a forma e a inventividade temática. Uma das inovações é que ele apresenta uma introdução não apenas no começo do primeiro movimento, mas no começo de cada seção deste (exposição, desenvolvimento, recapitulação). Quando foi publicada, saiu como Sinfonia Nº 4, pois havia uma grande confusão na publicação das sinfonias de Dvořák (algumas nem foram publicadas durante sua vida; a primeira, ele sempre achou que tinha perdido). E, na verdade, até os anos 50, em alguns LPs, você vai encontrar com essa numeração. É uma obra lírica, espontânea e muito bonita. A obra Tem cerca de 40 minutos de duração. A orquestra é a seguinte: 2 Flautas (a segunda alternando para Flautim) 2 Oboés (1 alternando para Corne Inglês) 2 Clarinetes 2 Fagotes 4 Trompas 2 Trompetes 3 Trombones 1 Tuba Tímpanos Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos Abaixo, temos a interpretação do maestro Andrés Orozco-Estrada com a Sinfônica da Rádio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester). 1º Movimento - Allegro con brio (19s) Começa com uma introdução lenta, com uma melodia contemplativa nos violoncelos e clarinetes. Embora não seja um tema formal, a melodia terá importância no movimento. A introdução faz uma modulação (começa em sol menor e termina em sol maior). Desse sol maior nasce o saltitante Ideia temática A (58s), na flauta. A orquestra responde e faz um crescendo (1m20s). A Ideia aparece nas trompas (1m30s). O Tema 1 aparece nos violoncelos e violas (1m38s). A orquestra explode na Ideia temática B (1m53s), com alegria. Aos 2m10s os violinos vazem soar a Ideia temática A. A música se acalma com a trompa e as cordas fazem soar pela primeira vez o Tema 2 (2m29s), de caráter mais calmo. Aos 2m49s a flauta introduz o Tema 3, que tem características da música folclórica tcheca. Uma nova Ideia temática (C) aparece aos 3m26s nos clarinetes e flauta, e é repetido pelos violinos. Temos 6 cores já, representando 6 melodias diferentes que ele vai trabalhar. O desenvolvimento começa aos 4m21s com a reapresentação da introdução. Aos 5m03s temos a Ideia temática A, novamente na flauta. Mas dessa vez ela tem desdobramentos diferentes. De orquestração sensacional, esse desenvolvimento também é extremamente criativo no tratamento que dá a todos os temas. Repare como o Tema 1 aparece aos 5m56s totalmente adulterado, nas violas, com arabescos da flauta. A primeira frase do Tema 1 é modulada várias vezes nessa passagem, passando por vários instrumentos, num episódio de aumento de tensão até que atingimos os acordes (6m45s). Já completamente desfigurado, é essa primeira frase do Tema 1 que ouvimos no ponto culminante da música, nos contrabaixos (6m54s). Aos 7m15s os trompetes fazem o tema da introdução, também alterado, desprovido de sua tranquilidade original, sob tremolos das cordas. Agora temos a recapitulação, com o corne inglês fazendo a Ideia temática A (7m54s), com resposta do clarinete e da flauta. O Tema 3 aparece aos 8m27s nos clarinetes. Ouvimos, então, a Ideia temática C (9m03s). Aos 9m42s temos o coda, encerrando o movimento de forma agitada. 2º Movimento - Adagio (10m40s) O segundo movimento é lírico, lento e belo. Já começa com o Tema 1 introduzido pelas cordas. Ele é em forma A-B-A-C-B-A. A parte a é nobre e melancólica. Os clarinetes (11m25s) dão um tom misterioso à música. Esse trecho é dominado pelas madeiras e pela trompa. Depois de uma divagação dos violinos, as madeiras caem dramaticamente na frase que inicia o Tema 1 (12m48s). O tema aparece entrecortado por afirmações das cordas. Uma flauta e um oboé o finalizam (13m12s), terminando em tonalidade maior (13m41s). Aqui já tem início a parte B (13m46s), com o acompanhamento dos contrabaixos e pontuações das trompas. O Tema 2 em si, está na flauta e no oboé, novamente (13m58s). É uma seção completamente contrastante da primeira, sendo suave e até burlesca, em que ouvimos traços da música de Richard Wagner. Depois de um crescendo da orquestra, ouvimos o Tema 1 (15m37s), mais assertivo, acalmando-se no fim. Após as intervenções das flautas e dos clarinetes, temos a parte C (17m30s), que é completamente diferente. É atormentada e dramática. O Tema 3 é apresentado pelas trompas. Temos várias modulações e mudanças na textura orquestral. Até que voltamos quase subitamente à parte B (18m52s). O Tema 2 volta tranquilo nos violinos (18m58s), invertendo os papéis com as flautas, que dessa vez fazem as escalas descendentes. O Tema 1 volta em forma de coda (20m15s), terminando o movimento de maneira calma. 3º Movimento - Allegretto grazioso - Molto vivace (21m38s) O terceiro movimento é uma valsa lenta e um tanto inquieta. Já começa apresentando seu Tema 1 nos violinos. As flautas e oboés o repetem. De muita beleza melódica, esse movimento tem características de Johannes Brahms. A parte B, com o Tema 2, pertence ao oboé e à flauta (23m15s). Ela é mais tranquila e cantante. Os violinos a repetem, e depois ela volta ao oboé e à flauta. O Tema 1 retorna (25m17s), trazendo de volta uma certa angústia delicada para o movimento. O ligeiro coda nos traz lembranças do Tema 2 (26m58s), sem, no entanto, apresentá-lo diretamente. 4º Movimento - Allegro ma non troppo (27m45s) O chamado dos trompetes já é o Tema 1. Ou assim podemos pensar, pois o longo tema principal (Tema 2) é apresentado logo depois pelos violoncelos (28m18s). É uma melodia bela e tranquila, mas vai adquirir feições mais dramáticas. Os contrabaixos, com os fagotes o repetem aos 29m12s ligeiramente alterado. A tensão vai crescendo, em forma de variações sobre o Tema 2. Temos um episódio (variante) na flauta aos 30m15s tocado de maneira excepcional pela primeira flautista Clara Andrada de la Calle. O Tema 1 volta logo depois (30m43s), na orquestra toda. Seguem-se variações em tom menor e aparições dos dois temas. O ponto culminante é aos 32m34s. Até que volta o Tema 2 na sua forma original, nos violoncelos (33m05s). Os desdobramentos são ligeiramente diferentes, lembrando-nos que estamos ouvindo uma variação. Outra bela variação, com uma textura etérea, tocada nos contrabaixos é ouvida aos 34m11s. Depois temos uma no clarinete (35m13s), completada pelos violoncelos e oboé. Uma explosão da orquestra (37m14s) muda a atmosfera da peça, nos aproximando do brilhante coda. Considerações finais A Sinfonia foi estreada em 2 de fevereiro de 1890, no Rudolfinum, em Praga, sob a regência de Dvořák. Assim como na 7ª Sinfonia, houve muito transtorno entre o compositor e seu editor Simrock, de forma que a peça não foi publicada por este. Ela foi publicada pela editora inglesa Novello, o que acabou conferindo à sinfonia o apelido ocasional de "Inglesa". Foi um sucesso estrondoso de público e de crítica, fazendo a obra já entrar para o rol das grandes sinfonias do romantismo. Gravações recomendadas - Herbert von Karajan regendo a Filarmônica de Viena - Lançada em 1987, e com um som excelente, trata-se da melhor gravação de Karajan da sinfonia (ele a gravou várias vezes). https://open.spotify.com/album/7jYg0obdjvMG4JcF6ptMWm?si=lr3cmr_IRuOdk9YUpHhoCg - George Szell, com a Orquestra de Cleveland - De 1970, tem a Orquestra de Cleveland soando magnífica sob a regência de Szell. Não é tão vigorosa, como se espera deste maestro, mas é muito musical. https://open.spotify.com/album/2HI1NMlbbcgDmC4Phr8EQW?si=4LVS4gWLSRmzYxTZxzdR2Q - Claudio Abbado, regendo a Filarmônica de Berlim - Essa gravação ao vivo de 1994 é bem trabalhada e tocada. Abbado é empolgante ou lírico nos momentos certos. https://open.spotify.com/album/7A7EoMuq5y1HpGfG1x6aNY?si=m-rGeXKXRkiQ6gN5mcHqaA - Charles Mackerras, regendo a Orquestra Philharmonia - Uma versão muito competente do australiano Mackerras e da orquestra londrina, é de 2008. https://open.spotify.com/album/0rdWWoaWrv0OTzpDdoHq5x?si=QWrBU20wSt22yaeN2gIVBw Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Músicas Fofinhas - Caixinha de Música Quebrada - Villa-Lobos
A Caixinha de Música Quebrada, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é uma peça fofinha. Ela é exatamente isso, a representação de uma caixinha de música meio defeituosa, dissonante, pelo piano. Tem um subtítulo: Para o Souza Lima Brincar. Souza que era um compositor, pianista e maestro contemporâneo de Villa. A escrita é maravilhosa, e o efeito é encantador. Foi composta em 1931. Abaixo, a interpretação da pianista brasileira Anna Stella Schic, com a partitura. Se você, como eu, gosta de ver o pianista, então veja a interpretação de Hyeri Choi. Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Análise
Veja aqui a análise da 9º Sinfonia, chamada "Do Novo Mundo". Agora falaremos da 7º Sinfonia, em Ré menor, Op. 70, uma das peças mais sérias em maduras do compositor tcheco Antonín Dvořák (1841-1904). A peça é de 1885 e foi originalmente publicada como Sinfonia Nº 2 (o editor de Dvořák fazia uma confusão com a numeração das sinfonias). Esse mesmo editor (Fritz Simrock) quis pagar 3.000 marcos pela obra, o que era pouco, e causou um mal-estar entre os dois. No final, concordaram em 6.000 marcos. É uma sinfonia anterior ao período em que ele foi morar por alguns anos nos Estados Unidos. E, ainda que contenha características da música tcheca, é muito mais sombria, escura e misteriosa que esta. A motivação de Dvořák de compor uma nova sinfonia surgiu quando ele ouviu a 3º Sinfonia de seu amigo Johannes Brahms, outra obra prima. Concidentemente a London Philharmonic Society o encomendou uma peça no mesmo período, e ele aproveitou para escrever a sinfonia. Também tem inspiração em trens. Dvořák era alucinado por eles. Ele disse que o primeiro movimento surgiu na sua mente quando viu a chegada alegre de um trem na Estação de Praga. Quando terminou o segundo movimento (o lento) ele escreveu: "dos anos tristes". Tinha perdido sua mãe recentemente e sua filha Josefa, 10 anos antes (com dois dias de vida), foi um período doloroso para ele. Dvořák foi um dos compositores mais originais e geniais do romantismo, coisa que nem sempre é lembrada pelos críticos. Por muito tempo o consideraram apenas um bom melodista e, talvez, um orquestrador competente. Ele é muito mais que isso, sua música transborda criatividade, a escrita é idiomática (excelente orquestrador) e, mais importante, ele compunha em todos os estilos: música de câmara, música sinfônica, música concertante, música para piano, música sacra e ópera. A obra Com cerca de 40 minutos de duração, a sinfonia utiliza uma orquestra tipicamente romântica: 2 Flautas (uma alternando para Flautim no terceiro movimento) 2 Clarinetes 2 Oboés 2 Fagotes 4 Trompas 2 Trompetes 3 Trombones Tímpanos Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixo Abaixo, a interpretação que vai nos guiar, da Sinfônica da Rádio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester), regida brilhantemente por Andrés Orozco-Estrada. 1º Movimento - Allegro maestoso (10s) Ela começa a introdução/exposição do primeiro movimento em tom misterioso, com um rufado dos tímpanos, um tremolo dos contrabaixos, e duas trompas oitavadas. Tudo em pp (pianíssimo, muito fraco). O Tema 1 logo aparece (15s) nos violoncelos e violas. É logo repetido pelos clarinetes (28s). A trompa apresenta a Ideia A (1m34s), respondida pelo oboé (chamo de ideias as melodias que não são propriamente temas, mas que têm importância nos movimentos). Aos 1m58s o Tema 1 aparece na orquestra em tutti, ameaçador, marcado ff (fortíssimo). Após uma transição que acalma os ânimos, o Tema 2 aparece nos clarinetes e na flauta (2m37s). Este tema é bem mais doce e sereno, sendo contrastante com o 1º. Aos 2m58s os violinos o repetem. O Tema 1 volta aos 4m12s, apenas parcialmente, e aos 4m28s ouvimos ecos do Tema 2 transfigurado. O desenvolvimento começa aos 5m17s, trabalhando o Tema 2. Aos 5m33s o Tema 1 aparece nas madeiras. Os dois temas serão bem trabalhados aqui, às vezes aparecendo de forma parcial, num rompante de algum instrumento. Ouça o Tema 2 em tom menor, nos clarinetes (6m08s). Aqui, como é típico em Dvořák, um tema que antes era calmo se torna intranquilo, nervoso. Aos 6m42s começamos a ser levados ao ponto culminante do movimento, a recapitulação, que explode aos 6m53s em tutti com o Tema 1. O Tema 2 aparece novamente nos clarinetes, aos 7m28s. Essa recapitulação é quase igual à exposição. Um coda, a princípio brilhante e tenso, mas depois calmo, encerra o movimento. 2º Movimento - Poco adagio (12m03s) O segundo movimento inicia com um coral das madeiras (Tema 1), lideradas pelo clarinete em cantilena. Após uma subida sutil nas cordas (12m44s), o longo Tema 2 (que é o principal) aparece nas flautas e no oboé (12m53s). Esse movimento é de uma beleza transcendental, fruto de pura inspiração melancólica. Apesar disso, não é doloroso, é um tanto contemplativo. As cordas fazem um episódio enigmático (13m27s), pontuado pelos trombones e pelas madeiras. A trompa (14m09s) parece decretar o fim do clima soturno (temporariamente). A mesma trompa apresenta o Tema 3 (14m48s). Aos 15m28s a orquestra explode em um episódio cheio de carga e de drama, de beleza ímpar. O clarinete (15m52s) acalma de novo tudo e dá início a uma parte em que sua melodia é ecoada várias vezes (e desenvolvida). Esse movimento é muito influenciado por Brahms. Se bem que, aos 18m08s, quem ouvimos é Wagner. O Tema 2 reaparece (18m18s), desta vez nos violoncelos. Depois de mais uma parte misteriosa, temos o coda, liderado pela trompa e pelo oboé, e depois pela flauta. Termina de maneira calma. 3º Movimento - Scherzo - Vivace - Poco meno mosso (22m54s) O scherzo é uma valsa. Seus 2 temas principais aparecem concomitantemente nos violinos e nos fagotes, de maneira concorrente, logo no começo. Bastante remetente à República Tcheca, é aqui que Dvořák solta as cores de sua pátria. A melodia é cativante e delicada, o que também é típico do compositor. Aos 23m24s as posições são trocadas: os violinos fazem a contramelodia e as madeiras, a melodia principal. As acentuações rítmicas se tornam mais fortes (repare a partir dos 23m54s). Logo depois (24m05s) os dois temas conjuntos ressurgem, passeando pela orquestra, e aos 24m32s ela os toca em fortíssimo, de maneira bem ritmada e acentuada. Aos 25m26s o oboé lança o trio, a parte contrastante, com um novo tema. Este tema fará a orquestra inteira participar de maneira lírica e graciosa. O trio é encantado e não parece se abalar com a dramaticidade do restante do movimento. O scherzo volta aos 27m59s nos violinos, com os fagotes e trompas fazendo a contramelodia. Depois troca de novo, os violinos fazem a contramelodia e as madeiras fazem o tema. Depois temos um coda e termina o movimento de forma assertiva. 4º Movimento - Finale: Allegro (30m59s) O quarto movimento começa com uma ideia temática nos clarinetes, trompas e violoncelos. Ele tem caráter episódico, ou rapsódico, com ideias se sucedendo a outras sem interrupções. Aos 32m23s surge a ideia temática 2, ritmada, nos violinos. A escrita orquestral é excepcional, e o entrelaçamento de ideias temáticas gera um movimento complexo, mas não difícil de acompanhar. Temos abundantes modulações e mudanças de textura orquestral. Por fim, o a primeira ideia temática ressurge (aos 36m17s, no clarinete e, então, nas cordas aos 36m54s) e, depois, a ideia 2 domina o final da peça. Considerações finais O próprio Dvořák a estreou regendo a orquestra em 22 de abril de 1885, no St. James Hall, em Londres, com grande sucesso. A publicação é que foi complicada. Mas até hoje é considerada possivelmente a sinfonia mais madura e séria do compositor. Foi muito gravada, tanto em integrais das sinfonias, como sozinha. Claro que não tanto quanto a 9º Sinfonia,"Do Novo Mundo", mas tem uma carreira ainda assim invejável. Gravações recomendadas - Colin Davis, regendo a Sinfônica de Londres - Essa gravação, de 1999, que vem com a 8ª Sinfonia (saiu pelo selo Alto), é uma das mais espetaculares que eu já escutei. Melhor que todas as outras gravações de Davis, seja com a mesma Sinfônica de Londres, seja com a do Concertgebouw. https://open.spotify.com/album/0qlUn80zPl2dD4nl11nS7l?si=eZ1cs_HeS9uJKksyqkerlw - Christoph von Dohnányi, com a Orquestra de Cleveland - Dohnányi e Cleveland gravaram famosamente a 7ª, a 8ª e a 9ª (se bem que também gravaram a sexta, que eu lembre). São versões adoradas pelo seu vigor, pelo toque impecável da orquestra e pelas interpretações acertadas do maestro. É de 1987. https://open.spotify.com/album/1nLHM3vtp1metenhiGKTA9?si=rF05t8VqRaues-v3HpS1yw - Witold Rowicki, regendo a Sinfônica de Londres - Um dos grandes ciclos de Dvořák, o de Rowicki tem na 7ª um dos seus pontos altos. A precisão rítmica é de impressionar, e o som gravado é muito bom, de 1971. https://open.spotify.com/album/5aQUmRh6f4uVkb1rQt3N6Z?si=UmUvhvAtSLumoR5S_-4-Jg - Myung-Whun Chung, regendo a Filarmônica de Viena - Essa versão, de 1997 é um pouco mais plácida, mas a orquestra toca com uma beleza e facilidade impressionantes. É acompanhada pela 3ª Sinfonia. https://open.spotify.com/album/4mtwY6uixI0z46Ots4D2cA?si=Ih2k1ZecRx2ucCHO_vqENQ - Leonard Bernstein, com a Filarmônica de Nova Iorque - De 1966, essa gravação tem muito brilho e um som bom. https://open.spotify.com/album/19zpAzqDHn9KBN05j5h0W4?si=MqDVt9evRtWBuVCbv_BSZg - Nikolaus Harnoncourt, regendo a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã - Tardiamente Harnoncourt se desvencilhou um pouco da música barroca com interpretação de época e passou a gravar com orquestras modernas. Sua 7ª de Dvořák é exemplar, extraindo um som polido e empolgante da Concertgebouw. Foi lançado em 1998. https://open.spotify.com/album/0yCukyMYC3GM9svpFF03MU?si=hK_OgnCYQJu6000ODs1xZg Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Análise
Quadros de Uma Exposição é uma suíte para piano de Modest Mussorgsky (1839-1881). Ele era um membro do Grupo dos Cinco, de São Petersburgo, com 5 compositores russos de extrema importância: ele, Mily Balakirev (o lider), César Cui, Nikolai Rimsky-Korsakov e Alexander Borodin. Eles se empenhavam em desenvolver e divulgar uma música nacionalista russa. Vale lembrar que na segunda metade do século XIX os movimentos nacionalistas se difundiram - Grieg, na Noruega; Smetana, na República Tcheca; Alberto Nepomuceno, no Brasil etc. Na Rússia, Mikhail Glinka era celebrado como o pai da música erudita nacional, e os 5 continuaram seu trabalho, entre os anos de 1856 e 1870. Pois bem, Mussorgsky não era um compositor muito prolífico, tendo nos deixado poucas obras. Algumas delas são: a ópera Boris Godunov, o poema sinfônico Noite no Monte Calvo, de que falarei em breve, e os Quadros de Uma Exposição, que eu não sei se seriam tão famosos não tivessem sido orquestrados bem mais tarde (e de maneira impecável) por Maurice Ravel. A suíte se constitui de 10 impressões musicais sobre pinturas de Viktor Hartmann, que morrera pouco antes da composição, aos 39 anos. Além dos 10 quadros, o compositor vai intercalando Promenades (passeios), que, basicamente descrevem o expectador caminhando de uma obra pra outra. No final, a suíte é em 16 movimentos. Hartmann era amigo do compositor, e quando morreu foi organizada uma exposição com mais de 400(!) obras suas. Mussorgsky chegou a emprestar duas obras que o pintor tinha lhe presenteado. Um mês depois de comparecer à exibição, ele compôs, em três semanas, a obra. É rápido. Mas a peça só seria publicada em 1886, depois da morte do compositor. E mesmo assim, foi mexida, otimizada e, possivelmente em alguns pontos, empobrecida, por Rimsky Korsakov. Era uma peça bastante tocada, mas não a ponto de deixar o compositor famoso depois de morto. Foi então que, em 1922, o maestro Serge Koussevitzky a quis orquestrada, para a Sinfônica de Boston. E quem ele chamou para transpor a partitura de piano para orquestra foi ninguém menos que Maurice Ravel, o deus da orquestração. E é nessa forma que conhecemos os Quadros de uma Exposição. Para se ter uma ideia, Sir Henry Wood, célebre regente inglês, fez uma orquestração em 1915. Assim que soube, em 22, que Ravel a orquestraria, mandou suspender a publicação de sua orquestração e proibiu a divulgação das partituras. Mas vamos à música. Observe: 1. "Promenade" (Passeio) 2. "Gnomus" (Gnomo) 3. "Promenade" (Passeio) 4. "Il Vecchio Castello" (O Velho Castelo) 5. "Promenade" (Passeio) 6. "Tuileries" (Tulherias) 7. "Bydlo" (Carro de Bois) 8. "Promenade" (Passeio) 9. "Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques" (Balé dos Pintinhos em suas Cascas de Ovos) 10. "Samuel Goldenberg et Schmuyle" 11. "Promenade" (Passeio) 12. "Limoges, Le Marché" (O Mercado em Limoges) 13. "Catacombae, Sepulcrum Romanum" (Catacumbas, Sepulcro Romano) / "Cum Mortuis in Língua Mortua" (Com os Mortos em Língua Morta) 14. "La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule" (A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha) 15. "La Grande Porte de Kiev" (O Grande Portal de Kiev) Abaixo temos uma apresentação da Orquestra Filarmônica de São Petersburgo regida por Yuri Temirkanov. (Tive que substituir o vídeo pelo também excelente de Gustavo Dudamel regendo a Orquestra Sinfônica Jovem Simon Bolivar da Venezuela). 1. Promenade (8s) Bem ao estilo de Promenade, como representando uma solene caminhada, essa peça serve de introdução perfeitamente, porque chama o interesse, mas não entrega nada da profundidade e do mistério que ouviremos mais à frente. Na orquestração de Ravel entrega a parte A inteira a um coral de metais. 2. Gnomo (1m57s) O brincante Gnomo é, de certa forma, mágico. Seus acordes encantados, seus graves misteriosos, as diferentes escalas e modos que usa, tudo dá um ar às vezes tenebroso. Ravel mantém de forma brilhante esse ar. 3. Promenade (4m14s) Dessa vez é uma andança meio distraída, aérea, bem diferente do ar marcial que tinha quando apareceu pela primeira vez. 4. O Velho Castelo (5m20s) É um dos movimentos mais famosos e mais sensuais. A melodia foi entregue por Ravel ao saxofone. Quando a gente ouve pela primeira vez aquele sax sem vibrato, sem firulas, é um som de outro mundo. 5. Promenade (10m20s) Agora a caminhada é resoluta. E breve. Ravel a entregou aos metais e às cordas. 6. Tulherias (10m50s) A pintura original é do Jardim das Tulherias, em Paris. É uma peça rápida e agitada. 7. Carro de Bois (11m53s) Mostra uma carroça, carregada do que for, com dois homens e um boi se aproximando e depois partindo, a música decrescendo lentamente. Ravel entrega à tuba de Wagner a melodia principal. 8. Promenade (14m57s) Essa Promenade é celeste, como que encantada. Até que é invadida por um certo ímpeto. A orquestração é esparsa, mas muito apropriada. 9. Balé dos Pintinhos em suas Cascas de Ovos (15m46s) A versão para piano é extremamente bem escrita. Me lembra Villa-Lobos (eu falei isso?). Em forma A-B-A, dela temos a pintura, que sobreviveu. Na orquestração, não havia como fugir das flautas representando os pintinhos. Coisa fofa. 10. Samuel Goldenberg e Schmuyle (16m58s) Essa foi inspirada em duas pinturas. O judeu rico e o judeu pobre. O rico, Samuel Goldenberg, é opulento, até arrogante (parte A). A parte B, mais etérea, é a do pobre, Schmuyle. Na parte C os dois dialogam, mas a palavra final é a do rico. Isso porque ele é representado por um motivo em uníssono, que é o que encerra a obra. Observe o uso do trompete piccolo com surdina, na parte B. 11. Promenade (N/A) Essa promenade é básica. Tão básica que muitos pianistas não a tocam. Ravel mesmo não a orquestrou. 12. O Mercado em Limoges (19m14s) É um mercado em Limoges, França, barulhento, com uma "grande notícia", e uma gorda discutindo. Pelo menos assim Mussorgsky escreveu nas anotações para a estréia. Mas riscou. 13. Catacumbas, Sepulcro Romano (20m26s) / Com os Mortos em Língua Morta (22m24s) Extremamente sinistro, esse movimento consegue representar a escuridão e o medo de maneira extremamente forte. Em Com os Mortos em Língua Morta, a tensão reduz bastante. É como se primeiro fôssemos alguém a descer às catacumbas, e, depois, alguém que o observa. A orquestração, privilegiando os metais graves, é absurdamente fenomenal. 14. A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha (24m32s) Baba-Yaga, a feiticeira russa que mora numa casa sobre patas de galinha. Também é uma das mais conhecidas. É uma das mais elaboradas, tudo criando um clima hostil, mas encantador. Tem, às vezes, a urgência de uma perseguição. A orquestração de Ravel é impressionante aqui. Ele emprega desde o glockenspiel até as madeiras agudas de maneira magistral. Mas a verdade é que ela já vinha genial desde a versão para piano. 15. O Grande Portal de Kiev (27m54s) Kiev, capital da Ucrânia, na época ainda no Império Russo. Hartmann desenhou esse portal para o imperador, para que fosse construido como celebração de uma batalha. Foi cancelado, nunca construiram o portal, mas o designer disse que era seu melhor trabalho. Mussorgsky o musicou heróico e suntuoso. Perfeito pra fechar nosso ciclo. Ravel tomou a liberdade de incluir alguma percussão, e você não consegue conceber a música sem esses instrumentos. O bumbo sinfônico e os pratos, além dos tímpanos e do gongo. O final é apoteótico. Abaixo, a versão original para piano com Yulianna Avdeeva. A Orquestração de Stokowski Gostaria de observar que outras pessoas fizeram orquestrações da peça, mais notavelmente o regente britânico Leopold Stokowski. Ele mesmo costumava reger a versão de Ravel, mas achava que lhe faltava um certo sabor eslavo. Sua orquestração é claramente derivativa da do compositor francês, e a cor eslava me foge. É uma orquestração competente, mas o fato é que se disserem "Ravel orquestrou Hey Jude", ninguém vai fazer melhor. Vale notar que ele não orquestrou Tulherias e O Mercado em Limoges porque suspeitava que Mussorgsky não os havia composto, e sim, Rimsky-Korsakov, antes de publicar a partitura. Não há evidências de que isso seja verdade. Mas é divertido escutar. https://open.spotify.com/album/0sTEm3AZDqifm03L89FGbF?si=rM--PFI4T7SCy4ZsbJSjOA Gravações Importantes Mikhail Pletnev (piano) - A gravação moderna da versão para piano mais conhecida. Pletnev é um daqueles gênios que às vezes a gente não sabe o que ele tá falando, mas sabe que é coisa importante. Khatia Buniatishvili (piano) - A feminilidade e a sensibilidade que a georgiana Khatia trouxe à música é meio inédita. Absolutamente uma das versões que vão entrar pra história. Vladimir Horowitz (piano) - Essa é a gravação clássica. Se quer saber como é a versão para piano sem muitos efeitos, tocada por um russo (ucraniano), essa gravação é indispensável. Não que Horowitz toque sem colorido, pelo contrário, suas cores são absurdas. Mas ele toca mais a seco do que hoje se costuma tocar. https://open.spotify.com/album/5qjFxsLMCxSgelcUtuWI5n?si=-hBqiGnBSnm3Jb3HGGr0TA Gustavo Dudamel - Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Dudamel conduz a orquestra numa jornada com uma infinidade de cores e humores. Os instrumentos individuais tocam do infinito. E em conjunto parece um órgão. Não tem uma inflexão, um suspiro, que não seja na hora certa. Escute as Catacumbas e se arrepie com os metais da Filarmônica de Viena. https://open.spotify.com/album/1b2aoeaYZZBWmJoavOQhnd?si=FC4ePDAzSc60-MdkirnJgQ Georg Solti - Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony) - A orquestra conhecida por ter a melhor sessão de metais dos EUA e uma das melhores do mundo, gravou essa obra várias vezes. Todo regente queria fazer seu Quadros de Uma Exposição com a Sinfônica de Chicago. A versão de Giulini é excelente, mas foi Solti que interpretou melhor as atmosferas da música. Leopold Stokowski - Orquestra New Philharmonia - A orquestração de Stokowski nas mãos dele próprio. Escolhi essa versão porque tem um som melhor que aquela com a Orquestra de Filadélfia. Gostou? Escreva aí em baixo e curta no coraçãozinho. Continue explorando o blog!
- Top 10 discos de Chico Buarque
Sim, vou fazer isso. Os 10 melhores álbuns de Chico Buarque na minha opinião. Conto aqui todos os discos de estúdio dele, mesmo aqueles em que ele aparece apenas como compositor (ou letrista). Tendo aparecido para o mundo no meio dos anos 60, com sambas em geral devedores a Noel Rosa, pelas letras sempre em tom de conversa, em linguagem coloquial, Chico Buarque lançou até hoje mais de 30 discos. O desafio não é exatamente separar os 10 melhores, mas organizá-los. E pode ser que a maneira em que eu os organize hoje seja diferente da de amanhã. Mas vamos lá. 10. Almanaque (1981) Almanaque não é dos mais conhecidos discos do Chico. Mas deveria. As três músicas que o abrem, As Vitrines, Ela é Dançarina e O Meu Guri (será que até o "cidadão de bem" se sensibiliza com o guri?) estão entre as mais geniais dele. A segunda, aliás, é uma maravilha subestimada do compositor. A letra é espetacular, mas a música é coisa de mestre, cheia de micromodulações. Depois temos A Voz do Dono e o Dono da Voz, muito divertida. O disco tem ainda Moto Contínuo, a primeira parceria dele com Edu Lobo. E a maravilhosa Amor Barato, com música de Francis Hime. Chico, em parcerias, sempre aparece como letrista. Deve ter pouquíssima coisa que ele musicou. Isso leva à falsa noção de que ele é melhor letrista que musicista. Não é verdade. É um compositor excepcional, talvez, ao lado do Tom Jobim e do Edu Lobo, o maior da nossa música. 9. Chico Buarque (1984) Tem músicas graciosas, como Pelas Tabelas, Tantas Palavras (com Dominguinhos) e Samba do Grande Amor e outras comprometidamente sérias, como Brejo da Cruz e Mano a Mano (com João Bosco). As mais impressionantes para mim são Suburbano Coração, Mil Perdões e Vai Passar (com o Francis). Tem ainda uma participação de Pablo Milanés na sua Como se Fosse a Primavera. Não tem uma faixa fraca. 8. Uma Palavra (1995) Esse é um disco estranho. São regravações de canções de vários momentos da carreira dele. Pelo que eu lembro, a história é que, depois de lançar Paratodos, eles iriam lançar um disco ao vivo. Não aconteceu por algum motivo, e eles fizeram em estúdio as músicas do show, excluindo as do Paratodos. Eu só sei que acho fenomenal, Chico está cantando muito (eu defendo que o Chico canta bem, em termos de respiração, interpretação e afinação - o que divide opiniões é o timbre da voz dele, mas veja, uma pessoa pode não ter a voz bonita e ainda assim, ser tecnicamente competente) e o repertório, que inclui Estação Derradeira, O Futebol, Samba e Amor, Eu Te Amo e Vida, é excepcional. Tudo maravilhosamente arranjado pelo Luiz Cláudio Ramos. 7. Paratodos (1993) Aqui estava consolidada a banda base do Chico. Os arranjos são todos do Luiz Cláudio Ramos, que faz um trabalho excepcional em músicas que não são fáceis. Começa com a música que dá título ao álbum, uma homenagem de Chico a todos os mestres da Música Popular Brasileira. Tem vários momentos brilhantes, como Biscate, que ele canta com a Gal Costa, Choro Bandido (parceria com Edu Lobo), Futuros Amantes e Outra Noite (com L C Ramos). 6. Vida (1980) Disco de repertório sólido, pra dizer o mínimo. Se um artista tivesse como portfolio só esse álbum, já estaria arranjado na vida. Tem a música título, Eu Te Amo, Bye Bye Brasil, Morena de Angola, Fantasia e outras. Além da linda Mar e Lua, com um arranjo exuberante de cordas. 5. Chico Buarque (1989) Esse disco só tem maravilha. Dois Irmãos é uma música suspensa, você fica esperando o ritmo deslanchar, mas não vai, e essa tensão (a letra fala em "ritmo do nada") cria um clima que acaba te surpreendendo. Temos arranjos sensacionais das parcerias com Edu Lobo: Na Ilha de Lia, No Barco de Rosa, A Permuta dos Santos e Valsa Brasileira. Eu me apaixonei pela voz da Bebel Gilberto ouvindo ela cantar Bonita, que parece que foi feita pra ela. Até as leves Baticum (com Gilberto Gil) e Tanta Saudade (com Djavan) são cativantes. 4. Caravanas (2017) Eu acho que as músicas da MPB atual não se tornam clássicos porque não têm oportunidade de se tornar clássicos. O jabá direciona o gosto musical das pessoas, seja aqui, seja nos EUA, na Europa. Se Chico Buarque não toca músicas novas nas rádios, então que chance eu jamais sequer tive? Caravanas é um disco todo perfeito. São 7 inéditas e 2 regravações. Curtinho. Chico parece que aprendeu a dizer tudo com ainda menos palavras. Clique aqui para ler a resenha que fiz dele. 3. Chico (2011) Chico. Eu fiz uma playlist chamada Chico XXI. Só músicas dele lançadas depois de 2000. Esse disco entrou quase todo. Chico estava apaixonado, e eu não digo por Essa Pequena, que ele fez para a Thais Gulin, sua namorada à época. Falo por Nina, uma valsa lindíssima sobre um amor à distância. É quase adolescente. Mimosa. Ele também chama a Thais para cantar Se Eu Soubesse com ele. Outra aparição, essa comovente, é a de Wilson das Neves (morto em 2017), o baterista da banda, por quem ele tinha a maior admiração. Wilson era aquela persona tipo um autêntico sambista de antigamente. Ele canta Sou Eu, a cara dele. 2. Construção (1971) Construção é frequentemente considerado o maior disco do Chico Buarque. Falar nisso, eu queria ter a edição aí em cima... Ele é um álbum coeso. Outros aqui na lista têm um repertório mais sedutor, noutros ele canta melhor, e em alguns os arranjos são mais bem acabados. Mas aqui marca o momento em que ele deixou de escrever sambinhas ingênuos e passou a ser o dono do grito demente que nos ajuda a fugir. Tem Deus Lhe Pague, Cotidiano, Desalento, Construção, Valsinha. O disco todo é pra você passar a vida escutando. E depois escutar de novo. 1. O Grande Circo Místico (1983) O único problema de Construção é a existência de O Grande Circo Místico. Mesmo se tirarmos as instrumentais e pegarmos só as canções, afinal, estamos falando de MPB, é um disparate. Milton Nascimento decretou o nascimento e a morte de Beatriz (eu mesmo, ao gravá-la, tive que me livrar dos rubatos imortais do Milton): depois da dele, qualquer interpretação é desnecessária. Em Sobre Todas as Coisas, Gil está sobrenatural. A Bela e a Fera, Meu Namorado, Ciranda da Bailarina. Eu gravei um disco de Edu Lobo, e tive que pelejar para não gravar só esse disco. Comente aí o que achou. Qual seria a sua ordem? Tem algum favorito seu que eu não coloquei? Ouça as versões dos Argonautas de: Opereta de Casamento A Moça do Sonho A Permuta dos Santos Meia-Noite Beatriz
- Ravel - Concerto para Piano em Sol - Análise
Finalizado em 1931, o Concerto para Piano e Orquestra em Sol maior do compositor francês Maurice Ravel (1875-1937) é uma obra prima. Começa com uma chibatada, um som imitando um chicote. É uma peça leve e iluminada, bem diferente do Concerto para a Mão Esquerda, do mesmo período. A intenção era que ele mesmo tocasse, mas a doença que o levaria à morte alguns anos depois (uma doença cerebral, agravada por um acidente de taxi em que bateu a cabeça) já o impediu. Foi estreado em 1932 em Paris, por Marguerite Long, a quem foi dedicado, com a Orquestra Lamoureux regida por Ravel. Foi um sucesso imediato. Em uma turnê pelos EUA, em 1928, o compositor tinha ficado encantado com o Jazz, de que o concerto tem elementos (ainda que vagos) e com a qualidade das orquestras. Ao compor o concerto, ele incorporou ideias de um concerto sobre temas bascos que planejava escrever desde 1906; alguma languidez no toque, proveniente do Jazz; e sua magistral orquestração. Seus modelos para a composição foram Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Camille Saint-Saëns (1835-1921). Isto se reflete na leveza da peça, quase uma ingenuidade. Ravel disse que não procurou muita profundidade aqui, mas simplesmente uma escrita para piano e orquestra brilhante. Abaixo, a interpretação de Martha Argerich (que é especialista nesse concerto), com a Symphoniker Hamburg, regida por Sylvain Cambreling. A obra A orquestra, um tanto pequena para os padrões de Ravel é a seguinte: 1 Flautim 1 Flauta 1 Oboé 1 Corne Inglês 2 Clarinetes (sendo um em Mi bemol, conhecido como Requinta) 2 Fagotes 2 Trompas 1 Trompete 1 Trombone Percussão (Bombo Sinfônico, Woodblock, Gongo, Tímpanos, Caixa Clara, Chicote, Pratos, Triângulo) Harpa 8 Violinos 1 (ele especificou o número de cordas) 8 Violinos 2 6 Violas 6 Violoncelos 4 Contrabaixos 1º Movimento - Allegramente Jundo com a chibatada, o piano já entra no primeiro movimento fazendo arabescos. O Tema A aparece no flautim. Aos 31s ele é repetido, dessa vez pelo trompete. Aos 53s, o piano faz um arpejo que lembra um violão, influência da música espanhola, que Ravel tanto amava. Uma breve Ideia A (1m07s), que vai ser importante para o movimento, aparece no clarinete, imediatamente repetido pelo trompete. Imediatamente, o piano faz o Tema B (1m12s). A Ideia A volta no flautim, clarinete em mi bemol e trompete com surdina (1m25s). O piano então volta ao seu tema. Depois (1m50s), ele introduz a Ideia 2, ascendente, que também terá importância. Ela será repetida aos 2m28s pelo fagote, em registro agudo. Vem o breve desenvolvimento. Aos 3m03s ele começa a trabalhar sobre o Tema A, com a Ideia A respondendo. Após uma escala do piano, temos a recapitulação (3m58s). A harpa faz o Tema B (4m48s) até que a orquestra tem um rompante com a Ideia A (5m32s). Aos 5m42s a trompa toca em registro agudo o Tema B. Aos 6m13s aparece a Ideia 2 no piano, lembrando uma cadência. As cordas repetem a Ideia 2 (7m12s). Aos 7m40s tem início o coda, de escrita brilhante e virtuosística. O movimento é atmosférico, cheio de climas, com muita sensualidade e beleza. 2º Movimento - Adagio Assai (8m57s) O piano inicia o segundo movimento com um acompanhamento de acordes e a belíssima melodia (Tema A) (que Ravel disse ter trabalhado compasso por compasso incansavelmente), fazendo tudo sozinho nesse começo. A Martha toca isso como ninguém. Esse movimento é em forma A-B-A. É de uma pureza e beleza sem fim. Aos 11m50s a flauta apresenta o Tema B, seguida pelo oboé e pelo clarinete. Repare na subida da flauta aos 12m27s, que beleza. A partir daí temos uma passagem meditativa no piano, cheia de modulações. Repare também no acorde aos 15m, com baixo na sétima maior! O Tema A volta aos 15m12s no corne inglês, com um acompanhamento lindo do piano. É uma passagem belíssima. A orquestração é sutil, mas extremamente bem calculada. Termina em um trinado, tocado com perfeição pela Martha. 3º Movimento - Presto (19m) O terceiro movimento, o mais curto, serve para terminar a obra de maneira otimista. Quase frenético, com ideias temáticas em profusão. Ele começa da mesma maneira com que acaba, com os mesmos acordes. Considerações finais Embora o Concerto para a Mão Esquerda seja considerado mais profundo, mais sério, o Concerto em Sol é bem mais famoso e tocado. É uma peça que está no repertório da maioria dos pianistas desde que foi estreada. Gravações recomendadas - Martha Argerich, com a Filarmônica de Berlim, regida por Claudio Abbado - Essa gravação, de 1967, nunca deixou de ser uma das mais elogiadas e adoradas. É praticamente perfeita, e o som é muito bom. https://open.spotify.com/album/6J1hCTGDIUwP4kSQVCQWxu?si=5Z6mP-p1QvSWIi95SCGHVg - Arturo Benedetti Michelangeli, com a Orquestra Philharmonia, regida por Ettore Gracis - Essa é de 1957, e ajudou o concerto a se tornar ainda mais popular, pois Michelangeli era o pianista mais perfeccionista que se pode imaginar, e mostrou como a peça era cheia de possibilidades. É uma versão lirica e poética, um pouco menos romântica que a de Argerich/Abbado. https://open.spotify.com/album/021fHMPCigfwXLcKXRAFME?si=1jHqbxfMTuqurfFywQr2iw - Samson François, com a Orquestra do Conservatório de Paris, sob a regência de André Cluytens - De 1960, é uma gravação extremamente sensível e musical, por dois dos maiores intérpretes de Ravel do século XX. https://open.spotify.com/album/2yeXqUORZVhrX8Nqb6sK4n?si=WZXLn1WfTLKmaaPjCaCSlw (faixas 38-40) - Yuja Wang, com a Orquestra do Tonhalle de Zurique, regida por Lionel Bringuier - Uma versão moderna, de 2015, tocada com muita sensibilidade por Yuja e pelos músicos suíços. https://open.spotify.com/album/23a6FjJmbXs8bfhPS4K0Cr?si=d9I92Us3Qm2IJ4Ntv4HKtA - Krystian Zimerman, com a Orquestra de Cleveland, dirigida por Pierre Boulez - Essa gravação, de 1998, logo se tornou um clássico. Zimerman tem uma técnica impecável, e a Orquestra de Cleveland sob Boulez soa incrível. https://open.spotify.com/album/0uMPPy2lbRhzn0PPonpyaT?si=rzP6tk06SYKf6mO2MrqytA - Zoltán Kocsis, com a Orquestra Festival de Budapeste, regida por Iván Fischer - De 1998, essa gravação também é muito importante. Mais brilhante do que lírica, contém alguns efeitos que você não acha em outras gravações. https://open.spotify.com/album/4Yrh8dgkOcYoCDVxlYOASM?si=XD-XQfWrQXKRZVFa9DtyVg Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Músicas Fofinhas 3 - Ravel - Pavane pour une Infante Défunte
Pavane pour une Infante Défunte, ou Pavana para uma Infanta Morta (ou princesa morta) é uma obra de Maurice Ravel em versões para piano e para orquestra. Composta em 1899, é uma obra da juventude do compositor. Pavana é uma dança lenta francesa muito comum no começo do período barroco. Ravel, já no modernismo, aproveitou o aspecto contemplador da dança e fez uma música que "uma princesa poderia, em tempos passados, ter dançado em uma corte espanhola". Acontece que o compositor era apaixonado pela Espanha e sua cultura, tendo nascido na fronteira da França com este país (em Ciboure). Sua mãe era do País Basco e crescera em Madri. A peça, com 6-7 minutos de duração, foi de dicada à patrona de Ravel, a Princesa de Polignac (mas não foi inspirada nela). Quando o pianista Ricardo Viñes a incorporou a seu repertório, em 1902, é que ela se tornou conhecida. É famosa a citação de Ravel depois de ouvir uma interpretação dela ao piano: "É uma Pavana para uma Princesa Morta, não uma Pavana Morta para uma Princesa". Ele mesmo chegou a gravar em rolo de piano (piano roll). Deixo abaixo sua interpretação, que é diferente de tudo que conhecemos. https://open.spotify.com/album/1HVc0ZTQrdk8KnchUB9oSn?si=cW7YINmATEeXPKTQ7dcueg Em 1910 ele fez uma orquestração da peça. A orquestra, modesta para os padrões de Ravel é a seguinte: 2 Flautas 1 Oboé 2 Clarinetes 2 Fagotes 2 Trompas Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos Harpa Vou deixá-los com duas versões para piano e uma orquestral. A primeira é do Rousseau, é interessante para visualização. A segunda é de Sanson François, pianista francês do século XX que faz uma interpretação extremamente musical, talvez a mais sensível que eu conheça. A orquestral é com a Orquestra Philharmonia, regida por Esa-Pekka Salonen. Ravel entregou a bela melodia inicial à trompa. Não é de difícil digitação, mas exige muito fôlego e técnica de respiração. Gravações importantes Versão para piano: - Samson François - Essa gravação de 1967 é belíssima. Sem frescura e sem sentimentalismo barato, capta a atmosfera da obra com contundência. https://open.spotify.com/album/2UtSWdxNlQQOImZIGYJKTE?si=gRn1HvizQ4SBw4aqETpswQ - Vladimir Ashkenazy - Nesse disco de 1985, Ashkenazy toca Gaspard de la Nuit, a Pavana e as Valsas Nobres e Sentimentais. Discaço. Também vai direto ao ponto, e a sonoridade é impressionante. https://open.spotify.com/album/2Au2Nmg5yqFpCy9bmCzuN0?si=-GuTmxoPRwauYuTX-HPKUA Versão para orquestra: - Daniel Barenboim regendo a Orchestre de Paris - Um disco importantíssimo de 1982. Tem a Pavana, o Bolero, La Valse e a Suíte Nº 2 de Daphnis et Chloé. https://open.spotify.com/album/4iFMjQ9K032UvHJTjFAhvd?si=gKLxoXdcSuapE7bW68f7GA - Pierre Boulez regendo a Orquestra de Cleveland - A Orquestra de Cleveland está incrível nessa gravação de 1999. A trompa nunca esteve mais limpa. Boulez era sem dúvidas um dos maiores intérpretes de Ravel de todos os tempos. https://open.spotify.com/album/1V4hPUccrKnaSVzQCa2lSS?si=9qELcApKTqeLyMVkStdS6A Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Top 10 Gravações do 2º Concerto para Piano de Brahms
Já escrevi um artigo de análise desse concerto. Veja aqui. E também sobre o 1º Concerto para Piano. Por fim, o Top 10 das gravações do 1º Concerto. Agora é a vez de eu demarcaer quais são as minhas 10 gravações favoritas do 2º Concerto para Piano, em Si Bemol Maior, Op. 83. É um concerto certamente mais cheio de nuances que o primeiro: seu primeiro movimento é heróico, o segundo é um scherzo brilhante, o terceiro é um belo diálogo entre o piano e o violoncelo e o finale é, talvez, mais bem sucedido que o daquele. É também mais sinfônico, ou seja, se aproxima mais de uma sinfonia com piano do que de um concerto: tem 4 movimentos; a escrita para piano, embora dificílima, não é exibicionista; e a concisão temática e estrutural lembram uma sinfonia. Mas vamos lá. Lembrando que, se você não conhece bem o concerto, qualquer uma dessas gravações será uma boa introdução, sendo que algumas vão ser mais, digamos, definitivas, que outras. 10. Géza Anda, com a Filarmônica de Berlim regida por Herbert von Karajan Com muita sensibilidade, o regente austríaco Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim acompanham o pianista húngaro Géza Anda nesta gravação de 1968. É uma interpretação sem muitos arroubos, mas de uma beleza ímpar. Há quem diga que Anda não tinha uma técnica tão soberba assim, mas eu discordo. Foi um dos primeiros a gravar a integral dos concertos de Bartók, que inclui o dificílimo Concerto Nº 2. Ele só não era dado a brilhar desnecessariamente. E por isso mesmo deve ser louvado. Aqui ele faz tudo para se encaixar na sonoridade opulenta de Karajan, dando ênfase à ideia de que o concerto é uma sinfonia-concerto. O resultado é uma versão quase modesta, humilde, mas muito musical. https://open.spotify.com/album/3MEtgMFzdwuOMP6rZeKmK0?si=jt3fF4a5QZOEYDJKphRykA (a partir da faixa 217) 9. Maurizio Pollini, com a Filarmônica de Berlim regida por Claudio Abbado Maurizio Pollini, com sua técnica arrebatadora, toca o concerto como se fosse seu café da manhã. A mesma Filarmônica de Berlim, regida por Abbado, agora tem mais identidade nos sopros, mantendo o belíssimo legato das cordass. É de 1995. https://open.spotify.com/album/3XaQW3fx3hZspeaI3aTu8N?si=l03u4r0eR8WK9r8DqemTww 8. Krystian Zimerman, com a Filarmônica de Viena regida por Leonard Bernstein Bernstein está bem elegante nessa gravação de 1985. Zimerman não tem dificuldade em acompanhar a orquestra. Repare no belíssimo 3º movimento, de que é arrancada a última gota de expressão, com um belo solo de violoncelo de Wolfgang Herzer. https://open.spotify.com/album/3QvQAnQwuUfSuwj5orGeeY?si=wDSE80H8SF2hrh94C37Qog 7. Ivan Moravec, com a Filarmônica Tcheca regida por Jiří Bělohlávek De 1988, essa gravação conta com o lendário pianista Ivan Moravec. A Filarmônica Tcheca tem uma sonoridade única, que já demonstra na entrada da trompa. É uma gravação sensível e o som é muito bom. https://open.spotify.com/album/3ZimBVMRhtYrlxJCA9ZFNI?si=_wGIAICfS46Ty988d5UACQ 6. Vladimir Ashkenazy, com a Orquestra do Concertgebouw regida por Bernard Haitink A Filarmônica de Viena sob Haitink oferece um acompanhamento exemplar para o russo Vladimir Ashkenazy, nessa gravação de 1984. Ela tem um "clima" especial. Uma atmosfera. Não considero o pianismo exatamente idiomático para Brahms. Ashkenazy tocou no modo "romântico genérico". Fez muito bem, porque se destacou das outras. O som é ainda melhor do que a gravação do primeiro com os dois, pois neste, usaram a Concertgebouw, cuja sala tem uma acúsitica complicada. https://open.spotify.com/album/4k6BLPIsqfgRgQItJDH6az?si=00DxfLK_QS-zCfsqsOi6Zg 5. Stephen Hough, com a Sinfônica da BBC regida por Andrew Davis Nessa gravação de 1990 o destaque é o prodigioso pianista inglês Stephen Hough. Ele consegue impressionar sem ser chamativo. Gosto muito também do som, que é presente, mas não muito alto, na masterização. A BBC, com Davis, está fantástica. Escute o segundo movimento. A maioria das interpretações transforma isso em uma montanha, mas eles tocam quase com simplicidade, quase casual. Muito bom. https://open.spotify.com/album/6TBUprojd9awtTZFP6HNSG?si=tVPJxs40QMKOXwJUPDJhig 4. Joseph Moog, com a Deutsche Radio Philharmonie, regida por Nicholas Milton O jovem pianista alemão Joseph Moog é um talento. Nessa gravação quase camerística de 2017, ele e a orquestra parecem pertencer e gerar a mesma energia. Você ouve o arranhado do arco nas cordas, a respiração dos sopros e o martelar do piano. A engenharia de som é incrível. Sem falar na facilidade com que tocam. https://open.spotify.com/album/0PjITNYLXsKmGxznXSZ1Pe?si=pYCaTXmORCqKo5eFAHydYQ 3. Wilhelm Backhaus, com a Filarmonica de Viena regida por Karl Böhm Em 1967, Wilhelm Backhaus tinha 83 anos. Mas essa gravação não merece o terceiro lugar porque ele se superou em idade tão alta. Ela tem seu próprio mérito. Tem muita personalidade, é seca, sem gerar os climas da gravação de Ashkenazy, e sobretudo muito bem tocada. O comprometimento do pianista, do regente e da orquestra é extraordinário. https://open.spotify.com/album/6RpFzAy04jEiWW5obUHg49?si=dmsizd6IQ260ABGtcezKvQ 2. Nelson Freire, com a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig regida por Riccardo Chailly Freire e Chailly causaram furor quando gravaram os concertos em 2006. E não por acaso. São gravações históricas, em que o pianista brasileiro em seu auge era acompanhado por uma das melhores orquestras alemãs e por um regente que compreendia e acrescentava à sua visão. Fiquei entre essa e a do Gilels para o primeiro lugar. É uma leitura forte, mas ao mesmo tempo quase cósmica, colorida e apaixonada. https://open.spotify.com/album/0E7SxD7APEbclkjtimbfc5?si=EmusbS6wS8mwtdgimAy86g (CD 2) 1. Emil Gilels, com a Filarmônica de Berlim regida por Eugen Jochum Essa gravação de Gilels em 1972 com a Filarmônica de Berlim e Jochum supera sua outra, com a Sinfonica de Chicago e Fritz Reiner, em vários aspectos. A começar pelo som, mais encorpado e cheio. A técnica de Gilels é exorbitante. Se essa gravação saísse hoje, de um pianista desconhecido, ficaríamos loucos a dizer que jamais seria superada. Para mim não foi e nem precisa ser. Como disse, é um concerto cheio de nuances, e as 10 gravações, em vez de ficar uma em cima da outra, deveriam ficar lado a lado, porque elas se somam. https://open.spotify.com/album/58JzrSl3w7rVN0OqMxCdKc?si=VBr3gRWgTLyXaQrqdCiaXw (CD 2) Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. E veja nossas famosas listas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera