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- 10 Discos para Entender Villa-Lobos
Digo logo que é pouco. 10 discos não abarcam muito da obra de Villa-Lobos, que era um compositor altamente prolífico. Mas os 10 que escolhi vão lhe fazer se apaixonar por essa música rica, bela, por vezes extravagante, mas absolutamente cativante. Sugiro que, se não conhece o compositor, procure escutar qualquer disco da lista. Devagarzinho. Escute obras curtas, depois mais longas, depois discos inteiros. Não vou dizer que, se terminar essa lista, será um especialista em Villa-Lobos (vai faltar muita coisa na lista), mas vai despertar seu interesse e lhe colocar a par da linguagem única do compositor, repleta de referências brasileiras, impressionistas, modernas e folclóricas. I. Obras para Piano - Cristina Ortiz (1987) Nesse disco fenomenal você vai conhecer a música para piano de Villa, ainda desconhecida fora do Brasil. A seleção que Cristina fez foi ultra sensível. Posso dizer que não passo uma semana sem ouvir. Atenção para as Bachianas Nº 4, versão para piano, tocadas completas; a Caixinha de Música Quebrada; o Poema Singelo; Saudades das Selvas Brasileiras Nº 2; As Três Marias; a Valsa da Dor; e o Ciclo Brasileiro, talvez a obra mais importante de Villa-Lobos para o piano. Cristina Ortiz é uma pianista absurda, que não tem nada a provar: é provavelmente, ao lado de Sônia Rubinsky, a maior intérprete de Villa-Lobos do mundo. II. Pequena Suíte, Bachianas Brasileiras 2, 5 e 6 - Vários músicos (1994) Outra pérola daquelas que a gente não cansa de ouvir, esse CD da Marco Polo traz obras de câmera importantes do compositor. A Pequena Suíte é uma graciosa peça Romântica com 6 pequenos movimentos para voiloncelo e piano. Rebecca Rust e David Apter se encarregam da interpretação exemplar. Depois temos as Bachianas Nº 6, que é uma das menores e é para flauta e fagote. O flautista é ninguém menos que Emmanuel Pahud, flautista principal da Filarmônica de Berlim e um dos melhores do mundo. Essa Bachiana é uma coisa séria. No primeiro movimento, a flauta fica fazendo ornamentos, quase alheia ao fagote. Mas é o fagote que toca a melodia, um choro de doer. A execução é brilhante. A violoncelista Rebecca Rust e o pianista David Apter ainda tocam reduções e adaptações de trechos das Bachianas Nº 2 (O Trenzinho do Caipira) e Nº 5 (uma das mais conhecidas). Além de um belo Capricho, de uma Elegia e de um Prelúdio. No final, temos a maravilhosa Assobio a Jato, uma peça em 3 movimentos para piano, violoncelo e flauta. III. Villa-Lobos: Concertos & Instrumental Works (coletânea de 1998) Aqui temos novamente a Cristina Ortiz tocando a parte do piano das Bachianas Brasileiras Nº 3 e o Momoprecoce, acompanhada pela New Philharmonia Orchestra (nome provisório da Philharmonia, de Londres), regida pelo magistral Vladimir Ashkenazy, que é bom em tudo (todo tipo de repertório e como regente e como pianista). No segundo CD (sim, é duplo) tem o conhecidíssimo Concerto para Violão e Pequena Orquestra, com o violonista Angel Romero, a Filarmônica de Londres e o regente Jesús Lópes-Cobos; a Fantasia para Sax Soprano e Orquestra de Câmara, com John Harle no saxofone e a orquestra Academy of St. Martin in the Fields, regida por Neville Marriner. E ainda temos Cristina tocando peças que não estão no primeiro disco da lista: A Prole do Bebê Nº 1 (uma pequena suíte de 7 peças representando brinquedos do bebê), A Lenda do Caboclo e a Alma Brasileira (que é o Choros Nº 5). IV. Obra Completa para Violão Solo - Fábio Zanon (1997) Um dos maiores violonistas brasileiros e do mundo toca a obra completa para violão solo (que cabe em um CD). Essas peças (5 Prelúdios, 12 Estudos e a Suíte Popular Brasileira) já foram gravados pelos maiores violonistas espanhóis, americanos, russos e japoneses, mas sem o elán de Zanon. A obra de Villa-Lobos para violão é importantíssima, pois explora o lirismo, a cantabilidade, o ritmismo e a polifonia do instrumento com uma facilidade assombrosa. V. Sinfonia Nº 12, Uirapuru e Mandu-Çacará - OSESP, Isaac Karabtchevsky (2015) Estou listando majoritariamente músicos brasileiros tocando Villa. Isso não significa que ele não seja gravado no exterior. Apenas que nós brasileiros, habituados à linguagem do choro, falamos a língua do compositor. Lembro de um CD em que a pianista estrela (e genial) Khatia Buniatishvili gravou a Alma Brasileira de uma maneira peculiar, diferente de tudo com que estamos acostumados. É uma interpretação limpa e válida, mas Cristina Ortiz, Sônia Rubinsky, Nelson Freire e Miguel Proença tocam com muito mais naturalidade. Nesse CD da OSESP (Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo) ocorre o mesmo. O poema sinfônico Uirapuru nunca soou tão amazônico. A Sinfonia Nº 12 em si, minha favorita, é uma maravilha. Karabtchevsky mostrou que é verdadeiramente um especialista em Villa-Lobos. Mandu-Çarará é uma peça de 13 minutos e meio para orquestra e coro. VI. Obras para Piano - Nelson Freire (1974) É impossível não mencionar esse disco gravado em 1974 pelo grande Nelson Freire. O repertório já tem quase todo aqu na lista: A Prole do Bebê Nº 1 e As Três Marias com a Cristina Ortiz. Se você for perspicaz, notará a diferenciação com que ele toca As Três Marias, fazendo as estrelinhas brilharem. É o único caso em que eu o coloco acima dela. Mas o disco tem novidades. O gigantesco Rudepoêma, uma peça para piano solo de 18 minutos que Villa-Lobos escreveu em homenagem ao pianista Arthur Rubinstein, que é de uma riqueza sem fim. VII. Bachianas Brasileiras Nº 2 e Nº 5 e Concerto para Violão - Krivine (1994) Aqui temos as Bachianas Nos. 2 e 5 completinhas (no 2º CD da lista elas apareceram em versões adaptadas e cortadas). A verdade é que a 2ª tem 4 movimentos e a 5ª, 2 movimentos. Além disso, temos novamente o Concerto para Violão, com Roberto Aussel. É um exemplo de disco muito bom tocado por estrangeiros. A Orquestra de Lyon e o regente Emmanuel Krivine demonstram reverência à obra do maior compositor das américas. Tem, ainda, o poema sinfônico Amazonas em sua versão orquestral. VIII. Choros 11, 5 e 7 - OSESP, Neschling, Ortiz (2008) Os Choros são, juntamente com as Bachianas, as obras pelas quais Villa-Lobos é mais conhecido. O 11º é praticamente um grande concerto para Piano e Orquestra, com elementos rítmicos tipicamente brasileiros. O 5º é a Alma Brasileira, que já passou por aqui - uma peça de 5 minutos para piano solo. O Choro Nº 7 é chamado "Settiminio" e é um septeto para flauta, oboé, clarinete, saxofone, fagote, violino e violoncelo (tem ainda a adição opcional de um tam-tam fora do palco, no final). Para conhecer a obra de Villa-Lobos é essencial que se conheça os Choros, e esses três são ótimas opções para começar. IX. Bachianas Brasileiras Nº 4, Nº5, Nº 7, Nº 9 e Choros Nº 10 - Michael Tilson Thomas Aqui temos duas Bachianas novas, a 7ª e a 9ª, que não costumam ser muito gravadas. Além do Choros Nº 10, conhecido como "Rasga o Coração", para coro e orquestra, que deve ser o mais importante do grupo. O regente americano Michael Tilson Thomas coloco um figurino tropical e posou perto de umas folhas de bananeira e com uma arara a tiracolo e fez essa gravação importantíssima. A orquestra é a New World Symphony e o disco ainda tem a participação da soprano Renée Fleming. X. Floresta do Amazonas - Neschling OSESP Esta obra para orquestra, coro e soprano é uma das últimas e mais significativas de Villa-Lobos. Grandiosa, ocupa um CD inteiro, com seus 23 movimentos. Alguns destes movimentos, como a "Melodia Sentimental" e a "Canção de Amor", escaparam das salas de concertos e passaram a ser cantadas por cantores como Djavan, Maria Bethânia, Mônica Salmaso e outros. Tudo começou quando a MGM contratou Villa para fazer a trilha sonora de um filme chamado Green Mansions, com Audrey Hepburn. Acontece que não ficou satisfeito com os cortes feitos na música para encaixar no filme e resolveu transformá-la nessa grande suíte sinfônica. É mais uma obra que revela o profundo amor que Villa-Lobos tinha pelo nosso país, pela floresta, pelos indígenas. Aqui tem tudo. O Brasil todo está lá. Considerações finais Como falei, caberiam muitos mais discos aqui. "Uirapuru", por exemplo, foi gravado várias vezes, e todas as gravações são maravilhosas (Leopold Stokowski, Eleazar de Carvalho...). A pianista Sônia Rubinsky gravou, pela Naxos, toda a obra para piano solo dele. São 8 CDs. As Bachianas completas foram gravadas também várias vezes, a da OSESP com Roberto Minczuc sendo a mais bem-sucedida. Existem discos de piano de Miguel Proença, Roberto Szidon, Arthur Moreira Lima, obras para violoncelo com Antônio Meneses e uma infinidade de discos com a obra para violão. Faltaram os Choros de Câmera, as Sonatas para Violino, os Quartetos de Cordas (!) e as obras corais. Qualquer dia faço uma segunda lista para fazer justiça à obra do nosso amado compositor-patrimônio. Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia. Escute as 15 Sinfonias Injustiçadas, Vol. 1, aqui. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Um "pequeno" Glossário de termos musicais. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? Preconceito Contra Música Clássica O Movimento HIP (Interpretações Historicamente Informadas) César Franck, o Aluno dos seus Alunos Rachmaninoff ou Rachmaninov? Como se pronuncia e escreve? Música Calada, A Arte de Federico Mompou As Melhores Orquestras do Mundo: Vol. 1 - Filarmônica de Berlim Vol. 2 - Orquestra do Concertgebouw, Amsterdã Vol. 3 - Filarmônica de Viena Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info). Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de avião, em 1949. Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - As Maiores e Mais Belas Sinfonias Já Escritas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Outro Top 10 Sinfonias a se Conhecer - Top + 10 Sinfonias para Escutar Sem Erro - Top 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top + 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Top 10 Maiores Orquestras Sinfônicas dos EUA - As 20 Maiores Orquestras do Mundo - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX - Top 10 Gravações do 1º Concerto para Piano de Brahms - Top 10 Gravações do 2º Concerto para Piano de Brahms Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart e seus milagres - Réquiem - Mozart e seus milagres - Concerto para Flauta, Harpa e Orquestra - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 3 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Elgar - Variações Enigma - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Estudos - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Scherzi - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - "Sinfonia Nº 10" (Completada por Inteligência Artificial) - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Berlioz - Sinfonia Fantástica - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Debussy - Prelúdio para a Tarde de um Fauno - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 1) - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 2) - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Penderecki - Trenodia para as Vítimas de Hiroshima - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Bolero - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Steve Reich - Música para Pedaços de Madeira - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Schubert - Quarteto Nº 14 "A Morte e a Donzela" - Schumann - Estudos Sinfônicos - Stravinsky - A Sagração da Primavera - Villa-Lobos - As Bachianas Nº 3 Compreendendo o Maestro: Parte 1 - História Parte 2 - Pra Que Serve? Parte 3 - Curiosidades Saiba, aqui, tudo sobre os Argonautas, um quarteto de MPB Clássica e Contemporânea Autoral Cearense. Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista Emmanuele Baldini, violinista e regente
- 10 Discos para Entender Beethoven
Vou começar essa série com Ludwig van Beethoven (1770-1827), o compositor que deu início ao Romantismo, no século XIX. Mas vale lembrar que parte de sua carreira, e uma parte importante, ainda está inserida no classicismo. Ele tem três fases, que abordaremos aqui. A primeira é clássica; a segunda, chamada Fase Heróica, é romântica; e a terceira é de um compositor maduro, compondo para o universo. A música de Beethoven, em todas as fases, tem essa característica: ela não é necessariamente bela, nem sempre empolgante. Mas ela parece inevitável. Tem uma força motriz que nos guincha e arrebata. Vamos aos álbuns. Sonatas Nos. 1, 2 e 3 - Alfred Brendel (1994) As três primeiras sonatas são obras importantes, porque estão entre as primeiras do compositor, compostas ainda nos anos 1790, quando ele tinha menos de 30 anos. São bem clássicas (dedicadas a seu professor Joseph Haydn), mas repare na 3ª, com seu movimento lento cósmico. Já estava claro que aqui estava um compositor potente. Alfred Brendel é o intérprete perfeito das Sonatas. https://open.spotify.com/album/017LEHLt8UlLsxE0yO8eNS?si=UqmwX2hjT2CE9VNJcWehwA Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim (1984) A 3ª Sinfonia, "Eroica", marca o começo da era Romântica na música (isso é muito discutido, mas pensemos assim, de modo a facilitar as coisas). A obra já começa com dois golpes da orquestra e se desenvolve até que tenhamos momentos de tensão altíssima, acordes dissonantes e acentuações em tempos exóticos. E nenhuma gravação dessa sinfonia capturou tão bem essas inovações e toda sua beleza quanto a última de Karajan, porque o som é incrível. https://open.spotify.com/album/6Xa8CONoChwmnjFjBmka3e?si=7EaEqNesRHWXtIysmSJRoA Sonatas Nos. 8 "Pathetique", 14 "Ao Luar" e 23 "Appassionata" - Rudolf Serkin (1963) Aqui estão três das sonatas mais conhecidas. A Patética, Ao Luar e Appassionata. A Patética é uma obra de transição do classicismo para o romantismo, mas as outras são plenamente românticas. Escolhi Serkin porque ninguém toca isso com tanta poesia. https://open.spotify.com/album/577UOnctZNRsx02q2PYTRl?si=QFvPaBtwQySyVqse5IOqSA Concerto para Violino e Orquestra e Sonata para Violino e Piano Nº 9 "Kreutzer" - Vadim Repin, Orquestra Filarmônica de Viena, sob Riccardo Muti e Martha Argerich (2007) O Concerto para Violino e Orquestra também é revolucionário. Ele começa com quatro notas do tímpano e uma introdução do oboé. O segundo movimento é uma beleza. Não foi um concerto muito bem aceito na época, mas hoje é presença constante no repertório de violinistas. A sonata "Kreutzer", aqui com Martha Argerich, é a mais famosa do grupo para Piano e Violino. As interpretações desse disco são fantásticas. Lembrem-se do Vadim! https://open.spotify.com/album/5GLH37zGL6yhyiC346f6Ae?si=bWZfbkiERxibK-FPsnY9fw Missa Solemnis - Concentus Musikus de Viena, com regência de Nikolaus Harnoncourt A única obra sacra da lista é especial. É barulhenta, por vezes confusa, mas indispensável. É de 1823, da fase final do compositor. Tem um brilho incomum. É daquelas obras que você tem que escutar algumas vezes para se acostumar e gostar. Harnoncourt e seu Concentus Musicus usam instrumentos e técnicas da época de Beethoven, técnica conhecida como HIP (Historically Informed Performance). https://open.spotify.com/album/77MleVWoi45nMM4U6D9bGE?si=MWhQYJmvSHGK_3u7CkaJSw Concerto para Piano e Orquestra Nº 5 "Imperador" e Sonata Nª 32 - Nelson Freire e Riccardo Chailly com a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig (2014) O 5º e último concerto para piano ("Imperador") é o mais conhecido. Nelson Freire nunca nos decepciona, e traz, junto com a Gewandhaus e Chailly, uma interpretação forte, extremamente clara e marcante. Heróica, que é como se chama essa fase da vida de Beethoven. https://open.spotify.com/album/4ak6WD6SQzPdv0W7BcceiT?si=LFlC0lVGRd2lBeQlwMA1cw Sinfonias Nos. 5 e 7 - Carlos Kleiber e a Filarmônica de Viena (1974) e (1976) Filho do grande maestro Erich Kleiber, Carlos era mais chegado à ópera. Mas regeu alguns discos de música sinfônica com muita capacidade. Essa gravação da 5º é considerada a melhor de todas. A 7ª também é importantíssima. https://open.spotify.com/album/6eOuqhCfrTPp1H0YbQ9PmL?si=AMl2JumDSMSjKsuQqSaieQ Trios Nos. 7 "Archduke" e 5 "Fantasma" - Immerseel, Beths e Bylsma Uma (a única) gravação com instrumentos de época. Ou seja, o piano é feito como eram na época de Beethoven, assim como o violino e o violoncelo. Muda muita coisa: as cordas, o tamanho do piano e o arco do violino e do violoncelo fazem toda a diferença. Se você achar o som um pouco oco, lembre-se que Beethoven achava ainda mais (até por que já começava a se manifestar a sua surdez). Os trios são arrepiantes. O "Fantasma" é uma obra prima, e o "Arquiduque", maravilhoso. Para conhecer o compositor, você tem que mergulhar na sua obra de Câmara, na de Piano e na Sinfônica. A única mídia em que ele não foi muito bem sucedido, aliás, pouco tentou, foi a ópera. https://open.spotify.com/album/1v0wEcwPB9kOzaXpAOhnBF?si=gtd_xIvlQ7aKgAfImbhyxQ Quarteto Nº 13 e "Grande Fuga" - Quarteto Guarneri (1988) Esse assombroso quarteto de cordas é uma expedição. Você tem que ouvir com os ouvidos de um expedicionário, que vai até os confins do mundo atrás de sentimentos e sensações. A "Grande Fuga" foi concebida como o último movimento desse quarteto maduro. Mas depois foi tratada como obra separada e o compositor fez outro finale. Com o Quarteto Guarneri, esses senhores da foto, não tem erro. https://open.spotify.com/album/02MRGlo3vJZCIMg61io6B9?si=QQfxicJ1R1eyrUJaJwj_2A Variações Diabelli - Maurizio Pollini (2000) Outra obra gigantesca (ocupa um CD inteiro), as Variações Diabelli são consideradas o ápice da forma variação. Ele traz um tema, primeiro, este do compositor Anton Diabelli, e escreve 33 variações para ele. Cada qual mais brilhante. Pollini é o virtuose ideal aqui, porque toca com brilho e inteligência. https://open.spotify.com/album/3mIDG5wtVcQ3LUklqW2uka?si=Bvz_11f8SHu9PKyluekjpw Gostou? Comente! E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - As 20 Melhores Orquestras do Mundo E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Brahms - Sinfonia Nº 3 - Análise
A Terceira Sinfonia, em Fá Maior, Op. 90 de Johannes Brahms veio a público 6 anos depois da Segunda. Foi em dezembro de 1883 e Brahms continuou a fazer revisões até o ano seguinte. Ele copôs 4 Sinfonias, e já fizemos análise das outras 3. Veja: Sinfonia Nº 1, em Dó Menor, Op. 68 Sinfonia Nº 2, em Ré Maior, Op. 73 Sinfonia Nº 4, em Mi Menor, Op. 98 É contemporânea do Concerto para Violino e do Concerto para Piano Nº 2, obras de grande porte e importância. A obra A 3ª Sinfonia, em Fá Maior, Op. 90, é a mais curta das sinfonias de Brahms, com duração de menos de 40 minutos. O crítico David Hurwitz costuma dizer que é a que costuma ser mais mal gravada. Acho que tive sorte, porque não percebi isso. A atmosfera é até um pouco angustiada no primeiro movimento, depois serena, no segundo, apaixonada, no terceiro e quase frenética, no finale. A orquestra 2 Flautas, 2 Oboés, 2 Clarinetes, 2 Fagotes, 1 Contrafagote, 4 Trompas, 2 Trompetes, 3 Trombones, Tímpanos, Violinos 1, Violinos 2, Violas, Violoncelos, Contrabaixos. É uma orquestra modesta, com apenas os tímpanos na percussão e o contrafagote sendo o único instrumento mais exótico. Abaixo, nossa interpretação guia, com o talentoso Andrés Orozco Estrada regendo a Sinfônica da Rádio de Frankfurt. I. Allegro con brio (18s) O primeiro movimento, em forma sonata, começa já na exposição, com três acordes que vão inchando até explodir (18s). É interessante que as notas centrais desses acordes são Fá, Lá bemol, Fá. Em alemão, F, A, F, que são também as iniciais do lema de Brahms, frei aber froh (livre, mas feliz). Deve ser ironia, porque uma pessoa livre, já se pressupõe que é feliz. Mas sei lá, suspeito que Brahms queria dizer "solteiro, mas feliz". Outra coisa é que logo depois dos acordes vem o primeiro tema, em cascatas descendentes (24s) que é muito semelhante a uma passagem casual da 3ª Sinfonia do seu amado e finado amigo Robert Schumann, chamada "Renana" (alusiva ao rio Reno, onde Schumann chegaria a tentar se afogar). Brahms compôs sua terceira em Wiesbaden, que é no Reno. O tema de Brahms logo ficou conhecido como "Tema do Reno". Depois de uma série de transições lideradas pelas madeiras, temos o segundo tema (1m39s), no clarinete, de caráter brincante (os segundos temas quase sempre fazem contraste com os primeiros). Os oboés o repetem (1m53s), ajudados pela flauta. Oboé e clarinete também se encarregam da segunda sessão do segundo tema (2m07s), uma espécie de transição temática. Ela vai parando e leva a uma deliberação das cordas (2m17s), que, por sua vez, conduzem a uma frase do oboé (2m26s) que é derivada dos três acordes inchando. Uma série de cascatinhas descendentes nos sopros fazem alusão ao primeiro tema. Aos 2m48s temos um motivo em staccato nas cordas, bem típico de Brahms, cheio de deslocamentos de oitava (característica também do primeiro tema). O movimento segue repleto de criatividade até que, aos 3m20s, chega-se à repetição da exposição. Então, tudo isso aqui vai se repetir (segundo tema aos 4m46s) até perto dos 6m30, quando a música se prepara para a próxima sessão. O desenvolvimento se inicia aos 6m33s, com o segundo tema aparecendo nas cordas graves, em tonalidade menor e de modo bem mais dramático. Aos 7m, o motivo saltitante aparece na flauta. Depois no oboé, e aí a música começa a perder tração. Aos 7m27s a trompa faz o tema dos acordes inchantes, desenvolvendo-o com fraseados belíssimos. As cordas ameaçam o primeiro tema, ajudadas depois pelas madeiras e o desenvolvimento subitamente tem seu fim. Aos 8m29s tem início a recapitulação, em que a exposição será repetida com alterações. Aos 8m38s o primeiro tema aparece tal qual no começo e aos 9m39s o segundo tema surge, no clarinete, como da primeira vez. Observe, aos 10m16s, o retorno das cascatinhas descendentes nas madeiras. O coda se inicia aos 10m59s. Aos 11m08s o primeiro tema aparece numa explosão, mas todo alterado. A música vai novamente perdendo força até que uma trompa e um oboé fazem um simples motivo (12m15s), que leva à conclusão da obra sobre as cascatas do primeiro tema, ficando cada vez mais suaves e lentas. É um final perfeito. Sobre os acordes inchantes, preciso afirmar que em nenhuma edição da partitura existe a instrução para que os sopros toquem crescendo. O que existe é um f, de forte, sob cada um dos três acordes, demonstrando que a intenção é que todos sejam tocados com a mesma exata intensidade. A maioria dos regentes faz crescendo, mesmo assim. II. Andante (13m37s) O clarinete começa tocando o primeiro tema desse movimento pastoral - Clara Schumann descreveu esse movimento como a mais pura e doce alusão aos pastores do interior da Alemanha. O tema é longo e tem várias ramificações interessantes. Aos 14m22, o oboé começa a fazer uma linda variação, que vai contaminando a orquestra de maneira sublime. Aos 15m21s os contrabaixos efetuam uma alternância de notas que vai levar ao melancólico segundo tema (15m48s) nos clarinetes e nas outras madeiras. É uma clara alusão aos chamados dos pastores, com suas cornetas. Aos 16m27s as cordas trazem luz e esperança e nos tiram do clima soturno que imperava. Mas, aos 16m46s as cordas, respondidas pelas madeiras, relembram o chamado dos pastores. Aos 17m10s ameaça voltar o primeiro tema, nos violoncelos. Após um belíssimo momento de suspensão (18m10s), em que não se sabe para onde a música vai caminhar, o primeiro tema vai se intrometendo até voltar plenamente (18m25s), mas sempre com desenvolvimentos diferenciados. Aos 19m46s as cordas dão início a um momento de maravilhosa contemplação. Já é o coda. Ainda temos o melancólico chamado dos pastores (20m18s) e a volta do primeiro tema (20m44s) no clarinete, mas de maneira conclusiva. Aos 21m07s a maravilhosa intervenção dos metais, com a alternância de notas alusiva àquela que os contrabaixos fizeram no começo do movimento, anunciam a chegada do fim do movimento, sob fraseados livres do oboé. Esse movimento já foi descrito como se tratando de um em forma sonata reduzida e modificada. Acho exagero, porque, desse jeito, você encontra forma sonata em tudo que quiser. Ele está mais para uma fantasia, na minha opinião. III. Poco allegretto (21m50s) O Poco Allegretto é o movimento mais famoso da obra. Isso se deve provavelmente ao fato de ser uma valsa linda de morrer. Os violoncelos já começam a parte a com o primeiro tema, um lamento misturado com saudade que só Brahms. Os violinos o repetem aos 22m18s, dessa vez, caindo em Dó Maior, aos 22m47s. Essa terminaçãozinha que os violoncelos fazem logo em seguida, toda embebida do sentimento de terna lamentação do movimento, também é importante, porque vai se tornar quase um tema independente. Aos 23m26s temos a volta do primeiro tema, sempre doído, na flauta e trompa. Eles o interrompem com uma respiração e, subitamente, começa a parte b - esse movimento é em forma A-B-A. O segundo tema (23m57s) tem um caráter muito estranho, entrecortado e vago. Ele é todo permeado por pequenas descidas e subidas das cordas, desde os contrabaixos até os violinos. Aos 24m26s os violinos começam a levar o segundo tema, alterado e legato (ligado) a uma culminância. Aos 24m47s recomeça a parte b, mas brevemente. Observe, aos 25m19s, como o clarinete começa a chamar o primeiro tema, e a esse chamado começam a se acumular outros, do fagote, da flauta e do oboé. Temos, então (25m38s), o retorno do primeiro tema, de forma esplendorosa, na trompa. O oboé o repete, aos 26m06s - a escolha da instrumentação, por Brahms, para esse retono da parte a é muito sensível, caindo novamente em Dó Maior, aos 26m32s. A terminaçãozinha (26m33s), agora, é iniciada pelo fagote e, como da outra vez, vai contaminando a orquestra. Os violinos retornam com o primeiro tema aos 27m08s, no ponto culminante do movimento. Aos 27m37s há uma nova interrupção, que parece querer nos levar de volta à soturna parte b, mas, na verdade, trata-se do coda. Uma escala fenomenal da orquestra (27m52s) põe fim ao movimento. IV. Allegro — Un poco sostenuto (28m17s) O finale parece vir de outro ambiente. Parece que você saiu de um estúdio onde tocava a música mais angelical e entrou numa rave. Uma rave em forma de rondó. Já começa com o primeiro tema sendo exposto pelos fagotes e cordas. As madeiras fazem uma leve variação dele (28m29s). Aos 28m43s, os trombones tocam uma leve referência ao segundo tema do movimento anterior e ao chamado dos pastores. Aos 29m01s temos uma explosão de vitalidade. Como se a orquestra, de repente, se soltasse. Aos 29m34s os violoncelos e as trompas fazem o segundo tema, que é alegre e descontraído. Ele é logo repetido pela flauta, oboé, fagote e violinos. Aos 30m06s temos o terceiro tema, o mais importante e vivo do movimento. Repare, aos 30m30s, nas acentuações nos contratempos, nas cordas. Aos 30m36s temos uma lembrança, pelas madeiras, do primeiro tema, só que alterado. A partir dos 30m45s ele passa a ser ameaçado pelas cordas. Até que, aos 30m53s, as flautas o tocam, pianinho, com clarinete e fagote. Aos 31m11s o primeiro tema é repetido por um oboé e um fagote. Como consequência dessa repetição, temos escalas descendentes que vão até o grave (31m18s). Aos 31m30s temos a premonição, nos oboés e flautas, do quarto tema, que é tocado plenamente pelos violinos aos 31m41s. Nesse movimento temos maravilhosas referências aos outros três - o chamado dos pastores, os misteriosos temas do terceiro movimento e os acordes inchantes. Não é possível encaixá-lo com precisão em uma forma. Alguns o veem como em forma sonata. Eu entendo mais como um Rondó. Uma particularidade notável da sinfonia é que todos os movimentos terminam em silêncio, o que é mais peculiar ainda no finale, já que os compositores geralmente terminam com um bom, pungente e forte acorde final. Aqui, ao terminar a obra de modo calmo, Brahms ressalta a visível bipolaridade da sinfonia (talvez mais um aceno ao seu querido Schumann). Considerações finais Esta absolutamente inquieta sinfonia foi celebrada desde sua estreia, em Viena, com a Filarmônica de Viena, regida por Hans Richter, o maior regente da época. Foi em 2 de dezembro de 1883. Aliás, ela foi celebrada mesmo antes da estreia, por ninguém menos que o compositor tcheco Antonín Dvořák. Vejam o seu relato de quando fez uma visita a Brahms em outubro de 1883. "Estive recentemente em Viena, onde passei dias muito agradáveis com o Dr. Brahms, que tinha acabado de voltar de Wiesbaden. Você sabe, claro, quão reticente ele é até com os seus mais queridos amigos em relação à sua obra, mas comigo não foi assim. Ao meu pedido de ouvir algo da sua nova sinfonia, ele foi imediatamente acolhedor e tocou o primeiro e o último movimentos para mim. Devo dizer sem exagero que esse trabalho supera as suas duas primeiras sinfonias; se não, talvez, em grandeza e poder de concepção, então, certamente, em beleza. [...] Que magníficas melodias estão lá para ser achadas!" O crítico musical oficial de Viena e da Europa, Eduard Hanslick foi categórico em dizer: "Muitos amantes da música vão preferir a força titânica da Primeira Sinfonia; outros, o charme despreocupado da Segunda, mas a Terceira me parece ser artisticamente a mais próxima da perfeição". Há ensaios interessantíssimos sobre ela. Um deles, chamado Segredos do Reno - A Terceira Sinfonia de Brahms, de Calvin Dotsey para um programa da Sinfônica de Houston, me chamou atenção. Ele menciona temas misteriosos que aparecem nos esboços da obra, mas foram apagados, temas de amor, lembranças de Robert e Clara Schumann (por quem Brahms tinha um amor platônico) e inspirações ciganas no terceiro movimento. O artigo está em inglês, mas, talvez, no futuro, nós possamos pedir autorização para traduzi-lo e incluir nessa postagem. Quanto à minha opinião pessoal, é muito parecida com a de todos os amantes da música de Brahms: é impossível dizer qual é a melhor. A Primeira Sinfonia é um golpe, um soco. A Segunda é uma Pastoral absurdamente encantadora. A Terceira é absolutamente perfeita em retratar (sim, Brahms, o opositor da música descritiva, retrata aqui) as paixões, os arroubos, as alegrias e os infortúnios de suas lembranças com seus amigos Clara e Robert Schumann, este falecido tragicamente décadas antes, mas que nunca fora esquecido por ele. Conta-se que Brahms e Clara eram, de fato, apaixonados um pelo outro. Mas, em respeito a Robert, jamais concretizaram esse amor. Esta sinfonia, cheia de símbolos e referências, talvez seja o que mais se aproxime dessa concretização. Seria o terceiro movimento uma declaração de amor perdido por Clara? Ela própria se apaixonou pela sinfonia de cara. Disse: "É puro idílio; eu consigo enxergar os adoradores se ajoelhando no pequeno santuário da floresta, consigo ouvir o riacho balbuciando e o zumbido dos insetos..." É uma obra genial, um marco da engenhosidade, grandeza e caridade humanas. Caridade porque Brahms nos oferece o puro deleite, o conhecimento de melodias e harmonias tão especiais, de graça. Gravações recomendadas Fiquem atentos às gravações de James Levine, com a Sinfônica de Chicago ou com a Filarmônica de Viena; Christoph von Dohnányi, regendo a Orquestra de Cleveland e a Orquestra Philharmonia; e Bruno Walter, regendo a Orquestra Sinfônica da Columbia. Mas as recomendadas são: - Herbert von Karajan, com a Filarmônica de Viena - Sim, esta excepcional gravação de 1962 me parece maravilhosa. As cordas da Filarmônica de Viena, a orquestra que estreou a obra, fazem uma diferença enorme. Ao contrário de outras gravações da Terceira sinfonia (e de outras), em que Karajan me parece indiferente, aqui encontramos uma paixão e um vigor que ele substituiria, em muitos casos, pela assepsia, posteriormente, com a Filarmônica de Berlim. - Riccardo Chailly, regendo a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Chailly está fazendo história com seu Brahms com a Gewandhaus. Gravou os dois Concertos para Piano com Nelson Freire, o Concerto para Violino com Leonidas Kavakos, o Concerto para Violino de novo, com Vadim Repin, o Concerto Duplo (Violino e Violoncelo), com Vadim Repin e Truls Mørk, as 4 Sinfonias, as 2 Serenatas e as Variações Haydn. Tudo em altíssimo nível. Quanto à Terceira Sinfonia, o som é belamente capturado, a gravação é recente, de 2012 e lançada em 2013. A interpretação é um pouco branda, mas de muito bom gosto. E os solistas de sopro estão fantásticos. - Riccardo Muti, regendo a Orquestra de Filadélfia - Foi a versão com que fiquei conhecendo a obra, de modo que me agrada particularmente pelo poder da primeira impressão. As articulações, os andamentos, a sonoridade da orquestra, tudo me parece correto. É de 1989, ano da morte de Karajan. - Claudio Abbado, regendo a Filarmônica de Berlim - Absolutamente vibrante, essa gravação de 1990, quando Abbado tinha acabado de assumir o posto de regente principal da orquestra após a morte de Karajan, é muito atraente. Eu acabei de escutar a gravação de Marin Alsop com a Filarmônica de Londres e, depois de escutar essa aqui, me pareceu que a de Alsop foi mal ensaiada, arrumada às pressas, embora com lampejos de criatividade. Esta gravação está entre as mais perfeitas não só dessa sinfonia, mas da história da música gravada. - Carlo Maria Giulini, regendo a Filarmônica de Viena - Outra gravação excepcional com a Filarmônica de Viena. Esta é de 1990. Giulini está inspirado e a sonoridade da orquestra mais uma vez é mágica. - George Szell, com a Orquestra de Cleveland - Impossível uma orquestra tocar com mais perfeição técnica do que a de Cleveland. As orquestras europeias são mais refinadas (e não deixam a desejar de forma alguma no aspecto técnico), mas a de Cleveland chama a atenção. Os sopros afiados, a entrega dos músicos e a leitura corretíssima das intenções de Brahms por Szell fazem dessa gravação de 1964 uma obrigatoriedade. - Eugen Jochum, regendo a Filarmônica de Londres - Genial. Jochum tinha a expressividade correta e sabia tirar da orquestra os sons e as articulações mais perfeitos. Essa gravação, de 1977, com Jochum já velho, mostra um empenho sensaconal da orquestra em se portar à altura do regente. Há outra gravação de Jochum das 4 Sinfonias, com a Filarmônica de Berlim, porém, em mono. Mas não se compara a essa. O estranho CD duplo que contém a gravação tem as sinfonias de 1 a 3 e as Variações Haydn, esquecendo completamente a 4ª. - Eduard van Beinum, com a Orquestra do Concergebouw de Amsterdã - Um regente pouco comentado era esse van Beinum. Mas era excepcional. Essa gravação é uma relíquia de um maestro e uma orquestra lendários. Beinum morreu de ataque cardíaco quando regia essa mesma orquestra num ensaio da Primeira Sinfonia de Brahms. De todas as gravações antigas, da era dos discos de vinil, esta, de 1956, é a que eu escolhi, porque eles tocam com intensidade e comprometimento. É invejável. Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Um "pequeno" Glossário de termos musicais. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista
- TOP 10 concertos para piano que você tem que conhecer
O Concerto para piano é, depois da sinfonia , o tipo de composição mais frequente nas salas de concertos. Não se trada de uma obra só para piano, mas para piano e orquestra. Uma apresentação típica é mais ou menos assim: Começa com uma peça que utilize a orquestra e um solista (e muito frequentemente é aqui que entra o concerto para piano); intervalo; segunda parte com obras só para orquestra. Com raríssimas exceções, os compositores do passado tocavam ou conheciam muito bem o piano. O instrumento surgiu no começo do século XVIII , mas só se tornou popular na segunda metade deste mesmo século. Ele herdou o repertório do cravo e ainda deu novas possibilidades aos compositores. Veja, o cravo tinha uma limitação grave: não importava a força com que você tocasse a tecla, o resultado era o mesmo. Enfim, não tinha forte nem fraco (piano em italiano é fraco). Surge então esse instrumento que é capaz de tocar forte e piano . Chamou-se, a princípio fortepiano . E ele abria possibilidades de interpretação que os teclados não haviam tido até então. E desde o começo percebeu-se a facilidade com que ele dialogava com a orquestra. Vai aqui mais uma lista (gosto delas) dos meus concertos favoritos. Não quero simplesmente dizer que são os concertos de que mais gosto. Quero, sobretudo, recomendá-los. Fazer com que você se sinta tentado a conhecê-los. Esta lista é mais que um "top 10". É parte de um "top 20" ou "top 30" que vou fazendo. Além do mais, a ordem é cronológica, indicando, portanto, que não existe hierarquia na colocação das obras. Não vou fazer as menções honrosas justamente porque teremos essas outras listas. Wolfgang Amadeus Mozart - Concerto para Piano Nº 27 Wolfgang Amadeus Mozart compôs alguns dos mais importantes concertos para piano. Como não quis colocar mais de um do mesmo compositor, escolhi o 27º e último. É uma obra de 1791 , o 35º e último ano da vida de do compositor austríaco. Cheia de plenitude, paz, mas não sem um pouco de melancolia, a obra não é considerada muito virtuosística. O piano está sempre discreto, doce. Como se o compositor já tivesse provado que sabe muito bem escrever concertos e agora quisesse escrever apenas música. Gravação sugerida - Orquestra Filarmônica de Viena - Regente : Böhm, pianista : Gilels Ludwig van Beethoven - Concerto para Piano Nº 5 "Imperador" De 1811 , é o derradeiro concerto para piano de Ludwig van Beethoven . E o mais conhecido. Fora os 5, ele escreveu um para violino e um triplo, violino, violoncelo e piano : sempre com orquestra , não se esqueçam que Concertos são obras em que um instrumento solista dialoga com a orquestra. O “ Imperador ” tem esse nome acredito que só pela sua natureza grandiosa. Não foi dado por Beethoven, mas pelo seu editor. É frequentemente executado e gravado. O primeiro CD que eu tive dele, com a Orquestra de Cleveland regida por George Szell e com Leon Fleisher ao piano, tem vários pontos em que se pode enxergar o outro lado: de tanto que eu escutei, furou. Gravação sugerida - Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Regente : Chailly, pianista : Freire Frédéric Chopin - Concerto para Piano Nº 2 Em 1829 , antes de completar 20 anos, Frédéric Chopin nos presenteou com essa maravilha. O pianista brasileiro Nelson Freire diz que é o mais belo e mais difícil, sendo seu favorito. O favoritismo explica ele dizer que é o concerto para piano mais difícil. Não é. Mas é uma obra brilhante, cheia dos lampejos de criatividade típicos do compositor polonês. Chopin escreveu 2 concertos, surpreendentemente, o primeiro antes do segundo. Explico: o que conhecemos como Concerto Nº 2 foi escrito primeiro, mas publicado depois do que conhecemos como Concerto Nº 1 . Por falar no 1º, é mais conhecido que este aqui. E mais difícil (Nelson Freire que me corrija). Mas o 2º é tão belo que eu optei por ele. Gravação sugerida - Orquestra Gürzenich de Colônia - Regente : Bringuier, pianista : Freire Franz Liszt - Concerto para Piano Nº 2 Franz Liszt , em 1840 , compôs este que é um dos mais belos concertos para piano da literatura. É simplesmente bonito de doer. Não é tão difícil e virtuosístico quanto o 1º , nem mesmo tão gravado quanto. Isso porque é uma obra construída não para o solista se exibir, mas para comover o ouvinte. É a minha peça favorita do compositor húngaro. Sua versão final é de 1861 , porque Liszt revisava as obras como eu reviso posts . Quanto à forma, Liszt o fez em um único movimento , sem pausas. Claro que há mudanças de andamento e de humor que correspondem a movimentos diferentes, mas a audição num fluxo contínuo faz total sentido. Trata-se de uma narrativa que não permite interrupções. Gravação sugerida - Orquestra da Rádio Bávara - Regente : Carvalho, pianista : Freire Robert Schumann - Concerto para Piano em Lá menor Em 1845 , Robert Schumann completou seu único concerto para piano e orquestra. Entrou para o rol dos concertos mais tocados de todos os tempos. Ele já tinha apresentado o primeiro movimento como uma Fantasia em Lá menor , mas os editores a rejeitaram. Sua esposa, Clara , uma pianista de renome mundial, sugeriu então que ele o transformasse em um concerto. Muitos anos antes, ao escrever críticas artísticas, Schumann havia criado os personagens Florestan e Eusebius , um, tempestivo e apaixonado, e o outro, contemplativo e calmo. Eles eram duas personalidades do compositor, e ele assinava as criticas como um ou outro. E ele usou muito eles dois para compor. Às vezes você escuta uma peça de Schumann e percebe claramente que ele estava sendo Eusebius ou então Florestan. O compositor tinha depressão e possível bipolaridade , e eu penso que esses personagens são a manifestação disso tudo. Voltando ao concerto, especialmente no primeiro movimento, nota-se uma luta entre Eusebius e Florestan. O resultado é espetacular. O movimento culmina em uma cadência maravilhosa, que assusta pianistas até hoje. Gravação sugerida - Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Regente : Chailly, pianista : Argerich Edward Grieg - Concerto para Piano em Lá menor De 1868 , este concerto é a peça mais conhecida do compositor norueguês Edvard Grieg . Mesmo não sendo a coisa mais profunda, é irresistível. Um primeiro movimento heroico , um segundo movimento sensível e um finale genial . Não precisa mais que isso pra estar na minha lista e, se pesquisarem por aí, qualquer outra que apareça pela internet. Sem contar com a cadência, que foi entrando no imaginário popular até fazer florir as épicas cadências dos concertos 1 e 3 de Rachmaninoff . Em alguma altura dos anos 50 ou 60, algum produtor percebeu que ficava ótimo colocar ele num lado do disco e, do outro, o de Schumann. O resultado é que esses dois concertos, de compositores que nada têm a ver um com o outro e que só compartilham da mesma tonalidade, ficaram sendo gravados lado a lado. Mas confesso que gosto. Schumann, grave, Grieg, leve. Gravação sugerida - Orquestra Filarmônica de Berlim - Regente : Karajan, pianista : Zimerman Pyotr Tchaikovsky - Concerto para Piano Nº 1 Se o primeiro e mais bem sucedido concerto para piano de Pyotr Tchaikovsky fosse confrontado com outro, só perderia em popularidade para o 2º de Rachmaninoff . Tão difícil, ele exige até mesmo preparo físico do solista. No gigante primeiro movimento, temos corridas ascendentes e descendentes com ambas mãos, oitavas duplas em cromatismo e uma cadência eloquente (embora eu sempre tenha achado que faltava "bactéria" a essa cadência). O segundo movimento é um encantador andantino (andamento um tanto lento). E o último, cumpre seu papel: continuo a não gostar de finales. Gravação sugerida - Orquestra Filarmônica de Berlim - Regente : Abbado, pianista : Argerich Johannes Brahms - Concerto para Piano Nº 2 Obra da maturidade de Johannes Brahms , estreada em 1881 , em Budapeste , com o compositor ao piano, sucede o primeiro concerto em 22 anos. Também é dificílimo e tem uma característica estranha: poucas mulheres o tocam/gravam. Confesso que é o meu favorito. Primeiro movimento alterna entre o pastoral e o agitado, mas o clima geral é de paz. O segundo é um scherzo divertido e sardônico que contém uma das passagens mais difíceis da literatura, pelo que me consta. O terceiro é um lindo andante (meio lento) em que, como no concerto Nº 2 de Liszt, o piano desenvolve um fabuloso diálogo com o violoncelo . E o finale está dentre os poucos que me agradam. Gravação sugerida - Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Regente : Chailly, pianista : Freire Sergei Rachmaninoff - Concerto para Piano Nº 2 A história é famosa: em 1887 o jovem compositor Sergei Rachmaninoff apresenta em São Petersburgo sua 1ª sinfonia. É um fracasso absoluto. Vários fatores contribuíram para isso: a orquestra estava mal ensaiada, Glazunov , o regente, estaria bêbado e, cá pra nós, a sinfonia carece de atrativos (não que seja ruim). Mas o que importa é a rejeição. Rachmaninoff teve um colapso e passou a ter bloqueio criativo. Foi preciso recorrer à psicanálise e passaram-se três anos até que ele conseguisse escrever outra obra. Justamente o Segundo Concerto . Conta-se que, nas sessões, eles trabalhavam com a sugestão, repetindo tenazmente "eu vou compor um concerto"... É hoje o concerto mais executado e gravado de todos. Virtuosístico, mas sem abrir mão da musicalidade, é peça ideal para o pianista demonstrar todas as suas qualidades. Tem tudo. Beleza arrebatadora desde o começo, escrita brilhante para piano e, sobretudo, uma maravilhosa integração entre o solista e a orquestra. Gravação sugerida - Orquestra Sinfônica de Boston - Regente : Ozawa, pianista : Zimerman Sergei Prokofiev - Concerto para Piano Nº 3 De 1921 , este brilhante concerto representa perfeitamente o modernismo . Dissonante, interessante e nobre. Difícil, também. Já falei que Sergei Prokofiev era um exímio pianista. Não de carreira, mas chegou a gravar algumas coisas. E é preciso entender muito do idioma do piano pra criar uma obra tão fantástica, tão sofisticada. Na verdade, mais sofisticado é o 2º concerto. Diz-se que apenas o 2º de Bartók e o 3º de Rachmaninoff se equiparam a esse em dificuldade. Mas é de linguagem difícil, de modo que não foi muito popular. Prokofiev então resolveu fazer do 3º uma obra mais leve, menos ambiciosa. E de fato se tornou o concerto mais conhecido dos seus 5. Gravação sugerida - Orquestra Filarmônica de Londres - Regente : Abbado, pianista : Argerich
- Outro top 10 Sinfonias a se conhecer (Parte 2)
Mais 10 sinfonias imprescindíveis em qualquer repertório. Essa é a lista 2. A primeira está aqui. Agora cabe dar uma pincelada na estrutura da sinfonia, falando, nesse caso, do primeiro movimento (lembre-se disso, essa estrutura só vale para o primeiro movimento). Ele consiste na sucessão das seguintes seções, às vezes precedidas, ainda, por uma introdução: - Exposição, em que o compositor apresenta dois temas principais, geralmente contrastantes - geralmente se repete essa seção; - Desenvolvimento, em que ele faz divagações sobre os dois temas, os mistura e os explora ao máximo; - Reexposição, que é quando ele reapresenta os temas de maneira mais pura, lembrando a exposição; - Coda, que é a parte final. O Coda pode ser desde um simples encadeamento de acordes até uma seção complexa que tem uma preparação para terminar a obra e o final em si. Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Sinfonia Nº 40, em Sol menor De 1788, 3 anos antes da morte prematura do compositor, essa sinfonia talvez seja sua mais conhecida. É um daqueles poucos exemplos em que a obra de arte mais conhecida de um artista está, realmente, entre as suas melhores. Graciosa, mas meio trágica, ela é uma das duas únicas que Wolfgang Amadeus Mozart escreveu em tom menor. É superelegante, mas não sem personalidade. O compositor usa muito as cordas, como era o estilo da época, mas já temos algumas frases no clarinete, no oboé e na flauta. O primeiro movimento tem uma exposição linda, mas é no desenvolvimento que Mozart mostra sua criatividade, prenunciando Beethoven. Mesmo sendo curto, é repleto de modulações, combinações diferentes de instrumentos... O segundo, marcado Andante, é uma daquelas peças que só Mozart... Contém passagens arrepiantes e, depois do primeiro movimento um pouco conturbado, é uma música contemplativa e graciosa. O terceiro é um Minueto marcado por uma leve confusão rítmica que nos dá. Às vezes ficamos sem saber direito qual o tempo forte. O Trio (parte do meio do movimento) é leve e belo. O Finale volta a ser conturbado. Marcado Allegro Assai, começa com um Foguete de Mannheim (um arpejo ascendente) e contém corridas rápidas das cordas. Se bem que o segundo tema é descontraído, mas logo voltam os ritmos agitados. Se essa música fosse em Sol maior, poderia até ser alegre, mas em menor, fica soturna. Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Simon Rattle Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) - Sinfonia Nº 3 "Eroica" Composta em 1804, essa sinfonia marca uma ruptura de Ludwig van Beethoven com a música tradicional, a clássica, dando início ao romantismo. Tem uma aula interessantíssima do maestro americano Leonard Bernstein sobre a peça. Ela já começa com duas pauladas: dois acordes de mi bemol maior em tutti (toda a orquestra). A música, que começa tão assertivamente com um acorde perfeito (acordes perfeitos são aqueles maiores ou menores com apenas três notas), vai gradualmente perdendo o equilíbrio tonal, culminando em um acorde altamente dissonante (7m59s), que chega a dar arrepios. O ritmo é igualmente singular, com síncopes inusitadas, às vezes em fortíssimo. Famosamente, ocorre um novo tema em pleno desenvolvimento (8m08s) (os temas sempre são apresentados na exposição). O segundo movimento é uma solene Marcha Fúnebre, nobre e orgulhosa, muito bonita e profunda. Para o terceiro movimento, Beethoven preparou, em vez do clássico Minueto, um Scherzo (tipo de andamento jocoso, por vezes irônico, que ele adotara e que todos adotariam a partir de então). Ele também vem com ritmos sincopados e uma orquestração que dá destaque às madeiras. O Finale é uma peça extremamente criativa, com uma orquestração bem balanceada. Tão inovadora é a sinfonia, que seu primeiro ensaio foi um desastre. Os instrumentistas entravam na hora errada e, quando entravam na hora certa, Beethoven, que já apresentava sinais de surdez, interrompia, acreditando que alguém atravessara (em música, atravessar é se precipitar ou se atrasar; ou seja, tocar antes ou depois da hora certa). Eu costumo dizer que, no caso de Mozart, você ouve as primeiras notas e diz: "mas que gênio!". No caso de Beethoven, você pode até não achar isso no começo, mas à medida em que vai escutando, vai se dando conta de que: "Putz! Mas que gênio!". Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Claudio Abbado Felix Mendelssohn (1809 - 1847) - Sinfonia Nº 4 "Italiana" Entre 1829 e 1831, o jovem Felix Mendelssohn empreendeu uma jornada pela Europa. Os frutos da viagem foram muitos: a 3ª Sinfonia ("Escocesa"), a abertura "As Grutas de Fingal", e a Sinfonia Italiana. Escolhi esta última porque é uma das músicas mais felizes e agradáveis que conheço. Finalizada em 1833, é "a peça mais alegre que já compus", disse ele em carta à irmã Fanny. Ele continua: "só não achei nada para o movimento lento, ainda. Acho que vou deixar isso para Nápoles". Acho que Nápoles deu certo, porque é um lindo movimento lento. Mendelssohn foi uma daquelas crianças que encantam a todos: tocava piano muito bem, compunha, escrevia poesia... Menino de ouro. Ele ainda teria uma carreira de regente e é hoje considerado o homem que redescobriu Johann Sebastian Bach para o mundo, basicamente porque ele regeu o oratório A Paixão Segundo São Matheus, do mestre alemão, numa performance lendária em Berlim. Infelizmente ele faleceu muito cedo, aos 38 anos. Mas são muitas as obras conhecidas dele: as Sinfonias 3 e 4, o Concerto para Violino, as aberturas "As Grutas de Fingal" (ou "As Hébridas") e "Mar Calmo e Viagem Próspera", a música incidental para "Sonho de Uma Noite de Verão" (na qual existe a famosa "Marcha Nupcial"), os oratórios Paulus e Elias e muitas outras. Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Nova Iorque (NY Philharmonic), regente: Leonard Bernstein Robert Schumann (1810 - 1856) - Sinfonia Nº 3 "Renana" Renana quer dizer "da Renânia", que é uma área na Alemanha banhada pelo rio Reno, caso você esteja se perguntando. A última sinfonia escrita por Robert Schumann, em 1850, foi a penúltima a ser publicada (por isso é a terceira, e não a quarta). Foi inspirada em uma viagem de Robert e Clara a esse lugar. Foi uma viagem muito feliz. O quarto movimento (21m10s no vídeo acima), em que ele imagina um grande ritual de um arcebispo que se torna cardeal na Catedral de Colônia, é o meu favorito. Quase tão lindo quanto o terceiro movimento da 2ª Sinfonia, me lembra o Réquiem de Mozart. Schumann, como eu já disse, era um artista perturbado, especialmente a partir de 1850, com 40 anos. Nesse próprio rio Reno, ele se jogaria, em 1854, numa tentativa de suicídio. Resgatado por pescadores, de volta à casa, ele pediu, então, para ser internado num asilo de loucos. Clara não podia visitá-lo, mas Johannes Brahms, amigo íntimo do casal, podia (acho que algo a ver com o fato de ser um asilo masculino). Schumann morreu em 1856. Dois dias antes, sua esposa foi, finalmente, autorizada a vê-lo, e ele parece tê-la reconhecido, mas não disse nada senão coisas desconexas. Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Los Angeles (LA Philharmonic), regente: Carlo Maria Giulini Johannes Brahms (1833 - 1897) - Sinfonia Nº 2 Como falei nesse post, Johannes Brahms fizera, em 1876, o que muitos consideravam impossível: tornar-se o sucessor de Beethoven. Isso porque sua 1ª Sinfonia foi recebida pela Alemanha com admiração e orgulho. Ele tinha que manter o padrão e fazer uma 2ª Sinfonia igualmente maravilhosa, mas ele estava tão confiante, que, em 1877, resolveu escrever uma obra menos de impacto e mais contemplativa. Costumamos nos referir a esse tipo de obra como uma Sinfonia Pastoral, em homenagem à obra de mesmo nome de Beethoven, que é a menos turbulenta de suas sinfonias. Acontece que Brahms não a achava contemplativa, não. Ele dizia que era a coisa mais triste que já compusera, a ponto de ser quase insuportável. A segunda é repleta de melodias lindíssimas, como a do 2º movimento (20m17s), uma linda e longa linha melódica nos violoncelos. Ela tem 4 movimentos e dura 45 min. Não é a mais tocada das 4 de Brahms, mas é muito adorada. É a minha favorita, se bem que amo as 4. Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Claudio Abbado (uma gravação específica, de 1971) Antonín Dvořák (1841 - 1904) - Sinfonia Nº 7 A Sétima de Antonín Dvořák, de 1885, é uma peça densa e profunda, mas que não deixa de ser agradável. O compositor tcheco era um melodista nato e um orquestrador muito consciente. Ele sabe criar climas ameaçadores, agradáveis, tensos ou casuais. Tudo em poucos segundos. O primeiro movimento da Sétima (que antigamente era chamada de Terceira, pois desprezavam-se as 4 primeiras) é um exemplo dessa capacidade de passear entre humores. O primeiro tema, nas cordas, é sombrio, já o segundo, no clarinete, superjovial. O segundo movimento, Poco Adagio (um pouco lento), é encantador, mas também alterna com momentos de mais alerta. Nesse momento estou ouvindo uma gravação que nunca tinha ouvido, mas que certamente vou indicar logo abaixo. O terceiro é o arquétipo de um Scherzo. Em tempo ternário, parece uma valsa nervosa. A melodia fica na sua cabeça. Se você prestar atenção, vai notar texturas orquestrais (isto é, ideias musicais que correm junto com a melodia "da superfície"). O Finale é devastador. Essa é, sem dúvida, uma das maiores sinfonias já escritas. Gravação sugerida: Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony), regente: Colin Davis Jean Sibelius (1865 - 1957) - Sinfonia Nº 7 Esta incrível sinfonia, considerada por muitos o Opus Magnus de Jean Sibelius, é especial. Primeiro porque não é uma sinfonia convencional de 4 movimentos: tem apenas um. Não é música, é uma outra coisa. Um fenômeno etéreo. Ela lembra um estado de meditação, é simplesmente sensacional. A orquestra vai começando a pegar cor, a fazer sentido, num crescendo (a partir de 6m17s) que vai bater num acorde glorioso em que o trombone, como um rei, declama sua afirmação. Depois vêm alguns elementos mais reconhecíveis, os ritmos vão ficando mais discerníveis. Mas é apenas ilusão, no final ela volta ao seu estado nebuloso até terminar como que se desfazendo - embora tenha um acorde final muito definido. Gravações sugeridas: Orquestra Sinfônica de Gotemburgo (Gothemburg Symphony), regente: Neeme Järvi / Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan Sergei Rachmaninoff (1873 - 1943) - Sinfonia Nº 3 Se a inclusão da 2ª Sinfonia de Sergei Rachmaninoff na outra lista pode ter sido polêmica, esta aqui não será. Porque, além de belíssima, é bastante sofisticada. Você às vezes acha que vai entrar um tema, mas ele te engana, só pra logo depois revelar a melodia. Escute o segundo movimento (7m13s), que é ambivalente. Começa sereno e vira uma coisa agitada. A melodia da trompa, a do violino, coisas meio ciganas... Rachmaninoff emprega vários instrumentos de percussão, como xilofone, tamborim, triângulo, pratos, bombo sinfônico. É uma partitura arrojada, ainda que não moderna. O compositor nunca se entregou à estética moderna, sendo considerado um romântico tardio. De fato, essa peça é de 1936, quando o mundo já conhecia muito bem a música atonal de Stravinsky, Bartók, Schoenberg e Berg. O que aconteceu com isso foi que, na época, ela foi considerada uma coisa do passado. Mas o tempo passou e a avaliação agora é outra. Não se julga a obra baseado no fato dela estar inserida no seu tempo ou não, já que não estamos mais nesse tempo. E é aí que ela revela sua grandeza. Gravações sugeridas: Orquestra de Filadélfia (Philadelphia Orchestra), regente: Sergei Rachmaninoff (sim, ele a gravou, e não é difícil de achar) / Orquestra Filarmônica Real de Liverpool (Royal Liverpool Philharmonic Orchestra), regente: Vasily Petrenko Sergei Prokofiev (1891 - 1953) - Sinfonia Nº 5 Lembro de quando comprei, usado, um CD em que Bernstein regia essa Sinfonia de Sergei Prokofiev com a Filarmônica de Israel. É uma gravação, pra mim, tão mágica e perfeita, que eu mal consigo ouvir outras (só achei comparável, para minha felicidade, a gravação da OSESP com Marin Alsop). Essa sinfonia, composta na União Soviética (Prokofiev era russo, mas morou muito tempo fora), deu esperança às pessoas, tão oprimidas pelo regime em que elas viviam. É uma sinfonia de glória, sucesso, mesmo que tenha uma personalidade misteriosa. O próprio compositor regeu a estreia, em 1945. No que ele subiu no palco, ouviram-se sons de artilharia lá fora. Ele esperou acabar e só então começou a música. Isso impressionou muito a plateia. A música é até hoje uma das mais tocadas de Prokofiev. Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Israel (Israel Philharmonic), regente: Leonard Bernstein / Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo, regente: Marin Alsop Dmitri Shostakovich (1891 - 1953) - Sinfonia Nº 10 De 1953, a 10ª Sinfonia de Dmitri Shostakovich, assim como a 5ª, sucede-se a uma denúncia. Dizia-se que um artista era "denunciado", na União Soviética, quando uma obra sua era considerada subversiva, ou moderna demais, ou quando simplesmente desagradava o governo. Em seu livro de memórias, o compositor afirma que a obra é um retrato (homenagem) de Stalin, dos seus últimos anos - ele morrera um ano antes. Mas não se pode confiar em nada que Shostakovich fala, nem mesmo em sua biografia. O regime vigiava tudo e ele era um sobrevivente, dizia o que queriam que dissesse. Nessa biografia ele se revela extremamente subserviente e obediente ao governo. É que ele tinha filhos, não podia comprometer a vida e nem a carreira deles. Maxim, o mais novo, viria a se tornar um regente competente e bem sucedido. Ele ainda grava e difunde as obras do pai. O que não mente é sua obra. Você vê um homem (e um povo) sofrido, a alegria, quando vem, é forçada e amarga. A 10ª sinfonia, depois da 5ª, é a minha favorita, pelo menos no momento. Tem dois acordes (1m33s) que são de importância máxima, mas quase nunca aparecem de modo a chamar atenção. Você pode escutar a sinfonia inteira e não se dar conta da importância deles. Eu fico arrepiado. É de um abatimento, de uma solidão tão grandes. Shostakovich é um dos compositores que mais recentemente eu aprendi a gostar. Depois dos 30. Eu o considerava espalhafatoso, mas aprendi a ver toda a beleza de suas sinfonias e quartetos de cordas. Outro gênio! Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica Real de Liverpool (Royal Liverpool Philharmonic), regente: Vasily Petrenko / Orquestra da Rádio Bávara (Bavarian Radio Orchestra), regente: Mariss Jansons Gostou desse post? Comente aí. E não se esqueça de olhar a primeira lista aqui. Eu já tenho ideia de como vai ser a terceira lista, que deve encerrar o assunto. Se bem que vou fazer uma lista de sinfonias menos conhecidas que você deve escutar. Em alguma delas você haverá de encontrar algumas obras de que goste. Quem sabe até se dê conta de que música clássica, com um pouquinho de persistência e pesquisa, é a sua praia.
- 15 Sinfonias Injustiçadas
Vamos fazer um pouco de justiça histórica aqui. É uma primeira leva de sinfonias subestimadas. Há muitas mais. Vamos dividi-las em 3 categorias: de compositores que não são muito tocados; de compositores que são muito tocados, mas são conhecidos por outras obras; e, finalmente, sinfonias que a gente quase não vê gravadas, a despeito de sua qualidade. Cada uma dessas categorias suporta dois ou três artigos. Sugerimos que escolha uma e tente escutar. Verá que maravilha. A primeira leva, essa aqui, é de compositores que (ao menos em sinfonias) não são muito tocados, ou seja, a primeira categoria. Alguns deles são, sim, presença constante nas salas de concerto, mas merecem ainda mais. E todos são músicos representativos e reconhecidos hoje. Precisam só de um empurrãozinho da Arara. A Arara fez um esforço hercúleo e colocou em ordem cronológica de composição. E como somos uma corporação comprometida, fizemos a Playlist no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/5tHYPGTAT5v3OAtG8qsvFX?si=8988a81c1bba4e21 Franz Berwald (1776-1868) - Sinfonie Singuliére (Nº 3) (1845) O compositor sueco Franz Berwald, o Conde Drácula aí ao lado, foi construtor de 4 sinfonias muito importantes no romantismo. A cada uma delas deu um nome (na ordem): Sinfonie sérieuse, Sinfonie capricieuse, Sinfonie singulière e Sinfonie naïve. O fato de estar fora dos principais centros musicais da época (Paris, Viena, Berlim, Hamburgo...) fez com que o sueco não fosse um compositor muito apreciado em vida. Desde que morreu, porém, sua popularidade aumentou. A Terceira Sinfonia, a Singular, só foi estreada 37 anos depois da morte do compositor. Talvez seja a mais popular dele. É uma beleza de obra, que hoje tem defensores como os maestros Herbert Blomstedt e Thomas Dausgaard. Sua orquestração é sutil, seu trabalho temático é extremamente elaborado, é uma obra leve e melódica. É um trabalho sobretudo gracioso e fácil de gostar. Tem três movimentos e dura cerca de meia hora: Allegro fuocoso Adagio - Scherzo (Allegro assai) - Adagio Finale: Presto Gravação recomendada - Orquestra Nacional da Rádio Dinamarquesa, regida por Thomas Dausgaard (2008) Alexander Borodin (1833-1887) - Sinfonia Nª 2 (1876) O químico e compositor russo Alexander Borodin era um membro do "Grupo dos 5", os 5 compositores russos nacionalistas responsáveis por criar e difundir uma linguagem musical clássica daquele país. Sua Sinfonia Nº 2, em Si Menor, é o seu trabalho mais longo (ele escreveu 2 sinfonias) e tem 4 movimentos. Tomou-lhe cerca de 6 anos para terminar. Primeiro, porque o trabalho é complexo, especialmente em sua estrutura. E segundo, porque Borodin tinha uma respeitada carreira como químico que lhe tomava um bocado de tempo. Essa obra é bem mais densa do que a anterior e, para falar a verdade, já foi gravada uma porção de vezes. Mas, como sempre, bem menos do que deveria. Todos os movimentos são bastante instigantes. O 3º, Andante, com sua melodia na clarineta acompanhada pela harpa, é belíssimo e magistralmente orquestrado. Seus 4 movimentos são: Allegro moderato Scherzo. Molto vivo Andante Finale. Allegro Gravação recomendada: Um CD interessantíssimo comparando as versões de Kleiber pai e filho: Carlos Kleiber, com a Sinfônica da Rádio de Stuttgart (1972) e Erich Kleiber, regendo a Orquestra Sinfônica da NBC (1947) Alexander Glazunov (1865-1936) - Sinfonia Nº 4 (1893) Alexander Glazunov era um talento. Foi criança prodígio, compondo, aos 14 anos, obras sinfônicas que ipressionavam Balakirev e Rimsky-Korsakov, seus compatriotas russos. Era regente, também, mas isso é um caso à parte. Bêbado, regeu tão mal a estreia da 1ª Sinfonia de Sergei Rachmaninoff que esta foi um fracasso, levando o depressivo gigante a ter um bloqueio criativo de mais de três anos. Glazunov compôs 8 Sinfonias, iniciando, ainda uma nona. Selecionamos a 4ª, em Mi Bemol, por sua irresistível coloração orquestral e por ser a primeira em que ele evolui de um nacionalismo óbvio para uma linguagem mais pessoal. Repleta de belas melodias, a 4ª sinfonia tem 3 movimentos: Andante - Allegro moderato Scherzo Andante - Allegro Gravação recomendada - Neeme Järvi, regendo a Sifônica de Bamberg (1986) Josef Suk (1874-1935) - Sinfonia Asrael (Nº 2) (1906) A funesta Sinfonia Asrael, a 2ª e última de Josef Suk começou a ser composta em 1905 como um lamento pela morte do grande compositor Antonín Dvořák, seu sogro. Ocorre que, durante a composição, sua esposa Otillie também vem a falecer, tornando Asrael uma dupla e dolorosa homenagem fúnebre a duas pessoas amadas pelo compositor. Vale lembrar que a República Tcheca produziu dois músicos chamados Josef Suk: o compositor em questão, genro de Dvořák; e um violinista, um dos maiores do Século XX, seu neto. Trata-se, como não poderia deixar de ser, de uma obra densa e profunda, bem distante da Sinfonie Singulière de Berwald, que abriu esta lista. Na tradição islâmica, Asrael era o anjo responsável por carregar a alma dos mortos. Na tradição judaica, ou seja, no Velho Testamento, ele é o anjo da morte. A orquestra é relativamente grande, como era padrão no começo do século XX, contendo flautim, corne inglês, clarone, contrafagote, 6 trompas e bastante percussão, além da orquestra "tradicional". Longa, tem 5 movimentos e o Adagio (4º) é uma bela homenagem a Ottilie. Andante sostenuto Andante Vivace Adagio Adagio e maestoso Gravação recomendada - Filarmônica de Helsinki, regida por Vladimir Ashkenazy (2009) Charles Ives (1874–1954) - Sinfonia Nº 3 "The Camp Meeting" (1910) As 4 Sinfonias do compositor estadunidense Charles Ives figuram entre as obras sinfônicas mais importantes do seu país. Mesmo assim, graças à sua linguagem moderna e difícil, não são muito executadas. Talvez a mais conhecida seja a 2ª, de 1902. Mas a 3ª "The Camp Meeting" é dissonante e magistralmente escrita. Ives faz uso de seus experimentalismos pessoais, destacados dos europeus: compunha em duas tonalidades simultâneas, utilisava temas e harmonias baseados no canto dos negros americanos e fazia métricas contraituitivas. É uma sinfonia nostálgica, em que ele evoca os antigos acampamentos de sua infância. O caráter é, portanto, leve, mas estranho. Ives foi o maior compositor que não era compositor dos Estados Unidos. Ele era de uma família rica, e compunha por prazer, sem se preocupar em agradar público nenhum. O resultado é que era desconhecido enquanto jovem, vindo a ganhar um destaque tardio quando foi "descoberto". Tinha uma personalidade interessante e era a favor da abolição da escravidão. A sinfonia só seria estreada em 1946. É escrita para uma Orquestra de Câmera, ou seja, uma que tem menos instrumentos de cordas, apenas 1 de cada madeira (flauta, oboé, clarinete e fagote), 2 trompas, 1 trombone e sinos. Tem 3 movimentos e dura cerca de 20 minutos: Old Folks Gatherin' – Andante maestoso Children's Day – Allegro Communion – Largo Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Saint Louis, regida por Leonard Slatkin (1992) Albert Roussel (1869--1937) - Sinfonia Nº 2 (1921) Um dos mais importantes compositores franceses do entreguerras, Albert Roussel não é tão tocado quanto, digamos Arthur Honegger, um compositor que trabalha em esferas semelhantes. Mas sua obra, embora difícil de penetrar, é concisa, esteticamente perfeita e profundamente comprometida em expressar sentimentos e sensações humanas. Suas sinfonias mais conhecidas são a 3ª e a 4ª (são 4 no total), mas acontece que a 2ª, em Si Bemol Maior, Op. 23, é mais eloquente, sondando mais fundo na nossa alma. De caráter misterioso, sempre em movimento (a atividade motora é muito importante em Roussel), ela vai penetrando, perturbando e inquietando o ouvinte. O crítico David Hurwitz garante que é a maior sinfonia francesa já escrita, incluindo as de Berlioz e César Franck. Tem 3 movimentos e dura mais de 40 minutos. Lent Modéré Très Lent Gravação recomendada - Orquestra Nacional Real Escocesa, regida por Stéphane Denève (2008) Carl Nielsen (1865-1931) - Sinfonia Nº 5 (1922) Uma das sinfonias mais gravadas e apreciadas dessa lista é a 5ª, de Carl Nielsen, completada em 1922. O compositor dinamarquês escreveu 6 sinfonias. A inclusão da 5ª se deve ao fato de não ser, nem de longe, tão conhecida quanto as de Brahms, Beethoven, Tchaikovsky e outros. Com apenas 2 movimentos, durando cerca de 33 minutos, o primeiro movimento começa calmo, plácido, com uma alternância importante de duas notas. Dessa alternância parece nascer um tema-vírus, que vai invadindo e tomando conta da obra (clarinete e flauta). De súbito, ainda no primeiro movimento, surge um adagio de beleza cativante e irresistível. No ápice do movimento, temos um duelo entre a orquestra e uma caixa-clara extraviada. Marcado "cadência ad lib.", o instrumentista deve tocar notas não escritas e se antepor ferozmente à orquestra. O segundo movimento é densamente contrapontístico, com uma escrita orquestral difícil e repleta de contrastes e estranhamentos entre os instrumentos. É uma bela sinfonia a se conhecer. Os dois movimentos são: Tempo giusto—Adagio non troppo Allegro—Presto—Andante un poco tranquillo—Allegro Embora tenha, formalmente, 2 movimentos, cada um tem mais de uma sessão, de modo que podemos identificar 5 sessões, tocadas sem interrupção. Gravação recomendada - Filarmônica de Nova Iorque, regida por Leonard Bernstein (1962) William Walton (1902-1983) - Sinfonia Nº 1 (1935) William Walton é um dos compositores ingleses mais importantes do século XX. Sua 1ª Sinfonia, em Si Bemol Menor é sua obra mais conhecida. E uma sinfonia dramática e considerada um dos maiores exemplos de escrita sinifônica ingelsa. Agitada e turbulenta, sua escrita orquestral é magistral, bem como sua esturuta. A gestação da obra foi longa, tendo ele começado em 1932 e parado em 1934 devido a um bloqueio criativo. Ela só foi finalizada em 1935. De orquestração densa, é permeada por acordes cheios e dissonantes. Tem 4 movimentos e dura cerca de 45 minutos. Os movimentos são: Allegro assai – Poco meno mosso – A tempo, agitato – Poco meno mosso – Agitato poco a poco – Animato Scherzo: Presto con malizia Andante con malinconia Maestoso – Allegro, brioso ed ardentemente – Vivacissimo – Agitato – Maestoso Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres, regida por Colin Davis (2006) Ralph Vaughan Williams (1890-1959) - Sinfonia Nº 4 (1943) As Sinfonias do inglês Ralph Vaughan Williams entraram no repertório comum das orquestras, ainda que tardiamente. Ao menos algumas delas, as que podemos chamar de sinfonias calmas. A 4ª, em Fá Menor, é um caso à parte. É agitada e densa. Seus colegas Malcolm Arnold e William Walton, tinham como certo que era a maior sinfonia desde Beethoven. É a primeira sinfonia do compositor sem título: As primeiras tinham sido a "A Sea Symphony", "A London Symphony" e "A Pastoral Symphony". Com a 4ª ele queria criar uma música destituída de programas e imagens externos, o que ele chamou de música pura. De escrita orquestral brilhante, destaca-se do restante do corpo de sinfonias do compositor, a maioria calma e contemplativa. A 4ª se vale de dissonâncias e de escrita agressiva. Tem 4 movimentos e é assolada por uma atmosfera atormentada, dramática. Allegro Andante moderato Scherzo: Allegro molto Finale con epilogo fugato: Allegro molto Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres, regida por Antonio Pappano (2021) Heitor Villa-Lobos (1887-1959) Sinfonia Nª 6 "Sobre a Linha das Montanhas do Brasil" (1944) Uma das mais bem-sucedidas das 15 Sinfonias do brasileiro Heitor Villa-Lobos, a 6ª foi lograda utilizando o seguinte recurso: Villa desenhou num papel o contorno das montanhas de Belo Horizonte e transformou tudo em melodia. É um exercício divertido, quando a montanha sobe, a melodia sobe etc. Esse processo, ele chamava de "milimetrização", e já havia usado em sua peça para piano "New York Skyline", de 1942. A genial sinfonia é de 1944. Tem 4 movimentos e não dura meia hora. Allegro non troppo Lento Allegretto quasi animato Allegro Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo, regida por Isaac Karabtchevsky (2012) Camargo Guarnieri (1907-1993) - Sinfonia Nº 2 "Uirapuru" (1945) Camargo Guarnieri era uma espécie de superdotado musical. Nasceu Mozart Guarnieri, mas quando iniciou sua carreira musical, adotou o nome de solteira de sua mãe, para evitar comparações. Suas peças eram altamente evocativas. A Sinfonia "Uirapuru" faz referência ao lendário pássaro amazônco de que, quando se escuta o canto, dizem lendas, fica-se louco. Percussiva no início, a sinfonia tem uma escrita orquestral absolutamente genial. É uma pena que Guarnieri só seja gravado (e pouco) no Brasil. O segundo movimento começa com um solo de corne inglês, ao que se junta o fagote, depois a flauta e o clarinete. É de uma beleza encantadora. São 3 movimentos, durando cerca de 28 minutos. Enérgico Terno Festivo Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de São Paulo, regida por John Neschling (2001) Aaron Copland (1900-1990) - Sinfonia Nº 3 (1946) O compositor norte-americano Aaron Copland terminou sua 3ª e última sinfonia em 1946. É considerada a síntese da sinfonia norte-americana, com sua atmosfera heróica e saudável. Nós brasileiros costumamo achar que nossos compositores não são muito tocados no exterior (à excessção de Villa-Lobos), mas os americanos sentem o mesmo. Se excluírmos o balé Appalachian Spring e o Concerto para Clarinete de Copland, poucas de suas músicas atingiram relevância mundial. Mas é uma bela sinfonia, magistralmente escrita, sem sinal da tendência bélica do compositor, sem ser simples demais... Vale notar que ele usa temas de uma de suas obras mais conhecidas, a Fanfarra para o Homem Comum. Tem 4 movimentos e dura quase 35 minutos. Molto moderato Allegro molto Andantino quasi allegretto Molto deliberato – Allegro risoluto Gravação recomendada - Filarmônica de Nova Iorque, regida por Leonard Bernstein (1985) Bohuslav Martinů (1890-1959) - Sinfonia Nº 6 "Fantaisies Symphoniques" (1953) Esta absolutamente moderna sinfonia do composito tcheco Bohuslav Martinů, sua 6ª e última, traz uma linguagem nova, tanto no uso da orquestra quanto na declaração dos temas e na forma. Martinů a dedicou ao maestro Charles Munch e à Siinfônica de Boston, que fizeram a estreia, em 1955, no 75º aniversário da orquestra. A orquestra é um pouco reduzida - Martinů costumava usar piano e harpa em suas sinfonias, e os suprime aqui. Quanto à forma, o compositor afirma que logrou algo inédito: embora não soubesse explicar o quê, algo dava forma à obra. A cuidadosa elaboração de texturas orquestrais, com uma orquestra não muito grande, é prodigiosa. O clima é de fantasia, quase de delírio. Tem 3 movimentos e dura cerca de 27 minutos: Lento—Allegro—Lento Poco allegro (4/4) Lento Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica da BBC, regida por Jirí Belohlávek (2010) Ernest Bloch (1880-1959) - Sinfonia em Mi Bemol (1955) O compositor judeu-suíço-americano Ernest Bloch era um grande orquestrador. Sua Sinfonia em Mi Bemol não é tão conhecida, mas deveria. Ele é conhecido por sua Rapsódia Hebraica Schelomo, para violoncelo e orquestra, de 1916 e por uma série de concertos - inclusive concertos grossos, para mais de um instrumento solista. E, de fato, a sua última sinfonia, essa em Mi Bemol, foi concebida inicialmente como um concerto. É uma obra que pode-se considerar transcendental, com uma escrita etérea e um estilo que se distancia de rótulos. É uma obra de sua maturidade. Tem 4 movimentos relativamente curtos e dura cerca de 25 minutos. Tranquillo - Allegro deciso - Tranquillo - Allegro deciso - Tranquillo Allegro Andante Allegro deciso Gravação recomendada - Royal Philharmonic Orchestra, regida por Dalia Atlas (1996) Claudio Santoro (1919-1989) - Sinfonia N º 9 (1982) Das 14 sinfonias do compositor e regente brasileiro Claudio Santoro, poucas ainda foram gravadas. Chamou-nos a atenção a 9ª. Altamente criativa, com uma escrita orquestral não óbvia e harmonias perturbadoramente dissonantes, ela cria um clima misterioso e profundo, aberto a infinitas interpretações. Alterna momentos de placidez e beleza melódica com fúria e transgressão, sendo totalmente imprevisível. É uma obra de difícil apreciação, mas de fina escrita. Caso resolva insistir nela, será recompensado. Tem 4 movimentos e dura cerca de 25 minutos. Andante - Allegro molto Andante (con moto) Scherzino Allegro Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, regida por John Neschling (2006) Malcolm Arnold (1921-2006) - Sinfonia Nº 9 (1986) O compositor inglês Malcolm Arnold escreveu sua Sinfonia Nº 9 em 1986, na sua maturidade. É uma obra de instrumentação sutil, com menos efeitos orquestrais e mais duetos ou trios timbrísticos entre os instrumentos. Isso torna a obra um pouco mais fácil de se escutar, mesmo não sendo povoada de elementos melódicos. É, na verdade, um tanto rítmica, mesmo que utilize a percussão de maneira leve. Seu último movimento é monumental e dura, sozinho, uns bons 24 minutos. Mesmo assim, ele não se apressa, tomando o tempo que lhe é necessário para apresentar o que tem que apresentar. E em nenhum momento, é cansativo. É uma obra contemporânea que tem muito a oferecer ao ouvinte, tanto no modelo estrutural quanto nas escolhas instrumentais. Tem 4 movimentos e dura mais de 45 minutos. Vivace Allegretto Giubiloso Lento Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica da BBC, regida por Rumon Gamba (2001) Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia. Escute as 15 Sinfonias Injustiçadas, Vol. 1, aqui. Algumas postagens importantes, quadro que ficará sendo eternamente atualizado. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Um "pequeno" Glossário de termos musicais. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? Preconceito Contra Música Clássica O Movimento HIP (Interpretações Historicamente Informadas) César Franck, o Aluno dos seus Alunos Rachmaninoff ou Rachmaninov? Como se pronuncia e escreve? Música Calada, A Arte de Federico Mompou As Melhores Orquestras do Mundo: Vol. 1 - Filarmônica de Berlim Vol. 2 - Orquestra do Concertgebouw, Amsterdã Vol. 3 - Filarmônica de Viena Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info). Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de avião, em 1949. Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - As Maiores e Mais Belas Sinfonias Já Escritas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Outro Top 10 Sinfonias a se Conhecer - Top + 10 Sinfonias para Escutar Sem Erro - Top 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top + 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Top 10 Maiores Orquestras Sinfônicas dos EUA - As 20 Maiores Orquestras do Mundo - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX - Top 10 Gravações do 1º Concerto para Piano de Brahms - Top 10 Gravações do 2º Concerto para Piano de Brahms Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart e seus milagres - Réquiem - Mozart e seus milagres - Concerto para Flauta, Harpa e Orquestra - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 3 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Elgar - Variações Enigma - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Estudos - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - "Sinfonia Nº 10" (Completada por Inteligência Artificial) - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Berlioz - Sinfonia Fantástica - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Debussy - Prelúdio para a Tarde de um Fauno - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 1) - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 2) - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Penderecki - Trenodia para as Vítimas de Hiroshima - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Bolero - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Steve Reich - Música para Pedaços de Madeira - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Schubert - Quarteto Nº 14 "A Morte e a Donzela" - Schumann - Estudos Sinfônicos - Stravinsky - A Sagração da Primavera - Villa-Lobos - As Bachianas Nº 3 Compreendendo o Maestro: Parte 1 - História Parte 2 - Pra Que Serve? Parte 3 - Curiosidades Saiba, aqui, tudo sobre os Argonautas, um quarteto de MPB Clássica e Contemporânea Autoral Cearense. Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista Emmanuele Baldini, violinista e regente
- Papo de Arara: Emmanuele Baldini
Nascido em Trieste, Itália, no finalzinho de 1971, Emmanuele Baldini é conhecido no Brasil como um movimentador cultural, maestro, spalla da Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo (OSESP), solista, educador e músico de câmara. Sua trajetória é brilhante, tendo sido aluno de um dos grandes violinistas italianos do século XX, Rugiero Ricci e vencido seu primeiro concurso aos 12 anos. Emmanuele gravou mais de 40 discos, dos quais temos uma boa amostra no Spotify: https://open.spotify.com/artist/2G4XEKxmESX6JSCK01oKEN?si=RPzHidliT_-FYr5cilYfiw Antes de vir ao Brasil, foi concertmaster das orquestras do Teatro Comunale de Bolonha, com Daniele Gatti como diretor e do Teatro Giuseppe Verdi de Trieste. Foi violinista da Orquestra do Teatro Alla Scala, de Milão, sob a direção de Riccardo Muti. Vamos ficar conhecendo um pouco mais da trajetória e dos conhecimentos musicais deste grande violinista e maestro numa entrevista que ele concedeu à Arara. 1. Você teve apoio da família ao começar a estudar música? Como foi seu início? Eu nasci numa família de músicos, meus pais eram pianistas. São pianistas! E comecei a brincar com o piano de casa até escutar um violinista tocar na televisão, um concerto na televisão, cair simplesmente apaixonado pelo violino e, com sete anos de idade, comecei a estudar violino e não parei nunca mais. Tive um professor, no início, bem severo, mas esse detalhe não me desanimou nem um pouco. 2. Você estudou com o grande Ruggiero Ricci, que tinha na ponta dos dedos o repertório mais tradicional, especialmente concertante, do violino. Teve muitas aulas com ele? O que aprendeu de mais valioso com esse grandioso do século XX? Com Ruggiero Ricci eu tive contato depois que eu terminei meu Curso de Virtuositè em Genebra. Eu era, então, um violinista já avançado, uma pessoa adulta, já. Já tinha me formado no Conservatório na Itália e já tinha me formado no Conservatório de Genebra. Foi numa ocasião de um curso de verão, então ele me convidou para estudar com uma certa frequência na casa dele, em Salzburgo e eu ia, mais ou menos, uma vez por mês, ficava 2, 3 dias. E as aulas com ele eram maravilhosas porque além de música, se falava muito. Contava lembranças da sua carreira, me mostrava partituras autografadas por grandes do passado. Era uma convivência e me tratava quase como um colega. E a outra grande diferença de tudo o que eu tive antes foi que, pela primeira vez, eu estive em contato frequente e contínuo com uma pessoa que, na época, tinha mais de 70 anos de palco. Mais de 70 anos de experiência, de concertos nos teatros mais importantes do mundo. Isso me deu uma bagagem extraordinária para o meu desenvolvimento. 3. O que o trouxe ao Brasil? Veio para as audições da OSESP? Eu não vim para o Brasil na primeira leva de grandes audições, quando foram feitas audições para a renovação da orquestra. Eu vim bastante depois, seis anos depois. (O maestro John) Neschling me convidou, primeiramente por algumas semanas, depois por um par de meses, e depois, sem que eu soubesse, decidiram fazer uma audição especial para mim durante uma turnê Latino-Americana, em que toquei 12 vezes "Vida de Herói" (Ein Heldenleben, de Richard Strauss), de Strauss, que é o solo mais difícil do repertório. Então, digamos que a minha audição - eu não sabia que estava sendo audicionado - foi um conjunto entre os concertos em que eu spallei a orquestra, em São Paulo, que foram várias semanas; alguns concertos de música de câmera, que programaram naquele período; e essa turnê pelos principais teatros da America Latina. Depois disso me avisaram que eu estava aprovado na orquestra e que, agora, a decisão de ficar ou não dependia de mim e eu decidi ficar. 4. Maestro, quando nós vamos montar uma interpretação de música popular, temos uma liberdade surreal: podemos modificar a harmonia, a métrica da melodia, adicionar contracantos e mexer no ritmo. Se um maestro fizer isso vai ser chamado de louco. A intervenção dele se dá em um nível bem mais sutil. Que elementos o regente costuma trabalhar mais com a orquestra? É verdade. É verdade que a música popular pode trabalhar muito mais, com muito mais liberdade. Mas isso se dá pela impossibilidade de ter um contato... Na música clássica - quando se toca uma peça de Beethoven, por exemplo - nós não temos como conversar com Beethoven. Nós temos que pegar a partitura, analisar a partitura e tentar encontrar liberdades e caminhos interpretativos, sem mudar a partitura que Beethoven entregou para a humanidade 200 anos atrás. Entende? É bem diferente quando interpretamos uma obra de música contemporânea. Eu, recentemente, gravei os "Caprichos Latinoamericanos", do compositor Arthur Barbosa e o processo de composição dele foi muito interessante, porque ele me mandava uma primeira versão e nós conversávamos sobre a possibilidade de mudar notas, de mudar efeitos sonoros, então, era uma troca constante. Isso era possível porque compositor e intérprete eram ambos vivos. Então, tinha uma troca. Agora, quando você aborda uma obra de 200, 300 anos atrás, você não pode ter a presunção de saber o que Beethoven queria, o que Mozart queria. Você tem que trabalhar a liberdade dentro daquilo que está escrito no texto. O texto é sagrado. É uma obra de arte que foi entregue à humanidade e que, de maneira alguma, é estático, é sempre igual. Muito pelo contrário: você pode tocar 10 vezes a 5ª Sinfonia de Beethoven, com as mesmas notas, fazendo as mesmas dinâmicas escritas por Beethoven e, mesmo assim, todo dia, a música soará diferente. Porque as liberdades são mais sutis, são mais minuciosas. Mas não podemos esquecer que, como muitos filósofos já falaram, a beleza está nos detalhes. E, às vezes, uma pequena liberdade, acaba sendo uma enorme liberdade, acaba fazendo uma enorme diferênça. O músico erudito, quando intepreta obras de músicos do passado, trabalha minúcias, trabalha detalhes que, se escutando superficialmente podem parecer pouco importantes, no final, no contexto, no resultado final, vão fazer a diferênça. 5. Um músico de orquestra, digamos, um flautista, está sujeito às indicações na partitura e, ainda, às escolhas do regente. Há espaço para uma expressão individual? O que é esperado desse flautista? Absolutamente, sim, porque existe o que está escrito na partitura, existe a leitura e a interpretação do regente, mas quem produz o som é o músico que toca aquela flauta. E só e ele pode ser capaz de produzir um som mais "quente", mais "frio", mais sutil ou mais denso. Esse tipo de diferênça é próprio do músico de orquestra e, geralmente, os regentes bons, valorizam muito essa personalidade do músico da própria orquestra. Só os regentes ruins querem frustrar a manifestação da personalidade do músico de orquestra. 6. Quais são os seus violinos? Eu tenho alguns violinos, vários violinos, mas digamos que aqueles dois que eu uso mais, que alterno mais, são um antigo Sebastian Klotz, de 1760 - é uma obra de arte que foi entregue... Klotz era um dos mais respeitados luthiers constutores de violinos da Alemanha. E o moderno Luiz Amorim, que é um luthier brasilero, mas que é radicado na Itália, em Cremona. É, digamos, um dos luthiers - não - o luthier brasileiro de longe que conseguiu um sucesso internacional. Conseguiu chegar em Cremona, que é o berço da lutheria, então os violinos dele são, entre os modernos, entre os mais importantes do mundo. 7. Com André Mehmari, gravou "Conversas com Bach". O disco é sensacional, mas eu gostaria de perguntar sobre a mística Chaconne. É uma daquelas músicas infinitas. Por que ela é tão respeitada? Você a toca duas vezes da mesma forma? O disco com Mehmari foi uma aventura extraordinária, como sempre, quando eu me junto com ele para algum projeto. E a pergunta sobre a Chacona, é uma obra que é uma viagem existencial, você começa com os primeiros acordes e nunca saberá onde a música te levará. As notas são sempre as mesmas, mas realmente é impossível tocar a Chacona duas vezes da mesma maneira. Mesmo respeitando todas as notas, os ritmos, naturalmente. São aqueles mistérios das grandes obras de arte, que te entregam muito mais perguntas do que respostas. Então, cada vez que você enfrenta uma obra como a Chacona, você sabe como começar, você conhece a obra, mas, no meio, você percebe que novas portas estão se abrindo, e você pode decidir entrar para esse caminho diferente, ou se continua naquele percurso que você conhece muito bem. Os novos percursos são sempre um pouco mais arriscados, mas é o papel do intérprete, o grande artísta, como dizia (Nikolaus) Harnoncourt, um dos maiores regentes, recentemente falecido (em 2016), ele dizia que um artista de verdade é alguém que caminha com sua arte sempre à beira do precipício. Ser artista não é algo para os fracos, ser artista não é algo para quem gosta da zona de conforto. Ser artista é arriscar todo dia, toda vez que se sobe num palco. 8. Outras interpretações suas que me chamaram a atenção foram a da Sonata de César Franck, as de Villa-Lobos, de Claudio Santoro e muitas outras. Existe uma diferença entre aprontar uma interpretação de uma obra que já foi dissecada ao extremo (Franck) e uma que você mesmo vai explorar (não necessariamente pela primeira vez, mas ainda com uma atitude de desbravamento)? Sim, existe uma grande diferênça entre abordar uma obra muito tocada, muito gravada e uma obra nova. Obviamente, quando você enfrenta, por exemplo - você fez o exemplo da Sonata de Franck, você tem a possibilidade de aprender com a tradição e com a leitura, a interpretação dos maiores violinistas que já passaram nesse mundo. E é muito superficial, é muito sem sentido aquele clichê que diz "ah, eu não escuto gravações, porque me influenciam". São os maiores violinistas, maiores artistas que passaram: deveriam te influenciar. Os melhores professores, aliás, os melhores mestres que possamos ter são esses grandes que nos antecederam na missão que estamos cumprindo. Então, obviamente, você vai aprendendo com eles e depois, claro, filtrando, fazendo tuas escolhas... Mas você tem muitas sugestões possíveis, muitos caminhos possíveis para enfrentar a obra. Quando você estreia uma obra nova, você tem o papel branco. Tem as notas, tem as indicações do compositor, mas você é o primeiro que está dando vida àquelas manchas num papel. Ou num pentagrama. Então, digamos que são dois tipos de estímulos muito diferentes: um é o estímulo da comparação, você tem a possibilidade de dizer algo, fazer ouvir a tua voz, no meio de tantas vozes que já falaram aquilo. E tem a possibilidade de fazer algo diferente, inclusive após ter aprendido com esses gênios. No outro caso, você é o primeiro que dá voz a essa música, então digamos que você tem muito mais espaço para inventar e criar 9. O que acha dos violinistas que mais se destacam hoje: Joshua Bell, Hilary Hahn, Leonidas Kavakos, Lisa Batiashvili, Gil Shaham, por exemplo? Imagino que já tenha tocado com a maior parte deles. Sim, eu tenho tocado com a maioria deles. Sem querer falar um por um, existem dois tipos de perfis desses grandes violinistas - estamos falando sempre de grandíssimos instrumentistas, que merecem todo o sucesso e toda a fama que ganharam. Mas, entre eles, existem alguns que claramente se venderam um pouquinho ao lado comercial, ao lado industrial da música. E existem, entre eles, aqueles que ficaram com o lado mais profundo e quase missionário da música. Negociando com uma indústria que tende a nivelar tudo por baixo. A qualidade, digamos. Então, digamos que entre os grandes, eu posso citar entre os meus preferidos Isabelle Faust, certamente, Gidon Kremer, certamente, Leonidas Kavakos, certamente, Christian Tetzlaff, Augustin Hadelich e um jovem de 21 anos, Daniel Lozakovich, que recentemente esteve em São Paulo, que me impressionou pela profundidade - não só a profundidade de interpretação, mas a profundidade de pensamento. É um violinista que estuda horas e horas o seu violino, mas que lê, que vai visitar exposições, que tenta realmente abrir os horizontes da mente e conectar as várias formas de arte, como sempre foi e, como só recentemente, não é mais. As artes sempre estiveram muito conectadas entre elas e, só recentemente, começamos a viver nessa moda da "especialização", que tira quase completamente o sentido do fazer artístico. 10. Um colega que se formou comigo, chamado Caio Facó, parece ter lhe chamado a atenção. A música dele é muito viva e expressiva. Você tem noção da importância que é um músico de seu calibre estimular um compositor jovem? Eu acompanhei Caio desde os primeiros passos. Eu lembro que recebi um e-mail, naquela época, de um compositor, de um jovem que eu nem conhecia, nem de nome. Uma obra para violino solo. Eu quis pegar o meu violino e ler essa obra pra violino solo, e achei muito... encontrei muito talento nessa composição. A partir daí começamos a desenvolver um relacionamento à distância, mas, digamos que a cada alguns meses me mandava algumas composições, eu decidia tocar algo, gravar algo e fui acompanhando todo o percurso. Gomo gosto de fazer quando encontro alguém que eu considero de qualidade. E estou feliz também de dizer que eu abri algumas portas para Caio - a encomenda que o Quarteto Osesp fez de uma obra para o Quarteto Osesp, a encomenda de uma composição original para a minha orquestra de Valdívia... Eu fui três anos diretor artístico de uma orquestra de Valdívia e Caio foi presença constante na programação. Enfim, eu gosto de ajudar os jovens, não só compositores, jovens músicos, jovens artistas porque acho que faz parte da minha missão. Eu volto a esse termo porque eu acho muito importante que o músico enxergue a arte e seu trabalho, não somente como um trabalho, como um job, mas como uma missão, que vai muito além do trabalho profissional que vem se desenvolvendo e pelo qual se é pago. 11. O que vemos nos concursos são jovens cada vez mais tecnicamente infalíveis. Às vezes falta-lhes uma certa curiosidade a respeito da época do compositor, do que já foi escrito sobre ele. Acha que esse é o traço dessa geração que vem chegando? A perfeição técnica e um certo desinteresse por outras questões? Isso eu já respondia antes, quando falei que há uma especialização excessiva que fecha a mente para toda uma série de outras influências que são importantíssimas para construir uma interpretação. Como podemos interpretar "Assim Falou Zarathustra" de (Richard) Strauss, se não sabemos do que se trata, se não temos a curiosidade de ler Nietzsche (a obra de Strauss é baseada no livro homônimo do filosofo Friedrich Nietzsche). É todo um universo que se fecha para nós e que não nos permite aprofundar a nossa interpretação. É claro que muitas coisas na música podem vir por meio da intuição, mas não é só intuição. Eu gosto de pensar que existe o instinto, sim, existe a intuição, sim, existe a imaginação, são todas coisas muito importantes na vida de um artista, de um músico. Mas existe tanto, pelo menos tanto importante quanto a busca, a pesquisa, o conhecimento, as experiências, inclusive de vida e o interesse por tudo que nos cerca, seja sobre arte, sobre vida, sobre humanidade e sociedade. Alguns discos importantes Emmanuele é apaixonado pela música erudita brasileira. Seus discos de Villa-Lobos e Claudio Santoro, dois dos maiores nomes da composição nacional são jóias de refinamento. Os dificílimos 24 Caprichos Latinoamericanos, do violinista Arthur Barbosa, membro da OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e regente titular da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, em Fortaleza, são muito interessantes e são obras confortavelmente dentro do linguajar violinístico. No disco com o pianista André Mehmari, enfrenta, como ele mesmo diz, a Chaconne da Partita para Violino Solo Nº 2, de Johann Sebastian Bach. E com muito sucesso. Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Um "pequeno" Glossário de termos musicais. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusa Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info) Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 3 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista
- Top 10 Maiores Orquestras dos Estados Unidos
Quando eu era pequeno, ouvia falar, boquiaberto, de 2.000 Orquestras Sinfônicas profissionais no Estados Unidos. Certamente, depois de países da Europa, é o país que mais preserva uma cultura de divulgação e apreciação de música de concerto (além de ópera). Nos anos 50 existiam as "Big Five", as cinco grandes orquestras americanas. As cinco estarão no seguinte rol, porque mantiveram sua qualidade (às vezes com muita dificuldade) embora o aplelido tenha caído em desuso. Outras orquestras foram surgindo e o padrão foi aumentando. As "Big Five" eram: Orquestra Sinfônica de Boston Orquestra Filarmônica de Nova Iorque Orquestra de Filadélfia Orquestra de Cleveland Orquestra Sinfônica de Chicago Pois vamos lá. As 10 maiores orquestras dos EUA. 10. Orquestra Sinfônica de Atlanta Uma orquestra bem jovem, fundada em 1945, mas que tem atraído muitos elogios. Tem o seu próprio Atlanta Symphony Hall, no Woodruff Arts Center. Com apenas 5 regentes titulares na sua história, contratou recentemente a contralto e regente francesa Nathalie Stutzmann, uma das primeiras mulheres a ocupar o cargo de regente principal em uma grande orquestra americana (ela deve assumir em setembro de 2022). Gravações recomendadas - - Ralph Vaughan Williams - Sinfonia Nº 5, Fantasia Tallis etc., regidos por Robert Spano; - Harold Schoenberg - Noite Transfigurada e Pelleas und Melisande, regidos por Yoel Levi. 09. Orquestra Sinfônica de San Francisco Tendo sido regida por Pierre Monteux (entre 1935–1952) e Josef Krips (entre 1963–1970) e Seiji Ozawa (entre 1970–1977), atingiu status de grande orquestra desde muito cedo. Mas foi durante a passagem do holandês Edo de Waart (1977–1985) que a orquestra californiana conseguiu contratos de gravação e se tornou um conjunto realmente consagrado. Com Michael Tilson-Thomas, que a regeu de 1995 a 2020 (!), a orquestra teve ainda mais avanços. Tilson-Thomas tem um repertório eclético e variado, fazendo da Sinfônica de San Franciso uma das mais populares e carismáticas daquele país. Desde 2020, seu diretor artístico é Esa-Pekka Salonen, um talentoso finlandês que já trabalhou com a Filarmônica de Los Angeles. Sua sala de concertos principal é a Louise M. Davies Symphony Hall. Gravações recomendadas - - Sergei Rachmaninoff - Os 4 Concertos para Piano, regidos por Edo de Waart, com Zoltán Kocsis ao piano; - Richard Strauss - Sinfonia Alpina, regida por Herbert Blomstedt. 08. Orquestra Sinfônica Nacional Baseada na capital Washington D. C., já foi regida por Antal Doráti (1970-1977), Mstislav Rostropovich (1977-1994), Leonard Slatkin (1996-2008), Iván Fischer (2008-2010), Christoph Eschebach (2010-2017) e, atualmente, por Gianandrea Noseda (desde 2017). Com um rol de regentes de tamanha categoria, a Sinfônica oficial dos EUA mantém uma reputação altíssima, com um padrão que nunca cai. Foi fundada em 1930, e sua principal sala de concertos é o John F. Kennedy Center for the Performing Arts. Gravações recomendadas - - Antonín Dvořák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo", regida por Gianandrea Noseda; - Dmitri Shostakovich - Sinfonia Nº 5, regida por Mstislav Rostropovich. 07. Orquestra de Minnesota Essa orquestra, baseada em Minneapolis, no estado de Minnesota (seu nome era Minneapolis Symphony Orchestra, de quando foi fundada, em 1903 até 1968), foi alçada a um nível invejável graças, em grande parte, ao lendário regente Antal Doráti, que a regeu entre 1949 e 1960. Viveu momentos importantes também com Stanislaw Skrowaczewski (1960-1979), Eiji Oue (1995-2002) e Osmo Vänskä (2003-2022). Seu póximo regente titular será Thomas Søndergård (a partir de 2023). Sua sala de concertos é a Minneapolis's Orchestra Hall. Gravações recomendadas - - Sergei Rachmaninoff - Danças Sinfônicas, 5 Études-Tableaux Orquestrados por Ottorino Respighi e Vocalise, regidos por Eiji Oue; - Igor Stravinsky - Suíte "O Pássaro de Fogo", Le Chant du Roussignol e A Sagração da Primavera, regidos por Eiji Oue. 06. Orquestra Sinfônica de Pittsburgh Uma orquestra antiga, mas que vem fazendo turnês internacionais e ganhando destaque desde mais recentemente, Pittsburgh teve regentes de destaque, como William Steinberg (1952-1976), André Previn (1976-1984), Lorin Maazel (1984-1996), Mariss Jansons (1996-2004) e o trio Marek Janowski, Andrew Davis e Yan Pascal Tortelier (entra 2005 e 2008). Seu atual regente é o talentosíssimo Manfred Honeck, desde 2008. Com essa lista de regentes de altíssima qualidade, a orquestra atingiu um nível de refinamento ímpar, sendo versátil e de sonoridade singular. Toca na Sala Heinz. Gravações recomendadas - - Johannes Brahms - Sinfonia Nº 4, regida por Manfred Honeck; - Antonín Dvořák - Sinfonia Nº 8 e Leoš Janáček, Suíte Sinfônica de Jenůfa, regidas por Manfred Honeck; 05. Orquestra Filarmônica de Nova Iorque Orquestra também muito antiga (fundada em 1842), esteve durante muito tempo associada ao regente Leonard Bernstein, que a regeu entre 1958 e 1969 e fez tantas gravações quanto era possível fazer nesse período. Antes dele, a regeram ninguém menos que Gustav Mahler (1909-1911), Willem Mengelberg (1922-1930), Arturo Toscanini (1928-1936), John Barbirolli (1936-1941), Bruno Walter (1947-1949, como consultor musical) e Dimitri Mitropoulos (1949–1958) - este último, um regente grego de enorme talento e renome quase lendário, que tinha memória fotográfica e dotes musicais de sobra. Morreu ensaiando a 3ª Sinfonia de Mahler, em Milão. Os que o sucederam também foram importantes, a começar por Pierre Boulez (1971-1977). Depois, tivemos Zubin Mehta (1978-1991), Kurt Masur (1991-2002), Lorin Maazel (2002-2009) e Alan Gilbert (2009-2017). Seu atual regente principal é Jaap van Sweden, desde 2018. Sua sala de concertos principal é o David Geffen Hall, no Lincoln Center for the Performing Arts. Até 1962 era o famosíssimo Carnegie Hall. Gravações recomendadas - - Sergei Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2, Vocalise e Danças Sinfônicas, regidas por Dimitri Mitropoulos; - Maurice Ravel - Daphnis et Chloé (Balé Completo) e La Valse, regidos por Leonard Bernstein; 04. Orquestra de Filadélfia Fundada em 1900, a Orquestra de Filadélfia já foi a mais famosa dos EUA, chegando a gravar o filme Fantasia (1940) de Walt Disney com o maestro Leopold Stokowski. Para uma orquestra tão longeva, o número de regentes titulares é pequeno, o que confere unidade ao som do grupo. Depois de Stokowski (1912-1938), tivemos o longo mandato de Eugene Ormandy (1936-1980). Depois, assumiram Riccardo Muti (1980-1992), Wolfgang Sawallisch (1993-2003), Christoph Eschenbach (2003-2008), Charles Dutoit (2008-2012) e Yannick Nézet-Séguin (a partir de 2012). Sua casa de concertos é o Verizon Hall, no Kimmel Center for the Performing Arts. Gravações recomendadas - - Pjotr Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique", regida por Eugene Ormandy; - Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera e Bach - Transcrições de Stokowski, regidos por Yannick Nézet-Séguin. 03. Orquestra Sinfônica de Boston Fundada em 1881, a Sinfônica de Boston tem a fama de ser a melhor orquestra francesa do mundo. Mesmo incluindo as da frança, que não têm o refinamento dessa aqui. Seus regentes mais conhecidos foram Pierre Monteux (1919-1924), Serge Koussevitzky (1924-1949), Charles Munch (1949-1962), Erich Leinsdorf (1962-1969), William Steinberg (1969-1972), Seiji Ozawa (1973-2002) e James Levine (2004-2011). Hoje é regida pelo letão Andris Nelsons e toca no Boston's Symphony Hall. Gravações recomendadas - - Johannes Brahms - Sinfonia Nº 2, regida por Seiji Ozawa; - Sergei Rachmaninoff - Concertos para Piano Nº 1 e Nº 2, regidos por Seiji Ozawa, com Krystian Zimerman ao piano. 02. Orquestra de Cleveland Já foi considerada o "instrumento mais afiado dos Estados Unidos". Fundada em 1918, foi alçada à fama com o maestro George Szell, de quem sua imagem é indissociável. Ele a regeu de 1946 a 1970, fazendo inúmeras gravações importantes. Sucederam-no Lorin Maazel (1972–1982), Christoph von Dohnányi (1984–2002) e Franz Welser-Möst (desde 2002). Sua sala de concertos é o Severance Hall. Gravações recomendadas - - Ludwig van Beethoven - Os 5 Concertos para Piano, regidos por George Szell, com Leon Fleisher ao piano; - Béla Bartók e Witold Lutosławski - Concertos para Orquestra, regidos por Christoph von Dohnányi. - Antonín Dvořák - Sinfonias Nº 6, Nº 7, Nº 8 e Nº 9 "Do Novo Mundo", regidas por Christoph von Dohnányi. 01. Orquestra Sinfônica de Chicago É quase empatado com a de Cleveland. Um tiquinho de nada de poder sonoro. Fundada em 1891, a Sinfônica de Chicago é uma orquestra modelo. É famosa sua sessão de metais. Grandes regentes já passaram por ela, como Rafael Kubelík (1950-1953), Fritz Reiner (1953-1962), Jean Martinon (1963-1968), Sir George Solti (1969-1991), Daniel Barenboim (1991-2006), Bernard Haitink (2006-2010) e Riccardo Muti, que permanece desde 2010 até hoje. Sua sala de concertos é o Orchestral Hall. Gravações recomendadas - - Hector Berlioz - Sinfonia Fantástica, regida por George Solti; - Anton Bruckner - Sinfonia Nº 9, regida por Riccardo Muti. Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Um "pequeno" Glossário de termos musicais. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusa Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info) Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - As 20 Maiores Orquestras do Mundo - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 3 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista Emmanuele Baldini, violinista e regente
- CD - Guerra-Peixe - Suítes Sinfônicas - Filarmônica de GOiás, Thomson
Temos pelo menos três grandes orquestras brasleiras com contratos de gravação importantes e internacionais: a Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo (OSESP), a Filarmônica de Minas Gerais e a Filarmônica de Goiás. Todas estão com um nível muito bom (a OSESP se destaca em mínimos detalhes). O novo disco da Filarmônica de Goiás, sob a regência de Neil Thomson é uma jóia. São 2 Suítes Sinfônicas e Roda de Amigos, do compositor fluminense César Guerra-Peixe (1914-1993). Guerra-Peixe era um compositor nacionalista, não tão famoso, mas tão importante quanto Villa-Lobos. Sua música tinha forte influência nordestina. É um dissidente, ainda bem, do dodecafonismo, uma das técnicas atonais e seriais mais rigorosas e, cá pra nós, quase sempre anti-musicais. Depois, partiu para obras ritmicamente características do Brasil, mas sem ser "bandeiroso" (palavra que aprendi com o compositor Eugênio Leandro). O Disco Suíte Sinfônica nº1 "Paulista" A Suíte Paulista tem 4 movimentos: 1. Cateretê - Peça altamente ritmada e de escrita orquestral brilhante; 2. Jongo - Também ritmada, porém mais sutil, apresenta os sopros da orquestra, muito bons, assim como a percussão; 3. Recomenda de almas - É uma múscia com viés sacro, as cordas fazem um canto monofônico respondido por acordes dissonantes. Aos poucos, vai ficando mais polifônica e densa. Música de primeira qualidade; 4. Tambu - Tambu é um Finale excepcional e brilhante. Mais uma vez a orquestração se destaca. Roda de Amigos Também tem 4 movimentos, cada um representando uma personalidade: 5. O rabugento - Ele representa quatro personalidades de maneira brilhante. O rabugento é representado pelo fagote, que assume um papel de destaque na orquestra; 6. O teimoso - O teimoso é representado pelo clarinete, que parece não se dobrar às ordens da orquestra; 7. O melancólico - O melancólico é o oboé, com sua sonoridade por vezes carente. A música é muito bem escrita, com as cordas em surdina. A melancolia do oboé vai afetando os outros instrumentos, vez por outra temos uma flauta ou um fagote melancólicos; 8. O travesso - Utilizando-se de recursos orquestrais, Guerra-Peixe não poderia atribuir o travesso a outro instrumento que não a flauta. Um movimento alegre, com um solo de flauta inportante. Suíte nº 2 "Pernambucana" Outra suíte curta, e também com 4 movimentos. 9. Maracatu - O ritmo do Maracatu pernambucano, bem diferente do solene Maracatu cearense; 10. Dança dos cabocolinhos - A dança meio frenética dos caboclinhos também tem uma orquestração dinâmica e envolvente; 11. Aboiado - O maior movimento do disco, com 7m25s, é uma peça introspectiva e muito criativa, fazendo uso de recursos como pizzicati, uso frugal de percussões, construção melódica primorosa (oboé, fagote, clarinete, trompa e violoncelos) e acordes mágicos. Aboiado, pelo que eu entendo, significa aboio, o chamado dos vaqueiros pelo gado do sertão. É um movimento exuberante e gravado com perfeição. 12. Frevo - Uma suíte pernambucana não poderia deixar de terminar com um frevo. Mas é um frevo estilizado e dinâmico, que ora lembra os frevos carnavalescos mais tradicionais, ora lembra que estamos em uma sala de concertos. Considerações finais A orquestra é excelente, eu confesso que não sabia e fico feliz que o Brasil esteja finalmente descobrindo o valor de se ter grandes conjuntos nas cidades. É uma opção cultural da maior importância, mas é mais que isso. A orquestra educa, cativa, cultiva e propaga cultura onde estiver. É um patrimônio. Parabéns à Filarmônica de Goiás. Gostou? Comente aí. E não perca: Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista
- Como Ouvir Música Clássica
Escutar música clássica é um processo que se aprende fazendo. Três elementos considero essenciais que se preste atenção: a escrita idiomática (para piano, quarteto de cordas, orquestra etc.); os temas (sempre prestar atenção nos dois ou três temas principais do primeiro movimento); a estrutura (forma sonata, rondó, A-B-A etc.). A Escrita Idiomática É essencial que você identifique se algo foi bem escrito ou bem traduzido pelo instrumento a que se propõe. Vou dar exemplos: Repare, abaixo, em como a peça não soaria bem (da maneira em que está) em outros instrumentos. Os arpejos, as oitavas, tudo é escrito com base no movimento natural das mãos no piano. Na escrita para violoncelo, o compositor tem que saber que notas colocar ao lado das outras. Às vezes não funciona, porque elas têm que estar ao alcance dos 4 (ocasionalmente 5) dedos do instrumentista. É impossível, por exemplo, colocar o mindinho em cima do anelar, concorda? Além disso, para uma peça para instrumento solo funcionar, pelo menos no barroco, ela tem que fazer uma melodia e, ao mesmo tempo, subtender uma harmonia, como é o caso de Bach nessa suíte. Na escrita para orquestra, o compositor deve se atentar à integração dos instrumentos, bem como às particularidades de escrita de cada um (quanto tempo um flautista toca sem respirar, se o oboé vai aparecer, fazer sumirem os violinos para o clarinete entrar etc.) Debussy faz isso como quem nasceu para orquestrar. Além disso, na orquestração, há vários efeitos que o compositor pode fazer, como um rasgo nos trombones, uma acentuação no flautim, que transparece sobre a orquestra inteira. Tudo isso exige muito estudo: existem milhares de livros dedicados à arte de orquestrar. Tente ouvir A Sagração da Primavera, de Stravinsky, reparando nesse aspecto. Os Temas Aqui, é só questão de atenção. E costume. Você vai aprender que os primeiros minutos dessa música são uma introdução, ou seja, não contêm temas importantes. Apenas aos 2m06s o tema 1 começa a dar sua cara. Mas ele só aparece plenamente aos 2m40s, nas trompas, repetido pelos oboés logo em seguida. Observe como ele se afirma potente aos 3m16s. O segundo tema aparece no oboé e na flauta aos 3m50s e logo é desenvolvido. O terceiro aparece na flauta, aos 4m56s. Agora é só reparar no que ele faz com esses temas. Ele vai misturá-los, tocando dois ou os três ao mesmo tempo em instrumentos diferentes; ele pode invertê-los; pode tocar trechos nos contrabaixos... Um mesmo tema pode aparecer suave uma hora e ameaçador em outra. A Forma Vou começar com uma forma bem simples: A-B-A. Temos dois temas na parte A e um na parte B. 1º tema (logo quando começa, no violino e, depois, repetido no violoncelo). 2º tema aos 43 segundos no violino, o cello fazendo contracantos. Volta o tema 1 antes da parte B. Aos 1m35s, o violoncelo traz a parte B, contrastante, dramática, enquanto a outra é extremamente plácida e tranquila. O violino repete, depois a orquestra e voltamos à parte A, aos 2m27s. Outra coisa que você pode fazer é não se preocupar com nada disso e, simplesmente, se deixar levar pelas melodias. O problema disso é que, em algumas músicas, o mérito não está na beleza das melodias, e sim, em algum desses três aspectos que eu mostrei. Em uma próxima postagem falarei sobre a forma sonata, o molde mais importante para os compositores dos séculos XVIII até XX. Comente o que achou. Deu para entender um pouco mais? E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Top 10 Discos de Edu Lobo
Vamos fazer o Top 10 da discografia de Eduardo de Góes Lobo. Nascido em 1943, no Rio de Janeiro, o músico é altamente respeitado no mundo inteiro - eu que o diga, fiz (com os Argonautas) um álbum em sua homenagem. Talvez não seja tão popular quanto Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas é um dos maiores compositores de música popular que o Brasil deu. Tom Jobim dizia ser filho de Villa-Lobos e Edu, neto dele. Nessa seleção vou incluir discos da sua discografia pessoal, mas também aqueles em que ele só aparece como compositor ou arranjador. Só tem uma coisa: alguns discos são difíceis de achar, de modo que me falta conhecer alguns (que, obviamente, estão fora da lista). 10. Edu & Tom, Tom & Edu (1981) Um disco de igual para igual com Tom Jobim não é nada mal, não é? É um grande disco, daqueles em que se ouve o murmúrio aconchegante do Tom. Parece ter sido gravado ao vivo (em estúdio, mas ao vivo, ou seja, todos tocando juntos). Nenhum dos dois trouxe nada novo para o repertório, são músicas de suas carreiras desde os anos 60. Aliás, talvez a única nova seja a insípida Moto Contínuo, de Edu e Chico Buarque, a primeira parceria deles - mas Chico a lançou em seu Almanaque, do mesmo ano. Temos Pra Dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto), Canção do Amanhecer (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), Canto Triste (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), Vento Bravo (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro). Além das clássicas de Tom, como Luíza, Chovendo na Roseira e Ângela. Como cantores, nenhum dos dois se destaca, em termos de técnica, mas suas vozes são saudosas. 9. Dança da Meia-Lua (1985) Extraída da trilha sonora do balé Dança da Meia-Lua, de Ferreira Goulart para o Ballet Guaíra, é a segunda parceria de Edu Lobo e Chico Buarque. Contém algumas músicas bastante importantes na discografia dos dois. Um exemplo é A Permuta dos Santos, cantada pelo Garganta Profunda. Tem também Meio-Dia, Meia-Lua, também conhecida como Na Ilha de Lia, No Barco de Rosa, e quem canta é o Edu. Zé Renato e Cláudio Nucci cantam Casa de João de Rosa (veja Canção Inédita, abaixo). Frevo Diabo é empolgante, na voz de Gal Costa. Leila Pinheiro canta Abandono, uma canção interessante com um sax anos 80 não tão interessante. Tablados é cantada por Chico, e muito bem cantada (é difícil atingir as notas corretas). Zizi Possi canta Sol e Chuva, uma música fogosa e melódica. O Edu canta a Valsa Brasileira, uma das mais belas parcerias dele com Chico (também gravamos no disco Argonautas Interpretam Edu Lobo, e é uma das minhas favoritas). O disco conta com a participação do grupo Pau Brasil, um dos maiores conjuntos de música instrumental do país. A peça instrumental que encerra o álbum é a genial Dança das Máquinas, uma autêntica filha de Tom Jobim e neta de Villa-Lobos. 8. Cambaio (2002) Repleto de pérolas, esse álbum, em parceria com Chico Buarque, contém as músicas da peça Cambaio, de Adriana e João Falcão. À moda de seus outros discos com Chico baseados em espetáculos, eles convidam uma porção de gente para cantar. Lenine canta a canção título. Gal Costa canta Veneta e Zizi Possi canta Lábia e Cantiga de Acordar, essa última junto a Edu e Chico. Edu canta A Moça do Sonho e Noite de Verão, com arranjos sofisticados, meio de musical americano dos anos 40. Chico canta Ode aos Ratos e Uma Canção Inédita. Os arranjos são maravilhosos. Canção Inédita é um título irônico, já que a música já tinha sido lançada com outra letra, Casa de João de Rosa, no disco Dança da Meia-Lua, de 1985. Era a única não-inédita. 7. Tempo Presente (1980) Foi nesse álbum que Edu gravou Desenredo, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro. Junto com o Dori. É uma bela gravação. O disco todo foi arranjado pelos dois, Edu e Dori. Tem Angu de Caroço, um frevo com letra de Cacaso. Logo depois somos levados às famosas terças ao piano das músicas mais sérias de Edu. É a canção-título, Tempo Presente, parceria com Joyce Moreno, que é muito linda. Tem, ainda, a instrumental Balada de Outono, o maracatu Rio das Pedras, que ele canta com o Boca Livre e não tem letra. O Dono do Lugar é outra parceria com Cacaso, Edu toca ela só com seu violão, e é linda de morrer. Mais duas parcerias com Cacaso completam o disco: a bela Quase Sempre e a aconchegante Ilha Rasa. 6. A Música de Edu Lobo por Edu Lobo, com Tamba Trio (1965) O álbum tem a participação inspirada do Tamba Trio, é um típico e ótimo disco pós Bossa Nova. Tem Chegança, uma famosa parceria com Oduvaldo Viana Filho. Nesse disco ele lançou músicas significativas, como a famosa Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), a belíssima Canção do Amanhecer (Edu Lobo e Vinícius de Moraes) e um punhado de parcerias com Ruy Guerra: Aleluia, Canção da Terra, Reza, Réquiem por um Amor e Em Tempo de Adeus. 5. Missa Breve (1972) O lado A do disco é feito de canções, como Vento Bravo (parceria com Paulo César Pinheiro), Viola Fora de Moda (com Capinam), Porto do Sol e Zanga Zangada (com Ronaldo Bastos) e a mítica Dois Coelhos, parceria com Ruy Guerra. O lado B é uma Missa Breve (Missa Brevis), um conjunto de textos sacros que muitos compositores musicam. Ela tem cinco partes: o Kyrie, o Gloria, a Inselença (essa, em parceria com Ruy Guerra), Oremus e Libera Nos. É uma interessante incursão a um estilo de música que não costuma ser tratado na música popular. 4. Corrupião (1993) Foi o primeiro disco de Edu que minha mãe comprou para mim, já em CD. (Na verdade, acho que ela comprava pra ela, mesmo, mas eu me apossava). Aprendi a tocar flauta com Teco Cardoso fazendo aquele solo em Corrupião. Na época eu era craque. Tem canções belíssimas, como Dos Navegantes (parceria com Paulo César Pinheiro), A Mulher de Cada Porto (parceria com Chico Buarque, que ele canta com a Zizi Possi) e a belíssima Ave Rara (parceria com Aldir Blanc). Além de Choro Bandido, Valsa Brasileira, Nego Maluco e Frevo Diabo, todas com letra do Chico Buarque. Ele canta também Falando de Amor (Tom Jobim) fazendo uma ligação com o Prelúdio Nº 3 para violão, de Villa-Lobos. 3. Tantas Marés (2010) Um belo álbum recente, em que ele consolida sua parceria com Paulo César Pinheiro e resgata parcerias com Chico Buarque. Com o primeiro, tem as belas Coração Cigano, Primeira Cantiga (cantada com a Mônica Salmaso), Qualquer Caminho, Tantas Marés e Perambulando, que era uma música instrumental em que PC colocou letra. Com Chico temos: Ode aos Ratos, A História de Lily Braun, Ciranda da Bailarina e A Bela e a Fera. A sonoridade do disco é mais moderna, menos datada do que os discos dos anos 80 e 90, e isso muito me agrada. 2. Dos Navegantes, com Romero Lubambo e Mauro Senise (2017) Feito em parceria com o violonista Romero Lubambo e o saxofonista e flautista Mauro Senise, é um disco camerístico. Edu, que trabalhou tanto com orquestras e conjuntos maiores, se sente à vontade com seus amigos. O repertório é bastante reciclado, com canções como Valsa Brasileira, Na Ilha de Lia, No Barco de Rosa, Valsa dos Clowns e O Circo Místico. Temos também as interessantes Gingado Dobrado (parceria com Cacaso), Cidade Nova (com Ronaldo Bastos), Considerando (com Capinam) e Noturna (instrumental). Essa sonoridade de poucos músicos se encaixou muito bem com as músicas propostas, claro que sobretudo por causa da qualidade de Romero Lubambo como violonista e de Mauro Senise nos sopros. 1. O Grande Circo Místico (1983) Esse é o grande disco de Edu, de Chico e dos anos 80 inteiros. Milton Nascimento canta lindamente Beatriz, que é o grande clássico do disco. Gilberto Gil dá uma interpretação magistral de Sobre Todas as Coisas. Tem, ainda, Meu Namorado, A Bela e a Fera, O Circo Místico, A História de Lily Braun, Opereta de Casamento e Oremus. O disco é perfeito, as interpretações são ideais e os arranjos são superlativos. Menção Honrosa - Quase Memória (2019) Seu disco mais recente é muito agradável, com os parceiros Romero Lubambo e Mauro Senise. Merece ser encaixado na lista, fora da ordem. Veja aqui tudo sobre o disco Argonautas Interpretam Edu Lobo. E também aqui. Spotify - https://open.spotify.com/album/50jvpNPyq7KTsV701VzOVP?si=kcGjGQnEQSuqvzoBjPP7Gw Deezer - https://deezer.page.link/BjhZpbqsziQ8fst59 Tidal - https://tidal.com/browse/album/215587524 Apple Music - https://music.apple.com/us/album/interpretam-edu-lobo/1608895227 Diga aí. Solte sua fúria lupina contra a lista que eu preparei. Ou então a elogie. Comente! Veja também: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha
- Pequeno Glossário de Termos Musicais
Sabemos que muitos de vocês conhecem os termos musicais que empregamos. Aliás, que todo mundo emprega. Mas, como a Arara tem motivações também educacionais, vou facilitar a vida daqueles que não conhecem. Falarei brevemente dos períodos históricos, da orquestra, dos termos referentes à forma, às dinâmicas, à expressão, os instrumentos e as mais diversas técnicas e palavras que você encontra na partitura. Muitas dessas palavras têm origem no italiano, pois uma boa parte do desenvolvimento da música se deve aos compositores (especialmente sacros) da itália na renascença e antes dela. Dinâmica Para começar, vamos falar de dinâmica. É a diferença entre o forte e o fraco. Mais comumente dizemos que é a diferença entre o forte (aparece como a letra f em itálico nas partituras) e o piano (aparece com a letra p em itálico e significa fraco). De modo que: p = Piano, fraco; pp = Pianíssimo, muito fraco; ppp = Pianissíssimo, fraquinho, fraquinho; pppp = O quatro pês. O mais fraco que se puder; mp = Mezzo piano, meio fraco; mf = Mezzo forte, meio forte; piú p = Piú Piano. Mais fraco que a sessão anterior da música. piú f = Piú Forte. Mais forte que na sessão anterior da música. f = Forte; ff = Fortíssimo; fff = O famoso três efes. Fortissíssimo; ffff = O quatro efes. O mais forte que se pode tocar sem derrubar a sala de concertos. (alguns compositores podem indicar 5 fs, que não têm muita diferença do 4. É só pra ter certeza de que o músico vai fazer o possível para sair o som mais forte do seu instrumento. Existem também palavras associadas com a mudança de dinâmica: sfz, fz ou sf = Sforzando, Acentuando a nota, para depois decrescer rapidamente. Também pode ser usada como o sinal de < em cima de uma nota, significando que ela deve ser acentuada. cresc. = Crescendo = Aumentando a intensidade. dim. ou decresc. = Diminuendo ou Decrescendo - Diminuindo a intensidade. Essas palavras são mais usadas em frases longas. Quando é um crescendo e um diminuendo são rápidos, a gente ainda chama crescendo e diminuendo, ainda, mas na partitura vão aparecer os sinais < >, chamados em inglês de hairpins: Expressão São palavras ou sinais referentes ao tipo de expressividade que se quer que o músico faça com as notas. Nesse caso, o compositor escreve a palavra (em itálico) sob as notas. Vejamos: Cantabile = Com uma característica de canto, leve e poético; Con brio = Com brilho e vigor; Agitato = Agitado; Animato = Animado; Maestoso = Majestoso; Vivace = Vivo; Con fuoco = Com fogo, de forma apaixonada; Scherzando = Brincando; Dolce = Doce; Sotto voce = Discretamente acompanhando uma linha melódica. A essas palavras pode se acrescentar os termos Molto (muito), Assai (muito), Poco (pouco) e Ma non troppo (mas não muito). Andamentos Antamentos, também chamados de tempos, são literalmente a velocidade da música. Aquilo que costuma-se chamar erroneamente de ritmo. Ritmo, na verdade pode significar duas coisas: o senso da passagem do tempo em uma peça; ou um determinado estilo de música. Por exemplo, uma música em ritmo de samba pode ser mais lenta ou menos que uma no ritmo de xote. Os andamentos são marcados no começo dos movimentos (na verdade, na maioria das vezes, dão nome a eles). Allegro = Rápido; Andante = Em velocidade de caminhada; Adagio = Lento; Adagietto = Entre o Adagio e o Andante; Grave = Muito lento; Largo = Muito lento; Lento = Lento; Allegretto = Mais rápido que o Allegro; Moderato = Moderado. Um pouco mais rápido que o Andante; Esses são os alguns dos principais, mas geralmente, vêm acompanhados de advérbios ou outras indicações mais específicas. Exemplos. Allegro con brio - Rápido e com brilho; Allegro ma non troppo - Rápido, mas não muito; Andante con moto - Em velocidade de caminhada, mas com movimento, ou seja, sem perder nunca a velocidade. Movimentos Podem ser também chamados de Andamentos e podem se confundir com eles. Mas, estritamente falando, movimentos são as partes da música. Uma sinfonia, por exemplo, geralmente tem 4 movimentos. São 4 músicas diferentes (relacionadas ou não). Literalmente, um movimento acaba, há uma pausa (em que não se deve aplaudir) e começa outro. No caso das sinfonias, que são a forma mais importante de escrita orquestral, temos um esquema que pode ser assim: O primeiro movimento geralmente é um Allegro ou um Moderato, um movimento não necessariamente rápido, mas também não lento. O segundo movimento geralmente é o movimento lento. Pode ser Adagio, Largo, Lento etc... Geralmente são movimentos de carga emocional grande, com tristeza, lamentação ou contemplação. O terceiro movimento é um Minueto (nas sinfonias até 1800) ou um Scherzo (a partir de 1800, invenção de Beethoven). São movimentos mais leves, dançantes e podem ser alegres ou sardônicos (principalmente no caso dos Scherzi). O quarto movimento é o Finale. Ele pode ser um Rondó, que é uma forma musical de esquema A-B-A-C-A-D-A-E-A... ou um Tema com Variações. É mais comum terminar a sinfonia em espírito de triunfo do que de tragédia, portanto, é um movimento geralmente rápido. Ele disputa com o primeiro movimento o cargo de movimento mais importante da sinfonia. As formas As mais comuns: Sifnonia - A mais importante forma de composição para orquestra. Contém, geralmente, 4 movimentos (mas pode ser qualquer número, até uns 8). Sonata - Cobre a mesma funçao da sinfonia, mas para piano ou piano mais um instrumento. Assim como a sinfonia, é uma obra longa, também com 4 movimentos. Fantasia - É uma música, geralmente de 1 movimento, para piano, orquestra ou qualquer outra combinação de instrumentos, que não segue nenhuma forma estrita. Tem caráter improvisativo. Impromptu - Do françês - Improviso. É muto parecido com a Fantasia, mas geralmente é para piano. Poema Sinfônico - Outro gênero muito comum para a orquestra, a partir do romantismo. Música baseada em alguma narrativa, enredo. Pode, também, se referir a um conto ou apenas ter um título que faça alusão a algo. Tema com variaçoes - Forma em que o compositor apresenta um tema (que pode ser de outro compositor) e faz um número limitado de variações, sendo ideal para mostrar sua criatividade em lidar de várias formas com a mesma ideia musical. Rapsódia - É uma música que transita entre caracteres, temas e espíritos com liberdade. Como se fosse uma música composta por várias pequenas sessões. Abertura - É uma obra para orquestra que, inicialmente servia realmente de abertura para óperas, mas aos poucos foi dando espaço à Abertura de Concerto, que não está ligada a nenhuma outra obra e geralmente tem um título que a descreve. Parece um pouco com o poema sinfônico. Concerto - Obra para orquestra e um ou mais instrumentos solistas. No barroco (Séc. XVI-XVII) existia o Concerto Grosso, que antepunha a orquestra a vários outros instrumentos. Posteriormente, no classicismo, no romantismo e no modernismo, o mais comum é um concerto para orquestra e mais um instrumento solista. Também tem entre 3 e 4 movimentos, sendo de longa duração. Quarteto de Cordas - Obra também de longa duração, tem geralmente 4 movimentos e é escrita para dois violinos, viola e violoncelo. Existem também o Trio de Cordas (violino, viola e violoncelo) o Quinteto de Cordas (para 2 violinos, 2 violas e um violoncelo - mas que pode variar, por exemplo, apresentando 2 violinos, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo) e o Sexteto de Cordas (com 2 violinos, 2 violas e 2 violoncelos). Quinteto de Sopros - Obra também com 3 a 4 mocimentos, para quinteto de madeiras (flauta, oboé, clarinete, trompa e fagote - embora a trompa seja da família dos metais, ela mescla muto bem com as madeiras). Existe também o Quarteto de Sopros, que pode ter combinações com quaisquer dos instrumentos acima. Suíte - Existe a Suíte de Balé, que são trechos selecionados de um balé para ser apresentado em sala de concertos; e a Suíte de Concerto, um conjunto de peças (inicialmente originadas em ritmos de dança), mas que não se tem programa, ou seja, enredo, sendo apropriado à sala de concertos desde sua concepção. Forma sonata Como aqui é um glossário, falarei brevemente sobre a forma sonata, prometendo fazer um post dedicado. Trata-se de uma forma e de uma fôrma. É um molde em que o compositor deve encaixar suas ideias. Sua aparência mais comum é como a seguir: Introdução - Uma introdução geralmente lenta, que serve para lançar o clima da peça. Exposição - Aqui são apresentados os 2 ou 3 temas principais da peça. A exposição pode ser repetida. Desenvolvimento - Em que o compositor vai mostrar suas habilidades de manipular os temas, transformando-os, modulando-os, misturando-os etc. Recapitulação - A repetição da exposição, com algumas alterações importantes. Coda - Os últimos "parágrafos" do movimento. A partitura Temos cinco linhas paralelas, chamadas pentagrama. A posição vertical de uma bolinha determinará de que nota se trata. Veja: Alguma ideia de por que o Sol está destacado? Porque estamos na Clave de Sol. É o primeiro símbolo (𝄞) que você vê na partitura. Acredite ou não, lá pela idade média isso era um G, que é como os anglo-germânicos chamam a nota Sol. O ponto em que você começa a desenhá-la é a segunda linha. Isso significa que a nota que cair sobre aquela linha será o Sol. E daí é só calcular o resto. Em cima dele, o Lá, embaixo, o fá. Sempre uma nota na linha e uma no espaço. Teoricamente as alturas na partitura são infinitas, porque você pode adicionar linhas suplementares em cima eu embaixo. Agora observe: se não indicarmos que ali é o Sol, teremos que indicar outra coisa. Não pode ficar vazia, a clave, porque é ela quem determina uma nota de referência. Existem outras, como verão: Na Clave de Fá, por exemplo, os dois pontinhos que você vê indicam a linha onde estará a nota Fá. Os instrumentos As madeiras Flauta - instrumento da família das madeiras - mesmo que seja feita de ouro, pois as primeiras flautas eram de madeira - que inclui uma família: o flautim, a flauta contralto e a flauta baixo. - Momento de destaque na música orquestral: Pantomime (Les amours de Pan et Syrinx) do balé Daphnis et Chloé, de Maurice Ravel Oboé - Instrumento agudo das família das madeiras, é também da família das palhetas, apresentando palheta dupla. - Momento de destaque na música orquestral: Tema do Cisne, do balé O Lago dos Cisnes, de Pjotr Tchaikovsky. Corne Inglês - Um oboé contralto, se se pode dizer assim. Funciona como um oboé mais grave. Não está sempre na orquestra, especialmente até o começo do século XIX, mas é muito utilizado a partir do romantismo médio e tardio (com Berlioz, César Franck, Dvořák, Borodin, Tchaikovsky), especialmente como instrumento solista. Não que ele fique à parte, na orquestra, mas não aparece muito em tutti (que é quando a orquestra toda toca). O que o corre é que lhe dão muito material melódico. E, pelo seu caráter grave, rouco, são melodias geralmente suaves, melancólicas ou sensuais. Assim como o oboé, é um instrumento de palheta dupla, com uma pequena curvatura no tudel. É cerca de 50% maior que o oboé. Antigamente era tocado por um fagotista da orquestra, depois passou a ser tocado por oboístas. Hoje, toda orquestra tem um instrumentista dedicado ao corne inglês. - Momento de destaque na música orquestral: 2º Movimento - Largo, da Sinfonia nº 9 "Do Novo Mundo", de Antonín Dvořák. Clarinete - Instrumento também de palheta, mas de palheta simples, como o saxofone. Muito da responsabilidade por sua inclusão na orquestra, no final do classicismo (Séc. XVII) é de Mozart e de Haydn. Na orquestra romântica e moderna é instrumento obrigatório, geralmente em dupla ou até quarteto. Até hoje, a depender da obra, pede-se clarinete em lá ou em si bemol. Seu naipe costuma ser complementado pelo clarone (ou clarinete baixo) e pelo clarinete em mi bemol (ou requinta, que é menor e mais agudo). - Momento de destaque na música orquestral: Introdução da Rhapsody in Blue, de George Gershwin. Fagote - O instrumento grave da família das madeiras. Também é de palheta dupla, como o oboé. Foi introduzido na orquestra desde o barroco. Um parente mais moderno, mais grave e mais raro é o contrafagote, que só passou a ser frequente na orquestra moderna. - Momento de destaque na música orquestral: 2º Movimento - Largo, da Sinfonia nº 9, "Do Novo Mundo", de Antonín Dvořák. Os metais Trompa - Intrumento de som doce, muito importante na orquestra. Seu tubo é tão grande que precisa de muitas curvas, ficando com formato arredondado. O som requerido é adquirido com a introdução da mão esquerda na boca do sino (ela pode ser tirada, para conferir um som mais metálico e até para a introdução de uma surdina). - Momento de destaque na música orquestral: 2º Movimento - Andante Cantabile, do Concerto para Piano nº 1, de Sergei Rachmaninoff. Trompete - Instrumento mais agudo da família dos metais. Muito comum em jazz, tanto quanto na música erudita, desde o período barroco (Séc. XVI e XVII). Também presente no trio de metais da música popular (Djavan, por exemplo): trompete, trombone e saxofone. Geralmente, sua afinação é em Si Bemol, mas há outras. - Momento de destaque na música orquestral: Promenade, de Quadros de uma Exposição, de Sergei Rachmaninoff. Trombone - O trombone de vara também é um velho membro da orquestra. Geralmente a configuração é: dois tenores e um baixo. O baixo pode interagir com os tenores e com a tuba. O número pode, também, ser maior. - Momento de destaque na música orquestral: Tuba Mirum, do Réquiem, de Wolfgang Amadeus Mozart. Tuba - É o instrumento mais grave da família dos metais e um dos mais graves de toda a orquestra. Sua função é basicamente harmônica, executando os baixos da música. Poucas melodias são confiadas à tuba. - Momento de destaque na música orquestral: Concerto para Tuba, de Ralph Vaughan Williams. As cordas Violinos - Os violinos são, talvez, os mais importantes instrumentos da orquestra (se bem que é bobagem falar isso, já que uma orquestra é justamente um conjunto de instrumentos). O primeiro violinista, chamado spalla, tem funções muito importantes na orquestra, sendo considerado o braço direito do maestro. Com o spalla, temos geralmente 14 primeiros violinos e 12 segundos violinos. Essa divisão se dá para que tenhamos duas sessões soprano (mais agudas) no naipe das cordas, de modo que os primeiros violinos tocam coisas diferentes dos segundos. Às vezes esses dois naipes se encontram lado a lado, de modo que não fica fácil distinguir os primeiros dos segundos. Mas em algumas orquestras, os primeiros ficam do lado esquerdo da meia-lua, e os segundos, do lado direito. - Momento de destaque na música orquestral: 1º movimento - Molto allegro, da Sinfonia nº 40, de Wolfgang Amadeus Mozart. Violas - São instrumentos que se tem que usar de maneira calculada. Seu tímbre é forte, grave e melancólico, de modo que, sozinhas (são cerca de 10 violas em uma orquestra) elas podem soar pesado e dramático demais. Eu particularmente sou apaixonado pelo seu som. É um instrumento bem maior que o violino, mas ainda é tocado do mesmo jeito. - Momento de destaque na música orquestral: Concerto para Viola, de Béla Bartók. Violoncelo - São os tenores da família das cordas. Seu som, especialmente em conjunto, pode ser aveludado e lírico (aparecem de 8 a 10 em uma orquestra convencional). Por ser bem maior que a viola, é posicionado entre as pernas, e sua técnica de arco é completamente diferente. - Momento de destaque na música orquestral: 1º movimento - Allegro Molto, da Sinfonia nº 8, de Antonín Dvořák. Contrabaixo - É o instrumento mais grave da família das cordas. Geralmente usam-se de 4 a 8 na orquestra. Sua função, como a da tuba, é fornecer apoio harmônico, tocando o baixo dos acordes. E, assim como ela, temos poucas melodias atribuídas à sessão de baixos. - Momento de destaque na música orquestral: O Elefante, da suíte O Carnaval dos Animais, de Camille Saint-Saëns. Os períodos Idade Média Idade Média abrange um período enorme em que nada evoluiu. E não falo só da música. Foram 1000 anos (do Séc. V ao XV, mais ou menos) e temos surpreendentemente muita música sobrevivente desse período. A Música Medival pode ser sacra, como o cantochão (já ouviu falar em Canto Gregoriano?) ou profana, e é interessantíssima. Renascença Aqui a coisa começa a ficar séria. Séculos XV e XVI. Principalmente na música coral, especificamente católica. Os próprios sacerdotes às vezes ditavam regras, decretavam que tal intervalo entre duas notas era do cão etc. A música coral se tornou absurdamente complexa, com o desenvolvimento do contraponto (várias melodias cantadas simultaneamente). Os compositores, verdadeiros mestres tanto quanto os pintores e escultores, lidavam com regras de contraponto sem fim e também com as regras de harmonia. Se na Idade Média, 16 pessoas cantavam uma só voz (voz é como a gente chama cada linha melódica), na Renascença, as 16 pessoas cantavam 16 vozes. Imagina ter que compor 16 linhas melódicas diferentes e obedecendo uma infinidade de regras! Alguns dos principais desses mestres foram Guillaume Dufay, Josquin des Prez, Orlando de Lassus, Thomas Tallis, Giovanni da Palestrina e Claudio Monteverdi. Só para citar alguns poucos. Observe a música abaixo, que começa harmônica, com todas as vozes cantando a mesma melodia, e depois se divide. É um coral da tradição Tudor. Teve também a música virginal inglesa, que foi o primórdio do desenvolvimento do piano (o virginal é uma espécie de antepassado do piano), da qual os principais compositores foram Orlando Gibbons, William Byrd e John Bull. São compositores da corte dos Tudor e dos Jacobinos. A música, nessa época, era escrita para teclado, e podia ser tocada em cravos, virginais e clavicórdios. Portanto, a música instrumental aqui começou a ganhar importância, com menos reverência a Deus e com um propósito mais artístico (ou de entretenimento, não vamos nos enganar). Outro fenômeno inglês foram os alaudistas e cantores. Algo como os "cantautores" de hoje. A música deles às vezes era chamada de Música de Melancolia. Eles se acompanhavam no alaúde, um instrumento parente do violão, mas com 15 ou mais cordas (o violão tem 6). O principal foi John Dowland, mas tínhamos também seu irmão, Robert Dowland, Francis Cutting e muitos outros. Havia também alaudistas na França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e até na Áustria e Alemanha. Música Barroca Toda proposta gera uma contraproposta. Todo movimento gera uma reação. A complexidade da música coral Renascentista estava ficando tão séria que a Camerata Fiorentina, um grupo de músicos, artesãos, pintores e humanistas de Florença, decidiu que tinha passado dos limites. Seus ideais eram os da antiguidade clássica, de Roma e da Grécia Antiga, que, segundo eles, valorizava o discurso, a palavra falada, em seus dramas musicais (na Renascença, algumas obras tinham não só melodias diferentes, mas letras diferentes). A harmonia (o canto conjunto de vozes com pouca independência entre si), se sobrepusera ao contraponto. Também a música instrumental teve um salto de desenvolvimento, adquirindo no Barroco o status de arte pura. Os compositores tinham uma formação muito completa, dominando, muitas vezes, vários instrumentos (no mínimo o cravo, o órgão e o violino ou a viola da gamba), o contraponto (que, embora perdesse a espaço, jamais perdeu a importância), a harmonia (a qualidade de combinar vozes de maneira homogênea), tinham que saber escrever música para coral, ópera (que começava a surgir), para órgao e teclado, e para consorts. Os consorts são grupos de instrumentos da mesma família, do mais agudo ao mais grave. Um exemplo é o consort de violas da gamba, que tinha soprano, contralto, tenor, baixo e duas espécies de contrabaixo. Outro exemplo é o de flautas doces, com soprano, contralto, tenor e baixo. Essas organizações se moldavam na organização do coral, que tinha dois grupos de mulheres (as sopranos, de voz mais aguda e as contraltos, de voz mais grave) e dois grupos de vozes masculinas (os tenores, mais agudos e os baixos, mais graves - ocasionalmente os corais tinham barítonos, que são intermediários entre tenores e baixos). As obras mais importantes do barroco eram as sacras, como missas, motetos, salmos, paixões, oratórios e as profanas, como os concertos, em que um grupo de instrumentos servia de acompanhamento para um ou mais instrumentistas brilharem. Os principais compositores do Barroco são Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Haendel, George Phillip Telemann, Antonio Vivaldi, François e Louis Couperin, Alessandro e Domenico Scarlatti, Jean-Philippe Rameau e Giovanni Battista Pergolesi. As maiores contribuições que o período Barroco deu às gerações musicais posteriores foram a ópera (o teatro cantado) e a organização da orquestra (ainda que pequena, já começavam a haver conjuntos padrão). Música Clássica Depois do Barroco, que ainda lidava com música bastante polifônica e complexa, surge o Classicismo. Na verdade, o que hoje se convencionou chamar de Música Clássica compreende a Música Medieval, Renascentista, Barroca, Clássica, Romântica, Moderna e Contemporânea, mas a "verdadeira" Música Clássica é a que se fazia entre 1750 e 1800, mais ou menos. Na Música Clássica, o contraponto perde ainda mais espaço. O que existe agora é uma melodia principal acompanhada por acordes dos outros instrumentos. Aqui surgem em suas formas finais a Sinfonia, a Sonata e o Concerto, o Quarteto de Cordas, o Trio com Piano. Aliás, aqui se consolida o piano. Enfim, agora existem os quatro tipos de música que conhecemos até hoje: a ópera, a música sinfônica, a música de câmera e a música sacra. A orquestra começa a crescer. Os principais compositores são os filhos de Bach, Carl Phillipp Emmanuel Bach, Johann Christian Bach etc., Wolgang Amadeus Mozart e Franz Haydn. Música do Romantismo Com a proliferação do piano a música ganhou expressividade. No cravo, o instrumento das famílias barrocas, não importava a pressão que você colocava nas teclas, o som saía com a mesma intensidade. O novo instrumento se chamava fortepiano porque podia tocar forte e piano, que, em italiano, é fraco. Isso teve consequências absurdas. Um dos primeiros a perceber o potencial do piano foi Ludwig van Beethoven (que é mais ou menos o responsável pela transição entre o Classicismo e o Romantismo). Perceba na obra abaixo como ele usa o forte e o fraco no piano para atribuir sentimentos à música. É a Sonata "Pathétique", de 1798. A orquestra ganha ainda mais instrumentos e possibilidades, de modo que começa a surgir a necessidade de um regente para coordenar todos os músicos. É o maestro, figura que não tinha tanta importância até o período anterior, quando era usado mais em óperas e corais. A música do Romantismo é a mais tocada nas salas de concerto de hoje em dia. São inúmeros compositores importantes: Beethoven, Hector Berlioz, Franz Schubert, Félix Mendelssohn, Robert Schumann, Clara Schumann, Frédéric Chopin, Franz Liszt, Giuseppe Verdi, Richard Wagner, Johannes Brahms, Pjotr Tchaikovsky, Antonín Dvořák, Anton Bruckner, Gustav Mahler e Sergei Rachmaninoff. No final do século XIX, a orquestra, que no Barroco tinha 10 a 16 músicos, passa a ter 80, até 100. Modernismo Assim como nos outros estilos, não houve uma ruptura brusca e pontual entre um movimento e outro. O modernismo começa a começar quando o operista romântico Richard Wagner escreve um acorde sem solução (os acordes, em geral, se dividem entre os que geram tensão e os que geram relaxamento). No caso do Acorde de Tristão, só há tensão, sem relaxamento. Ele fez isso sem querer necessariamente romper com nada. Apenas muitos anos depois, músicos como Claude Debussy e Maurice Ravel, já na entrada do século XX, começaram a fazer música cheia de acordes sem solução. Além disso, repleta de efeitos, dissonâncias, quebra de regras etc. A música passa a ficar bárbara, como a de Igor Stravinsky, Béla Bartók, Sergei Prokofiev e Dmitri Shostakovich. E muito tensa, e muito expressionista. Veja abaixo um trecho do balé "A Sagração da Primavera", de Stravinsky. Música Contemporânea Um pouco diferente da Música Moderna, a Música Contemporânea é onde passa a valer tudo. John Cage fez uma música tecnicamente para piano, chamada 4'33'', que consiste em o músico ficar parado em frente ao piano por 4 minutos e 33 segundos. Um professor me contou de uma obra que eu nunca vou esquecer. Aliás, a música era totalmente irrelevante. O que importava era o posicionamento de um balde de feno sob o piano. Karlheinz Stockhausen fez o Quarteto de Cordas "Helicóptero", cuja execução envolve quatro músicos voando em quatro helicópteros de verdade, comunicando-se por equipamentos de áudio e vídeo. É como se fazer música tivesse perdido a graça, o interessante agora era inventar moda ou fazer música ultra complexa, só apreciável por músicos ou estudiosos. O público respondeu migrando para os Beatles. Esses foram alguns termos que vão ajudar você a navegar pelo site e a entender melhor de música de concerto. Omiti alguns para não ficar um texto por demais comprido. Além disso, tenho certeza que esqueci de alguns, e talvez de tópicos inteiros. Mas sigamos. Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, com sugestões, críticas, elogios e simplesmente pra trocar uma ideia. Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista
- Beethoven - O Concerto para Violino - Análise
Sim, falaremos hoje do Concerto para Violino e Orquestra em Ré Maior, Op. 61 de Ludwig van Beethoven (1770-1827). É uma obra monumental. Talvez monumental demais para a época. Beethoven o compôs em 1806 e a obra teve uma estreia morna. Não entraria para o repertório canônico de violinistas senão em 1844, quando o prodígio Joseph Joachim, então com 12 anos, o fez uma apresentação antológica com a Royal Philharmonic Society, regida por Felix Mendelssohn. Não achei retrato dele tão jovem, mas aqui ele está tocando com a pianista Clara Schumann em 1854. A obra estava longe dos ideais românticos que já prevaleciam. Era longa demais, com 50 minutos (só o primeiro movimento tem 24), a parte solista não é tão exibicionista (embora seja difícil à beça) e, principalmente, a estreia não foi boa. Beethoven escreveu a peça para Franz Clement, um famoso violinista com quem já havia trabalhado. Acontece que tardou em entregar a partitura, de modo que o virtuose teve que ler à primeira vista durante a performance. Não saiu muito legal, e o Concerto passaria por um período de ostracismo. Quando Joachim e Mendelssohn o reviveram, Beethoven já estava morto há décadas. O Concerto foi, então, elevado ao status de obra-prima, e Joachim diria depois que se trata do maior concerto para violino da alemanha. Por falar em tradição germânica, existem 4 Concertos para Violino que são considerados as grandes virtudes do violino alemão: o de Beethoven, o de Mendelssohn (de 1844), o 1º de Bruch (de 1866) e o de Brahms (de 1878). De modo que Beethoven inaugurou a tradição. Havia, claro, outros concertos anteriores de compositores germânicos, como Bach e Mozart, mas eram obras de ambição mais modesta, embora sua importância seja inegável. A obra Composto quando Beethoven tinha 36 anos e já estava com a surdez bem avançada, o concerto mostra o domínio do compositor da escrita para violino. Sem virtuosismos gratuitos, o que temos é uma (ai, detesto dizer issso) Sinfonia com violino obigatto. Isso porque a escrita é mais sinfônica do que concertante. Mas o que isso quer dizer? Que, em vez de se preocupar em fazer o solista brilhar, o concerto trata de organizar-se muito bem em relação à forma, à variedade temática e ao trabalho de desenvolvimento dos temas. Abaixo, nossa interpretação guia, com a genial violinista Hilary Hahn, acompanhada pela Sinfônica de Detroit, regida por Leonard Slatkin. 1º Movimento - Allegro ma non troppo (42s) A exposição orquestral começa de imediato. O primeiro tema é apresentado pelo tímpano (repetindo a nota ré) e completado pelos oboés. Em 1m01s os violinos tocam uma nota exótica (um mi bemol, a 9ª diminuta de ré). Isso já causa uma estranheza, mas por duas vezes, caem em acordes mais previsíveis. Em 1m20s o clarinete toca uma escala simples, mas que terá importância na música. Chamemos de motivo a. A transição chega aos 1m41s, na forma de um súbito forte das cordas. Beethoven trabalha muito com a alternância entre o piano e o forte, o que causava grande impacto na época. A transição tem um motivo importante, também, aos 1m57s. O motivo b. O segundo tema surge nos oboés (2m12s) e é derivado do motivo a, dos clarinetes. Aos 2m30s esse mesmo tema é repetido, mas em tom menor, nas cordas. Até aqui já tivemos boas doses de surpresa. A exposição da orquestra se conclui com crescendos e melodias iluminadas. Perceba como as quatro notas do tímpano, lá no comecinho, são frequentemente resgatadas em outros instrumentos (2m59s). Repare também nos violinos repetindo o motivo a (3m26s). O solista entra de maneira encabulada para fazer sua exposição (a exposição do solista). Ele faz firula até que, aos 4m20s o tímpano chama o primeiro tema para ele competar. Aos 4m41s, novamente as cordas tocam as quatro notas exóticas, que estão relacionadas com o chamado do tímpano, sempre com o violono respondendo com graça. Aos 5m o clarinete faz o seu motivo a, que depois explode levemente na orquestra. Aos 5m16s o violino desenvolve esse motivo a, em tom menor, mas com várias modulações. Ao motivo b é feita uma referência aos 5m34s. O toque, a articulação e a entonação de Hilary são exemplares, cristalinos, imaculados. O segundo tema entra aos 5m54s nas madeiras, mas logo é repetido pelo violino solista em registro agudo, delicadamente. Repare no fraseado da violinista, com sutis rubatos, acelerandos e ritardandos. Ele é novamente repetido em tom menor (6m16s) com modulações que nos levam às quatro notas exóticas (modificadas) (6m46s). A conclusão da exposição do solista é similar à da orquestra, mas com ornamentações do violino principal. Repare na discreta aparição das quatro notas do tímpano, não no tímpano, mas nos violinos ripieno (8m). O desenvolvimento começa aos 8m18s, com o solista fazendo trinados sobre as repetições das quatro notas nas outras cordas. Aos 8m56s temos um desenvolvimento do motivo da transição. O segundo tema começa a ser desenvolvido aos 9m26s pelos clarinetes e oboés, seguidos, depois, por toda a orquestra. Aos 11m, depois de um certo silêncio, o violino principal faz novamente uma entrada, muito parecida com a primeira, apenas com algumas alterações (em outro tom). O primeiro tema finalmente é desenvolvido (11m36s), mas assumindo um outro caráter, mais melancólico, quase angustiado. Repare que o desenvolvimento trabalhou primeiro a ideia das 4 notas, depois o segundo tema e, só depois, o primeiro tema. Aos 12m46s temos esse lindo devaneio. Lentamente, o compositor vai nos preparando para voltar ao começo, fazendo a recapitulação. A recapitulação começa aos 14m29s, e envolve a orquestra inteira, em tom de triunfo. O segundo tema surge docemente nas madeiras (16m20s) e, depois, no violino solo. É repetido em tom menor pelas cordas (16m42s) sob ornamentos do solista. A orquestra começa a se preparar para deixar de tocar, entregando ao solista o momento da cadência. Existem várias cadências para este concerto, o solista deverá escolher qual. Hilary toca a de Fritz Kreisler, uma das mais comuns (19m45s). Beethoven não escreveu essa, deixando os compassos em branco. A cadência de Kreisler é muito difícil, exigindo domínio de cordas simultâneas, acordes, trinados encadeados com outras melodias, controle da velocidade e domínio da expressividade. Após a volta da orquestra, temos o coda, que finaliza o movimento de forma assertiva. Os 25 minutos se passaram com um domínio absoluto da forma pelo compositor: não tivemos repetições desnecessárias e ouvimos uma variedade enorme de temas e das mais diversas manupulações destes. O público aplaude porque é Hilary Hahn, e ela tocou perfeito. Às vezes, isso justifica aplausos entre os movimentos. 2º Movimento - Larghetto (25m13s) O lindíssimo segundo movimento consiste em uma série de variações sobre um tema em forma de cantilena (uma melodia longa), que aparece logo no início, nas cordas (25m13s). O tema é repetido pelas trompas, seguidas pelos clarinetes (26m11s) com ornamentações do violino e repleto de pausas dramáticas; depois, pelos fagotes (27m11s), o violino também fazendo fraseados graciosos. Agora (28m15s) a orquestra repete o tema em forte, com surdina e sem a presença do violino solo. O violino faz uma série de firulas que anunciam o segundo tema (29m45s). Esta divagação é breve, logo entra o primeiro tema em pizzicato nas cordas (30m42s), com a ajuda do solista. Este sutil momento é da mais pura beleza e inspiração. O movimento vai, aos poucos, se fragmentando, dissolvendo, e acaba ligando diretamente ao terceiro, com uma intervenção dramática e inesperada da orquestra. 3º Movimento - Rondo. Allegro (34m24s) O terceiro movimento é um Rondó, o que significa que ele tem um tema a que fica se alternando com outros, em um esquema A-B-A-C-A-D-A etc. De caráter mais alegre e sossegado, o movimento é leve, se comparado aos outros dois, mas dá à obra o que ela precisa: momentos de virtuosismo do violino principal e belas melodias. Considerações finais O concerto foi estreiado, como já comentado, em condições longe das ideais. O solista foi Franz Clement, no Theater An der Wien, o mesmo que vira a estreia do singspiel de Mozart A Flauta Mágica. O concerto é contemporâneo da 5ª e da 6ª Sinfonias, do 4º Concerto para Piano e da Sonata "Appassionata". Está no repertório de todos os grandes violinistas, desde antes da época das gravações. Beethoven fez uma versão para piano desse concerto. Aliás, para piano e orquestra. Mas quase não é tocada e foi pouquíssimo gravada. O concerto trouxe várias inovações, a começar pelas notas repetidas pelo tímpano. Não era comum um instrumento de percussão ter importância temática numa obra. Várias vezes somos surpreendidos por notas e encadeamentos de acordes inovadores. A orquestra é tão importante quanto o solista. E a duração e magnitude do projeto são sem precedentes. Gravações importantes São muitas, pois o concerto permite uma variedade de intepretações. - Lisa Batiashvili, tocando e regendo a Deutsche Kammerphilharmonie Bremen - Essa orquestra tem um som único, ideal para peças do começo do romantismo. A começar pelo fato de não ter muitos instrumentistas de cordas, é uma orquestra de câmara. A sonoridade acaba sendo inusitada e muito interessante. Lisa é uma violinista do calibre de Hilary Hahn, um verdadeiro gênio, uma intérprete mágica. A gravação é de 2008. - Leonidas Kavakos, também tocando a parte solista e regendo a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara - Outro (relativamente) jovem gênio do violino, o grego Leonidas Kavakos lançou essa preciosa gravação em 2019. - Vadim Repin, com a Filarmônica de Viena, sob a batuta de Riccardo Muti - Uma versão bem convencional, mas extremamente bem tocada. Repin é um dos grandes violinistas da atualidade, e gravou esse concerto em 2007. - Midori, com a Orquestra Festival de Cordas de Lucerna, regida por Daniel Dodds - Essa gravação é cheia de virtudes, a começar pela sonoridade sempre envolvente de Midori. Ela não precisa tocar sempre forte, seu som se adequa a cada situação co perfeição. A orquestra, também diminuta, está muito bem. Foi lançado em 2020. - Hilary Hahn, com a Orquestra Sinfônica de Blatimore, regida por David Zinman - Gravado em 1999, quando Hilary tinha apenas 20 anos, o disco mostra a maturidade e precocidade desse que é o maior fenônomeno do violino nos nossos tempos. Não faz diferença se ela tinha 20 ou 40, como na gravação acima, tudo é perfeito, o fraseado, a musicalidade em geral. - Gil Shaham, com a orquestra The Knights, regida por Eric Jacobsen - É uma interpretação bem moderna, ou seja não é tão romantizada, é mais rápida e a orquestra é consideravelmente menor. E o resultado é espetacular, embora, paradoxalmente, possa soar meio barulhento. Foi lançada em 2021. - Itzak Perlman, com Carlo Maria Giulini regendo a Orquestra Philharmonia - As versões de Giulini sempre têm seu som especial (e seus andamentos lentamente especiais). Perlman toca esse concerto desde criança, e essa é sua melhor gravação dele. É de 1980. Das versões antigas, quatro me interessam: - David Oistrakh, com André Kluytens e a Orquestra Nacional da Rádio França - Uma versão grandiosa e apaixonada, com um dos maiores regentes e um dos maiores violinistas do século XX. É de 1959. - Leonid Kogan, com a Orquestra do Conservatório de Paris, sob Constantin Silvestri - Outra gravação maravilhosa. Kogan tem domínio completo da partitura. Também de 1959. O Spotify (acho que é o Spotify) faz uns discos que se chamam Compare 2 Versions, em que colocam 2 interpretações lado a lado para a gente comparar. Essa de Leonid Kogan e David Oistrakh é uma delas. - Jasha Heifetz, com a Orquestra Sinfônica de Boston, regida por Charles Munch - Essa gravação de 1955 mostra por que Heifetz é o maior violinista que já viveu. Seu som é perfeito, articulações impecáveis, controle. Tudo é perfeito. E o acompanhamento de luxo da Sonfônica de Boston com Munch é imperdível. É a versão ideal, dentre as antigas. - Arthur Grumiaux, com a Royal Concertgebouw, regida por Sir Colin Davis - Um dos meus violinistas e orquestra favoritos. A gravação, de 1974, está muito boa. Grumiaux já está mais velho, o som treme um pouco, mas a execução expressiva da obra é impecável. Tecnicamente também não dá para dizer que ele se sai mal. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Valsa Brasileira, de Edu Lobo e Chico Buarque - Argonautas Interpretam Edu Lobo
Mais uma faixa do nosso álbum mais recente, "Argonautas Interpretam Edu Lobo", lançado nas plataformas digitais agora em 2022. Eu me orgulho muito desse arranjo, muito delicado e meio vazio, e da interpretação: não é fácil cantar a Valsa Brasileira. Rafael Torres: voz, clarinete e arranjo; Ayrton Pessoa: piano; Ednar Pinho: baixo; Gravação: Hugo Lage; Mixagem e Masterização: Luiz Orsano; Gravado no estúdio Trilha Sonora em 2019. Valsa Brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque) Vivia a te buscar Porque pensando em ti Corria contra o tempo Eu descartava os dias Em que não te vi Como de um filme A ação que não valeu Rodava as horas pra trás Roubava um pouquinho E ajeitava o meu caminho Pra encostar no teu Subia na montanha Não como anda um corpo Mas um sentimento Eu surpreendia o sol Antes do sol raiar Saltava as noites Sem me refazer E pela porta de trás Da casa vazia Eu ingressaria E te veria Confusa por me ver Chegando assim Mil dias antes de te conhecer Você pode encontrar o disco inteiro no site dos Argonautas: https://www.grupoargonautas.com.br/argonautasinterpretamedulobo E também no Spotify: Deezer: Tidal: YouTube Music: https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kF5M0q7mE0ZV-PY0GtMuKzl0WLmjTA95E&feature=share Comente aí o que achou! Veja aqui a sessão Argonautas da Arara. E aqui, a sessão Música Normal.
- Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta
Vocês lembram da 2ª Sinfonia de Arthur Honegger? Ela foi encomendada para o aniversário de 10 anos da Orquestra de Câmera da Basileia, de Paul Sacher. Pois para a mesma orquestra e o mesmo evento, que seria em 1937, Sacher encomendou outra peça para cordas com alta densidade e que se tornaria celebérrima. Até mais que a Sinfonia de Honegger. A Música para Cordas, Percussão e Celesta, de Béla Bartók (1881-1945). A obra Completada em 1936, pontualíssima, ao contrário da de Honegger, a obra é escrita para uma orquestra de cordas (4 violinos, 2 violas, 2 violoncelos, 2 contrabaixos e harpa - os regentes podem pedir mais de cada instrumento de cordas), percussões (xilofone, caixa clara, pratos, gongo, bombo sinfônico, tímpanos e piano - sim, na orquestra, o piano é um instrumento de percussão) e celesta. Com quatro movimentos e cerca de 30 minutos de duração, a obra é densa, tensa e horripilante, mesmo que não descreva os eventos militares da Europa de então. Ele foi bem específico na instrumentação, desde a quantidade de cordas que queria, até a disposição deles no palco, com 2 conjuntos de cordas frente a frente e um terceiro, de percussões, mais atrás. Os 30 minutos de duração são desobediência dos regentes de hoje, porque Bartók foi tão metódico que colocou a duração exata de cada movimento na partitura. Era para durar 25m40s. Abaixo, o sensacional regente russo Vassily Petrenko conduz a Filarmônica de Oslo. I. Andante tranquillo (11s) A peça começa com as cordas em surdina fazendo uma fuga que, por sua vez, começa na nota Lá. À medida em que os instrumentos vão entrando, a textura vai ganhando corpo, a tessitura vai se alargando, os emaranhamentos complexos de notas se enriquecendo e a dinâmica vai ficando mais forte. Tudo bem gradual. Os tímpanos entram sutilmente aos 3m56s. O ápice do movimento é na nota Mi Bemol (6m07s) que é a nota mais distante possível de Lá, ou seja, seu trítono. Esse mi bemol fica lá como um drone por um tempo, até que a textura vai afinando de novo e tudo volta à quietude. Aos 8m28s a celesta começa a fazer arpejos ornamentais, ou seja, não contribuem na fuga, mas no ambiente sonoro. As cordas, já sem surdina, mas ainda em piano (p - piano significa fraco), terminam o movimento tocando uma inversão do segundo sujeito do tema misturada com o primeiro sujeito do mesmo. Os cruzamentos são meticulosamente calculados, de forma que, durante o movimento, os instrumentos partiram da mesma nota (o Lá), foram se distanciando, trabalhando em uma tessitura maior, até que voltam gradualmente à mesma nota. II. Allegro (10m30s) De natureza bem mais percussiva, esse movimento inicia com o piano. E o piano tem destaque, especialmente no final do movimento (a partir de 17m25s). As cordas trabalham bastante em pizzicato. Aos 11m29s a peça adquire um caráter de dança, mais jovial, mas logo volta ao seu comportamento mais adoidado. Repare, aos 13m09s, que o tímpano faz um glissando, isto é, liga uma nota a outra, fazendo uma subidinha. As cordas fazem um trecho em pizzicato, enquanto as percussões melódicas dominam a melodia. Depois, temos mais pizzicati (ou pizzicatos), quando o movimento fica mais calmo. Começando no violoncelo, um novo tema vai se espalhando pelas cordas até que se revela o primeiro tema novamente. Mais dinâmico e menos complexo, esse movimento termina com o piano aparecendo quase como um solista. III. Adagio (18m24s) Começando com o xilofone, esse movimento é um "noturno de Bartók". Por falar nisso, preciso contar pra vocês o quão revolucionário ele foi. Existem técnicas instrumentais que devemos a ele, como o pizzicato de Bartók, que é mais agressivo que o normal; o uso dos glissandos no tímpano (18m40s) também está muito associado a ele. Aos 18m51s aparece, nas cordas, o primeiro tema. Os gestos musicais parecem arbitrários. Aos 20m19s ouvimos uma lembrança do tema da fuga do 1º movimento. Aos 20m46s temos a aparição do segundo tema, na celesta e nos violinos em harmônicos. Vale lembrar que todos os temas estão matematicamente ligados, desde o primeiro até o último movimento. Três acordes do piano (a partir de 21m29s) parecem acordar a orquestra, fazendo voltar vultos de temas anteriores. Observe os glissandos do piano e da celesta (21m53s). Acompanhados pelos tremolos das cordas, criam uma atmosfera mágica, num crescendo magnífico. A alternância entre trechos fortes e pianos (22m56s) é bem típica de Bartók, como veremos em uma futura análise de O Mandarim Miraculoso, do Concerto para Orquestra e dos três Concertos para Piano e Orquestra. Na exata marca de 23 minutos você pode observar os contrabaixos fazendo o pizzicato de Bartók. Note que, em vez de tocar suavemente com a unha, o músico pinça, puxando a corda para o alto e soltando, produzindo um som percussivo. Os vultos temáticos fantasmagóricos voltam, assim como os arpejos da celesta e do piano, os glissandos dos tímpanos e as notas repetidas do xilofone. IV. Allegro molto (26m05s) Misturando toques das cordas em pizzicato e com arco, esse movimento tem um caráter dançante, como a música folclórica da hungria, de que Bartók era estudioso. Na verdade, é um compêndio de pequenas danças, com ritmos marcados e delineados. Mas nenhuma nota é em vão. Nenhuma delas está fora do esquema matemático (que envolve até a Sequência de Fibonacci) de Bartók. A obra é dificílima de tocar e reger. Mesmo que um instrumento passe um bom tempo sem tocar, tem que saber a hora exata em que ele volta, com que intensidade e com que intenção. Aos 30m46s o tema da fuga do 1º movimento volta nas cordas e a música volta a ficar menos percussiva. A dinâmica e a textura vai caindo lentamente até que o movimento vai morrendo em uma confusão de notas. Um solo de violoncelo (a partir de 32m) parece reativar a sessão ritmada do movimento, e ele termina de maneira assertiva. No final da peça, o tocador de celesta se levanta e passa a tocar o outro piano (ou um piano a 4 mãos). Considerações finais Trata-se de música altamente complexa e estruturalmente calculada, difícil de tocar e com uma carga emocional embutida na sua equação matemática. Todas as orquestras de primeira categoria a têm no repertório. Além disso, foi gravada inúmeras vezes e, geralmente, muito bem. Gravações recomendadas - Susanna Mälkki, regendo a Filarmônica de Helsinki - Uma versão saindo do forno, de 2021, a de Susanna Mälkki já causou uma ótima impressão na crítica. É definitivamente uma interpretação feroz de uma regente genial que vai despontando como uma das maiores da atualidade nesse tipo de música. - Georg Solti, com a Sinfônica de Londres - Solti deve ter gravado a obra umas 5 vezes. Lembro dessa Sinfônica de Londres, uma com a Filarmônica de Londres e com a Sinfônica de Chicago. Mas essa com a Sinfônica de Londres, de 1963, é a mais arrepiante. De origem húngara, assim como o compositor, o maestro se sente extremamente confortável regendo Bartók. - Antal Dorati, regendo a Sinfônica de Detroit - Dorati vem nos trazer a versão desatinada, descontrolada da obra. Pouco se lixando para o refinamento sonoro, o que conta aqui é a volúpia e bravura com que a orquestra toca. A gravação é de 1983. - Christoph von Dohnányi, com a Orquestra de Cleveland - Dohnányi teve uma passagem muito profícua por Cleveland. Saíram várias gravações importantes, e essa, sem dúvida é uma delas. É de 1995. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? 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- Músicas Fofinhas 7 - Rêverie, de Debussy
Uma obra da fase romântica de Claude Achille Debussy (1862-1918), em que suas obras não eram ainda cada qual um atestado da engenhosidade e capacidade de metamorfose da arte humana. Rêverie (Sonho), é uma peça em que a melodia parece sair solta, parece simplesmente aparecer, sem esforço, para ser admirada. Enfim, uma música muito fofinha. A obra Composta durante os anos de conservatório, precisamente, em 1890, ela só seria estreada em 1899. Isso nos mostra que Debussy pouco se importava com a peça, apenas teve uma inspiração e precisou dar vazão a ela, copiando a música no papel. Ele ainda estava se decidindo sobre que tipo de abordagem sua carreira musical teria. O provável é que, nesse período, estivesse contemplando se tornar um seguidor de Richard Wagner, cujas harmonias densas e a orquestração sensual o seduziam. Mas foi passageiro. Em 1903 ele diria famosamenteque Richard Wagner foi um "belo crepúsculo que foi confundido com uma alvorada". Debussy estava destinado a mudar a história da música e iniciar o movimento moderno, encerrando o romantismo. Mas nada disso aparece em Rêverie. É apenas uma música calma e bela para contemplação inocente. Abaixo, a interpretação sem rodeios da pianista Alice-Sara Ott. Gravações recomendadas Geralmente gravada em coletâneas com obras do compositor ou naqueles terríveis discos de "música clássica para relaxar", a peça, ainda assim, tem várias gravações altamente recomendáveis. - Pascal Rogé - Seca e sem drama, a gravação de um dos melhores pianistas franceses de sua geração evita elegantemente a pieguiçe. É de 1978. - Jean-Yves Thibaudet - Uma das gravações mais bonitas, musicais e graciosas da peça. Thibaudet não apela para o romantismo exagerado, mas suas dinâmicas são exacerbadas. Gravado em 1996. - Alice-Sara Ott - A pianista alemã de origem japonesa toca a peça com doçura e expressão no seu álbum Nightfall, de 2018. - Lang Lang - Tenho que elogiar o astro chinês aqui. Suas afetações cabem bem na música e a apresentação é graciosa. Ele gravou para seu album Piano Book, de 2019. Estão de parabéns, o pianista e seus empresários. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Mozart - Réquiem - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Arthur Honegger - Sinfonia Nº 2, para Cordas e Trompete
OS horrores da 2ª Guerra Mundial foram incansavelmente traduzidos em fotografias, relatos (como cartas), filmes e pinturas. Basta lembrarmos do caso de Guernica e da anedota que a acompanha. Após o bombardeio da cidade de Guernica, na Espanha, pela Luftwaffe, a força arérea Nazista, Pablo Picasso se sentiu compelido a pintar o horrendo quadro abaixo. Os alemães teriam perguntado "Por que você fez uma coisa tão feia"?, ao que Picasso prontamente respondeu "Vocês que fizeram". Mas um aspecto pouco explorado é a produção de música do holocausto. Para além do agoniante Quarteto para o Fim do Tempo, do frances Olivier Messiaen, que a compôs (e estreou) preso em um campo de concentração; da Sinfonia Nº 7, "Leningrado", do russo Dmitri Shostakovich; e da apavorante Trenodia para as Vítimas de Hiroshima, do polonês Krzisztof Penderecki, conhecemos muito pouco da generosa e dolorosa fertilidade da música que foi composta no período que, especialmete, relatava em sons abstratos os horrores que o mundo estava a viver. Venho falar aque de uma delas. Uma sinfonia que foi composta durante os anos de 1937 e 1942 pelo Franco-Suíço Arthur Honegger (1892-1955). A sua 2ª, H. 153, para Cordas e Trompete. O compositor Oscar-Arthur Honegger nasceu na Le Havre, na França, de pais suíços, e teve o início de sua educação musical por lá. Estudou alguns anos no Conservatório de Zurique e, depois, no Conservatório de Paris, entre 1911 e 1918. No conservatório, fez sua primeira peça importante, o Balé Le dit des jeux du monde, de 1918. Em 1926 casou-se com Andrée Louise Vaurabourg-Honegger, que era sua colega no conservatório e uma boa pianista. Mas com a condição de que vivessem em apartamentos separardos, pois ele precisava da solidão para compor. Em 1932 tiveram sua única filha, Pascale. Foram casados até a morte do compositor. Sua primeira peça de sucesso foi o salmo dramático Rei Davi, de 1921. Nos anos 20 e no restante do período entre guerras compôs várias trilhas sonoras de filmes mudos franceses. Seu Oratório Dramático Joana D'Arc na Fogueira, de 1935, é considerado um de seus melhores trabalhos. Muito de sua obra tem cunho religioso, católico. Entre 1930 e 1950 compôs suas 5 sinfonias, que são até hoje pilares do repertório. Pertenceu ao Grupo dos Seis (Les Six), juntamente com Darius Millhaud, Francis Poulenc, Georges Auric, Louis Durey e Germaine Tailleferre, a única mulher do grupo. Eles se inspiravam no Grupo dos Cinco, dos compositores Russos Mili Balakirev, Modest Mussorgsky, Alexander Borodin, César Cui e Nikolai Rimsky-Korsakov. A música do Grupo dos Seis era neoclássica e se opunha à música de Richard Wagner e à dos Impressionistas Claude Debussy e Maurice Ravel, no sentido de que era menos exuberante, geralmente levando-se menos a sério que estes (muitas vezes com humor). Mas, de todos os 6, Honegger é, possivelmente, o mais sério, o mais comprometido com a arte e com a expressão sincera de sentimentos profundos. (Adoro Poulenc e Millhaud, mas suas obras parecem estar sempre prestes a nos fazer rir. Os outros, não conheço. Mas, em minha defesa, ninguém conhece muito.) Suas obras mais tocadas e gravadas são os dois poemas sinfônicos Rugby e Pacific 231, este a respeito de uma locomotiva (ele adorava trens). Escreveu sua última obra em 1953: Uma Cantata de Natal. Arthur faleceu em 1955 de uma doença prolongada, em Paris, cercado de cuidados de sua esposa, filha e amigos. A música A Segunda Sinfonia não é, sequer, uma das mais famosas das 5 sinfonias de Honegger. O que não significa que não tenha uma carreira respeitável nas salas de concertos e estúdios de gravação. A (de certa forma) estranha obra, escrita para orquestra de cordas e um único trompete, tem três movimentos. "Não busquei nenhum programa, nenhum dado literário ou filosófio. Se essa obra exprime ou nos faz experimentar emoções, é porque elas se apresentaram naturalmente, já que eu apenas expresso meu pensamento em música, mesmo, talvez, sem estar completamente ciente disso." A fala de Honegger nos leva a crer que se trata de uma peça sobre sentimentos internos e íntimos, mais do que de descrição de eventos. Abaixo, temos o vídeo que nos servirá de guia, com a Orquestra Nacional da França, regida por Daniele Gatti. I. Molto moderato - Allegro (5s)(dura cerca de 10 minutos) Repare no motivo principal repetido pelas violas, com uma alternância entre apenas duas notas (e uma terceira no final). Ele aparce pela primeira vez logo no começo, atestado por uma viola solo (17s). Este motivo obsessivo permeia boa parte do movimento. A música é densa e de texturas múltiplas que vão se emaranhando. A obra é repleta de dissonâncias, e a escrita para cordas é fenomenal. Através dessa sinfonia, Honegger relata, sem palavras, o medo, o horror e a decadência da guerra (foi toda escrita às vésperas e durante a 2ª Guerra Mundial). O primeiro movimento parece uma estrutura amorfa, com temas que vão se entrelaçando e com a alternância de estados soturnos e outros, alarmados. É música quase expressionista. As angústias retratadas aqui são facilmente identificadas como humanas. O motivo principal volta a perturbar a obra aos 5m23s. Aos 8m19s, ele parece tomar posse de toda a sessão das cordas, atingindo um clímax. Quando tudo se acalma, esse motivo das violas (a partir de 8m44s), em sua inflexível indolência, domina e carrega o movimento até o seu encerramento. II. Adagio mesto (10m38s)(pouco mais de 8 minutos) O movimento lento da peça é este adagio mesto, em que a palavra italiana mesto indica que deve ser tocado tristemente. Trata-se de um lamento, uma elegia assustadora em alguns momentos, em que a dissonância parece se associar às distorções desnaturais que a realidade da época sofria. Grande parte do movimento é em pianíssimo (ppp, fraquíssimo), com algumas incursões ao forte (f). A escrita polifônica é elaborada com aprumo e elegância. Dolorosamente intimista, o movimento parece a leitura silenciosa de um diário proibido. Aos 16m45s temos um solo de violoncelo que parece vir das profundesas da lamentação. Ele nunca abandona a música de fato, o violoncelo solista. III. Vivace non troppo (19m14s) (entre 5 e 6 minutos) Um vivace (rápido), mas que não contém otimismo, ao menos não no princípio. Mais uma vez, Honegger faz uso de ostinatos, que são motivos ou ritmos repetidos de maneira perseverante (obstinados, em italiano). É, sem dúvida, um movimento vivo. Mas onde está o trompete? Ele surge nos últimos minutos, quando tudo parecia perdido, trazendo o resquício de otimismo de que a obra precisava para terminar em uma breve, porém poderosa alusão à vitória e à paz. O trompete é marcado "ad libitum", ou seja, à vontade. Não que o músico possa tirar os sapatos, mas que ele não tem notas específicas para tocar. A indicação é que siga os violinos. Considerações finais A Sinfonia Nº 2 de Honegger foi encomendada em 1937, às vésperas da 2º Guerra Mundial. A guerra em si, obviamente, atrasou bastante a entrega da obra. Quem a encomendou foi o maestro Paul Sacher, regente e fundador da Orquestra de Câmera da Basiléia (Basler Kammerorchester), na Suíça. A peça era para comemorar os 10 anos de fundação da orquestra. Com os atrasos decorrentes da guerra na Europa, a obra foi entregue e estreada em 1942, não pela Orquestra de Câmera da Basiléia, mas pela orquestra Collegium Musicum de Zurique, sob a regência de Sacher. Um crítico escreveu: "No mundo harmônico de Honegger, a tragédia nunca é permanente. Mais cedo ou mais tarde algo bucólico e doce surge, como uma flor em uma área bombardeada." Mesmo não sendo tão famosa quanto a 3ª Sinfonia, "Litúrgica"; a 4ª, "Deliciae Basiliensis"; ou a 5ª "Di Tre Re" (De Três Rés - a nota ré) (lembrando que sinfonias com nome sempre serão mais conhecidas e aclamadas), a 2ª sempre teve seu lugar no repertório sinfônico e continua a nos dar um testemunho muito maior do que palavras sobre o infortúnio da guerra. Gravações recomendadas - Herbert von Karajan, regendo a Filarmônica de Berlim - Essa gravação, de 1969, mostra como Karajan se dava bem em música que não sentava muito confortavelmente em seu repertório. Desde as primeiras notas, as cordas da filarmônica mostram seu som imaculado. Karajan era um regente de sonoridades, de grandes acordes. Não se interessava muito por música contrapontística, em que várias melodias engalfinhadas ditam a obra. Mas aqui, embora ele atenue as dissonâncias, o som da orquestra vence, bem como as articulações meticulosamente cuidadosas, traduzindo com fidelidade a angústia da peça. - Charles Dutoit, com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara - Outra versão asséptica, ou seja, bonitinha demais, mas com vários pontos positivos, esta, de 1986, traz a Sinfônica da Rádio Bávara, um dos melhores conjuntos musicais do mundo. Aqui, as articulações também parecem desfavorecer as abundantes dissonâncias da obra, mas a execução é brilhante. - Charles Munch, com a Orquestra de Paris - Se você quer uma versão "suja", com as dissonâncias bem pronunciadas e articulações quase fora do controle, essa versão de Munch, provavelmente gravada em 1968, é o que há de melhor. Aqui, a expressividade da música é explorada ao máximo, mesmo que à custa da clareza e do refinamento da execução. A sonoridade da Orquestra de Paris, que lembra as orquestras "antes de Karajan" é brutal e agressiva. - Mariss Jansons, regendo a Filarmônica de Oslo - O que Charles Munch faz na indicação anterior, Jansons faz de maneira um pouco mais calculada. O talentoso regente letão dosa as dinâmicas de modo sutil, fazendo com que a música tenha um poder narrativo especial. A gravação é de 1994. A orquestra norueguesa, que Jansons ajudou a transformar em um conjunto de porte internacional, está incrível. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Holst - Os Planetas - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Paul Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - A Magia em forma de Música
Falamos anteriormente de La Péri, a obra mais sofisticada do compositor francês Paul Dukas (1865-1935). É a vez de falarmos de sua obra mais popular, o Poema Sinfônico O Aprendiz de Feiticeiro, de 1897. Especialmente de como Dukas expressa a magia em forma de música instrumental. Escrito para uma grande orquestra, o poema sinfônico tem um programa, isto é, um enredo bem definido, que o seu subtítulo "Scherzo Sobre uma Balada de Goethe" nos indica. É a peça mais conhecida e tocada de Dukas e foi incluída no filme Fantasia, de Disney, em 1940. No filme, foi tocada pela Orquestra de Filadélfia, regida por Leopold Stokowski. Mas antes mesmo da inclusão no filme, já era uma obra extremamente popular, graças à sua orquestração revolucionária e ao fato de que segue à risca o poema de Goethe. Foi a terceira obra de Dukas depois que ele abandonou o Conservatório de Paris. Ele tentou por três vezes, durante seus estudos, ganhar o Prix de Rome, uma bolsa que o conservatório dava para o aluno estudar por três anos na Itália. Não conseguindo, largou o conservatório e alistou-se no exército. Em 1897, após a estreia da sua Sinfonia em Dó e muitos anos após a saída do conservatório ele compôs esse belo trabalho. O sucesso foi imediato. O enredo O poema de Goethe, publicado cem anos antes da música, de viés cômico, trata da figura de um aprendiz de magia que, ao se ver sozinho, decide fazer encantamentos, tornando uma vassoura obediente, a carregar baldes de água por ele. No início, satisfeito com o resultado, o jovem logo perde o controle da situação, a vassoura continua a trazer baldes de água até inundar a casa. O aprendiz se desespera, não sendo capaz de achar o contrafeitiço, e decide "matar" a vassoura, cortando-a com um machado. O que ocorre é que as partes da vassoura ganham vida e voltam à sua missão de trazer mais e mais baldes de água. A situação só se resolve quando o mestre mago volta e, enfurecido, manda a vassoura de volta para a dispensa (e dá uma vassourada no bumbum de Mickey, no desenho). A orquestra O grande mérito da peça é, sem dúvida, sua prodigiosa orquestração. O conjunto exigido contém: 1 Flautim 2 Flautas 2 Oboés 2 Clarinetes 1 Clarinete Baixo (Clarone) 3 Fagotes 1 Contrafagote 4 Trompas 2 Trompetes 2 Cornetas 3 Trombones Percussão: Tímpanos, glockenspiel, bombo sinfônico, pratos, triângulo 1 Harpa Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos A parte do glockenspiel (também conhecido como metalofone) é extremamente difícil, sendo usada como peça de audição para orquestras para percussionistas. Tanto que, às vezes, é tocada por uma celesta. A música Abaixo, nossa versão guia, com a Orquestra Filarmônica da Rádio França, regida por Mikko Franck. Não vou fazer uma análise da estrutura da obra, até porque sua estrutura está sujeita ao poema de Goethe. O clarinete, aos 14s faz uma antecipação do que será o tema principal, seguido pelo oboé e pela flauta. Aos 49s isso é repetido. A 1m20s a flauta mostra um motivo que pode ser visto como tema B. Depois de um pequeno trecho mais agitado, gostaria que atentassem aos fagotes, que representam a vassoura ganhando vida (2m14s). Aos poucos o ritmo vai se estabelecendo e o tema principal aparece plenamente nos fagotes (2m34s). Reparem como a música nessa hora está gaiata, confiante e até feliz. Aos 4m11s o tema atinge seu auge, tocado com segurança e heroísmo. Mas logo as coisas começam a sair do controle. O tema surge, aos 4m37s, já completamente desfigurado, em outro tom e em outra escala, prenunciando o desastre. Percebam o movimento das cordas aos 5m34s, uma espiral ascendente que também nos avisa de algo errado. Aos 6m03s o tema volta, nas trompas, revigorado, mas as cordas continuam fazendo as carreiras que lembram uma espiral. Aos 6m32s já está tudo fora de controle. Os trompetes, aos 6m44s, representam o aprendiz tentando deter a vassoura, enquanto que o gesto em espiral das cordas representa a vassoura teimosamente derramando água. Aos 7m17s temos o "assassinato", em que o aprendiz parte a vassoura com um machado. Há um momento de alívio, mas logo as partes quebradas da vassoura começam a ganhar nova vida (7m25s). O ritmo se estabelece novamente e o fagote segue com seu tema (7m51s), o tema da vassoura. Há um fugado com o clarinete, que representa que agora há mais de uma vassoura. O caos começa a prevalecer aos 8m18s e a tensão vai aumentando até seu auge aos 9m04s. Uma bagunça total (onde a orquestração mais uma vez brilha), que o pobre rapaz tenta conter, sem sucesso. A chegada do mago acontece aos 10m09s, com um acorde que nos deixa suspensos e acaba consertando tudo rapidamente. A música volta à mesma atmosfera da introdução, misteriosa e resignada. O coda é breve e termina a música num golpe forte. A orquestração A orquestração de O Aprendiz de Feiticeiro é, sem dúvida, o aspecto mais impactante da obra. Uma de suas funções é escolher que instrumento toca o quê. Mas é muito mais que isso. Trata-se, também, de decidir o que farão os instrumentos que não estão em evidência, atribuindo-lhes passagens interessantes e que agreguem riqueza à peça. Em vários momentos temos os mais diversos recursos, como rasgos dos trombones, tremolos das cordas, um flautim se destacando acima da orquestra, adicionando textura, pontuações certeiras das harpas, intervenções das percussões (sutis entradas do triângulo) harmônicos nos violinos e muitas artimanhas mais. Tudo para conferir à música os climas e ambientações que ela pede. Gravações recomendadas - Jean Martinon e a Orquestra Nacional de l'ORTF (que posteriormente passaria a ser chamada Orquestra Nacional da França) - Martinon talvez seja o regente ideal para essa peça, pois não costuma limpar o som como outros regentes. A gravação de 1972 tem um som bastante satisfatório, e a interpretação é ferina. - Kent Nagano, regendo a Orquestra Sinônica de Montreal - Uma versão elegante e refinada, lançada em 2016. Nagano faz a dosagem das dinâmicas, de modo que o avanço do caos é bem graduado. - Jean-Luc Tingaud, à frente da Orquestra Sinfônica Nacional RTÉ (Irlanda) - Tingaud vem construindo uma carreira sólida e inspirada. Essa gravação da Naxos tem tudo, empolgação, sonoridades mágicas e um som gravado excepcional. É de 2013. - Yuja Wang (versão para piano transcrita por Victor Staub) - Yuja mostra a obra sem o benefício da orquestração. Bem, mais ou menos. O seu piano é quase uma orquestra por si só. A versão é bem calculada (e extremamente difícil) e é interessante ouvir a peça ao piano. A gravação é de 2011. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista? César Franck, o Aluno dos seus Alunos Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - Top 10 Música Clássica de Terror - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dukas - La Péri - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Paul Dukas - La Péri - Um conto sobre Alexandre, o Grande
A última obra publicada do francês Paul Dukas (1865-1935) (o compositor de O Aprendiz de Feiticeiro), de 1911, foi La Péri, um poema dançado (um balé). Coreografado por Ivan Clustine, foi comissionado pelo incansável Serge Diaghilev, dono da companhia de balé Ballets Russes. A premiére, no entanto, não foi dada pela companhia. Diaghilev achava que Natalia Trouhanova, que seria a personagem Peri, não estava à altura de Vaslav Nijinsky, que viveria Alexandre, o Grande. Natalia providenciou, então, uma coreografia e estreou o balé em 1912, no Théâtre du Châtelet, Paris. Sendo uma peça curta (18 minutos), foi apresentada junto com outros balés, todos regidos pelo compositor. O compositor Paul Dukas viveu rodeado por compositores do Impressionismo Francês. Mas ele era relutante em se integrar a alguma corrente. Ele não demonstrou nenhum talento especial para a música até os 14 anos, quando, ao se recuperar de uma doença, começou espontaneamente a compor. Aos 16 entrou para o Conservatoire de Paris. Foi colega de Claude Debussy, de quem se tornaria um grande amigo. No conservatório, suas habilidades musicais afloraram, e ele ganhou diversos prêmios, inclusive o segundo lugar no famoso Prix de Rome, que dava aos jovens músicos a oportunidade de morar por três anos na Itália e aprender arte por lá (mas não ao segundo lugar, claro). Além de compositor, Dukas era um afiado crítico musical e tornou-se um respeitado professor de composição no fim de sua vida. Ele compunha muito, mas era perfeccionista (jogava fora suas partituras). Poucas obras nos sobraram, dentre as quais, a mais conhecida é O Aprendiz de Feiticeiro. Tem também uma Sinfonia em Dó Maior, que costuma ser gravada. Mas sua obra considerada mais sofisticada é o balé La Peri. Em 1916 ele se casou com Suzanne Pereyra, com quem teria uma filha, Adrienne-Thérèse Dukas, em 1919. O enredo O balé narra uma história sobre Iskander (nome persa de Alexandre). Os Magi (sacerdotes do Zoroastrismo) haviam observado que sua estrela estava desaparecendo, e que isso significava que seu fim estava próximo. Iskander, então, parte em busca da Flor da Imortalidade. Depois de três anos procurando e vagando, ele chega ao fim da Terra (digamos que, nesse cenário, a Terra tem um fim, coisa que todos sabemos que não é verdade, certo?). Lá, ele encontra um templo de Ormuzd. Nos degraus está uma Peri - um ente análogo a uma fada, com asinhas e tudo, e de grande beleza. Ela tem em suas mãos a Flor da Imortalidade, uma flor de lótus decorada com esmeraldas. Iskander espera que ela adormeça e, fazendo o maior silêncio possível, retira a flor de suas mãos. Mas a flor começa a brilhar nas mãos de Iskander, acordando Peri. Ela bate uma mão contra a outra e solta um longo grito, porque sem a flor ela não pode entrar no templo de Ormuzd. Iskander parece se deliciar ao descobrir que tem um poder sobre a Peri. Mas, com a flor ainda nas suas mãos, o poderoso Ormuzd a transforma nos desejos materiais e mundanos de Iskander. Peri imediatamente entende que a flor não estava destinada a pertencer a Iskander. Ela faz uma dança, na qual vai se aproximando lentamente dele e o rouba a Flor da Imortalidade de volta. Peri pode voltar ao paraíso, e Iskander percebe que sua vida chegou ao fim. A orquestra A orquestra comporta: 1 Flautim (alternando para terceira flauta) 2 Flautas 2 Oboés 1 Corne Inglês 2 Clarinetes 1 Clarinete Baixo (Clarone) 3 Fagotes 4 Trompas 3 Trompetes 3 Trombones 1 Tuba Percussão: Tímpanos, bombo sinfônico, caixa clara, pratos, triângulo, pandeirola, xilofone e celesta 2 Harpas Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos A música Abaixo, a gravação que nos dará referência, com a Orquestra Estadual Nacionai Russa, regida por Evgeny Svetlanov. Começa de maneira misteriosa, com pequenos sobressaltos da madeiras. Em algumas gravações e apresentações, tem uma Fanfarra que antecede o Balé. Não é o caso do vídeo acima. Quero que reparem na orquestração comedida, porém bastante efetiva. O impressionismo é uma influência nessa peça, sem dúvida. As cordas tocam muito em tremolo. As texturas se confundem uma com a outra. Vez por outra uma dança eclode, fazendo o movimento ficar mais agitado. A atmosfera é fantástica, com evocações ao sobrenatural. Ele faz uso de efeitos nas madeiras, cordas e percussões. É, sem sombra de dúvida, uma partitura arrojada, tanto em sua orquestração quanto no fluxo de ideias. Não encontraremos com facilidade os temas principais. Temos, sim, momentos descritivos altamente expressivos. Aliás, identificar os momentos da narrativa com as passagens musicais é tarefa árdua. Essa música poderia se servir a qualquer outro enredo. Tanto que o balé quase nunca é executado. A música é mais ouvida em salas de concertos e gravações. Em outras palavras, ao escutá-la, não busque saber em que parte da história você está. Desfrute-a como música pura, que descreve sentimentos e sensações diversos, mas sem ficar presa a um enredo. Gravações importantes - Leonard Slatkin, com a Orquestra Nacional da França - É uma das gravações mais importantes da peça. O som é excelente e a orquestra é sutil. É uma gravação de 1996. - Antônio de Almeida, regendo a Orquestra Filarmônica Tcheca - De 1973, essa gravação é primorosa, com as variações de humor muito bem dosadas. - Jesús López-Cobos, regendo a Sinfônica de Cincinnati - Uma gravação excepcional. López-Cobos não tem medo de arrebatar e a orquestra corresponde com prontidão. É de 1999. - Ernest Ansermet, regendo a Orquestra do Conservatório de Paris - Seria a versão dos sonhos, não fosse pelo som. É um mono bom, mas não compete, em termos de sonoridadem à de Lópes-Cobos ou à de Slatkin. Mas a expressividade é quase surreal. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui:como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Holst - Os Planetas - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Gustav Holst - Os Planetas - Análise
Já que estamos nessa onda de compositores ingleses que redespertaram a música no seu país, depois de séculos latente, vou falar sobre uma das obras mais importantes desse momento. A Suíte Sinfônica Os Planetas, de Gustav Holst, de 1917. Primeiramente, precisamos falar dos planetas em si. Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Só que em 1917 ainda não haviam descoberto o último planeta. Plutão sempre foi um problema. Para os cientistas e para os amantes de Holst. Nos anos 90 e 2000, era comum as gravações virem com um Plutão de algum outro compositor, o que quase sempre dava errado. A obra de Holst é muito concisa, a orquestração, muito característica. Pra que colocar um Plutão desgarrado e desengonçado? Aí, veio Neil DeGrasse Tyson e disse: "Plutão, não serás mais planeta, mas planetinha". E aí pronto. A suíte de Holst voltou a ficar completa sem precisar adicionarem um movimento a mais. Ufa. É uma Suíte Sinfônica (ou seja, uma obra com vários movimentos, mais que uma sinfonia, para ser tocada em concerto) em 7 movimentos (ele exclui a Terra), para uma orquestra gigantesca e, no último movimento, um coro feminino sem palavras. Foi estreada no Queen's Hall, em Londres, em 1918, sob a regência de Sir Adrian Boult, para uma plateia seleta. Ou seja, foi uma audição privada. A primeira apresentação pública da obra aconteceria em 1920, com a Orquestra Sinfônica de Londres, regida por Albert Coates, no mesmo Queen's Hall. O compositor Gustav Theodore Holst nasceu em Cheltenham, na Inglaterra, em 1874. Seu pai e vários parentes paternos eram músicos profissionais. Mudou-se para Londres em 1893 para estudar no Royal College of Music. Em 1895 conheceu Ralph Vaughan Williams, de quem se tornaria amigo por muitos anos e que seria sua maior influência musical. Tendo começado a vida profissional como trombonista, logo largou o trombone para se dedicar à composição. O fato é que não ganhava muito dinheiro só com a composição, de modo que passou a lecionar, sendo, por muitos anos um respeitado professor de música. A lista de composições de Holst é respeitável, tanto de música orquestral (muito dela inspirada em obras literárias, sendo chamadas de Música Incidental), vocal, coral, de câmara e para piano. E para bandas militares, de que ele gostava tanto. Mas o que acontece é que nenhuma de suas peças jamais teve o mesmo impacto que Os Planetas. Não que ele se importasse com isso. Tímido, era avesso à fama. Casou-se em 1901 com Isobel Harrison, que era soprano no Coral Socialista de Hammersmith, que foi regido por ele, e com quem viveu até a morte, em 1934. Teve uma filha, chamada Imogen Holst. A obra Holst era muito interessado em astrologia, de modo que, quando empreendeu a composição de Os Planetas, atribuiu a cada um uma simbologia astrológica. Ele escreveu a um amigo: "... se isso é bom ou ruim, cresceu na minha mente lentamente - como um bebê no útero da mãe... Por dois anos eu tinha a intenção de compor esse ciclo, e durante esses dois anos parecia mais e mais definitivamente estar tomando forma." É que ele levou três anos para completar a suíte. Não é tanto tempo, se considerarmos a grandeza da orquestração, mas para um compositor experiente como ele, foi uma gestação difícil. A orquestra que ele pede comporta: 4 Flautas (duas alternando para flautim e uma para flauta contralto, em sol) 3 Oboés (um alternando para oboé baixo) 1 Corne Inglês 3 Clarinetes 1 Clarone (Clarinete Baixo) 3 Fagotes 1 Contrafagote 6 Trompas 4 Trompetes 2 Trombones tenores 1 Trombone baixo 1 Tuba tenor (às vezes trocada por um Eufônio) 1 Tuba 6 Tímpanos (2 tocadores) Triângulo, caixa clara, pandeirola, pratos, bombo sinfônico, gongo, carrilhões, glockenspiel (três tocadores), celesta, xilofone (2 músicos) 1 Órgão 2 Harpas Violinos 1 (cerca de 16) Violinos 2 (cerca de 14) Violas (cerca de 12) Violoncelos (cerca de 10) Contrabaixos (cerca de 8) Em Netuno - 2 Coros femininos (que devem ser ocultas do público por uma cortina). Abaixo, temos a interpretação que vai nos guiar, do fantástico maestro Andrew Litton com a Orquestra Filarmônica de Bergen, Noruega, numa interpretação fenomenal. Só não me pergunte por que a plateia aplaude entre os movimentos. Pode ser por dois motivos: gostou demais ou ignora a regra tácita (e útil) de não aplaudir até que a peça toda seja tocada. I. Marte, o que traz a guerra (50s) A música de guerra começa com uma pulsação no compasso 5/4 em allegro (rápido). Começa baixinho e vai crescendo de maneira formidável até atingir um fortíssimo, aos 2m06s, num acorde altamente dissonante. O tema principal aparece nos fagotes aos 54s. Trata-se de uma música violenta, dissonante, percussiva, com paradas súbitas e explosões inesperadas. É uma das fontes de inspiração para a música de Star Wars, de John Williams. Os temas são curtos, aparecendo vez por outra em um trombone, nos fagotes, trompetes... Repare no que parece ser uma explosão aos 3m55s. Depois dela a música parece ir pegando fôlego lentamente, sob o canto dos fagotes e contrabaixos. Até que fica nervosa de novo (5m14s), com a representação do tema principal. Repare também no famoso coda, com o acorde se repetindo obsessivamente (7m36s) até desembocar numa nova explosão. II. Vênus, o que traz a paz (8m35s) A suave trompa que abre o segundo movimento, já no tema principal do movimento, é a antítese de tudo que ouvimos no primeiro. Acompanhada por acordes agudos das madeiras, faz um contraste pronunciado com Mercúrio. Aos 9m17s os contrabaixos entram, fazendo também o tema. Começa, então, um ostinato rítmico que vai permear a peça. De harmonia bem mais conservadora, sem muitas dissonâncias (ou choques sonoros, como alguém escreveu sobre o primeiro movimento) e de orquestração leve, permite até um violino solista aqui ou acolá. Nem por isso é menos genial e chocante. O chque parte justamente do fato de seguir uma música tão diferente. Enquanto a outra buscava evocar empolgação marcial, essa busca beleza, mesmo. E com efeito. Temos belos solos de violino, oboé, clarinete, trompa e pouco arrebatamento. Aqui, é paz e sossego. (Lembrando que, se você tentar pousar em Vênus, é sumariamente evaporado ainda na atmosfera.) III. Mercúrio, o mensageiro alado (16m53s) Um Scherzo (que é um movimento ligeirinho e de caráter jocoso, brincalhão), como a suíte deveria ter. De orquestração igualmente criativa e tecnicamente habilidosa, somos capazes de ouvir a celesta (17m22s). Aos 17m57s o primeiro violono (o spalla) toca um tema importante, que depois domina a orquestra inteira. Essa parte pode ser considerada o trio - a parte central do movimento. Tanto que, aos 18m56s, o corne inglês começa a anunciar a volta do Scherzo. Pela falta de rompantes maiores, as cordas tocam com surdina (um abafador, que faz o som ficar mais suave). Depois de novas intervenções da celesta (20m01s) e de ameaças a voltarmos para o tema do trio, o movimento termina de forma sutil. IV. Júpiter, o que traz a alegria (21m06s) O tempestuoso gigante gasoso, aqui é representado como algo que carrega alegria. É o movimento mais conhecido da obra ao lado de Mercúrio. Tem três temas principais. O primeiro é logo apresentado pelas trompas (21m11s). Os tímpanos o repetem aos 21m20s. Aos 22m07s temos a aparição do segundo tema, mais leve, quase circense (agora, porque depois ele ressurgirá um lorde). E, aos 22m43s, surge o terceiro e mais conhecido tema. Ele será repetido algumas vezes, com a orquestra cada vez mais ocupada. Até que desemboca em um acorde tenso (23m37s), que acaba por calar a orquestra. Os instrumentos vão voltando aos poucos, timidamente. E, sem cerimônia, o segundo tema volta (24m05s), só que, dessa vez, nobre, elegante e heróico. Parece um daqueles hinos religiosos da Inglaterra e, de fato, acabou virando um, a contragosto de Holst. Esse tema faz um discreto crescendo, até ser tocado plenamente. Aos 26m06s temos a volta do caráter mais infantil desse mesmo tema, no corne inglês. Aos 26m16s o oboé nos traz de volta o primeiro tema, timidamente. A primeira parte é repetida, com alterações. A segunda, também. E a terceira. E aí temos o coda, meio disperso, suspenso e brilhante. V. Saturno, o que traz a velhice (29m22s) Mais uma vez a música começa com um ostinato rítmico, tocado pelas flautas e harpas, lembrando um relógio (o passar do tempo) Esse movimento é etéreo, dissonante, até desconfortável à primeira vista. Sua primeira ideia temática é entregue aos contrabaixos. Os temas aqui são curtos, também, e surgem esporadicamente. Ele faz um lento crescendo até um clímax arrepiante (que começa aos 33m33s), depois do qual, volta à calmaria e à eternidade. Aos 34m35s temos uma passagem mais agitada, em que conseguimos ver no vídeo os carrilhões. Depois tudo volta ao normal de novo. O movimento termina em calma e tranquilidade. VI. Urano, o mágico (39m08s) Com um anúncio dos trombones e trompetes digno de um leitmotif de Wagner (compositor que muito influenciou Holsta), começa de forma ameaçadora o sexto movimento. Esse é o tema principal. Temos um movimento agitado, na verdade, bem humorado e jocoso. A orquestração novamente chama atenção, sendo muito concisa e bem integrada. Os gestos musicais são exagerados: crescendi e diminuendi súbitos, mudanças de humor e até de caráter. Aquele motivo de 4 notas que os trombones e trompetes anunciaram, nunca deixam a obra em paz, sempre cutucando até os momentos mais insuspeitos, como a harpa (43m19s). Acordes maravilhosamente tenebrosos, como aos 44m01s. O movimento é diluído, não há um tema A e um tema B para situra-nos, o que o mantém íntegro é a orquestração impecável. VII. Netuno, o místico (45m13s) As flautas, em registro grave, estipulam o clima do movimento, que é, todo ele, quieto e manso. Não há música mais mística. As modulações (ou mesmo a alternância de dois acordes) são encantadoras. Aliás, a música é encantada. A celesta confere uma atmosfera de fantasia. Aos 49m30s ouve-se o coro invisível, que adiciona ainda mais misticismo ao movimento. O coro feminino não usa palavras, representando vozes celestiais (ou siderais). Vejam que quebra sutil e maravilhosa ocorre aos 51m14s, quando a orquestra interrompe o coro com um acorde fantasmagórico. Aos poucos, o coro reassume e tira a orquestra da jogada, finalizando a música de forma ambígua, desaparecendo lentamente. Holst optou por acabar a música sem um golpe finalizador forte, o que sempre é um risco, pois as primeiras plateias não sabiam se deviam aplaudir ou não. A plateia norueguesa do vídeo não teve essa preocupação - a cada final de movimento, aplaudiam com sinceridade - teve uma vez em que, antes mesmo que acabasse o movimento, ensaiaram palmas extraviadas. Considerações finais Os Planetas fez sucesso desde sua estreia pública, alguns poucos críticos encasquetando com sua inovatividade. Sobre a estreia privada em 1918, Imogen Holst, a filha, escreveu, depois: ... mesmo aqueles ouvintes que tinham estudado a partitura por meses foram tomados de surpresa pelo inesperado clamor de Marte.... ... mas foi o final de Netuno que foi inesquecível, com seu coro de vozes femininas oculto ficando mais e mais pálido à distância, até que a imaginação não reconhecesse a diferença entre som e silêncio. No geral, a crítica foi favorável, às vezes ficando até "ofegante" ao ouvir a maravilhosa obra. No mundo das gravações, Os Planetas reinam - foram mais de 80 gravações desde 1922. Quase uma por ano, o que é um prodígio, se considerarmos que a obra exige uma orquestra dilatada, dois coros femininos e um órgão (vale lembrar que nem toda sala de concertos tem um). Eu tive o privilégio de ouvir uma interpretação fantástica da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), na Sala São Paulo, possivelmente com Dante Anzolini na regência, alguns anos atrás. Foi inesquecível, a obra tem muite efeito ao vivo. Além das gravações, a obra é muito popular nos concertos, mesmo sendo bastante longa. Outra coisa que não se pode ignorar ou subestimar é a sua influência na música cinematográfica - trilhas sonoras de compositores desde então até hoje, devem muito às peças de Holst, Vaughan Williams, Stravinsky e Debussy. Além, claro, de Wagner e até Brahms. Observe o elucidador vídeo abaixo, do ensaísta cinematográfico Max Valarezo: Gravações importantes São muitíssimas, de modo que vou listar as que geralmente são consideradas fundamentais e as minhas favoritas. - Gustav Holst, regendo a Sinfônica de Londres - Foi a primeira gravação completa da obra, em 1926. É importantíssima, porque mostra a concepção da obra pelo próprio compositor. O som é muito ruim, porque a gravação elétrica ainda estava em estado embrionário. Além disso, qualquer desafinação da orquestra, especialmente dos sopros, é evidenciada pela ruindade da gravação. Mas é um documento inestimável, nos dando, inclusive, a concepção de andamento do primeiro movimento, muito mais rápida do que gravações posteriores. - Sir Adrian Boult, regendo a Filarmônica de Londres - É a melhor gravação do regente que estreou a obra, gravada em 1978 (60 anos depois). O som é simplesmente magnífico, a orquestra toca com decisão e confiança. É uma gravação de referência. - Zubin Mehta, com a Filarmônica de Los Angeles - É outra gravação de referência. A Filarmônica de Los Angeles estava se tornando uma das melhores orquestras dos EUA, e Zubin Mehta é um dos regentes mais consistentes de sua geração. É de 1971. - James Levine, com a Sinfônica de Chicago - Essa versão, de 1991 é o meu prazer culpado. Levine foi, anos depois, em 2017, exposto como um assediador sexual. Quando faleceu, em 2021, era rico e lendário, mas nenhuma orquestra o chamava para reger mais. O fato é que a gravação é excepcional (como muitas dele). Talvez seja a minha favorita. - Herbert von Karajan, regendo a Filarmônica de Viena - Se tinha que ter Karajan, que fosse sua primeira gravação, com a Filarmônica de Viena, em 1961. É de uma vitalidade e timbre excepcionais. A versão remasterizada, que saiu na caixa The Legendary Decca Recordings é ainda melhor por causa do som. Mas aqui temos um Karajan (e uma Filarmônica de Viena) solto, quase desvairado. Uma das minhas favoritas, também. Mas não deixe de ouvir a gravação digital dele, de 1981, com a Filarmônca de Berlim. - Simon Rattle, com a Filarmônica de Berlim - Com um som fantástico, essa gravação de 2006 cai na besteira de completar o ciclo não só com o Plutão de Colin Mathews, mas, no disco 2, com todo tipo de corpo celeste do Sistema Solar, com obras de vários compositores. Não que sejam ruins, mas acho que deveriam ser gravadas separadamente e sem intenção de "completar" o ciclo de Holst. Plutão, o renovador, parece completamente alheio aos outros movimentos, a despeito de seus méritos. Uma obra que chama atenção é Ceres, de Mark-Anthony Turnage, de textura densa e sonoridades dissonantes. Mas claro que também não se encaixa. Os Planetas em si, são ótimos, com a orquestra tocando com toda a sua elegância. Não tem como a Filarmônica de Berlim. Rattle, não vamos negar, está muito bem e tira um som magnífico da orquestra. - André Previn, com a Sinfônica de Londres - Essa gravação, de 1973, mostra o quão bom regente era Previn. Não se comparava aos maiores em termos de controle e de sonoridade, mas tinha um frescor incomparável. Mais uma vez, a Sinfônica de Londres mostra sua força. - Vladimir Jurowski, com a Filarmônica de Londres - Um jovem regente russo que vem tendo uma carreira admirável, e principalmente com essa orquestra. A Filarmônica de Londres e a Sinfônica de Londres são as duas forças mais importantes da cidade. Mas deve ter umas 6 orquestras sinfônicas na cidade! Sem contar com os conjuntos de câmara e com as orquestras de repertório Barroco. Veja abaixo. Essa gravação, de 2009, a mais recente da lista, é a que também tem o melhor som (talvez em igualdade com a de Rattle). Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui:como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-LobosMúsicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7- Dvorák - Sinfonia Nº 8- Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Argonautas - O EP Notas Soltas
Em dezembro de 2021 fomos contemplados com um projeto na Lei Aldir Blanc, da Secultfor. Seria para a gravação de um EP de 4 músicas, mais um clipe e um making of. Em janeiro de 2022 gravamos tudo. Decidimos chamá-lo de Notas Soltas, porque as músicas eram bem individualmente marcadas. Gravamos: A Solidão (Rafael Torres) Atravessantes (Ayrton Pessoa) Canoa Quebrada (Rafael Torres) Estrelado (Ayrton Pessoa) Aqui está ele todinho. https://www.grupoargonautas.com.br/ep-notas-soltas https://open.spotify.com/album/7nY4EHmCKPdcFj6aUF4sg4?si=26Sr1GfvRNW8zLRDlhHUGA "Em nosso primeiro trabalho contemplado por uma lei de incentivo (Aldir Blanc, pela Secultfor), retornamos a trabalhar sobre músicas autorais. Ainda tateando o que compusemos durante a pandemia, achamos quatro músicas que não têm muito a ver uma com a outra. Daí o nome do EP ser Notas Soltas. Mas, ainda assim, têm a nossa sonoridade, concentrada em instrumentos acústicos e ritmos brasileiros." A capa é do super artista Tanilo. As filmagens são de Gabriel Lage e as fotos, de Henrique Torres. Gravado em 2022 no estúdio Trilha Sonora, Fortaleza, Ceará Produção: Flutuante Produtora Cultural Direção Artística: Rafael Torres e Ayrton Pessoa Gravação: Hugo Lage e Luiz Orsano Mixagem e Masterização: Luiz Orsano
- Chopin - As 4 Baladas - Análise
E aí? Vamos falar um pouco das 4 Ballades (Baladas) de Frédéric Chopin? Antes eu queria compartilhar uma grata descoberta que fiz há pouco mais de uma semana. De um canal no YouTube que tem feito um trabalho de divulgação de música clássica importantíssimo. E é brasileiro. É o Guia dos Clássicos, de Rafael Fonseca. A gente aprende sobre a obra enquanto vai ouvindo. E ele, além de meu xará, fala parecido comigo e indica gravações que eu certamente indicaria. Então vão lá, que o conteúdo é excelente. Às Baladas. Assim como os Scherzi e os Impromptus (Improvisos), ele fez 4. Simetria acidental, eu diria. Ele morreu muito novo e certamente teria composto outras, tivesse vivido mais. A primeira data de 1835, quando o compositor tinha 25 anos, e a 4ª, de 1842. Uma Balada, na renascença, era uma canção com narração heróica por parte dos menestréis europeus. Também podia ser um interlúdio musical dançante. Claro que, como todas as danças de Chopin, seu objetivo não era ser dançado, sendo que a alusão à dança era mais poética. O fato é que antes dele, os compositores não faziam Baladas. Certamente não para piano. Mas depois dele, Liszt, Fauré e Brahms fizeram as suas. Contudo, ainda hoje, se alguém disser "aquele pianista vai tocar uma Balada", sabe-se que é de Chopin. Vejamos uma por uma. 1ª Balada, em Sol menor A Balada Nº 1 em Sol menor, Op. 23, é a minha favorita. Acho que a favorita da maior parte do público. Ela é simplesmente arrebatadora. Seu primeiro tema é de um lirismo fantástico, repleto de saudade e melancolia. O 2º tema tem uma dignidade que se pode transfigurar em heroísmo e ímpeto. Tem uma forma bastante simples, mas os dois temas ela usa com bastante sabedoria. Vamos usar um vídeo do Rousseau, que é bem ilustrativo. Aos 43 seg. começa o tema 1, que é o tema principal. São quatro frases que começam do mesmo jeito: A - A' (50s) - A'' (57s) e A! (1m03s). Aí, repete, mas quando chega no A'' a música vai ganhando urgência. Aos 2m19s temos um motivo que ele usa pra finalizar - isto é, a ponte entre o tema 1 e o tema 2. Após uma passagem virtuosística, temos o 2º tema (3m18s), que é bem mais simples e aparece quase ingenuamente. Aos 3m49s temos uma lembrança do 1º tema, sendo em maior e mais sereno. Aos 4m17s ele apresenta o tema 1 novamente, na sua forma normal, mas com uma nota pedal. E depois de uma hesitação (4m39s), explode o tema 2 (4m49s), com um misto de triunfo e júbilo. Aos 5m20s tem início uma espécie de cadência virtuosística. Aí, uma escala descendente traz de volta o tema 2. Aos 6m40s temos novamente aquela lembrança do tema 1, conduzindo à recapitulação deste mesmo tema 7m15s, novamente com a nota pedal. Aquela mesma hesitação (7m38s) leva ao esplêndido coda (7m54s), em que Chopin ameaça 2 finais e só termina no terceiro. Esse pode parecer o parágrafo mais complicado (e colorido) da história, mas não é. Apenas escute e vá lendo. Você vai entender a música. Mas não vai ver a mágica acontecer, necessariamente. Pra isso você vai ter que ouvir outras vezes. Música clássica, às vezes é arrebatamento, outras, insistência. 2ª Balada, em Fá maior A 2ª Balada é um bocado mais curta e também menos conhecida. O que não significa que é menos interessante. Ela te dá um susto como nenhuma outra peça pra piano. Mesmo que você conheça e espere pelo susto, ele virá. Começa mansinha, com uma pequena pulsação. Esse de baixo não é o Rousseau nem a Kassia, mas tá bom. O susto vem com 2m12s, numa série de descidas e subidas bárbara. Note que por todo o movimento ele trabalha, como ideia temática, com uma série de 4 notas. Pa-para-pam. Às vezes acrescenta uma no começo. De todo modo, ele volta à parte calma e fica lá um tempão até que vem o susto de novo (5m16s). E ele nos conduz ao glorioso ponto culminante (5m52s). Parece que você tinha um bocado de formigas presas num balão e papoca de uma vez. Aí, aos 6m36s há uma suspensão nervosa, que leva a uma conclusão calma, como começou. 3ª Balada, em Lá bemol maior Das 4, a 3ª Balada é a de que gosto menos. Mas só um pouquinho. É que as outras são muito especiais pra mim. Mas essa é muito querida, uma das favoritas do público. Talvez até seja a mais conhecida entre quem não conhece Chopin. Observe: De 1841, essa Balada também é um pouco mais curta que as extremas (1 e 4). E é de longe a mais serena delas. Podia ser uma Berceuse. Mas ela não é fácil, não. Como tudo em Chopin, mesmo as partes mais lentas têm uma grande dificuldade: o pianista precisa ser muito expressivo, tem que saber tirar daqui pra por ali, tem que fazer legato misturando o uso e a supressão do pedal. No final das contas, ela é linda. 4ª Balada, em Fá menor A quarta é aquele cara maduro, grisalho, que conquista as mulheres e a gente fica dizendo: "Grande coisa"... Ela é muito sensual, como você pode ver. É a mais polifônica das quatro, com um trabalho de contraponto irresistível. Se a primeira é "a" Balada, essa aqui é a mãe de todas as Baladas. Assim como a 2ª, ela começa com uma pulsação. Mas aqui não tem susto, ela cresce de maneira orgânica (a depender do pianista, algumas partes são mais ou menos fortes). Importância Olha, as Baladas estão, ao lado dos Scherzi e talvez das Sonatas, entre as obras mais imponentes, maduras, conhecidas e importantes de Chopin. Não dá pra cravar porque ele tem grupos de Valsas, Polonaises, Mazurkas, Os Estudos, as 3 Sonatas (ao menos as duas últimas). Praticamente toda a obra de Chopin é definitiva. Mas como um grupinho fechadinho, são as Baladas e os Scherzi. Todo pianista tem que ter nem que seja apenas uma ou duas no seu repertório. Vou listar abaixo os pianistas que gravaram as quatro juntas (as maiores versões, na minha opinião). Vou omitir Zimerman, não porque lhe falta relevância artística, mas simplesmente porque acho exagerado. E tudo você pode encontrar no Spotify/Deezer/iTunes/Tidal. Tá, não conferi de um por um, mas de forma geral, acha, sim. Gravações Importantes - Maurizio Pollini - Pra mim, a versão ideal das Baladas. É comprometida, forte e não se entrega a arroubos sentimentais. Pollini as gravou em 1999 com um som ótimo. - Vladimir Ashkenazy - A gravação lendária de Ashkenazy é a de 1964. Ainda jovem, no auge de sua técnica, o russo impõe uma versão autoritária. - Claudio Arrau - Arrau era excelente em tudo. Desde Beethoven até Debussy. Passando, aí, por nosso Chopin. Uma de suas melhores gravações é a de 1977 das Baladas. - Alfred Cortot - A mais antiga gravação aqui é do lendário Alfred Cortot, que a fez em 1933. O som, como você deve saber, é horrível, cheio de chiado e captando muito mal as nuances do pianista. Mas vale porque Cortot é um pianista que vem direto da tradição romântica, além de uma lenda dos teclados. - Jorge Bolet - Bolet foi um pianista de carreira relativamente tardia. O bom é que temos um som sempre limpo (da gravação), e ele está sempre no auge. Sua sonoridade é muito colorida, como a de Arrau. Essa gravação é de 1986. - Friedrich Gulda - Em 1954, Friedrich Gulda, um dos pianistas vienenses mais promissores, fez essa gravação das 4 Baladas. Nessa época ele era comportado. Depois adotaria um estilo mais inusitado, com programas que misturavam música clássica e jazz, composições suas e interpretações estranhas. Dizem que chegou a tocar nu. Era o Zé Celso do piano. Só que com conteúdo. - Samson François - François tinha uma fama de ser muito talentoso, mas indiciplinado, arbitrário em suas interpretações, além de mulherengo, sei lá. Mas disso tudo ele era mesmo é talentoso. Seu toque, embora ele errasse algumas notas e não tivesse o refinamento de um Michelangeli, podia ser sutil e colorido, como nessas gravações de 1954. - Yundi (Li) - Não, o nome dele não tem parêntesis. É que ele adotava o Li no começo da carreira. É a gravação mais audiófila e, se não me engano, a mais recente daqui, datando de 2016. Ele toca com muita propriedade, embora seja novo. - Evgeny Kissin - Kissin as gravou em 1998. À época concorria com Pollini. Eu tinha os dois discos. Como eu disse, Pollini era mais elegante, sendo que Kissin tocava mais ao gosto do público. Mas é muito musical, sua gravação. - Bella Davidovich - As performances da pianista soviética Bella Davidovich são um tesouro. De 1981-82, são completas, captando todas as nuances das obras. Ela tem som, bom gosto, técnica e eloquencia. - Arthur Rubinstein - Escolhi essa gravação de 1959 do Rubinstein. Se há um pianista sempre associado a Chopin é ele. Polonês como o compositor, gravou as Baladas várias vezes, se incluirmos as gravações ao vivo. Esta gravação está espetacular, e o som é excelente. - Murray Perahia - Essas gravações de 1994 de Murray Perahia são, como tudo que ele faz, extremamente competentes, quase excepcionais. Ele nunca vai lhe surpreender, mas também, nunca vai decepcionar. Avulsas Algumas indicações de pianistas que não gravaram todas, mas que se a gente juntar, dá o kit ideal. Balada 1 - Martha Argerich e Arturo Benedetti Michelangeli. Balada 2 - Mitsuko Uchida. Balada 3 - Nelson Freire e Sergei Rachmaninoff. Balada 4 - Martha Argerich e Nelson Freire. Gostou do post? Não esqueça de comentar e de clicar no coraçãozinho, pra gente saber que você gostou do conteúdo. Abaixo, três sugestões de posts parecidos com esse pra você ler.
- Músicas Fofinhas 6 - Richard Wagner - Abertura Tannhäuser
O alemão Richard Wagner (1813-1883) não é um compositor que aparece muito por aqui. Por um simples fato: só escrevia praticamente ópera, e ainda não temos um especialista em ópera. Mas toda ópera tem seus momentos instrumentais, sobretudo na introdução. E são famosíssimas as aberturas e prelúdios de algumas de Wagner. Hoje venho lhes falar da mais famosa de todas elas. A Abertura da ópera Tannhäuser. Essa foi uma ópera com que Wagner nunca ficou satisfeito. Retrabalhou-a diversas vezes, mas morreu sem estar contente com ela. Ouso, mesmo não conhecendo de ópera, dizer que a abertura é mais conhecida que a peça inteira. Wagner a compôs em 1845, criando a abertura por último. Repare que beleza, na interpretação da Filarmônica de Berlim, regida por Herbert von Karajan. A obra A abertura é facílima de acompanhar. Temos um longo Tema A, que é logo apresentado pelos clarinetes, trompas e fagotes (38s). Depois de um interlúdio dos violoncelos (1m38s), dos violinos (2m09s) e, por fim, do oboé (2m40s), a orquestra faz um crescendo e a carga dramática vai se acumulando. A orquestra executa todo o Tema A, em tutti (2m58s). É um momento de beleza única. Logo depois, os violinos fazem o interlúdio (3m57s), seguidos pelos violoncelos (4m25s). Daí o Tema A é tocado uma terceira vez, pelos mesmos instrumentos que o apresentaram (4m56s). Mas, então, temos uma interrupção aos 5m40s. Entramos numa seção menos dramática, na verdade, bem alegre. É a Parte B. Seu Tema Principal (B) aparece nos violinos (7m09s). É leve e jovial. Lembre-se que a abertura captura alguns momentos da ópera, portanto, as mudanças de humor são previstas. Aos 8m30s o clarinete apresenta o Tema C, de natureza cantante e casual. Temos diálogos entre violinos (8m51s). O Tema B volta depois de uma preparação formidável (10m). Dessa vez ele vai se intensificando até cair em um acorde que parece um desmoronamento (11m10s). (Houve um corte no vídeo, de um pequeno trecho, aqui). Aí as cordas já começam a fazer suas escalas ascendentes e descendentes que preparam para a volta do Tema A (11m36s). Ocorre mais ou menos uma repetição do começo, com o tema aparecendo nos sopros, seguido do interlúdio dos violoncelos, depois dos violinos e a preparação das trompas, que nos leva ao Tema A em toda a sua glóra (13m). O coda é curto e ligado a esse tema. Considerações finais Essa Abertura ganhou vida própria e é frequentemente tocada nas salas de concertos e gravada, também. Talvez seja, junto à Cavalgada das Valquírias, a música mais famosa do compositor. Em seus 14 minutos de duração, somos carregados por sentimentos de solidão, heroísmo, otimismo e tragédia. Quando foi apresentar a música em Paris, Wagner adaptou alguns trechos e incluiu uma dança na ópera. E depois, juntou essa dança à abertura. Chama-se Abertura e Bacanal. Não gosto muito, acho vulgar. Algumas gravações são da Abertura e Bacanal. Mas não as que eu vou indicar. Gravações recomendadas - Georg Solti, com a Filarmônica de Viena - Solti tinha um jeito de reger Wagner que dava certo. Seu homérico projeto de gravar as 4 óperas que compõem o ciclo O Anel dos Nibelungos foi um sucesso, e os discos estão entre os mais vendidos de música clássica. Essa gravação da Abertura de Tannhäuser é de 1962, e hoje está numa coletânea de obras orquestrais de Wagner. - Claudio Abbado, com a Filarmônica de Berlim - Essa é a gravação mais emocionante que eu já escutei. Foi gravada por volta de 2002. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui:como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Holst - Os Planetas - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera
- Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras (Nº 2) - Análise
O compositor alagoano Hekel Tavares (1896-1969) é um fenômeno. Infelizmente, um fenômeno pouco conhecido, ainda. Uma espécie (guardadas as proporções) de Villa-Lobos nordestino. Assim como Villa, ele se interessava intensamente pela música popular da época. Mas estudou música de concerto, cursando orquestração com um professor no Rio e teoria com Henrique Oswald e Francisco Braga. Mas era danado pra fazer música bonita. Canção, mesmo. João Gilberto gravou várias vezes um sambinha chamado Guacyra, de Tavares e Joracy Camargo. A mesma dupla fez Leilão, uma música que eu descobri na voz da Mônica Salmaso e que é de chorar. Com Luiz Peixoto fez Suçuarana, talvez sua música mais conhecida (candidata a 1ª música gay do Brasil), e que também é comovente. Ele tinha esse dom melódico de fazer a gente chorar. Quando eu escuto o Concerto para Piano em Formas Brasileiras eu choro pra burro. Vexame. Tenho que escutar escondido. Pode? Temos abaixo a gravação ao vivo de Arnaldo Cohen com a Orquestra Sinfônica Petrobras Pró Música, regida por Roberto Tibiriçá. A obra O Concerto para Piano em Formas Brasileiras Nº 2, op. 105, foi composto em 1938, durante uma estadia do compositor numa fazenda no interior de São Paulo. I - Modinha (Tempo de batuque - lento com simplicitá) A peça começa com um acompanhamento agitado, meio batucado, bem brasileiro. Mas logo se acalma e revela seu belo tema principal no piano (37s). A orquestra o repete um pouco diferente (1m07s), derramado e romântico. O que vem depois é uma sucessão de demonstrações virtuosísticas do piano, sobre esses misteriosos acordes. Um crescendo nos leva à seção ritmada, que tem um novo tema (2m40s). É a modinha em si. O piano faz comentários sobre o tema dos metais. Aos 3m24s o clarinete bruscamente tamborila sobre a harmonia do tema principal. Ele volta parcialmente na flauta, aos 3m45s e no corne inglês, aos 3m52s. E vem pleno, embora contido, em piano, pelos violinos acompanhados pelo piano, aos 4m03s. Aos 4m52s temos mais uma virada súbita, que, na verdade, já é o começo do imenso coda. II - Ponteio (Largo - molto cantabile ed expressivo) (6m23s) O movimento já começa com uma bela melodia nas cordas. É o movimento lento do concerto, marcado por diálogos entre o piano e a orquestra. De escrita brilhante, mostra todo o potencial melódico, de orquestração e de escrita pianística do compositor. É um movimento livre, sem forma definida. Se assemelha a uma rapsódia ou a um tema com variações, mas não é. É uma série de improvisos disformes sobre uma harmonia tipicamente popular. A bela melodia volta desfigurada aos 11m05s. Aos 12m42s temos o coda. III - Maracatu (Lento, ma vigoroso) (13m10s) Começando nos violoncelos e contrabaixos, o Maracatu é misterioso no início. Aos poucos, temos um crescendo que entrega uma entrada sutil, em uma nota só, do piano (14m16s). Seu tema principal aparece aos 15m10s no piano, baseado naquelas notas repetidas. A orquestra logo o repete (15m28s). Temos várias referências, nos sopros, aos movimentos anteriores. Aos 16m24s o tema volta, no piano. Aos 17m04s os oboés trazem uma nova melodia, que pode ser vista como o segundo tema, embora seja muito fragmentado. Aos 18m23s, a música cai, subtamente, em tom menor, trazendo alusões ao primeiro movimento. Depois, volta a ficar rapsódica. As melodias de Hekel Tavares são abundantes e belas. Aos 20m10s temos a repetição dessa melodia, que é quase uma variação o tema do primeiro movimento. Aos 21m37s tem início o longo e brilhante coda, que tem um final épico. Considerações finais Se você acompanhou a gravação acima, sabe que o concerto precisa urgentemente de mais atenção. Mais gravações e interpretações nas salas de concerto. Hekel escreveu 4 Concertos em Formas Brasileiras. Esse é o 2º, op. 105, para piano. O 4º, op. 107 é para violino. Temos dificuldade até para obter uma listagem das composições do alagoano. Gravações de suas canções também são raras. Leilão, como eu falei, foi gravada por Pena Branca e Xavantinho e pela Mônica Salmaso. Sussuarana foi gravada pela Maria Bethânia. Guacyra, pelo João Gilberto. Inezita Barroso (outra artista esquecida) gravou Engenho Novo, Banzo e Funeral d'um Rei Nagô e um punhado de outras. Há um bom disco de uma cantora chamada Ana Salvagni, de 2008, dedicado às suas canções. Mas ele merece mais. Ainda muito mais. Gravações importantes Abaixo as gravações importantes: a primeira é a única que você encontra no Spotify, Deezer, iTunes... Com Felicja Blumenthal, a Sinfônica de Londres e Anatole Fistoulari na regência. É boa, mas o som ainda não era muito legal. A segunda é de Pietro Maranca com Eleazar de Carvalho, sendo o primeiro disco da OSESP (Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo). Tenho o vinil. É com ele que eu derramo as infindáveis lágrimas. E o terceiro é o mesmo do vídeo. Gostou de conhecer esse concerto brasileiro? Comente! E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - As 20 Melhores Orquestras do Mundo E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos
- Benjamin Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Análise
O compositor inglês Benjamin Britten (1913-1976) pertence ao renascimento inglês, de que falo nessa postagem. Não se trada da renascença. É que a Inglaterra passou quase dois séculos sem apresentar um compositor realmente importante. Depois, no final do século XIX as coisas voltaram ao normal. Houve uma profusão de novos compositores pós românticos e modernos de extrema competência que atingiram fama mundial. Nascido em Suffolk, em 1913, Britten era um talento. Compunha, regia e tocava piano com habilidade. Muito de sua música é operática ou para solista, mas ele tem peças puramente orquestrais. Apresentamos o Guia da Orquestra Para Jovens (com o subtítulo Variações e Fuga Sobre um Tema de Purcell), que ele compôs em 1945 como uma espécie de tema com variações sobre um tema de Henry Purcell. A ideia era que a obra servisse de guia para que se conhecessem os instrumentos e naipes da orquestra. No artigo acima mencionado, eu falo dessa tendência que os britânicos modernos tinham de homenagear os britânicos da renascença e do barroco. Purcell (1659-1695) fora um compositor Barroco de extrema importância. Sua suíte Abdelazer serviu como inspiração para o nosso Britten, especificamente o Rondó, do segundo movimento. É um tema encantador, heróico desde sua concepção. Escrita para um consorte pequeno de cordas, com contínuo, como era praxe na época, Britten o apresentou de forma sinfônica, que jamais seria a intenção de Purcell. O fato é que funcionou. A obra de Britten é uma perfeita introdução para o entendimento da orquestra, baseada em um tema que não é orquestral (ao menos no sentido atual). É uma homenagem àquele que foi um dos 2 ou 3 maiores compositores barrocos da Inlgaterra. Observe a obra original no vídeo abaixo, executado pelo conjunto Voices of Music, especializado em música antiga. Quero que repare na secura das articulações, na completa falta de exageros de dinâmica e no tempo acelerado. E agora, a versão dilatada e e retrabalhada por Benjamin Britten, executada pela WDR Orchester de Colônia, sob a regência de Jukka Pekka Sasaste. Para começar, temos uma orquestra moderna, e uma bastante grande, com um naipe de percussões avantajado. A Obra A peça foi encomendada para um programa educacional britânico chamado Instrumentos da Orquestra, em 1946. Em algumas execuções e gravações, a narração original do documentário é aproveitada, narrada pelo maestro ou por um narrador dedicado. Britten extraiu esse tema, que sempre foi conhecidíssimo, e fez uma série de variações, destacando os naipes e instrumentos individuais da orquestra. A peça dura cerca de 15 minutos, bem mais que os 2,5 da obra de Purcell. A orquestração é grandiosa: 1 Piccolo 2 Flautas 2 Clarinetes 2 Oboés 2 Fagotes 4 Trompas 2 Trompetes 3 Trombones 1 Tuba Percussão: Tímpanos, Bombo Sinfônico, Pratos, Tamborim, Triângulo, Caixa Clara, Woodblocks, Xiolofone, Castanholas, Tamtam e Chicote Violinos 1 Violinos 2 Violas Violoncelos Contrabaixos Análise Não há o muito o que analisar na obra, é um simples tema com variaçõs. Mas as aparições dos instrumentos servem para nos fazer conhecê-los. A peça já começa com o tema principal, de Purcel em tutti, toda a orquestra (5s). Aos 24s o tema ameaça ser repetido, mas cai na relativa maior, assim como na música de Purcell. Agora ele vai mostrar os naipes da orquestra. Nesse trecho (27s), as madeiras (flautas, clarinetes, oboés, e fagotes) são protagonistas. Aos 51s, ele apresenta os metais (trompas, trompetes, trombones e tuba), em nova modulação (Mi bemol maior). Em 1m10s é a vez das cordas (violinos 1 e 2, violas, violoncelos e contrabaixos), em Sol menor. Por fim, aos 1m26s ele apresenta as percussões, no que me parece ser um Lá maior. O tema volta em tutti, majestosamente a 1m42s. Veja que cada naipe apresentou basicamente o mesmo tema, mas com caracteres diferentes. No tutti ele vem majestoso e marcial; quando as madeiras apresentam, ele aparece de maneira mais doce, em estilo toccata; os metais o trazem em tom dramático e sério; as cordas, tocam com nobreza e de modo escuro; a percussão, por fim, traz o tema quase irreconhecível, num formato que não nos é muito familiar, mas com uma escrita excepcional. A seguir começam as variações em si, em que ele destacará grupos que contêm o mesmo instrumento (as 2 flautas, os 2 oboés etc.). No final vem a fuga, que mistura e transborda a criatividade do compositor num dos momentos sinfônicos mais emblemáticos da história da música. Variação A - Presto (2m02s) Flautas e Flautim Começamos pelas madeiras, com uma variação que mostra o tímbre e a agilidade das flautas. Variação B - Lento (2m35s) Oboés Na variação dedicada aos oboés, Britten escolheu evidenciar o lirismo quase melancólico de que esse instrumento é capaz. Variação C - Moderato (3m38s) Clarinetes Os clarinetes são mostrados em sua face mais jocosa, como instrumentos quase onomatopéicos, também muito ágeis. Variação D - Allegro alla marcia (4m20s) Fagotes Os fagotes são os instrumentos graves da família das madeiras, mas são capazes de expressar um lirismo e uma cantabilidade únicos. Variação E - Brillante: alla polacca (5m13s) Violinos Entra a sessão das cordas. A orquestra comporta cerca de 30 violinos (16 primeiros e 14 segundos), os instrumentos mais abundantes, muitas vezes detentores das melodias principais. Variação F - Meno mosso (5m50s) Violas As violas são maiores que os violinos e em quantidade menor (cerca de 12). Seu tímbre é rico, escuro, muitas vezes dramático. Variação G - Lusingando (6m45s) Violoncelos Os violoncelos aparecem em número de 8 a 10, sendo uma sessão importantíssima. Seu som grave é análogo ao de uma voz humana. Variação H - Cominciando lento ma poco a poco accel. al Allegro (7m55s) Contrabaixos Aos contrabaixos (6 a 8) não costumam ser confiadas melodias, ficando eles mais responsáveis pela base harmônica da peça. Vemos aqui uma rara aparição melódica do instrumento mais grave da sessão das cordas. Variação I - Maestoso (8m55s) Harpa A harpa é da sessão das cordas, também, mas não está presente em todas as obras. Quando aparece, pode ser uma ou duas (raramente mais). Seu gesto típico é o arpejo, que é uma sucessão ascendente ou descendente de notas. Variação J - L'istesso tempo (9m45s) Trompas Entrando na sessão dos metais, as trompas (que podem ser 2, 4 ou até 8) mostram seu trabalho em grupo, já que é mais comum ouvir o naipe inteiro das trompas do que uma trompa solista. Variação K - Vivace (10m33s) Trompetes Os ágeis e agudos trompetes (geralmente 2 a 4) aparecem nessa seção viva e rápida, aqui, em diálogo com a caixa clara (percussão). Variação L - Allegro pomposo (11m02s) Trombones e tuba Os trombones e a tuba são tratados como complementares. A tuba atinge as notas mais graves, mas tem um tímbre parecido. Observe o caráter marcial dessa seção. Variação M - Moderato (12m12s) Percussão As percussões são muito variadas: os tímpanos tocam notas graves, percussivas, mas com altura definida. No naipe das percussões também aparecem os instrumentos de baquetas, como o xilofone (13m03s). Fuga - Allegro molto (14m12s) Tutti A grande seção final da obra, uma fuga, começa com o flautim, seguido pelas flautas. Aos poucos, outros instrumentos do naipe de madeiras também vão se aglomerando. Depois, entram as cordas e depois os metais e a percussão. Os trombones anunciam a volta do belo tema de Purcell no coda. Gravações recomendadas - Benjamin Britten, regendo a Sinfônica de Londres - Eu escutava várias gravações dessa música, até descobrir a gravação do próprio compositor, de 1963. É de uma vivacidade e controle excepcionais. E a orquestra está sensacional. - Lorin Maazel, regendo a Orquestra Nacional da França - Para uma versão com narração, esta, de Maazel, de 1962, é perfeita. É comum encontrarmos a narração do maestro em inglês, mas o próprio Maazel gravou a narração também em português (fora casado com uma brasileira). Tenho essa versão em vinil. Ele narra (na versão em português) tanto Pedro e o Lobo, de Prokofiev, quanto o Guia da Orquestra para Jovens. - Andrew Davis, com a Sinfônica da BBC de Londres - Uma versão um pouco mais moderna (de 1991). Essa orquestra, que com Davis viveu um de seus melhores momentos, está impecável e toca com extrema confiança e técnica. - Richard Hickox, com a Sinfônica de Bournemouth - Também muito bem tocada e regida por um especialista em Britten, essa versão é de um impacto singular. Muito ritmada e marcada, nem por isso deixa de ter momentos líricos, como os belos solos de oboé. É de 1995. Gostou? Comente! Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia. Aqui, 10 Livros Sobre Música. Veja aqui: como ouvir música clássica. Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske, de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu, de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte, de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada, de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis, de Vaughan Williams E veja nossas famosas listas: - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera