
Get in touch with us at info@new.com
Resultados da busca
352 itens encontrados para ""
- abajur #03
Quadrinhos autorais por Brida. Pensamento proibido. Brida ''Abajur'' Vive e trabalha em Brasília. Procura observar o trânsito embolado dos pensamentos e explorar tragicomédias diárias através de tirinhas, animações, pintura e escultura. Curadoria de quadrinhos Nílbio Thé e Isabelle Prado
- A lista do lauro: anos 70 pra se ouvir#01
Anos 70! Uma década tão emblemática que é impossível esgotá-la, mesmo depois de cinco décadas. E pensando nisso a coluna novidades do passado tem um momento só pra ela com um especialista no assunto! Trata-se de Lauro Almeida que graças a tecnologia de ponta tem uma cáspula temporal estacionada em 31 de dezembro 1979 para que ele possa vislumbrar a a década inteira desde primeiro de janeiro de 1970. Diretamente dessa cáspula o Lauro todo mês vai nos presentear com uma lista de 10 discos que merecem ser descobertos (quando não redescobertos) por nós aqui do futuro. Aproveite a viagem! ÁLBUNS/DISCOS PARA (RE)DESCOBRIR/OUVIR: 10. CÉSAR COSTA FILHO - "BAZAR" (1977) - um dos grandes compositores que surgiram na viradas dos anos 70, seguindo a linha crônica e ácida de Gonzaguinha e Vitor Martins. Não alcançou o sucesso de seus colegas, mas deixou excelentes discos na década. É de sua autoria com Aldir Blanc a canção Ela, interpretada por Elis Regina em 1971, no álbum de mesmo nome. Até hoje nenhum álbum do artista foi editado em cd. Felizmente a RCA disponibilizou alguns discos de César Costa Filho no streaming. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Tigre de Papel, Consumatum Est, Assim Simplesmente. 9. HUDSON/FORD - "NICKELODEON" (1973) - obscuro duo de folk-rock, seguindo o caminho de Seals & Crofts e Loggins and Messina, com baladas e vocalises melódicos. Esse é o primeiro dos 4 álbuns lançados pela banda, que teve seu final em 1977. Originalmente gravado e lançado pela A&M Records, que já vinha apostando em artistas desse segmento, como Stealers Wheel e Supertramp. A faixa I Wanted You teve um relativo sucesso no Brasil em 1974, por ter sido incluída na trilha da novela O Rebu. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Crying Blues, I Wanted You, Pick Up The Pieces. 8. UMAS e OUTRAS - "POUCAS e BOAS" (1970) - o trio formado por Dorinha Tapajós, Malu Balona e Regininha gravou apenas esse álbum com um som que é uma mistura bacana de samba com Motown, releituras no estilo boogie-oogie dos anos 40 e muito balanço. Músicas de Joyce, Ivan Lins e a música tema de abertura da novela Pigmalião 70 escrita pelo irmãos Paulo Sérgio e Marcos Valle com Novelli especialmente para as meninas. Em 2015, o álbum foi editado em CD no Japão em uma edição limitada. ATENÇÃO NAS FAIXAS: No Nepal Tudo É Barato, Abraçe Paul McCartey Por Mim, Trem Noturno. 7. GLADYS KNIGHT & THE PIPS - "Pipe Dreams (Original Soundtrack) (1976) - surfando na onda das "cantrizes", como Liza Minnelli e Diana Ross, Gladys Knight se aventurou em Pipe Dreams atuando e cantando as músicas da trilha do filme, que nada tem de musical. Trata-se de um dramalhão romântico, típico da década. O filme não obteve sucesso mas a sua trilha trouxe um dos grandes hits da carreira da cantora, a lindíssima balada So Sad Song. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Nobody But You, I'll Miss You, So Sad The Song. 6. BIAFRA - "PRIMEIRA NUVEM" (1979) - primeiro álbum do cantor Biafra, bem diferente do estilo extremamente popular que o consagrou nos anos 80. Temos aqui um trabalho denso, crú, belo e bem executado. Como é sabido, o ano de 1979 é considerado mágico no mundo da música, com inúmeros artistas lançando seus primeiros discos (Marina, Elba Ramalho, Angela RôRô...) e também, claro, pela anistia e início da abertura política no Brasil. O debut de Biafra se encaixa perfeitamente nessa nova onda que surgiu. A faixa Helena foi o grande sucesso do disco, mas apenas como single. Primeira Nuvem é um álbum que merecia ter sido editado em cd, mas infelizmente até hoje permanece inédito no formato. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Bandido Solitário, Tardes de Viagem, Juriti. 5. RASPBERRIES - "SIDE 3" (1973) - banda que revelou o cantor Eric Carmen, do clássico hit All By Myself de 1975, Raspbeberries fazia um hard rock melódico, na linha do Badfinger e Humble Pie, com influência do blues e do rock dos anos 50. O primeiro álbum da banda trouxe o seu maior sucesso, a linda balada Don't Want To Say Goodbye em 1972. Para o lançamento do seu terceiro disco, a produção foi caprichada, com direito a uma capa texturizada e recortada, em formato de um pote cheio framboesas (raspberries em inglês). Milagrosamente, o lançamento do álbum no Brasil trouxe a capa nesse padrão também. Um detalhe curioso é que o disco foi gravado extremamente alto, nas raias da distorção, propositalmente, criando um ambiente de "ao vivo" em sua audição. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Tonight, On The Beach, I'm a Rocker. 4. TRILHA SONORA ORIGINAL DA NOVELA "FOGO SOBRE TERRA" (1974) - entre 1969 e 1975, as trilhas nacionais das novelas da Rede Globo foram encomendadas aos grandes nomes da nossa música (Marcos Valle, Roberto Carlos, Zé Rodrix entre outros). Em 1973, a dupla Toquinho & Vinícius de Moraes foi convidada para desenvolver a trilha da primeira novela em cores da emissora: O Bem Amado. O sucesso foi imediato e até hoje é considerado um dos melhores discos do gênero. Devido a isso, no ano seguinte a dupla foi novamente requisitada, agora para a trilha da novela Fogo Sobre Terra. Dividido com o cantor Ruy Maurity, que aparece cantando 5 composições de sua própria autoria, o álbum conta com apenas uma faixa cantada por Toquinho & Vinícius (Como É Duro Trabalhar). As outras canções são executadas por Marília Barbosa, MPB-4 e Quarteto em Cy, Betinho e Djavan, ainda no começo de sua carreira, antes mesmo de gravar seu primeiro disco. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Uma Rosa em Minha Mão, Calmaria e Vendaval, Com Licença, Moço. 3. ETTA JAMES - "ETTA JAMES" (1973) - já consagrada nos anos 60 por gravações antológicas como At Last e I'd Rather Go Blind, fixadas com estrelas no mural dos standards da música americana, Etta James iniciou a nova década mergulhando no soul e no funk, movimentos em voga naquele período. Divas do jazz e do blues também se aventuraram nesse caminho, como Ella Fitzgerald e Carmen McRae. Etta, uma das maiores potências vocais de todos os tempos, foi além. No seu álbum homônimo de 1973, não se limitou ao groove e reverenciou o pianista trovador Randy Newman em 3 faixas, incluindo o seu clássico Sail Away. O clima misterioso e super bem elaborado de All The Way Down se tornou o grande hit do trabalho, que merece ser (re)ouvido com atenção. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Leave Your Hat On, All The Way Down, Only A Fool. 2. PAULINHO DA COSTA - "HAPPY PEOPLE" (1979) - um dos nossos maiores instrumentistas, reconhecido internacionalmente e com participações em álbuns de Michael Jackson, Aretha Franklin e Madonna entre mais de mil outros, Paulinho da Costa gravou apenas 6 discos solos, entre 1977 e 1991. No auge do movimento DISCO, em 1979, lançou pela gravadora Pablo (especializada em jazz), um álbum super dançante e, como não poderia deixar de ser, magistral. Um time de peso o acompanhou, com a presença mais do que especial de Phillip Bailey, vocalista da banda Earth, Wind & Fire, nos vocais da faixa Deja Vu. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Happy People, Carnival of Colors, Deja Vu. 1. MARISA - "MARISA" (1974) - também conhecida como Marisa Gata Mansa, a cantora vinha desde os anos 50 lançando discos, passeando pelo bolero, o samba-canção e a dita "fossa". Com um timbre grave e melancólico, Marisa chegou ao sucesso em 1973, com a inesquecível gravação de Viagem, uma parceria de João de Aquino com Paulo César Pinheiro. No seu álbum de 1974, a cantora seguiu com o mesmo requinte, escolhendo canções densas e de forte apelo emocional, como a faixa que abre o lado B, a pungente Aldebarã de Sueli Costa e Tite Lemos. Um disco pra se ouvir com o coração, de preferencia sozinho... e no escuro. ATENÇÃO NAS FAIXAS: Chuva, gente e Carnaval , Confetes o Samba que eu lhe fiz. Lauro Almeida Amante de música desde criança, colecionador de discos, dj e curador musical, aficionado nos anos 70 e em suas vertentes. Do clássico ou obscuro, do compacto de vinil ao cd.
- território marginal #04
O Homem com uma Dor. Um quadrinho de Vitor Batista Vitor Batista: é cartunista, designer e arquiteto, nasceu em Barbalha (CE) em meados de 1981, acredita nas três partes da filosofia universal e fica puto quando confundem ele com um gringo. Curadoria de Quadrinhos: Nílbio Thé e Isabelle Prado
- Território marginal #03
O Ser Bipolar. Um quadrinho de Vitor Batista. Vitor Batista: é cartunista, designer e arquiteto, nasceu em Barbalha (CE) em meados de 1981, acredita nas três partes da filosofia universal e fica puto quando confundem ele com um gringo. Curadoria de Quadrinhos: Nílbio Thé e Isabelle Prado
- Seu Bichinho
Eu prometi que não ia falar sobre política. Mas também prometi que seria contraditório. Oh, seu bichinho O que é que foi fazer You made a fool of everyone E avacalhou de vez Com o futuro da nação Oh, seu bichinho Como é que vai ficar Quantas cabeças vão rolar Pra fichinha cair Na cabecinha que restar Não dá uma dentro Toda entrevista é um tormento Hashtag machista Hashtag fascista Hashtags muitas mais Pega tua frota e sai pra lá Deixa-me aqui quieto em meu lugar Leva todo o comitê Já imaginou o fuzuê Se todos fossem no mundo Iguais a você Oh, seu bichinho Agora eu era um herói A minha arma é um violão Cabeça-chata Boy E eras tu o arquivilão Oh, seu bichinho Que marmelada foi O kit que te apavorou De que armário foi Que essa notícia tu tirou Teje só passando É melhor não ir se acomodando Morde, mas não late Verás que um filho teu foge ao debate Amante das artes Filósofo nato Um lorde, só que não Queres sempre tão bem à tortura Desde que no outro seja a dor Saudoso, afaga a ditadura Desde que sendo o ditador Sem fraquejar, sem frescura Ponho a boca no trombone Já começaste a tortura Ao sacar o microfone
- Top 14 jogos para entrar no mundo dos jogos de tabuleiro modernos.
Olá, meus amigos. Pensando nesse nosso começo de relacionamento, resolvi iniciar essa conversa com vocês apresentando 14 jogos que seriam interessantes para que busquem e tenham um primeiro contato agradável sem demorar tanto assim na etapa “aprender regras”. E pensando que somos todos iniciantes aqui, dividi entre jogos com poucas regras e bastante interação, e os últimos 4 já são com um tantinho mais de regras para que os senhores possam começar a se aventurar melhor. A ordem aqui vai de “menor quantidade de regras” para os de “maior quantidade de regras”. E um outro critério utilizado foi que todos os jogos aqui desta lista já têm a sua edição localizada, então é totalmente possível encontrá-los nas lojas brasileiras e com manual em português. 14 – Dixit (2 – 6 Jogadores) Dixit é o típico jogo que mesmo aquele seu amigo mais resistente a “joguinhos” vai pedir pra repetir; a mecânica principal do jogo gira em torno de dedução, então se você é do tipo que curte tentar entender a cabeça do amiguinho, com certeza vai amar o jogo. No jogo, todas as cartas possuem artes belíssimas e bem “loucas” em que os jogadores irão se organizar para um "advinhar a carta do outro" através de dicas. 13- Coup (2 – 6 jogadores) Coup também é um jogo que tem praticamente só cartinhas, mas o espírito é um tantinho diferente, aqui você e seus amigos irão dialogar para eliminar os seguidores uns dos outros através de blefes e intrigas, até que reste somente um jogador. Aqui temos um jogo de bastante dedução e análise dos participantes, super recomendável para grupos de amigos que gostam de se sacanear no “UNO” mas querem se aventurar por novas águas. 12– Santorini (2 – 4 jogadores) Santorini é um jogo lindo com regras bem objetivas e simples. Na prática você apenas mexe o seu bonequinho e constrói um pedaço de estrutura. Fácil né? O charme do jogo reside em algumas cartinhas de deuses e monstros gregos que nos auxiliam a construir e a impedir o nosso oponente de construir. 11– The Climbers (2 – 5 jogadores) The Climbers é um joguinho de escalada de montanha, veja bem. Mas escalada de montanha? E isso é legal? Ué, claro que sim, além de escalar a montanha na frente dos seus amigos, você ainda vai alterando a montanha no meio do processo criando toda uma plataforma e estrutura em 3D, super lindo na mesa e quanto mais amigos pra juntar, mais divertido fica. 10– Sugar Gliders (2 – 4 jogadores) Sugar Gliders é o típico joguinho simples, quase infantil, que fica cada vez mais legal a medida que os jogadores vão ganhando experiência nele. Aqui nós somos esquilinhos voadores em busca de comida e aquele que conseguir coletar mais comida vence, simples assim. A graça fica em como fazemos isso, escolhas lógicas e tomadas de decisão em busca das melhores rotas nos fazem pensar bem em um joguinho aparentemente bobo. 9 – Hive (2 jogadores) Hive entra na lista para aqueles que gostariam de conhecer uma versão moderna e alternativa para o xadrez/dama da vida. Em Hive nós precisamos utilizar um exército de insetos para proteger a nossa rainha do time inimigo. Com movimentações bem peculiares, assim como no xadrez, o Hive acaba se tornando bem estratégico e super divertido. 8 – Azul (2 – 4 jogadores) Em Azul você e seus adversários irão competir para ver quem lajota primeiro um muro português. Pois é meus amigos, jogos europeus têm bastantes dessas temáticas “peculiares” mas garanto que a mecânica e organização para tomadas de decisões geram momentos bem descontraídos e por vezes até tensos entre os jogadores. 7– Fórmula D (2 – 10 jogadores) Quem nunca quis pilotar um carro de Fórmula 1? Pois bem, em Fórmula D você vai correr em um circuito disputando uma corrida com tudo que tem direito, passar marcha, troca de pneus e ultrapassagens emocionantes, tudo vai depender de o quão ousado você se dispõe a ser. 6 – Bang: Dice (2 – 8 jogadores) Mais um jogo de intriga aqui para as senhoras e os senhores: Bang, o faroeste de cartinhas tradicionais, já é um tanto conhecido pelo público brasileiro por ter sido comercializado por essas bandas pelos anos 2000, mas nessa edição com dados, o jogo se torna bem mais dinâmico e divertido, trazendo todas as características do jogo original em descobrir quem são seus aliados e inimigos a medida que o jogo flui, só que mais rápido. 5 – The Manhattan Project: Chain Reaction (2 – 4 jogadores) Bem, se você já ouviu falar do Projeto Manhattan já deve saber do que se trata o jogo, mas caso não conheça: aqui você vai criar uma bomba atômica. Este jogo possui uma versão maior e bem mais complexa, mas como o nosso foco aqui são jogos simples, trouxe aqui o Chain Reaction que é um jogo só de cartas, mas com a mesma temática de criar bombas. É um jogo extremamente inteligente quanto ao gerenciamento de cartas que ele propõe, vale a pena conferir. 4 – When I Dream (4 – 10 jogadores) Querem jogos fofos também? Aqui temos, vamos brincar de adivinhar o sonho alheio através de dicas e sugestões; o jogo é bem charmoso por ser um jogo semi-cooperativo, ou seja, de um time contra o outro, então, no meio das dicas, surgem algumas bem nada a ver pra confundir a cabeça da pessoas, o que torna o jogo bem divertido, principalmente se quem está tentando adivinhar, curtir, viajar na maionese. 3 – Viral (2 – 5 jogadores) Em tempos de vírus em alta, aqui em Viral nós vamos representar vírus atacando o corpo humano, e nossos oponentes serão outros vírus fazendo a mesma coisa, então acabamos por nos destruir e traçar o melhor modo de nos espalharmos no corpo, com mecânicas interessantes de controle de área e planejamento de ação. Surpreenda-se com as ações dos seus oponentes e as vezes mostre a eles o quanto você consegue se antecipar aos seus movimentos. 2 – Takenoko (2 – 4 jogadores) Provavelmente o jogo mais bonitinho desta lista, Takenoko é um jogo de cumprir objetivos utilizando bonequinhos de panda e bambus, o tabuleiro deste jogo fica extremamente bonitinho à medida em que o jogo vai evoluindo. Então gerencie as ações que você vai fazer e torne o seu panda feliz comendo os bambus e fazendo pontos. 1– Tiny Epic Galaxies (2 – 4 jogadores) Explorar a galáxia é o que você gosta? Pois bem, esse jogo vai suprir perfeitamente as suas necessidades em se achar explorando o espaço e com mecânicas mais simplificadas. A série Tiny Epic é conhecida por criar jogos de caixas pequenas e regras que ficam entre o básico caminhando para o mais avançado. Então ele fica aqui na última colocação porque se você chegou até aqui, já está no ponto de partir para novos horizontes. Luiz Pedro Reis Pinheiro Paraense de nascença e cearense de coração, é um genuíno millenial. Adora tanto jogo, que se formou e especializou na área e utiliza este meio como forma de vida e evolução enquanto gente. Mesmo sem querer, ou não, vive em constante mudança, muda de casa, muda de cidade, muda de personalidade, muda de ideia, só procura nunca mudar a sua base. Tirando isso, o que vier de novidade apresentado pelo mundo, aceita de bom grado. Atualmente trabalha como professor universitário e game designer. Sempre que aparece algum projeto legal, tenta se focar em projetos educativos e sociais com o ideal em utilizar os jogos para a evolução das pessoas.
- A mina da Roupa de borracha #02
Uma história em quadrinhos de Dona Dora. Dona Dora Nascida no Rio e criada na Ceilândia-DF, foi estudante de escolas públicas e formada em Artes Plásticas pela UnB - Universidade de Brasília. Em 2013, passou a produzir quadrinhos participando de eventos marginais ou feiras de coletivos de produção independente Zines. Desde então faz uns desenhos diferenciados, pinta quadros, faz quadrinhos e atualmente dá aula de Artes para o Ensino Médio. Curadoria de quadrinhos: Nílbio Thé e Isabelle Prado.
- Argonautas Interpretam Edu Lobo
Nosso terceiro disco, quisemos fazer sobre Edu Lobo. Só músicas dele. Eu queria gravar umas 30, mas claro que ficava muito grande. E, mesmo com as 16 finais, ele ficou grande, ainda. Você pode encontrar o disco todo aqui. Jogo 3 (Edu Lobo) - essa ele fez para o balé "Jogos de Dança", em que todas as peças são instrumentais. São 6 Jogos, e o terceiro é o que chama mais atenção, porque sobre ele foi colocada uma letra (de Chico Buarque) e seu nome mudou para "Meu Namorado". Mas fizemos a instrumental, mesmo. Choro Bandido (Edu Lobo e Chico Buarque) - é a minha favorita ao lado da "Valsa Brasileira". Eu canto e faço violão. Pra Dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto) - uma canção de adeus que, depois que o letrista cometeu suicídio, anos depois, adquiriu um sentido muito diferente. É a única faixa do disco em que tem guitarra. A Permuta dos Santos (Edu Lobo e Chico Buarque) - luxuosamente cantada pela Mônica Salmaso. Canção do Amanhecer (Edu Lobo e Vinícius de Moraes) - canto essa, com um arranjo simples, mas que me agrada. Meia-Noite (Edu Lobo e Chico Buarque) - quem canta é o Edu. Fui até o Rio gravar a voz dele. Podia ter gravado remotamente? Podia, mas eu não ia perder a oportunidade de trabalhar com o ídolo. Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque) - tem a participação do meu irmão, Leonardo Torres, ao piano. Imagino que as pessoas estranhem ela ser cantada tão quadradinha, mas essa foi a ideia. A tendência de todo cantor é de, não só fazer rubatos, mas os rubatos do Milton. Fiz mais ou menos como está no Songbook. Forrobodó (Edu Lobo e Chico Buarque) - essa música simpática, eles fizeram para o filme "O Xangô de Baker Street", de 2001. Não é conhecida, e nenhum dos dois gravou, até onde eu sei. Sobre Todas as Coisas (Edu Lobo e Chico Buarque) - essa, que tem na versão de Gilberto Gil a gravação perfeita, gravamos com Renato Braz. Ele cantou lindamente. Valsa Brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque) - junto a Choro Bandido, a minha favorita. O arranjo é meio baldio, ermo, com clarinete, piano, baixo e voz. Ficou do jeito que eu queria. A Moça do Sonho (Edu Lobo e Chico Buarque) - Edu e Chico fizeram para a peça Cambaio, em 2001. No disco Cambaio quem canta é o Edu, num arranjo luxuoso, com cordas, flugel e banda. Já o Chico gravou só voz, violão e violoncelo. Aí eu fiz essa versão com violão e voz, mas cantando na métrica do Edu Lobo (Chico mexeu na métrica toda). O Circo Místico (Edu Lobo e Chico Buarque) - o Bob (Ayrton Pessoa) cantou e tocou piano e acordeon nessa daqui. Super delicado. Ave Rara (Edu Lobo e Aldir Blanc) - pra essa nós fizemos um arranjo de samba, mas é o samba mais sério que eu já ouvi. Canta o Marco Forte, um querido amigo cearense radicado no Rio. No Cordão da Saideira (Edu Lobo) - essa é a única com letra do próprio Edu. É linda, e eu sempre quis gravar. Opereta de Casamento (Edu Lobo e Chico Buarque) - pouca gente grava essa música genial. Não sei bem por quê. Corrupião/Ode aos Ratos (Edu Lobo / Edu Lobo e Chico Buarque) - pra encerrar, chamamos o flautista Heriberto Porto, que gravou na transversa normal e na baixo. O disco contou ainda com a participação inestimável de Luiz Orsano, o engenheiro de som, que é um baita baterista e percussionista. Acontece que bem na fase final do disco, o baterista e percussionista dos Argonautas, Igor Ribeiro, teve que viajar e passou uns 2 meses fora.
- Doce infância
Bom gente, hoje eu vou fazer minha estréia no site falando um pouco de mim. Eu era garçonete e, de repente, me encantei pela coquetelaria. Eu fiquei impressionada porque percebi uma coisa: muitas das reduções, xaropes e praticamente todas as misturas que eu via sendo feitas no bar lembravam a minha infância e a minha mãe, porque sempre que a gente ficava doente ela aparecia com algum xarope caseiro que ela mesma fazia com ervas que ela apanhava do nosso quintal. Então aquele mundo ali eu meio que já conhecia. E o mais legal que a coquetelaria sustentável, que é o que eu faço desde que virei bartender é exatamente isso, uma volta pras raízes. Tirar uma coisa da horta e colocar no copo do jeito mais curto possível. Então vou aqui ensinar um coquetel que fiz justamente em homenagem à minha mãe (e por isso o nome dele é Doce Infância) e que foi premiado na edição de 2016 do Ilha Drinks em Fernando de Noronha onde eu moro e me inspiro para criar meus drinques. Doce Infância 50 ml de cachaça 20 ml de uma redução de hibisco com canela 25 ml de sumo de limão siciliano Adicionar todos os insumos na coqueteleira e bater por 20 segundos. Sevir em uma taça de Martíni e, como guarnição, uma rodela de limão desidratado Beba com moderação! Até a próxima com mais receitas! Cintia Maria Lopes Bartender em Fernando de Noronha especialista em Coquetelaria sustentável. Amante da natureza torcedora do sport rubro-negra doente.
- A mina da roupa de borracha #01
Um quadrinho de Dona Dora. Dona Dora Nascida no Rio e criada na Ceilândia-DF, foi estudante de escolas públicas e formada em Artes Plásticas pela UnB - Universidade de Brasília. Em 2013, passou a produzir quadrinhos participando de eventos marginais ou feiras de coletivos de produção independente Zines. Desde então faz uns desenhos diferenciados, pinta quadros, faz quadrinhos e atualmente dá aula de Artes para o Ensino Médio. Curadoria de quadrinhos: Nílbio Thé e Isabelle Prado.
- Disco - Labyrinth de Khatia Buniatishvili
A georgiana Khatia Buniatishvili é uma daquelas pianistas modelos. Porque toca muito bem, certo. Mas também porque é sexy e explora isso na construção da sua persona. Não vejo nada de errado. Tive um professor que estudou com ela no Conservatório de Tblisi, ele diz que ela sempre foi assim. Pelas entrevistas que eu vejo, ela deve ser muito simpática. Mas o que importa é que toca piano como ninguém. E acaba de lançar um disco novo, Labyrinth, só com souvenirs. Peças que ela tocaria num bis. Vários pianistas lançam esse tipo de disco: Nelson Freire - Encores; Andras Schiff - Encores After Beethoven; Yuja Wang - Berlin Recital Encores; Denis Matsuev - Encores etc. São todos fantásticos, e têm a mesma proposta. Trazer peças conhecidas numa espécie de coletânea meio lounge. Mas o disco de Khatia é maravilhoso. Aos 33 anos (2020), ela já não precisa mais provar nada sobre sua técnica. Ela é a queridinha do mundo do piano, junto com Yuja Wang. Então, o disco é bem relaxado. O repertório me lembra a minha infância, porque tem peças que eu escutava a minha mãe ensaiando, como Les Barricades Mystérieuses, do barroco François Couperin; ou a Gymnopedie Nº 3, de Erik Satie. É um disco de clima, que inclui música de cinema: Deborah's Theme de "Era uma Vez na América", de Ennio Morricone; ou I'm Going to Make a Cake, de "The Hours", de Phillip Glass. Um disco desses, se fosse ter uma peça de Chopin, seria exatamente o Prelúdio Nº 4, em mi menor. Se fosse ter um Liszt, seria a Consolação Nº 3. E tem. De Rachmaninoff, temos a Vocalise, uma belíssima melodia que ele compôs tanto para orquestra quanto para piano solo. Temos ainda uma versão nada brasileira, mas muito musical da Valsa da Dor, de Villa-Lobos. Essa música dá arrepios. E Khatia toca com carinho. A mais estranha é 4'33'' de John Cage. Que consiste em 4 minutos e 33 segundos de silêncio. Não faz meu estilo. Muito monótona. (Na verdade, é mais uma declaração do que uma música. Depois escrevo sobre ela.) De Bach temos a Ária na Corda Sol (ou Ária na 4ª Corda), de sua Suíte Orquestral nº 3. Temos também a Badinerie, num arranjo curtinho que ela toca com sua irmã, Gvantsa Buniatishvili (também tocam juntas Pari Intervallo, de Arvo Pärt). O disco encerra com o célebre Adagio do concerto para oboé em Ré menor de Marcello, transcrito para piano por Bach. Podia ser mais um disco com nome misterioso e vago, mas sem substância. Afinal, o repertório é clichê, mas Khatia não faz concessões, não faz rubatos demais, não toca mais lento pra comover. Parece que você entregou uma partitura pra ela e ela lhe devolveu toda colorida. https://open.spotify.com/album/5YuoyZkNZRLYISzFh7cS7e?si=WCfGkFe9REelv3qaZke6WA
- Desenho Coisinhas #03
Por Lele Reis Curadoria de quadrinhos Nílbio Thé e Isabelle Prado. Lele Reis Meu nome é Lele, eu desenho coisinhas e não tenho interesse suficiente em mim mesma ou no meu trabalho pra dizer qualquer coisa além disso! :-D
- Great Pianists of the 20th Century
Em 1998 e 1999 a Philips lança o maior projeto fonográfico da história. A caixa Great Pianists of the 20th Century. Os discos duplos custavam, à época, exorbitantes 50 reais. Que na época valiam 50 dólares! Não me pergunte onde eu arranjava esses reais. Foi assim, escolheram 72 pianistas e os organizaram em 100 volumes. Isso porque, embora a maioria tivesse apenas 1 volume, alguns tinham 2, como a Martha Argerich, o Walter Gieseking e o Friedrich Gulda. Outros chegavam à marca de três volumes: Vladimir Horowitz, Emil Gilels, Sviatoslav Richter, Claudio Arrau, Alfred Brendel, Arthur Rubinstein... Eram 100 volumes duplos, ou seja, 200 CDs. E cada CD tinha cerca de 80 minutos, o que até então nós considerávamos impossível: sabíamos que os CDs tinham sido projetados para comportar 74 minutos de música (quando a Sony e o maestro Herbert von Karajan estavam idealizando o formato do CD, chegaram a esse número pensando na duração da 9ª Sinfonia de Beethoven). Eu e meu irmão passávamos horas discutindo sobre as gravações, algumas tão perfeitas que é difícil hoje achar iguais. Claro que, numa seleção de 72 não podiam caber todos os pianistas notáveis do século, e as ausências mais notáveis foram: Guiomar Novaes, Emanuel Ax, Philippe Entremont, Ferruccio Busoni etc. Mas era graças às inclusões que ficávamos sabendo de intérpretes do piano sobre os quais dificilmente ouviríamos falar de outro modo. Sofronitsky, Solomon, Bruk e Taimanov, Fischer, Friedman e tantos outros. Era difícil, na época, acharmos discos de Nelson Freire, por exemplo. Ainda mais Alfred Cortot. Aí veio a coleção e trazia não só gravações remasterizadas como, muitas vezes, inéditas. As lojas de disco tinham uma seção para música clássica, e nelas sempre tinha vários volumes. Havia aqueles que eram fáceis de achar: Argerich, Arrau, Horowitz, Nelson Freire; e outros que não achamos nunca. Tinha, na Amazon americana, a caixa com todos os volumes. Era 2.500 dólares. Ainda hoje, sempre tem lá. E pelo mesmo preço. Eu tenho 32 volumes, porque continuo comprando até hoje. Os outros eu consegui baixar, na época. Com os encartes e tudo. O que não me impede de comprar quando os encontro. As gravações que mais me chamaram atenção foram: Nelson Freire - Fantasia em Dó, de Schumann e das Terceiras Sonatas de Chopin e Brahms; Martha Argerich - Concertos para Piano Nº 3 de Rachmaninoff e Prokofiev e o Concerto em Sol, a Sonatina e Garspard de la Nuit, de Ravel; Michelangeli - os Prelúdios de Debussy; Horowitz: a Kreisleriana e a 3ª Sonata de Schumann; Gilels - a 8ª Sonata de Prokofiev; Weissenberg: os 3 Movimentos de Petrushka, de Stravinsky e as Estampes, de Debussy (na verdade, acabei de perceber que vou ficar o dia todo aqui, de modo que vou parar agora). Aconselho a você pesquisar sobre esta coleção e sair atrás de escutar algumas dessas gravações. Infelizmente os discos não podem ser encontrados no Spotify nem no iTunes, exceto alguns poucos. Mas os encartes, responsáveis por grande parte da graça, só se você compra-los no mercado de usados.
- Preconceito contra música clássica
É muito presente na nossa cultura a imagem do apreciador de música clássica ranzinza, arrogante, que se julga superior etc. Recentemente vi uma esquete no YouTube em que o ator interpretava dois personagens: um sujeito que tocava casualmente um jazz no piano; e um passante que o reprovava. Com fala pomposa e sotaque britânico, ele falava coisas como "academicamente incorreto"... Nos comentários, eu postei que quem gosta de música clássica mais sofria preconceito do que o praticava. Outro canal de YouTube que contribui para essa imagem, embora sob o pretexto de difundir a música clássica, é o do Lord Vinheteiro. Ele faz crítica feroz e, a meu ver, deselegante, da música pop, do funk etc. A nós, os divulgadores de música clássica, não cabe discorrer sobre os defeitos de outras músicas, mas mostrar e ajudar a apreciar os encantos da erudita. A imagem do playboyzinho, com blusa polo e casaco de lã em torno do pescoço, está mais próxima da de um jogador de golfe do que da de um músico. (E agora, eu mesmo fui preconceituoso.) O apreciador de música erudita é uma pessoa comum que, na infância foi apresentada a essa música e apaixonou. Ela é irresistível, porque é mágica, cria os efeitos mais impossíveis e nunca acaba. Você não esgota o repertório. Não, mesmo: para dar conta, você tem que se especializar - no meu caso, gosto principalmente de música orquestral e para piano dos séculos XIX e XX. Gosto também de música barroca e não curto muito ópera. Eu lembro que, na adolescência, eu praticamente precisava pedir perdão quando revelava gostar da coisa. Porque me lançavam um olhar de estranheza, misturado com respeito, misturado com falta de respeito, despeito... E, vejam, apesar disso, meu trabalho é com a música popular. A chamada MPB. Componho sambas, xotes, cantigas, baiões, valsas... E, como gosto de música erudita, meu interesse sempre foi deixar as minhas músicas mais instigantes. Mas não digo que esse seja o jeito correto de se fazer música. Vou deixar bem claro: eu considero a música erudita, em alguns quesitos, melhor que as outras (mas não há uma competição para saber qual música é "melhor" que a outra, e isso não é importante). O que eu não acho é que eu sou superior às outras pessoas por gostar dela. De fato, acredito que grandes seres humanos podem curtir a música mais pobre possível. Os metaleiros se orgulham muito da sua escolha musical e eu já vi alguns esculhambarem os "forrozeiros". Sem saber que a música que escutam pode ser tão simples quanto a outra. E não há nada de errado em uma ou na outra. Até a música erudita pode ser simples. E digo "pode" no sentido de "ter direito de", também. Não se peca por simplicidade. Agora, se você já soltou que música clássica é "elitista", vá lavar sua língua com sabão - eu aguardo. Amigo, já entrei em concertos da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), em São Paulo, por 30 reais. E tem dia de ensaio, quando a entrada é gratuita. Um abadá pro Fortal, festival de trios elétricos de música baiana aqui em Fortaleza, quando eu era pequeno, custava 1.000 reais, varrendo o resto da multidão pra "pipoca". Quer segregação maior? A verdade é que a desculpa do "elitismo" não cola. Seja qual for a música que você queira escutar, inclusive erudita, sempre vai poder. Tem concertos completos de virtualmente todo o repertório ocidental no YouTube. Mais democrático não se pode. No meu mundo ideal, as pessoas gostam do que quiserem, mas são, eventualmente, expostas à música clássica, com cuidado e sem preconceito. Sim, vou falar sobre o cuidado. Há quem diga que para ouvir música erudita, basta escutar. Não concordo. Precisa (ou ao menos melhora depois) de algum esforço, leitura sobre o assunto e interesse. Este último, se você tem certeza que não tem, melhor ficar no seu estilo, mesmo. É um gosto legítimo. O que não devemos é categorizar seres humanos com base em suas preferências musicais. Os músicos e amantes da música erudita são pessoas geralmente simples e amigáveis. Não tenha desrespeito por quem prefere uma música que exige certa dedicação. Seu medo de que essa pessoa lhe julgue fará com que você se torne o julgador.
- abajur #02
Quadrinhos autorais por Brida. Brida ''Abajur'' Vive e trabalha em Brasília. Procura observar o trânsito embolado dos pensamentos e explorar tragicomédias diárias através de tirinhas, animações, pintura e escultura.
- do que você realmente precisa?
Notebook, smartphone, tablet. Realidade virtual, inteligência artificial, big data, metadados e eu ainda não sei o que vou preparar para o almoço. Preparar é modo de dizer, porque o que eu faço mesmo é tirar uma marmota congelada do freezer e jogar dentro do microondas. Marmota é como chamo as marmitas low carb que comecei a consumir durante a pandemia. Ajusto o relógio para cinco minutos porque, como minha mãe, gosto da comida bem quente. O meu microondas é gigante e tem um monte de botões que eu nem sei para que servem. Minutos depois e a mágica acontece: já estou com o prato pelando na mão a caminho da sala. Aproveito a hora do almoço para ver Bordertown, na Netflix. Mulher, loira, entre 22 e 25 anos está em cima da mesa de inox. Três detetives estão ao redor dela, além do legista. Ele olha para telas de led full HD conectadas a computadores de última geração e, em questão de segundos, descobre não apenas o nome da moça, mas onde ela morava, a placa do carro e a última vez em que foi ao ginecologista. Dou uma pausa na série. Meu pai está ligando no celular. Ele é a única pessoa que me liga, se não levarmos em conta os robôs de telemarketing e das agências de cobrança. A primeira vez que mexi em uma máquina de escrever foi no escritório da empresa onde meu pai trabalhava. Lembro bem da mesa de reunião enorme, onde eu ficava teclando em uma Olivetti Lexikon 80, enquanto o Seu Oliveria vendia, por telefone, uma coisa chamada gelatina industrial que os cartórios usavam muito para copiar documentos em livros fiscais. A ligação foi rápida. Ele só queria saber se eu estava bem e se tinha colocado água no radiador do carro. Meu pai tem essa nóia desde que comecei a dirigir. A real é que são quase duas da tarde e eu tenho um "caos" às duas e quinze. Caos é como eu chamo os milhares de calls e afins que passei a fazer depois que entrei em home office. Funciona, mas o vídeo trava, o áudio buga e me pego imaginando que, daqui há alguns anos, alguém (provavelmente seu filho ou sua filha) vai te zoar forte, "como vocês conseguiam se comunicar com essa merda?" Temos essa mania de descartar o que aparentemente não nos serve mais, a comparar tecnologias de épocas diferentes sem atentar às suas funcionalidades. A pergunta é: do que você realmente precisa? Existe alguma outra coisa que substitua a simplicidade perfeita de um clipe de papel? Antes que você pense que estou aqui como arauto de uma contrarrevolução analógica, pode tirar seu iPad da chuva. Acredito que o analógio e o digital podem conviver juntos. Passado, presente, futuro só existem no nosso entendimento limitado do tempo. Quem viu Dark sabe do que estou falando. Uso um Macbook Pro e as minhas máquinas de escrever, tudo ao mesmo tempo agora e tá tudo bem. A primeira coisa que a minha sobrinha de 7 anos disse quando usou uma type pela primeira vez foi: "Tio, a gente digita é ela já imprime na hora, muito legal!" Verdade, Jujuba, que outro gadget faz isso, né? Jujuba é como eu chamo a Júlia, minha sobrinha. Sérgio Type Redator e escritor, apaixonado por macs, livros, discos, toys, pizzas e máquinas de escrever. Todos os meses estarei aqui para falar sobre comportamento, cultura pop e tudo o que envolve esse crossover mais que necessário entre o universo digital e a experiência analógica.
- Nunca houve silêncio
No inicio era o silêncio….e a música só existia ao vivo: longe de casa, nas tabernas, music halls e quando muito, vinda de algum filho ou parente que se aventurava a cantar ou tocar algum instrumento. E então veio o fonógrafo de Thomas Edison, um aparelho que podia reproduzir nas casas, 2 minutos de música pré gravada. Reza a lenda que Edison quase infartou quando finalmente o invento deu certo e pela primeira vez ouviu a própria voz recitando “Mary Had a Little Lamb”. Ele já vinha desde 1877 trabalhando no protótipo do fonógrafo: primeiro num papel com parafina e logo depois com os cilindros de cêra. O sistema funcionava com uma membrana que captava o deslocamento de ar que a voz produzia, vibrando uma agulha, que por sua vez riscava sulcos na cêra. A patente é de 24 de dezembro de 1877 e ali começava a história da indústria fonográfica. Após muitos anos de sucesso, os cilindros foram trocados pelo formato de disco, patenteados por Emile Berliner. Os discos eram mais fáceis de guardar do que os cilindros de cêra e a indústria imediatamente adotou a novidade. Estes discos eram também gravados originalmente em cêra, diretamente de dentro do estúdio com a orquestra tocando em tempo real. Depois o disco de cera era pulverizado com grafite e passava por um banho de galvanoplastia, que gerava a matriz positiva em zinco. A partir desta era possível prensar muitas unidades em goma laca….o famoso shellac 78rpm. Avance um pouquinho pro fim da segunda guerra mundial e o capitão do exército americano Jack Mullin, traz pros Estados Unidos uma máquina descoberta num bunker alemão que gravava magneticamente em um carretel de metal. Ficou claro então, como Hitler conseguia fazer seus pronunciamentos em rádios pela Alemanha nazista sem nunca ter conseguido ser rastreado pelos aliados. A qualidade de gravação era muito superior aos discos de cêra, e diferentes destes, numa transmissão de radio a voz gravada era indistinguível da voz real. De volta aos Estados Unidos, Mullin fez uma apresentação da máquina e imediatamente conseguiu financiamento do cantor Bing Crosby, que viu ali a possibilidade de espalhar seus programas de radio pelo país. Nascia a Ampex. Na chegada dos anos 50, o guitar extraordinaire Les Paul em parceria com a mesma Ampex, inventou o overdubbing, técnica que permitia sobrepor faixas de gravação em camadas, mudando todo o jogo. Do outro lado do Atlântico e uma década depois os Beatles levaram esse formato ao extremo nos estúdios da EMI. Os inventos de Edison e Berliner, a visão de Mullin e Crosby, o pioneirismo de Les Paul e a experimentação dos Beatles, nos permitiram um século de registros incríveis na música. Os grandes discos do jazz, os crooners, o blues rural, a descoberta do samba, a bossa nova, o nascimento do rock, as gravações remotas de Jack Lomax, os concertos por todo o mundo entre tantos outros….. milhares e milhares de quilômetros de sulcos com os maiores gênios da música do século 20, que tiveram suas performances registradas no auge da maestria. A incansável tecnologia analógica esteve por muitas tempo a serviço da música. Foram muitas décadas de aprendizado e aperfeiçoamento e muita manobra pra driblar as limitações que no fim virariam material afetivo: o pop do vinil, o hiss da fita, o wow and flutter, o pequeno número de faixas, a estreita faixa de frequências e etc. Depois da segunda metade dos anos 80, a tecnologia analógica virou obsoleta e foi aos poucos sendo abandonada pelas gravadoras. O CD chegou como a nova grande promessa e foi abraçado pelas multinacionais com sofreguidão. Os velhos tornos de corte de acetato Neumann e Scully eram jogados em alto mar pra que não virassem ferramentas na mãos dos piratas e os estúdios e estações de rádio apressadamente jogaram os velhos gravadores Ampex e Studer nos depósitos e nas caçambas de lixo. Todos queriam surfar na novíssima onda digital! Logo chegariam a MP3 e as Digital Audio Workstation e as próprias gravadoras seriam enfim jogadas ao mar. A partir do início dos anos 2000, todo quarto de músico adolescente tinha um computador com algum software de gravação pirata e todo mundo teve que se ajustar a esta nova realidade. O estúdio de gravação, antes um espaço exclusivo de gravadoras e grandes conglomerados, era agora acessível a todos. Discos e mais discos foram gravados, mixados, masterizados, distribuídos, sampleados e baixados. Muitas pérolas, artistas de talento, outrora ignorados ou oprimidos, eram enfim descobertos. Mas por outro lado, muito lixo digital era produzido e nós os porcos, inchávamos numa velocidade assustadora! Mas havia uma conta que não fechava: havia algo frio e esterelizado no som daqueles discos do começo da era digital e os ouvintes ainda continuavam se conectando mais intensamente com os discos antigos. Com os recursos de edição inesgotáveis e uma relação sinal-ruído nunca antes vista, os novos discos eram limpos e polidos quase a perfeição. E hoje, ainda em meio a esta revolução digital, com plataformas de streaming, distribuição mundial instantânea, albums gravados nos quartos e sistemas de gravação acessíveis, existe ainda um busca intensa pelo elemento mágico daqueles discos da era analógica. Os softwares de gravação tentam emular equipamentos antigos, novos equipamentos são fabricados a partir de projetos obsoletos e peças de época são disputadas a tapa e a peso de ouro. Na ultima década vivenciamos a retomada do disco de vinil, da fita magnética, uma explosão de novos estúdios de gravação analógicos pelo mundo e artistas jovens mergulhando na estética vintage, nos wurlitzers, hammonds, ampexes, válvulas e polaroides. E tudo pouco a pouco vai se embolando num fetiche interminável em meio a distopia orweliana que vivemos. O analógico vai se tornando de novo tão presente e genérico quanto o artesanal, passando de high tech a obsoleto a objeto de desejo em menos de duas décadas. Gourmetizamos até isso! Assim seguimos…. Algo obviamente se perdeu aí. A mágica não está nas máquinas…..a mágica está nas pessoas: em limitar o campo de ação, em restringir as ferramentas, em lidar com o tempo, com a urgência, com o espírito criativo, com trabalho em equipe, com o planejamento, com a imperfeição e com o silêncio. Mas eu aposto com você a minha cópia 180g do Kind of Blue-Miles Davis que a esta altura, Thomas Edison deve se revirar na tumba dizendo que na verdade nunca houve e nunca haverá silêncio. “…Minha liberdade consiste, portanto, em me mover dentro da estreita moldura que me atribuí para cada um de meus empreendimentos. Irei ainda mais longe: minha liberdade será tanto maior e mais significativa quanto mais eu limitar meu campo de ação e quanto mais me cercar de obstáculos. O que quer que diminua a restrição, diminui a força. Quanto mais restrições se impõe, mais se liberta das correntes que prendem o espírito.” Igor Stravinsky Anderson Guerra Mineiro com sangue italo-baiano, Anderson Guerra é guitarrista desde quando bandas ainda eram chamadas de conjuntos. Moldou seu cérebro na efervescência da guitarrada baiana dos anos 80 e ambiciona ainda possuir uma cópia em LP do “Melô do Corrupto”. Já se aventurou em videos, filmes, peças de teatro, instalações, shows de tudo quanto há e gravou mais discos que consegue se lembrar. Em 2008 montou o Bunker Analog, um estúdio de gravação sem computador. Desde então garimpa pelo mundo equipamentos de gravação obsoletos e dedica a maior parte do seu tempo à entende los e restaura los. A idéia deu tão certo que o estúdio hoje já possui um computador próprio e consegue gravar CD’s. Adora dormir depois do almoço e no fundo queria mesmo é criar cabras e galinhas.
- Wiki-índio: O jeito preguiçoso e abusivo de se envolver nas pautas indígenas
Diante dos crescentes ataques aos direitos das populações indígenas no Brasil, tanto em questões territoriais, culturais e de afirmação, também é crescente a militância de indígenas em diferentes frentes de atuação e as redes sociais se tornaram uma ferramenta crucial de visibilidade, denúncias de injustiças e, principalmente, de fortalecimento da identidade étnica que resiste nos tempos atuais. As redes sociais podem ser um ótimo expoente das questões indígenas, mas também abrem portas de diálogos muitas vezes exaustivos e sem propósitos baseados numa curiosidade sem respeito e empatia. Existem diversos perfis de pessoas físicas e de comunidades indígenas nas redes sociais onde, na sua maioria, servem como um canal de comunicação e fortalecimento em rede, buscando trocar e levar informação dos mais diversos campos - saúde e educação, arte e cultura - e produção de conteúdo específico sobre nossas vivências e realidades, na tentativa de levarmos de fato o nosso lugar de fala a quem queira conhecer a história pela narrativa de quem a vive. Hoje levantamos vários debates para além de demarcação e violação de direitos, levantamos a importância do bem viver e o respeito às diferenças, que são muitas, entre os povos e suas culturas, coisa que para pessoas não indígenas chega a ser uma surpresa: se deparar com as variedades e as complexidades dos mais de 305 povos que ainda resistem em solo brasileiro. Diante de tanta diversidade e tanto assunto “novo” sendo amplamente divulgado e fomentado nas redes sociais, o interesse de não indígenas por perfis indígenas crescem de uma forma bastante expressiva. Para além do interesse nas questões ambientais e climáticas, nossas culturas, costumes e tradições também são de interesse de simpatizantes da causa indígena, o que, para nós, é um grande avanço, exceto quando esse interesse vem acompanhado por pensamentos e posturas colonizadoras, onde não indígenas se sentem à vontade para abordarem esses perfis como forma de descolonização instantânea e imediata, como se seguir perfis indígenas fosse o suficiente para somar de verdade com as pautas levantadas por nós. Claro que acompanhar nossas narrativas é um grande passo em busca de fortalecer nossas populações, mas o problema não está em acompanhar, está em fazer de um perfil na rede social sua principal fonte de informação e de aprendizagem, usando o direct, caixa de mensagem e privado como se o indígena que está do outro lado fosse obrigado a dar uma aula particular sobre questões indigenistas a qualquer hora do dia e qualquer dia da semana. Eu, por exemplo, administro o Instagram Povo Pankararu, no qual levanto questões sobre meu povo, desde a exaltação e valorização de nossa cultura e tradição até nossas lutas pela garantia e afirmação dos nossos direitos e denúncias de ataques como os incêndios criminosos ocorridos em outubro de 2018, logo após o segundo turno da eleições presidenciais. Iniciei o perfil principalmente como meio de denunciar os constantes ataques que meu povo vinha sofrendo por posseiros e as violências racistas na região até os desmontes estruturais governamentais que atormentam todos os povo indígenas dos país, assuntos pesados e de muita dor para serem levantados constantemente. É notável como a tragédia sensibiliza muito mais que a beleza existente nos povos, então comecei a publicar nossos rituais, danças e contar um pouco mais sobre nossas crenças, religiosidade e hábitos numa tentativa de valorizar também o que é belo. Percebi que parentes de outros povos se inspiraram no perfil e começaram a criar perfis de seus povos e exaltarem suas tradições, assim como crescia nossa representatividade nas redes sociais, também crescia o interesse de não indígenas em querer aprender mais sobre, mas de uma forma muitas vezes abusiva. São constantes as mensagens na minha caixa de entrada de pesquisadores, repórteres, estudantes, professores e curiosos para tratar dos mais diferentes temas e as mais diversas demandas, desde “ajudar” em criações de teses acadêmicas até perguntas desnecessárias do tipo “em que estado fica o território”, “vocês são índios de verdade? Não sabia que tinha índio no Nordeste, só na Amazônia.”. Esse tipo de abordagem parece inocente pra quem escreve, mas é uma agressão para quem recebe. A forma como nos dirigimos a pessoas que vivem uma realidade e uma cultura diferente da nossa deve ser feita com o mínimo de respeito. Pesquisadores que usam nossos conhecimentos ancestrais para desenvolver teses acadêmicas que nunca chegam de fato ao conhecimento geral dessa população não fazem nada mais do que se apropriar de forma injusta em benefício próprio, ou seja, colonizadora. Repórteres que procuram perfis indígenas para desenvolver matérias, que nos procuram com tom de urgência pela notícia, com tom de estar nos fazendo um favor em colocar essa história em seus jornais e sites, que não respeitam ao pé da letra a forma que colocamos nossas histórias e sempre colocam suas opiniões e conclusões pessoais sobre um assunto que não é do seu domínio, estão usando uma abordagem colonizadora. Muitas vezes fico sabendo por terceiros sobre matérias e reportagens produzidas sobre o meu povo nas quais o repórter não se dá nem ao trabalho de nos enviar a matéria concluída. Essa postura de achar que estamos nas redes sociais à disposição para saciar as necessidades de quem quer trabalhar o tema, é o que costumamos chamar de wiki-índio, que nada mais é que fazer uma pesquisa com um ou mais administradores desses perfis como se fôssemos uma caixa de busca de informação. São muitos estudantes, desde o ensino médio ao ensino superior, que nos acionam como fonte para seus trabalhos e chegam até nós sem ter feito o mínimo, como pesquisar onde estamos localizados geograficamente. Propostas de projetos e pesquisas são constantes, mas quando digo que somos um território no sertão de Pernambuco, a desistência... “Não sabia que era tão longe... Mas você pode indicar mais alguém?”. Quando não, pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro, dos mais diversos estados que procuram páginas de indígenas que estejam em destaque, mas não conseguem olhar para as questões indígenas que estão ali, do lado, na sua cidade, no seu estado. É muito mais eficaz procurar somar forças com as populações que estão mais próximas de seus campos de atuação do que traçar uma cruzada pelo país por uma população mais distante. Parece até que quanto mais difícil, maior a satisfação em se trabalhar o tema. Existe uma síndrome de bem feitor que é perpetuada no imaginário coletivo, onde não indígenas em nome do “quero poder ajudar” acaba sugando tempo, conhecimento e energia de indígenas que estão em constante batalha e, no fim, essa “ajuda” não passou de um alimento pro ego e pra curiosidade alheia. Não quero dizer com isso que não queremos pessoas não indígenas entrando em contato com nossos perfis, pelo contrário, queremos cada vez mais fortalecer nossas redes e somar mais parcerias em nome do bem viver de nossas populações. O que quero levantar é como, de fato, podemos nos ajudar de forma objetiva, clara, concreta, sincera e real. Abordar um perfil pra uma mensagem de apoio, de fortalecimento e encorajar nossas lutas é muito importante, abordar nossos perfis pra matar uma curiosidade que seria resolvida com uma busca no Google, não. Buscar parcerias, propor matérias, lives, pesquisas pela rede social sem antes fazer um pequeno dever de casa, sem antes olhar ao redor e tentar enxergar realidades mais próximas, é perpetuar uma postura de invisibilidade a quem está perto, pesquisar um pouco antes é um exercício real de otimizar nossas forças, tanto a força de quem se propõe a ajudar as causas indígenas quanto a força daquele indígena que, muito provavelmente, já tem suas próprias demandas e projetos fora das redes e, por último e não menos importante, sempre que possível remunerar o conhecimento de quem está lhe fornecendo, afinal, visibilidade não paga boleto e nosso tempo não tem preço, mas pode ser sim valorizado como um trabalho. Antes de abordar um perfil indígena, é importante ter a consciência que a rede social é uma ferramenta de luta e visibilidade, onde, por trás de cada perfil, existem homens e mulheres, mães, pais, profissionais, que não vivem de redes sociais, não são militantes de internet e não estão à disposição a qualquer momento, para além da internet. Estamos em constante militância pelo simples fato de existirmos e resistirmos há 520 anos de invasão, violências e violações de direitos primários. Estamos em estado de luta e esperamos de verdade que cada vez mais os não indígenas somem forças conosco, mas somar forças de forma respeitosa, não absorver um conhecimento que não levará a nenhuma mudança real. BIA PANKARARU atualmente é técnica em enfermagem de saúde indígena no Polo Base Pankararu, além de produtora cultural e militante LGBT indígena.
- Strange days: a enigmática capa do the doors.
Em 02 de Outubro de 1967, apenas oito meses e meio após o lançamento de seu primeiro álbum, veio ao mundo pela Elektra Records a segunda obra do The Doors, Strange Days, e sua capa peculiar. Ela foi fotografada em Sniffen Court, que é um dos menores distritos históricos da cidade de Nova Iorque, originalmente projetado como estábulos para serem abrigos para carruagens, construídos por John Sniffen, entre os anos de 1863 e 1864. Com o passar do tempo e a redução da necessidade de construções com essa finalidade, os estábulos de Sniffen Court passaram a ser modificados para se tornarem habitações e escritórios. Capturada por Joel Brodsky, a imagem foi inspirada no filme circense “La Strada”, de Frederico Fellini (que no Brasil recebeu o título A Estrada da Vida) lançado em 1954 , após Jim Morrison se recusar a fotografar para ela. Então Joel reuniu alguns artistas de rua de uma região próxima a East 36th Street, em Manhattan, local onde fica Sniffen Court. E o que temos é a bela capa de Strange Days. Uma curiosidade é que se não prestarmos a atenção, pode passar despercebido que o nome da banda e do álbum estão ali, abaixo do braço do homem em primeiro plano, e que também a mesma imagem se repete na contra-capa. Também é curioso que a fotografia que ilustra o nome da banda, onde estão os quatro integrantes, é a mesma da contra capa do primeiro álbum dos Doors. Abaixo deixamos o trailer da versão restaurada do filme de Fellini. E, claro, o clipe oficial de Strange Days. Gostou desse texto? Então que tal olhar o texto de estréia do Leandro com umas curiosidades altamente peculiares sobre Chopin . Seu interesse é rock? Quer ver o que mais tem sobre isso aqui na arara? Então... Será que você já viu esse sequência de TOP 10 de rock que começa aqui ? Leandro Krindges Técnico Químico de profissão, licenciado em Biologia por paixão, fã de Foo Fighters à Belchior e de tirinhas, especialmente Peanuts. Sempre teve curiosidade em saber o que se passava por trás das músicas, e essa busca se tornou um hobby. Tecladista da Banda Villa Rock, arranha também um violão e guitarra. Aprendeu a gostar de ler depois do Kindle.
- Papo De arara: Yandra Lobo
Colaboração: Adriano Caetano Yandra e Neto eu conheci na escola. Não na minha escola onde podemos dar a sorte de fazer amizades para toda a vida. Mas na escola dos meus filhos, porque é também a escola dos filhos deles. Na escola em questão, o "Uniforme" é apenas uma discreta camisa que é vendida em várias cores com o nome da instituição bordado. No mais quase tudo pode. Menos roupa com personagens midiáticos. Ou seja, roupa com um "tema" como diz a pequena coleguinha ou ainda, roupa de "episódio" como diz o meu caçula. Numa dessas ele veio me reclamar que Raul sempre ia de episódio, de personagem. E percebi que Raul sempre ia com uns vestidos coloridos e muito lindos e tive que explicar numa linguagem infantil que aquele "personagem" não era midiático, mas completamente autoral. Teve pai que reclamou e tirou a filha da escola. Mas Raul seguia impávido (ou impávida) com seus vestidos e combinações ousadas. E cada vez mais lindo. Conversei com Neto e ele disse que era perfeitamente possível fazer uma entrevista com ele e com Yandra. Mas como ele acabou ficando isolado da família num quarto separado por ter contraído Covid-19, Yandra assumiu sozinha a tarefa de responder às nossas perguntas por questões de praticidade mesmo. Muitas pessoas falam sobre questões transgêneras na mídia, mas bem poucas com conhecimento teórico da causa e menos ainda com uma vivência prática intensa da questão. Então, nessa conversa a gente vai mostrar um pouco da rotina dessa família incrível a partir da história de Raul e de sua mãe e de seu pai. 1) A partir de quantos anos vocês perceberam que tinham uma criança trans?! Para responder a esta pergunta considero necessário deixar claro o que vamos tomar por TRANSGÊNERO. Depois de muito estudar e escutar, compreendemos que o termo transgênero é, como dizem, um "guarda-chuva" que engloba formas de existência distintas da chamada cisgeneridade (quando há conformidade entre o gênero atribuído no nascimento e o sentimento da pessoa sobre si mesma). Enxergamos os primeiros sinais de transgeneridade em Raul mais fortemente quando chegar à escola e tirar a própria roupa para trocar pela saia da sala passou a ser um hábito. Foi quando atentamos para a recorrente escolha dele em "atuar" em suas brincadeiras como "princesa, bailarina"... Usualmente elegendo papéis associados socialmente ao feminino. Sempre tivemos disponíveis em casa os ditos "brinquedos de menina": bonecas, etc... Nosso mais velho sempre brincou numa boa. Talvez por isso não nos chamou atenção a preferência de Raul. Ele tinha 4 anos quando tudo isso veio meio que junto, com a sua fala mais articulada e inteligível. Frases como "Eu quero ser menina" e "Eu posso ser menina" passaram a ser uma constante. 2) Como Raul gosta de ser chamado? Algum pronome ou gênero preferido? Quando tudo isso começou, tinhamos muito forte dentro de nós o modelo binário (homem-mulher) como referência. Pensamos que, se ele se sentia menina, ele não era menino, e teríamos uma longa viagem pela frente. Atravessar um pólo pra chegar até o outro... Isso nos gerou muitas dúvidas, muito sofrimento, muita angústia. Associamos a ideia de ser trans a dor, medo, sofrimento e desrespeito. Isso é automático. Vemos isso nos olhos de nossos familiares, de nossos amigos. Entretanto, depois de reparar com cautela e lançar mão de leituras e consultas com profissionais excelentes, fomos percebendo que Raul poderia EXPERIMENTAR ser menina. Ressalto essa palavra aqui pois ela é fundamental em nossa trajetória. Por eleger essa narrativa para que nossa família e nosso filho se compreendesse, optamos por usar uma linguagem mista: Utilizamos preponderantemente os pronomes masculinos por termos nos acostumado assim desde que Raul nasceu. Mas temos uma atenção para sempre que possível usar uma linguagem sem marcadores de gênero. Importante: SEMPRE que Raul fala de si no feminino nós acompanhamos... Eventualmente já falamos no feminino de cara... Quando sente necessidade ele nos corrige. Ano passado, surgiu o nome MALU. Um dia ele pediu pra ser esse o nome dele. Respondemos dizendo que por enquanto o nome dele continuaria sendo Raul ainda mas que Malu seria um lindo apelido. Sendo assim, Raul hoje muitas vezes se apresenta como RAUL MALU. Nossa intenção é a de que Raul compreenda as inúmeras possibilidades para além de "ser homem ou ser mulher" em sentido estrito. Por isso optamos por seguir misturando nomes e pronomes. EXPERIMENTANDO. 3) A escola é um espaço de formação que muitas vezes reproduz homofobia e transfobia. Como foi o diálogo de vcs com a escola? Vcs acham que Raul se sente acolhido? Eu reescreveria esta frase assim: "A escola é um espaço de formação que SEMPRE reproduz homofobia e transfobia". É necessário partir dessa ideia para pensar e construir espaços mais saudáveis para as crianças e adolescentes LGBT. Nosso mundo se organiza em torno de um mundo homofóbico e transfóbico estruturalmente e a escola desempenha o papel de reprodutora desse mesmo modelo. Tomar consciência disso não nos exime de reproduzir também (inclusive nós, mães e pais engajados) práticas que alimentam esse modo de viver. Vou dar um exemplo: Quando supomos, ao pegar uma criança no colo, que, por possuir um pênis, ela será MENINO, - e aqui pegue o combo completo do "ser menino": gostar de brinquedos assim, comportar-se assado, namorar no futuro pessoas do gênero tal, etc, etc... - o fazemos sem pensar... é automático. É urgente, portanto, fomentar o costume de estranhar "o que todo mundo aceita", "o que é normal". Eis o papel da escola! Uma pena saber que instituição alguma implementa efetivamente isso que seria, de fato, revolucionário: questionar a heteronormatividade de dentro... Contar pra esses meninos e meninas o tanto de possibilidade que existe de ser e existir nesse mundo... VOLTANDO À PERGUNTA: Nossos filhos estudam em uma escola de pedagogia "alternativa". Tivemos sorte de ter como professora uma mulher incrível, disposta a olhar para Raul por cima do muro das respostas fáceis. Ela foi fundamental desde o momento em que virou pra gente e disse "Cês tão vendo que só cresce, né!?". Com ela, construímos dentro da sala uma verdadeira comunidade. Decidimos, Neto e eu, não fingir que nada estava acontecendo nem "enfiar goela abaixo" das pessoas. Nos empenhamos em conversas recorrentes com todas as famílias para explicar nosso filho, explicar esse "mundo" desconhecido por todos nós (habituados ao feijão com arroz da vida heteronormativa). Num momento seguinte, ao perceber que isso era um assunto desconhecido e tabu em qualquer escola, mesmo na nossa, decidimos solicitar uma reunião com o Conselho Pedagógico. Lá fizemos uma apresentação sobre as bases para um mínimo entendimento sobre as diferenças de terminologias e "classificações"... Nossa postura é, repetidamente, a de negar véus e armários. Raul ainda está na Educação Infantil e sabemos do longo caminho que temos pela frente. Eu diria que Raul não se sente acolhido. Pois, para isso, ele teria que ter se sentido mal em algum momento na escola. Ouso dizer que isso não ocorreu. Conseguimos, com a amizade e generosidade de muitas pessoas, construir uma bolha de segurança e amor para Raul. Ser menina é uma característica de Raul semelhante à cor de seus cabelos para as crianças que convivem com ele. E isso é massa demais de ser visto. ATENÇÃO: há, claro, episódios pontuais de "você tem pinto", "você não é menina de verdade". CLARO! Mas a habitualidade da normalidade enxergada nele é muito maior... era isso que eu queria contar. 4) Gostaria de fazer uma pergunta, de certo modo complementar à anterior citando o filósofo trans espanhol Paul B. Preciado “Para acabar com a escola assassina, é necessário estabelecer novos protocolos de prevenção da exclusão e da violência de gênero e sexual em todos os institutos e escolas.” Esta frase é do livro um Apartamento em Urano, Crônicas da Travessia. Mais especificamente do capítulo chamado Uma escola para Alan onde ele narra a morte de um adolescente espanhol um dia após o natal. Alan, foi o primeiro a ganhar o direito a mudar de nome socialmente, mas isso não impediu que a escola tivesse um papel nocivo e determinante em sua morte e, a partir daí, Preciado faz toda uma análise das estruturas sexistas tradicionais das escolas. Na perspectiva de vocês esses “novos protocolos” mencionados por Preciado estão sendo criados? Quais seriam eles? Nós elegemos um modelo do ser humano perfeito: homem-cis-hétero-branco-capaz fisica e intelectualmente. Tudo que destoa disso é, explicitamente ou implicitamente, menosprezado nas escolas. Minha resposta parte da observação das escolas que conheço particularmente: Não vejo novos protocolos sendo criados organicamente nos espaços escolares... me refiro a construções nascidas de intenções pedagógicas próprias, sabe!? De reuniões específicas, partindo de observações francas. Acontece que falar disso toca em armários internos nossos. Bell Hooks fala disso num texto em que discute educação sexual. Ela fala que esbarramos na nossa vergonha e medo de falar de nós mesmos, adultos, educadores. Concordo com ela. Em termos jurídicos, há algum avanço pontualmente: legislações que obrigam as escolas a respeitar e usar o nome social... essas coisas... Vejo como muito importante falarmos dos banheiros. A divisão sexista que a arquitetura faz nos espaços escolares (e mais que eles) ofende e constrange muito. 4) Em algum momento vocês procuraram ajuda de uma psicóloga? Ou de um grupo de apoio, por exemplo, o movimento "mães pela diversidade"? Tivemos consultas pontuais em psicológa e psiquiatra incríveis. Elas nos ajudaram em momentos tensos e angustiantes. Foi fundamental na conquista de confiança e conhecimento da gente. Já o Mães pela diversidade, é um capítulo à parte: a força do encontro, a potência do estar junto e se mostrar... ouvir histórias distintas, sentimentos distintos, opiniões distintas... e permanecer junto por um propósito: expandir os horizontes de nossos filhos. A força de ouvir sobre os outros e falar sobre si é muito menosprezada, infelizmente. Deveríamos sempre buscar quem vive algo parecido com a gente... é uma troca de pura generosidade: você colhe ao mesmo tempo que oferta. 5) O que vocês passaram a estudar e a fazer para encontrarem a melhor forma de acolher e compreender Raul? Neto nasceu pra ser pai de Raul. Veio pronto! Nunca se desesperou e sempre me disse que ia ficar tudo bem. É impressionante a sabedoria e sensibilidade que ele tem intuitivamente. Já eu, medrosa e ignorante, tive que comer muito pirão pra chegar num ponto que me fez mais forte: saber que Raul não está fadado ao sofrimento. Que a sua vida é e pode continuar a ser maravilhosa. A primeira leitura que lampejou isso dentro da gente foi o capítulo sobre transgêneros do livro Longe da árvore, de Andrew Solomon. A introdução do mesmo livro também. As leituras de experiências transgênero foram importantes para compreender as variações de entendimentos e sentimentos, bem como a diversidade dentro mesmo da categoria trans. Livros como Vidas trans e Se eu fosse pura (ambos livros de Amara Moira). Leituras clássicas a respeito do tema sexualidade foram fundamentais para questionarmos em definitivo o padrão binário e considerar a fluidez como algo intrínseco à infância. O que fazemos, ao silenciosamente ensinar a heteronormatividade, é negar possibilidades às crianças. 6) Algumas obras de arte como o romance Orlando, de Virgínia Wolf (com uma adaptação cinematográfica excelente de Sally Porter estrelada por Tilda Swinton) ou o filme Tomboy, de Céline Sciamma, de 2011 retratam personagens que transitam entre os gêneros. Outra obra muito interessante e divertida é a série animada infantil SheZow que conta a história de um garoto que vira super-heroína por acaso num momento de disputa com a irmã e acaba gostando e adotando a identidade superpoderosa. Existem também, ainda poucos, mas cada vez mais numerosos, jogos de videogame no estilo RPG que falam de temáticas específicas do universo LGBT... Não sei se vocês conhecem essas obras, mas a pergunta em especial é: alguma obra de arte específica ajudou vocês (ou ainda ajuda) nesse processo? Ou ajuda Raul com a questão da representatividade? Lamentamos demais a ausência de uma produção voltada ao público infantil que tenha personagens fugindo da lógica binária. Sentimos muita falta disso, na verdade. Existe aqui (Fortaleza), entretanto, um coletivo chamado As travestidas. Raul é encantado pela Mulher Barbada e pela Giselle Almodóvar (que é também Silvero Pereira). Com elas, conseguimos mostrar pra Raul (e pra Bernardo, nosso mais velho) que tem muitos jeitos de ser.... e que experimentar é o melhor jeito de saber se gosta... 7) Como vocês protegem Raul da discriminação? Com quais recursos vocês contam? Por enquanto, nossa maior proteção é saber que ele tem apenas 6 anos e tá debaixo de nossa vista a todo momento. Nossos filhos não têm acesso livre a telas e conteúdos digitais, sendo assim, ainda sabemos o que eles vêem e ouvem na maioria das vezes. Sobre o convívio no mundo, vivemos algo super louco: ao mesmo tempo que construímos esse lugar seguro para eles, sempre aparecerá alguém novo... já percebemos que isso intimida um pouco Raul (a mim também, preciso confessar) mas estamos sempre por perto... ou tem sempre alguem em quem confiamos muito por perto. Este ano entrou um menino novo na sala. Ele dizia que Raul não era menina de verdade... ele ficou bem triste e nos contou. Respondi que ele é sim uma menina de verdade e que não é o fulaninho quem decide isso. Nessas horas, enfatizo que tem gente que vai dizer muita besteira e que dói mesmo... mas que ele precisa nessa hora lembrar de todo mundo que o ama. Lembrar que ficamos tristes com coisas que os outros fazem é uma das coisas que dizemos... Vai ter muita merda ainda, a gente sabe... A gente quer proteger ao máximo enquanto podemos, sabe!? Mas damos as pistas do que vem por aí. Vai ter muita belezura também! 8) Qual o recado vcs deixam para os país que estão passando o mesmo que vcs?! A VIDA DE SEU FILHO NÃO PRECISA SER UMA TRAGÉDIA COMO REPETEM!!! PROCUREM PESSOAS QUE VIVEM SITUAÇÕES COMO A SUA!!!! Procurem o Mães pela diversidade e coletivos/ongs semelhantes que existirem por aí. Abaixo deixamos dois vídeos que Raul ganhou de aniversário das artistas/personas que admira bastante: Mulher Barbada e Gisele Almodóvar de Silvero Pereira. Mais uma vez agradecemos Yandra por ter cedido seu precioso tempo para conversar com a Arara Neon e agradecemos também a você, que leu tudo isso até aqui! Até a próxima!
- O home office
A ideia era trabalhar na rede. Sim, tem a rede de computadores envolvida, claro, mas na rede mesmo, herança dos nossos ameríndios que se preocuparam em ensinar os portugueses a fazer uma rede antes do genocídio começar, enfim. Mas uma rede é apropriada ao trabalho? Pensemos, a gente gosta de inovar. Uma rede, mas SEM o travesseiro. Ela fica desconfortável na medida certa, porque não fica confortável o suficiente para dormir, mas não fica tão incômoda a ponto de não se conseguir usar o computador e ver todas as planilhas novas. Então a rede, nessas condições, deixa a gente num estado mínimo de alerta. E mais uma vantagem: se levantar da rede é mais trabalhoso que levantar da cadeira. Então a gente pensa duas vezes antes de levantar da rede, ainda mais quando é necessário, concomitantemente ao movimento de levantar que exige o corpo todo em ação síncrona (porque a bunda da gente tá afundada na rede) com o movimento de levantar o computador das pernas. Se é mais difícil levantar a dispersão é menor, porque a gente não pode se dar ao luxo de ir fazer xixi toda hora, de ir beber água ou fazer a pausa do café a todo instante. A gente tem que sentar para ficar, uma relação séria, a gente e as planilhas. Sim. A rede na verdade, uma e meia da tarde era um troféu. Ficar frente a frente com as planilhas era um troféu. Troféu porque foi com muito custo que conseguiu o emprego novo e agora as planilhas estavam ali. No home office da quarentena. Tinha que mostrar serviço, mas existe o serviço básico que uma casa exige para continuar funcionando enquanto casa, enquanto lar. O metabolismo basal doméstico, digamos. Depois de passar boa parte da manhã ajudando meu filho mais velho com a tarefa doméstica, varrendo a casa e passando o esfregão, vamos ali fazer o almoço. A gente concentra, pensa, vai fazer o quê? Melhor lavar a louça antes. Lavamos. Olha o tempo, a esposa vem almoçar meio deia e quinze. Ela tem que entrar sentindo o cheiro da comida. Mas e as planilhas do emprego novo? Calma, vai dar certo. Vamos picar os legumes. Refogar o alho, fazer o almoço completo. Fez tudo? Ótimo. As crianças reclamaram que tinha cebola. A louça foi lavada. Não, não foi, quer dizer, foi, mas não tudo, só o mínimo necessário. Sabe aquele filme da bolha assassina? Um monstro alienígena que não para de crescer. Então. Era isso. Mas com louça. A louça assassina. Não esquenta, respira. Vive o momento presente e agradece a Xangô, Buda e até a Ganesha de quem a gente não é adepto, mas não custa nada, o fato de não ter roupa para estender. Não é à toa que uma parte da pauta política de muitas mulheres é o reconhecimento do trabalho doméstico não reconhecido e não remunerado. Claro que a gente sabe que tem muito mais coisa envolvida, mas se fosse só o trabalho doméstico, ainda assim já era motivo de sobra para a fogueira de sutiãs. A vontade que a gente tem é de queimar a cueca. Mas a gente fez ou tentou fazer tudo e está ali com o troféu da gente: as PLANILHAS DO EXCELL! O primeiro enigma é porque 6 arquivos para a gente extrair todas as informações? Aparentemente é o tipo de coisa que a gente sempre pensa que é informatizado, mas não é. É que nem o trabalho daquela amiga da gente que consiste em separar os cheques sem fundo no banco. Você já parou para pensar como sabe que o cheque é sem fundo? O computador analisa os fundos e devolve? NÃO! São pessoas. “Vocês não acreditam em quem eu vi hoje! Sim, a fulaninha passou um cheque sem fundo hoje...” , pois é... E uma dessas pessoas que analisa os fundos dos cheques é essa amiga da gente. Mas foca então, concentra que as planilhas estão ali, e mais três relatórios que vão fazer você criar mais um relatório e mais uma planilha, mas essas, sim, serão definitivas como o retorno do cheque sem fundo ao emissor (ou emissora) para que os fundos sejam restituídos. Calma, concentra. A questão toda é a conjuntura. Ah!, a conjuntura de um lugar que é mais home do que office. E a consequência disso é que você nem consegue ser um bom pai, nem um bom dono de casa nem um bom mexedor de planilhas. Ao menos sem perder a sanidade mental. Porque isso tudo junto ao mesmo tempo agora cansa. E muito. Mas você se concentra. Concentra muito. E finalmente as planilhas ocupam lugar de destaque no seu cérebro. E justamente quando linhas e colunas começam a fazer sentido a porta abre. Era a hora da pipoca. O que pode ser mais importante que uma pipoca? Como os filhos da gente tinham ficado sem pipoca um dia antes a gente fica com peso na consciência e vai fazer a pipoca. Respira. Olha como é zen isso de fazer pipoca, o caos, os milhos, a transformação. Zás! A iluminação. Pipocas brancas, salgadas e que logo se amarelam ao contato com a manteiga derretida. Voltamos ao escritório e entramos novamente na rede. As linhas, as colunas, os números dentro das linhas e colunas. Estamos entendendo tudo. A porta se abre. Está na hora do nescau. O que pode ser mais importante que um nescau? Gostou da crônica? Tem outra do mesmo autor sobre essa mesma quartentena aqui.
- + Top 10 Obras Orquestrais extra categoria
A segunda lista de uma série sobre peças sinfônicas que não se enquadram nas categorias de Sinfonia, Abertura ou Concerto. É parte de um Top 30 ou até Top + de 30. A outra lista está aqui. Acredite, você vai gostar de cada uma dessas peças. Se puder, leia um pouco sobre as obras - se bem que é pra isso que eu faço a lista. Deixo, como sempre, uma ou mais recomendações de gravação para cada peça. Não estão em nenhuma ordem de preferência ou de qualidade. Gustav Holst (1874 - 1934) - Os Planetas (The Planets) (Suíte Orquestral) (1916) (Suíte Sinfônica) Gustav Holst foi um compositor inglês dos mais importantes do século XX. E a sua obra mais conhecida é a suíte Os Planetas, de 1916. Eram 8, na época, mas ele excluiu a Terra, de forma que a suíte tem 7 movimentos. Depois que descobriram o nono, alguns compositores tentaram incluir seu próprio Plutão como um epílogo. Muito depois da morte do compositor, vem Neil DeGrasse Tyson e rebaixa Plutão a planeta anão. Ou seja, a suíte volta a ficar certinha. Os movimentos têm o nome de um planeta e um subtítulo que remete à sua personalidade astrológica (mas de acordo com Holst). São eles: Marte, O Mensageiro da Guerra - movimento bem bélico e viril (óbvio), em tempo 5/4. Esse planeta, mais que os outros, serviu de inspiração para, por exemplo, a trilha sonora de Star Wars (assista a esse vídeo elucidativo do Max Valarezo sobre as influências de compositores eruditos na música de John Williams). A orquestração é magistral, ainda que dada ao espetaculoso. É furioso e acaba de maneira muito eloquente. Vênus, O Mensageiro da Paz (7m16s) - música muito contemplativa e bela. Simples e certeira. Mercúrio, O Mensageiro Alado (15m10s) - o Scherzo do grupo. Movimento ligeiro e brincalhão, com belas combinações de instrumentos. Júpiter, O Mensageiro da Alegria (18m59s) - Júpiter é o mais conhecido deles. É música que para mim remete mais triunfo do que alegria. Saturno, O Mensageiro da Velhice (26m45s) - movimento sombrio, Holst sabe criar um clima. Urano, O Mágico (35m33s) - começa ameaçador, com uma pequena frase nos metais que é muito conhecida. É vagamente ameaçador e tenso, mas logo se torna mais aliviado. Netuno, O Místico (41m23s) - geralmente os finales são músicas mais pra cima, pra tudo acabar bem. Mas Holst resolve acabar soturno, carrancudo, místico. Nesse movimento ele emprega um coro feminino, que dá um ar ainda mais etéreo. As últimas notas vão morrendo até o silêncio. Holst não tinha uma personalidade dada a escrever música de efeito, ele gostava mesmo de escrever para bandas militares. Mas a suíte Os Planetas mostra que ele sabia ser bem inglês e criar música empolgante. Gravação recomendada: Orquestra Filarmônica de Bergen (Bergen Philharmonic Orchestra), regente: Andrew Litton Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) - Bachianas Brasileiras Nº 3 (1938) As Bachianas Brasileiras são 9 peças para as mais diversas formações compostas ao longo de muito tempo por Heitor Villa-Lobos. Nelas, Villa emprega um tipo de criação melódica e de estruturação harmônica que lembram muito a música de Johann Sebastian Bach. Dessa mesma veia é a música de Frédéric Chopin, de Ernesto Nazareth e dos chorões dos anos 20 no Brasil. Podemos encontrar essas características, ainda, na própria música folclórica brasileira ("Se Essa Rua Fosse Minha", "Terezinha"...) As 9 Bachianas não foram feitas para ser tocadas juntas. Até porque algumas empregam uma orquestra inteira, outras apenas 2 instrumentos etc. Tenho várias favoritas, como a 1ª, a 2ª, a 6ª. Mas as de que gosto mais, portanto posso falar com mais propriedade, são a 3ª e a 4ª. E, nessa lista, falo da terceira, a mais mais favorita. Escrita para piano e orquestra, ela tem 4 movimentos. Não é um piano incorporado à orquestra: é um piano solista, que fica na frente da orquestra, o que faz da obra quase que um concerto para piano. Os movimentos são: Prelúdio (Ponteio) - um movimento típico de Villa-Lobos, exuberante, de orquestração grandiosa, ainda que, às vezes, confusa. Fantasia (Devaneio) (7m10s) - um belíssimo movimento. Nele, Villa evoca a natureza, mais precisamente, a Amazônia, tão amada por ele. Temos, no clarinete (8m35s), uma melodia que é de um motivo que vai simplesmente caindo, bem ao estilo Bach. Depois de uma explosão da orquestra (10m33s), temos um trio (11m2s) com corne inglês, clarone e violino que me dá arrepios. O trio é repetido (11m41s) nos violoncelos, trompa e fagote. Depois disso temos o devaneio propriamente dito (12m22s), com os pássaros e as danças indígenas. Ária (Modinha) (13m35s) - A ária é igualmente bachiana. Um motivo é repetido, sempre caindo, no corne inglês, depois entra, no clarinete (14m8s), uma melodia que, se não é de uma fuga de Bach, é porque este esqueceu de compor. Agora (14m49s), o piano faz um motivo ascendente que leva a um belo gesto da orquestra com o piano (15m8s). Arrepiante! Às vezes eu acho que Villa-Lobos só não é ainda mais tocado no exterior porque ele resolveu falar diretamente pro brasileiro. Não tem como um estrangeiro entender a grandeza, a beleza e a magia da sua obra. Eles só entendem metade. E já é suficiente para que Villa seja altamente reconhecido lá fora. Toccata (Pica-Pau) (21m6s) - O pica-pau é super divertido. Claro que vamos ter simulações de martelados e um final absolutamente brilhante. O que a difere de um concerto para piano propriamente dito é, acho, basicamente, o fato de não ser difícil para o solista. Villa-Lobos, não se enganem, sabia compor para piano, mas nunca usava artifícios só pra peça ser mais desafiadora pro pianista. Gravação recomendada: New Philharmonia Orchestra, regente: Vladimir Ashkenazy, piano: Cristina Ortiz Claude Debussy (1862-1918) - La Mer (1905) (Três Esboços Sinfônicos) Obra sem muitos precedentes (é quase uma sinfonia, quase uma suíte), La Mer (O Mar) é uma das três composições sinfônicas de Claude Debussy em três partes. As outras são os Nocturnes (Noturnos) e as Images (Imagens). Eu poderia estar falando de qualquer uma porque as amo. Das outras, falo depois. Aqui, Debussy consolida sua orquestração caracteristicamente esparsa e meio vaga, como que vindo em ondas, de modo que o tema é muito adequado ao estilo de composição do francês. Vamos aos movimentos: "De l'aube à midi sur la mer" (Da alvorada ao meio-dia no mar) - onírico como o Prelúdio para a Tarde de um Fauno, mencionado nesta lista, é a típica mágica música de Debussy. "Jeux de vagues" (8m43s) (Jogo de ondas) - um pouco mais agitado que o anterior, é também mais colorido. "Dialogue du vent et de la mer" (15m24s) (Diálogo entre o vento e o mar) - esse é ainda mais turbulento, claramente descritivo da situação sugerida no título. Debussy faz uso da escala hexatônica, ou escala de tons inteiros, que nos deixa um pouco desorientados com relação à tonalidade. Essa obra foi muito influente desde sua estreia. Até um bocado da música de cinema deve a ela. Perceba o entusiasmo do público ao final, no vídeo acima. Gravação recomendada: Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Herbert von Karajan Maurice Ravel (1873-1937) - La Valse (1920) (Poema Coreográfico para Orquestra) Esta peça simplesmente maravilhosa do francês Maurice Ravel é uma das mais gravadas do século XX. Junto com Debussy, Ravel era chamado, a contragosto, de impressionista. Isso porque a música deles tem clara relação com o estilo de pintura de Claude Monet. Pequenas pinceladas formam uma figura maior, que pode ou não ser nítida. La Valse é vista por alguns como um belo tributo à valsa vienense. Outros veem traços mais apocalípticos nela. É uma obra descritiva: num cenário meio enevoado, gradualmente vão se discernindo pequenos fragmentos de melodias, e gradualmente vão se percebendo casais dançando uma valsa, que tem realmente seus momentos turbulentos: não é uma valsa alegre de Strauss, mas uma espécie de caricatura moderna e absolutamente genial. Tem cerca de 12 minutos de duração. Gravação recomendada: Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra), regente: Claudio Abbado Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) - Variações Rococó (1877) Outra peça que poderia ser um concerto, as Variações Rococó, de Pyotr Tchaikovsky, apresentam um violoncelo solista. É uma peça difícil para o instrumento, tendo sido adotada por violoncelistas como peça de exibição. Tendo Mozart como modelo, Tchaikovsky fez esse tema à moda rococó (estilo que sucedeu o barroco e antecedeu o clássico, ou seja, mais de 100 anos anterior ao compositor russo), e 8 variações. É uma música leve e luminosa, que dura pouco mais de 20 minutos. Tema com variações é uma das formas mais adoradas pelos compositores, porque eles têm um parâmetro, que é o tema, e a liberdade de mostrar todo o seu talento nas variações. E talento é o que Tchaikovsky mostra nessa peça extremamente cativante. Gravação recomendada: Northern Sinfonia Orchestra, regente: Yan Pascal Tortelier, violoncelo: Paul Tortelier Igor Stravinsky (1882-1971) - Petrushka (1911) (Balé) O segundo dos balés de Igor Stravinsky encomendados por Sergei Diaghilev (antes teve O Pássaro de Fogo e, depois, A Sagração da Primavera), Petrushka (Pedrinho) foi também muito revolucionário. Como a Sagração é muito famosa, tende-se a considerar os dois balés anteriores como ensaios para esta. E eles são. Mas não sem méritos próprios. O Pássaro de Fogo lembra o compositor Rimsky-Korsakov, romântico. Já Petrushka e A Sagração são bem modernos. Diaghilev tinha uma companhia de dança chamada Ballets Russes, em Paris. Sua estrela era o lendário bailarino polonês Vaslav Nijinsky, que foi o personagem Petrushka nesse balé. A coreografia foi de Michel Fokine. Conta a história de três marionetes que ganham vida pelas mãos do Mago: Pedrinho, o Mouro e a Bailarina. Pedrinho gosta da Bailarina, mas esta gosta do Mouro. Pedrinho o desafia e ele o mata. Surge o fantasma de Pedrinho, que desafia seu criador, o Mago, e acaba morrendo pela segunda vez. Petrushka é um personagem do folclore russo, mas está presente na Itália, como Pulcinella, na França, como Polichinelle e na Inglaterra como Punch. A música de Stravinsky é tão audaciosa quanto a da Sagração da Primavera, que nasceria dois anos depois. Contém polirritmia, escalas exóticas, instrumentação ousada. Além do famoso Acorde de Petrushka. Um dó maior sobreposto a um fá sustenido maior na 2ª inversão. Dó e Fá# são acordes separados por um trítono. Sobre o trítono, falo depois. O acorde é tocado, às vezes inteiro, mas sua aparição mais marcante é na forma de um arpejo duplo, altamente dissonante, como aparece nos clarinetes aos 10min (isso mesmo, essa subidinha que eles fazem bem fraquinho virou quase que uma escola). Acho os três balés fantásticos, têm tantos elementos que a gente pode ouvir a vida inteira, que não cansa. Gravação recomendada: Orquestra do Teatro Mariinsky (Mariinsky Orchestra), regente: Valery Gergiev Alexander Scriabin (1872-1915) - O Poema do Êxtase (1908) Se Stravinsky tinha o Acorde de Petrushka pra chamar de seu, Alexander Scriabin tinha um também. E ainda mais existencial: o Acorde Místico. Esse acorde é baseado na escala hexatônica, em que nenhuma nota é mais importante que outra. O resultado são várias páginas de suspensão, uma coisa que soa realmente mística. Na partitura do Poema do Êxtase, o próprio Scriabin escreveu versos e mais versos sobre um espírito que vai ganhando consciência aos poucos e se tornando vida. Ele era adepto da Teosofia, uma mistura de religião com filosofia. E era aparentemente uma figura proeminente dessa corrente, ao menos na época em que escreveu o Poema do Êxtase. É uma música que, como Debussy, soa vaga, distante. Mas absolutamente encantadora. Gravação recomendada: Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony), regente: Neeme Järvi Richard Wagner (1813-1883) - Tristão e Isolda - Prelúdio e Morte de Amor (1859) (Trechos de ópera) Na hora de descrever o amor ideal, impossível, romântico ao extremo, nenhum compositor faz como Richard Wagner. Não há música mais apaixonada. Mas não é paixão serena, tranquila. É o amor com barreiras. O que Shakespeare fez na literatura, Wagner fez na ópera. Tristão e Isolda é baseada em um romance do século XII de Gottfried von Strasbourgh, chamado Tristan. As óperas sempre têm aberturas ou prelúdios que não são cantados, são só orquestrais. E nesses prelúdios temos um resumo musical da ópera, ou, ao menos, daquele ato (Tristão e Isolda tem 3 atos). Muitos discos pegam apenas esses trechos sinfônicos e fazem uma compilação. É desses CDs que eu gosto. Se bem que acho que, no dia em que tiver paciência para ouvir uma ópera, vou gostar das de Mozart e das de Wagner. Essa ópera é considerada um marco, porque ela, embora ainda esteja longe de ser atonal, tem o famoso "Acorde de Tristão" (52s), um acorde meio diminuto que não se resolve, como deveria. Ou seja, em vez de gerar tensão e ser seguido de um acorde de relaxamento, ele gera a tensão, mas nunca relaxa. Isso foi considerado o limiar entre o tonalismo e o atonalismo, a esticada na corda que a deixou prestes a arrebentar. Mas, independente dessa parte teórica, é uma música extremamente linda. Wagner extraiu esses trechos especificamente para ser tocados em concerto, e datam de antes da ópera ter sua premiére. Existem duas versões para o Morte de Amor (11m55s) (com soprano e apenas orquestral - vou indicar uma versão de cada). Gravações recomendadas: Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra), regente: Colin Davis, soprano: Jessye Norman - Orquestra Philharmonia (Philharmonia Orchestra), regente: Otto Klemperer Emmanuel Chabrier (1841-1894) - España (1883) (Rapsódia para Orquestra) "Claramente a peça mais bem orquestrada no mundo inteiro", disse o regente Thomas Beecham antes de executá-la em um bis. España é uma peça pequena, a mais conhecida de Emmanuel Chabrier. Foi escrita numa viagem do compositor à Espanha, e é cheia de elementos da música daquele país, como alusões ao ritmo da castanhola, ao toque do violão e às escalas com um tom mais árabe. É uma peça feliz e, de fato, extremamente bem orquestrada, empregando percussões em profusão. Gravação recomendada: Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony), regente: Ataúlfo Argenta César Franck (1822-1890) - Variações Sinfônicas (1885) Obra prima de César Franck, as Variações Sinfônicas mostram seu desconcertante domínio da forma "Tema com Variações". Têm a mesma abordagem de sua sinfonia, que é a forma cíclica, um artifício que pode ser usado para querer que uma obra soe mais complexa do que é, mas que quando bem utilizado, é genial. Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan, piano: Alexis Weissenberg - Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã (Concertgebouworkest), regente: Riccardo Chailly, piano: Jorge Bolet Espero que esta lista te tenha feito descobrir música nova, ou redescobrir música que já estava no seu radar. Como disse, continuarei fazendo essas listas porque gosto muito. As listas são uma forma de organizar o pensamento. Gostou do post? Comente! Leia também Top 10 Sinfonias, vol. 1 Top 10 Sinfonias, vol. 2 Top 10 Concertos para Piano, vol. 1
- Cantora gospel Amy Grant se prepara para celebrar os 35 anos de "Unguarded".
Anunciado através das redes sociais da artista em julho , "Unguarded", disco concebido estrategicamente para atrair um público mais secular e torná-la tão pop quanto Madonna e Cyndi Lauper em 1985, vai receber uma edição especial comemorativa para alegria dos fãs. Conforme prometido na publicação, o disco será reeditado pela Capitol Records em vinil duplo incluindo faixas ao vivo e depoimentos de Amy comentando sobre o processo de gravação. O retorno do consumo do vinil, crescente a cada ano no mercado fonográfico, tem propiciado o relançamento de álbuns importantes da história da música internacional recheados de mimos para colecionadores mais ardorosos. No caso de Amy, a reedição de Unguarded, que recebeu um Grammy em 1986 na categoria "Melhor Performance Feminina, Gospel", visa relembrar ao grande público o caminho percorrido por ela para criar um filão que seria mais tarde conhecido por "música contemporânea cristã", isto é, uma sonoridade mais pop/rock, diluindo a pregação bíblica para um diálogo mais cotidiano e simplório da sua geração. A mudança foi considerada radical e inapropriada para a comunidade cristã, que intencionava manter a artista restrita ao seu próprio público e que a ambiguidade das letras só atendia interesses comerciais. Porém, conforme o número de vendas de discos crescia, mais a gravadora sentia que Amy tinha apelo para abrangê-los. A visibilidade veio com Find a way, primeira música a ser lançada para promover o disco. Com solos de guitarra e synths tocados por Robbie Buchanan (que já tinha passagem por álbuns de Sergio Mendes, Dionne Warwick, Chaka Khan e Barbra Streisand), que muito se assemelham ao som de bandas como Duran Duran ou A-ha, entrou fácil para o Top 10 da Billboard e os certificados de ouro e platina vieram na sequência. Passados 30 anos, Unguarded ainda tem frescor, pois abriu portas para que artistas antes dedicados ao gospel ficassem à vontade para trilhar um caminho paralelo com a música secular, servindo de inspiração inclusive para cantoras evangélicas do Brasil que muito versionaram suas músicas para português, a exemplo de Cristina Mel, Aline Barros, Marina de Oliveira e Cristiane Carvalho. Gostou do texto? tem mais do Ivisson aqui também! Ivisson Cardoso ( @meucarovinho): Baiano de Salvador, iniciou suas atividades no ramo da música ainda quando estudante de Letras na UCSAL pelas redes sociais. Trocou residência por São Paulo em 2010 e passou a atuar como DJ na cidade. Já foi capa da revista Starwax Magazine na França e foi convidado pelo programa "Manos e Minas" da TV Cultura a apresentar a sua coleção de LP's no quadro "Discoteca Básica". Recentemente participou da série de TV "Rota do Vinil" em exibição pelo canal Music Box Brasil.
- Papo de Arara: Entrevista com Leonardo Drummond, da Kuba Áudio
Leonardo Drummond é um designer e empreendedor carioca que criou, em 2014, a startup Kuba, uma desenvolvedora e fabricante de fones de ouvido de alta performance. O Kuba Disco, seu produto mais importante até agora, foi o primeiro fone, digamos, audiófilo (eu e ele não somos muito fãs dessa palavra), 100% brasileiro. Em 2011 ele criou o blog Mind the Headphone: www.mindtheheadphone.com.br, que, em 2017 se tornou um canal de YouTube: https://www.youtube.com/channel/UC7fN3sq7h2BDFtBrzXWo4Zg. Mais abaixo eu explico algumas coisas sobre o mundo dos fones. Veja a entrevista que ele gentilmente cedeu à gente. Léo, o que define um entusiasta do som hoje? Gosto muito dessa expressão porque me identifico muito mais com ela do que com “audiófilo”. Para mim, é simplesmente uma pessoa que se importa com qualidade de som e a enxerga como algo que pode melhorar sua relação com a música. Quando você percebeu que tinha capacidade de distinguir e avaliar diferentes sonoridades de fones de ouvido? A minha relação com a música veio de berço, porque sempre foi muito incentivada pelo meu pai. E, desde que me conheço por gente, me importo com qualidade de som. Algo que sempre conto é que, quando tinha por volta de 6, 7 anos, ouvia música com um Discman mas pegava o fone da minha mãe, porque era melhor que o meu. Então, sempre liguei para isso e sempre estive em busca de qualidade de som, mesmo que de forma mais leiga. Tudo começou a mudar quando comprei meu primeiro fone mais sofisticado – na época, sempre que viajava comprava fones mais simples, mas nunca ficava satisfeito. Assim, vi que, para conseguir a qualidade que queria, provavelmente teria que fazer investimentos maiores. Então, em meu aniversário de 18 anos, pedi de presente um Shure SE530, e me apaixonei. Não muito tempo depois, acabei adquirindo um outro, o Sennheiser IE8, que tinha uma sonoridade muito diferente. E a grande questão é que, para comprar esses fones, lia reviews incessantemente. E, quando em uma discussão em uma comunidade do antigo Orkut mencionaram esses dois fones que tinha, dei minha opinião – e aí me pediram para fazer um review sobre eles. Este foi meu primeiro review. Uma das maiores máximas da audiofilia é que se você tem um bom fone por um preço X, ao comprar um novo fone de preço 10X você certamente não terá 10X mais performance. Isso, até onde eu entendo, vale para muitas coisas na vida. Mas existe algo que você considera extravagância? Essa é uma pergunta difícil... até porque, a minha definição de onde se cruza a linha do razoável é apenas a minha opinião, e não dá para julgar o que outras pessoas consideram um bom investimento – mesmo se o que elas estiverem buscando for luxo ou status, que são atributos importantes pra várias pessoas. Eu, pessoalmente, não considero comprar fones de mais de 1.000, 1.500 dólares (existem modelos muito mais caros) – mas sei que, pra muita gente, isso já seria considerado uma enorme extravagância. O fator psicológico tem muita influência na percepção de um som? Ou seja, posso gostar mais de um fone pela circunstância (ou até pelo estado de humor) em que experimento ele? Com toda certeza. Acho que, nesse hobby, as pessoas superestimam demais os sentidos e não percebem a enorme quantidade de fatores envolvidos em nossa percepção sobre alguma experiência sensorial – como a audição de um fone de ouvido. Você já deve ter ouvido que o hobby (audiofilia) é “elitista”. O que responde? Depende do ponto de vista. Acho sim que existe uma “ala” audiófila esnobe, elitista e preconceituosa. E essa ala, infelizmente, não é pequena... Por outro lado, cada vez mais existem equipamentos baratos que oferecem muita qualidade de som. Então, se você sair um pouco da neurose de querer sempre o melhor e mais novo, e focar mais no que está faltando do que naquilo que você tem, vai ver que nunca houve momento melhor para gostar de áudio. Você já me falou que gosta de música clássica, como Scriabin, Tchaikovsky. Isso é um outro tipo de interesse, não necessariamente relacionado ao mundo da apreciação de fones e equipamentos de som. Como você desenvolveu esse interesse? Tem alguma formação musical? Meu pai sempre gostou de música, mas não tem formação. E ele é especialmente apaixonado por música erudita. Então fui apresentado ao “estilo” ainda criança, mas nunca tinha sido algo que me encantasse. Mas, quando fui fazer o ensino médio na Inglaterra, uma das matérias que tinha era música (eu já tocava baixo, mas ali eram aulas sobre história da música e teoria musical), e um dia ouvi a 9ª Sinfonia do Dvořák, e fiquei maravilhado. Mas essa acabou sendo apenas uma porta de entrada – depois, conheci melhor Sibelius, Tchaikovsky, Scriabin e outros, e foi aí que me apaixonei de verdade. Eu fico muito curioso com relação ao fone Sennheiser HE-1, que custa o mesmo que um apartamento. Você pode descrever o que ouviu? É uma experiência sublime, muito difícil de explicar. É como se você enxergasse tudo... como se tudo fosse palpável e verdadeiro. Orgânico e realista. Nesse mesmo dia, havia um Sennheiser HD800S para audição também. Ao lado do HE-1, parecia um fone de brinquedo. Fale um pouco sobre sua marca de fones, a Kuba? Sobre o Disco, o Mali e o Pro. A Kuba é minha startup – uma marca que criei, junto a 3 outros sócios (hoje só eu e mais uma), porque acreditamos que é possível criar produtos diferentes. O mercado de fones no Brasil nos parece muito comoditizado – com marcas que não estão tão interessadas assim no mercado brasileiro. Os produtos sofrem de obsolescência programada, não têm peças de reposição, a assistência técnica é difícil, a experiência de compra não é das melhores... Queremos fazer diferente. Então, com o Disco, queremos trazer um design diferente de tudo o que existe no mercado nacional; qualidade de som de fones muito mais caros; e todas as peças substituíveis. Já com o Mali, o objetivo é entregar a experiência sonora que consagrou o Disco em um pacote muito conveniente – também a um preço inferior ao dos concorrentes. Já a linha Kuba Pro vem da nossa vontade de entrar no mercado profissional, entregando produtos de altíssimo desempenho, para uso em palco, com toda a segurança de comprar de uma empresa nacional, com suporte técnico fácil e acessível. E projetos futuros para a Kuba? Temos muitas ideias – algumas delas são novas variações do Kuba Disco, como versões bluetooth, Pro e gamer, um headphone de entrada, mais barato e, em algum momento, um headphone aberto também. Vocês empregam quantas pessoas? Quantas trabalham diretamente na construção dos fones? Hoje, somos 8 pessoas, incluindo eu e minha sócia, Eduarda. Oficialmente, duas pessoas são responsáveis pela montagem – porém, em épocas com muitos pedidos, todos nós acabamos participando da montagem, exceto pela Isabela e a Livia, que trabalham no atendimento, em home-office. Seu canal no YouTube, o Mind the Headphone, surgido a partir do seu blog homônimo, é muito apreciado (lembro que a primeira coisa que comentei foi sobre o seu português ser muito bom!). Há uma equipe ali? Ou é só você? Obrigado, Rafael! Por enquanto, sou apenas eu mesmo. Mas adoraria contratar um editor de vídeos. Posso te pedir um top 10 dos fones que já ouviu? Difícil... vou dizer os que me vêm à cabeça, mas alguns deles não é tanto pelo desempenho final, e sim pelo conjunto – e aí o preço também conta: - Sennheiser HE-1 - Sennheier HE-90 - Stax SR-007 - Sennheiser HD600 - ZMF Verité - Grado HP1000 - Grado RS1i - AudioDream AD8 - Hifiman Edition X V2 - Sennheiser HD800 A Arara agradece muitíssimo ao Léo pela entrevista. Eu posso dizer que sou dono de um Kuba Disco e que, basicamente, só o tiro da cabeça para o banho. Sonoridade espetacular, graves limpos e com impacto, sonoridade bem linear. Agora, o que eu não sei, e que o Léo sabe, é descrever um fone em 30 parágrafos. Se soubesse, o Disco teria só elogios. Mas a Arara vai explicar alguns pontos. Os tipos de fone mais comuns: - Headphones Abertos - geralmente têm maior fidelidade ao som gravado, por isso, são muito usados por engenheiros de som para mixar e masterizar. A desvantagem dos fones abertos é que eles vazam muito som, ou seja, tanto você vai ouvir muito do ambiente, quanto a pessoa que está ao seu lado vai ouvir sua música; - Headphones Fechados - existe uma barreira física que não permite que o som que você ouve saia pela parte de trás das conchas. Geralmente agradam mais ao público sem muito treinamento no ouvido, pois os graves costumam ser bem definidos; - Headphones Semi-abertos - fica entre os dois aí de cima, tendo parte das vantagens de cada um e parte das desvantagens; - Headphones Bluetooth com Noise Cancelling - eles, obviamente, não têm fios, o que, de certa forma, lhes dá uma desvantagem: o som carregado pelo bluetooth ainda não tem a qualidade de um bom fone cabeado. A tecnologia Noise Cancelling, ou Cancelamento de Ruído, capta o som ao seu redor e envia uma série de frequências de resposta que, literalmente, anulam o som exterior. Você pode estar num avião: só vai ouvir um leve ruído de fundo, e só quando a música pausar. A desvantagem é que quando a sua esposa (experiência pessoal, snif, snif) quer falar com você, nem adianta gritar. Eu fico olhando pra ela de vez em quando pra saber, mas ela só resolve falar comigo naquele momento preciso em que eu fecho os olhos. - In-ears - são os intra-auriculares, aqueles que vêm com o celular. Vão desde um som porcaria até algumas das sonoridades mais refinadas e fieis do mercado; - True wireless - são intra-auriculares que operam por bluetooth. Como aqueles AirPods. Eu tive quando a tecnologia ainda estava no começo, então, não sou bom pra avaliar. - Além isso, os headphones, que são os que ficam sobre as orelhas, empregam diferentes tecnologias: tem os dinâmicos, os eletrostáticos, os planar-magnéticos etc. Os dinâmicos formam a maioria. Fatos: - Alguns dos melhores fones são abertos. Sennheiser HD 600, Hifiman HE-560, Beyerdynamic DT 990 e os utópicos Sennheiser HE-1, Focal Utopia e Meze Empyrean. - Alguns fechados excepcionais: Kuba Disco, Sennheiser HD 569, Sennheiser HD 820, Byerdynamic DT 770. - A engenharia necessária para se fazer um fone é muito precisa. Além do que, o engenheiro tem que fazer diversas escolhas. Por exemplo, graves muito fortes podem ser interessantes, mas geralmente vão inundar os médios, isto é, tirar a clareza deles. Achar a medida ideal das coisas é difícil. - Existem fones "quentes", isto é, geralmente mais agradáveis de ouvir, com um pouquinho de cremosidade nas frequências certas; e existem os "analíticos", que mostram o som mais fiel possível ao que foi gravado. Os "audiófilos" preferem os últimos, pela pureza. O público em geral prefere os mais quentes, que, inclusive, redimem gravações ruins. - Há uma espécie de Terraplanismo no mundo dos fones de ouvido. A crença no burn in. Que é expor o fone a 200-300 horas de ruído rosa (um barulho que contém todas as frequências audíveis, semelhante à estática de TV) para, digamos, amaciar e revelar o som final dele. Alguns audiófilos mais puristas creem 100% nisso. Mas a maioria diz que é balela. Até a ciência diz que isso é mito. A minha tendência é não acreditar, mas eu posso jurar que o meu Kuba Disco alternava entre soar bem e mal até a segunda semana, ou seja, depois de um pouco "gasto". Confira o canal do Léo. Gostou do post? Então vai gostar da entrevista com Verônica Oliveira. E também desse top 10 sinfonias imprescindíveis (para a vida) e desse sobre os 10 melhores faixas de rock dos anos 2010.
- Riga, a cidade mística
Uma história curiosa sobre vozes (e um típico texto de blog): um dia, muito tempo atrás, eu estava jantando e o nome “Riga” me veio à cabeça. Eu nunca tinha pronunciado esse nome, não sabia sequer onde o tinha escutado. Mas de algum modo sabia que era uma cidade e que era linda. Pois foi na Wikipedia que eu descobri que Riga era a capital de um país báltico: a Letônia. Fiquei obcecado por ela, vi fotos da cidade, desejei conhecê-la como nunca havia desejado conhecer uma (e ainda desejo, os bons ventos não me carregaram pra lá até agora). Algum tempo se passou. Estava eu na Desafinado (uma loja de discos) quando vi o CD do violinista Gidon Kremer. O disco se chamava “From My Home: Music From the Baltic Countries” e a capa era uma bicicleta em uma praia báltica. A praia era desolada e, com a bicicleta, triste. Como tristeza é comigo mesmo, comprei o disco, num ato de bravura não inédito (era caríssimo). Desde então “Báltico” pra mim é uma palavra mágica. Pois bem, nesse disco, uma das obras que mais me chamaram a atenção foi “Fratres” de um sujeito estoniano chamado Arvo Pärt. Tempos depois. Eu estava em São Paulo e no auge do meu entusiasmo por Riga. Como passava o dia fazendo coisa nenhuma, ficava no computador baixando música no Lime Wire (antigamente baixava-se música assim). Foi quando a mesma vozinha (de voz, não de vó!) que me fez comprar o disco anos antes e que me sussurrou o nome “Riga” em um jantar começou a murmurar “Arvo Pärt”... No Lime Wire descobri dezenas de obras do cara. Ele segue uma corrente que alguns chamam de “minimalismo sacro”, com referências profundamente religiosas. Trata-se de uma obra altamente acessível, fácil de gostar, mas isso não a torna banal, há uma profundidade ali com que os outros minimalistas nem sonham. Esse disco está no Spotify. A primeira faixa, é uma desolada "Elegia" de Dvarionas. Muito bonita, pra ficar só nos méritos estéticos. A segunda é "Fratres", música mais comumente gravada em sua versão para violino e piano, mas aqui, violino e orquestra. Aliás, você jura que vai ser um monólogo do violino até que entra a orquestra, com muito charme. Depois temos, sim, uma "Partita para Violino Solo", de Barkauskas. O disco gravita entre duas obras: "Fratres" e a belíssima "Nevertheless", de Pelēcis. Tudo é muito sombrio e soturno, dando um clima mágico ao CD. A maravilhosa "Conversio", de Tüür encerra o disco. Hoje, no maravilhoso ano de 2020 (cof, cof), continuo fascinado por aquele mar, aquela bicicleta e aquela música. É dos países bálticos um dos meus regentes favoritos, Mariss Jansons (falecido em 2019). Além do clã de maestros Järvi. Não sei de ligações místicas. Só sei de uma coisa: eu ainda irei a Riga. Em sentido horário: o violinista Gidon Kremer, o regente Paavo Järvi, o regente Mariss Jansons e o compositor Arvo Pärt.