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- O calor e a escuridão da linha do equador
Deixe-me tentar explicar o calor da Linha do Equador para vocês. Sabe aquela sua tia que te abraça forte demais e você sente um calor sufocante? Assim é o Amapá, com a diferença de que não é possível se afastar dessa tia. O calor te envolve por completo, e não há vento nem para balançar as copas das árvores, que permanecem estáticas como em uma fotografia. Há lugares mais quentes no Brasil? Talvez. Tão quentes quanto? Com certeza. A primeira vez que fui visitar a minha irmã em Santana, no Amapá, foi pisar fora do avião, naquela escada que desce até a pista (o aeroporto era pequeno demais para ter aqueles corredores com ar refrigerado que te levam para dentro do aeroporto; até hoje não tem) e sentir que eu iria sufocar. O ar era quente e úmido, a ponto de parecer que não entraria em meus pulmões. Isso porque era meia-noite. O começo foi difícil, mas hoje acredito já estar acostumada. Com ar-condicionado e ventiladores ligados dia e noite, é claro. Naquele 3 de novembro, a energia desapareceu no meio do Jornal Nacional, em uma noite -- quem diria? -- quente de terça-feira. Acostumados, nem piscamos. Retiramos os equipamentos das tomadas, ligamos as velas e as luzes de emergência se acenderam automaticamente. As quedas de energia são muito comuns. Passamos o resto da noite vendo as estrelas e sem contato com o mundo exterior, pois devido a um fenômeno psíquico-radiônico-quântico, o sinal do celular desaparece junto com a energia. Coisas da Linha do Equador. Vimos uma estrela cadente. Na hora de dormir, coloquei em prática o meu super plano pulo do gato para poder dormir em um quarto fechado, sem ventilação e passando dos 30 graus: me cobrir com uma toalha molhada. Como vocês bem sabem, um cobertor é um isolante térmico, que mantém o calor que o seu corpo produz; pois bem, eu precisava do oposto disso, um descobertor (depois pensamos em um nome melhor). Molhou tudo, mas consegui dormir sob a toalha molhada. Abrir a janela é fora de cogitação, pelo risco de entrarem mosquitos e outros animais noturnos em meu quarto. No dia seguinte, soubemos o que tinha ocorrido: um incêndio na subestação do estado. A Ú-NI-CA subestação que distribui energia para o estado inteiro. Como soubemos disso sem internet, celular, 3G, 4G ou qualquer outro G? Milagrosamente, o fenômeno psicoquântico parece não atingir os celulares da Vivo, então quem tinha Vivo tinha internet. Naquela noite, compramos um chip da Vivo, que não quis entrar na internet, então mandamos mensagem de fumaça- digo, mensagem de texto para o pessoal em São Paulo. Enfim, tivemos notícias do mundo exterior na noite seguinte ao incêndio. E soubemos das promessas, que a energia voltaria no dia seguinte. No segundo dia, nada de energia e nada de as promessas serem cumpridas. Mais um dia sem poder trabalhar e morrendo de calor, usei roupas velhas e me encharquei de água da cabeça aos pés para suportar o calor da tarde. Fui ler os contos de abertura que enviaram para a editora. Depois fui montar um quebra-cabeças até ficar escuro demais para ver as peças. No terceiro dia, fiz à mão um tabuleiro de ludo, li o restante dos contos, acabei o quebra-cabeças. No quarto dia, toda a comida da geladeira estragou. Já tínhamos tirado tudo da geladeira e colocado em caixas de isopor com gelo, para que ficassem conservados por mais tempo, mas o gelo da cidade acabou e não conseguimos repor, então no quarto dia o gelo era água e tudo estava estragado. Além disso, meu repertório de jogos-infantis-para-quando-acaba-a-energia esgotou-se naquela noite. O que fazer com duas crianças pequenas trancadas em casa sem internet ou televisão? Socorro, TV Globinho!! A parte boa é que conseguimos alugar um gerador para a bomba da caixa d'água e eu finalmente, após 4 dias suando dia e noite, pude tomar um banho, já que estávamos economizando a água da caixa d'água. No quinto dia tive uma crise de choro que não consegui controlar. Era mais um dia que encharcada para aguentar o calor, uma paulista, em meio a amapaenses que estavam com calor sim, mas nem suavam. Quando falaram do sonho de beber uma coca-cola gelada, então, não aguentei e chorei mesmo. Detalhe: não havia coca-cola gelada em nenhuma parte da cidade (quiçá do estado), pois, com cinco dias funcionando continuamente, os geradores de energia dos mercados estavam sendo usados apenas para alimentos essenciais, e mal estavam aguentando. Os geradores a diesel, mesmo os grandes, de supermercados, não foram feitos para funcionarem tantos dias sem parar. As pessoas se amontoavam no aeroporto, no shopping, e até nos hospitais para ter eletricidade. Entendam: nos hospitais em meio a uma pandemia. Nessa noite, a energia voltou e dali a 10 minutos desapareceu novamente. Na empolgação, a criança escorregou no gelo derretido e ganhou um galo na cabeça. Aproveitei os 6% de bateria no celular (a primeira coisa que fiz quando a energia voltou foi conectar o celular para carregar) para pedir para voltar à Campinas. Meu pai comprou a passagem para terça; era uma sexta-feira. Lá vai eu mais uma vez dormir com a toalha molhada. No sexto dia, tudo que poderia estragar de alimentos estragou. Foi tudo jogado fora. Em pânico, as pessoas faziam passeatas, queimavam pneus. Fui fazer um novo quebra-cabeças, para passar o tempo. Agora sim entendia o que era não poder trabalhar durante uma quarentena. Também entendi o porquê do pessoal antigamente ir dormir tão cedo: não há nada para fazer depois que o sol se põe. Nada! No sétimo dia, entramos em um rodízio de energia que começava e terminava quando queria. Tivemos energia das 12 às 19 pela primeira vez, e eu aproveitei para trabalhar embaixo do ventilador. Ar condicionado? Depois de seis dias de calor eu já estava craque e um ventilador era luxo! Mais uma noite que durmo com a minha querida toalha molhada; nem me importava mais com o fedor dela. No oitavo dia também tivemos nosso quinhão de energia. As crianças assistiram a dois filmes e eu trabalhei até a energia cair novamente. No nono dia, coloquei minhas coisas em uma mochila, peguei o computador e saí do Amapá. Deixei lá todo o estoque da editora (sim, uma editora sem poder vender livros). Das 14 até às 22 horas aproveitei a energia dos aeroportos até chegar a Campinas. Meu sofrimento tinha acabado, mas o do povo amapaense não. O que dizer dos pequenos mercados, restaurantes, padarias, que perderam todos os produtos? O que dizer da família que gastou o auxílio emergencial com alimentos e viu tudo estragar na geladeira desligada? O que dizer das pessoas que arriscaram suas vidas por um balde de água ou gelo? Durante um apocalipse energético, a coisa mais importante é a água, depois a comida, a gasolina e o diesel para o transporte e os geradores de energia. Depois disso vem o caos e a revolta da população. Entendi como é difícil empreender sem infraestrutura. Entendi como o povo amapaense é forte. Entendi como o descaso, a corrupção política e a venda de votos (fruto do descaso com a educação formal) são destrutivos. Pobre povo amapaense, que precisa mesmo ser forte e guerreiro. Eu não fui, eu fugi. Aqueles que ficaram ainda hoje, 27 de novembro*, enfrentam falta de energia (que não está estabilizada), falta de alimentos nos mercados (compra-se o que tem, pé de alface com três folhas, óleo por 10 reais e por aí vai) e falta do interesse daqueles que estão no poder para com aqueles que na verdade têm o poder, mas não sabem disso (ou são mantidos na ignorância). *data em que o texto da Thaty chegou pra gente. Thaty Furtado botou na cabeça que iria abrir uma editora, foi lá e abriu a editora Minna. Vivendo entre São Paulo e Amapá, vai tocando a editora e o trabalho de freelancer.
- A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Quando pensamos em moradia, o que surge em nossa mente imediatamente? Pensamos em nossas casas, certo? É tão óbvio e de certa forma até natural que a gente pense no nosso lar. Por mais natural que seja imaginar um cidadão vivendo em sua casa, essa realidade não é tão comum assim para grande parte da população brasileira. Existe um conceito adotado pela nossa Constituição Federal que tenta suprimir a desigualdade social e garantir moradia para todos, se chama função social da propriedade. Contemplada pela primeira vez no Brasil na Constituição de 1934, a função social é uma condição do direito de propriedade. Na verdade, ela limita o direito de propriedade em detrimento do bem-estar social e coletivo. Sendo assim, a função social da propriedade determina que a propriedade urbana ou rural deve, além de servir aos interesses do proprietário, atender às necessidades e interesses da coletividade. Somos um corpo social e isso quer dizer que devemos sempre pensar no bem-estar coletivo. Por isso, o direito de propriedade é um direito limitado e não absoluto, como muitas pessoas pensam. O Artigo 5° da Constituição Federal de 1988, traz, logo após a garantia do direito de propriedade, um inciso que limita esse direito: “XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;” O princípio básico da função social é de que não é favorável para a sociedade ter propriedades de terra sem utilidade alguma. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e estima-se que, hoje, cerca de 40 mil pessoas vivam nas ruas. O estudo "Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil" utilizou dados de 2019, que conta com informações das secretarias municipais e do Cadastro Único do governo federal. A análise constatou que a maioria dos moradores de rua (81,5%) está em municípios com mais de 100 mil habitantes, principalmente das regiões Sudeste (56,2%), Nordeste (17,2%) e Sul (15,1%). Por isso, é de suma importância que a gente debata com mais frequência e dedicação o direito à moradia e crie mecanismos para que diversas terras e prédios, que não cumprem sua função social, possam atender a esse direito básico do cidadão. A função social das propriedades urbanas é definida no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor de cada município. No caso de não cumprimento da função social, o município pode aplicar sanções ao proprietário e, se necessária, a desapropriação. No caso das propriedades rurais, a função social é estabelecida no Estatuto da Terra, que é uma lei federal. De acordo com essa legislação, a propriedade cumpre sua função social quando é explorada de forma sustentável, utiliza adequadamente os recursos naturais e respeita a legislação trabalhista. No caso de não cumprimento destes critérios, o governo federal pode efetuar a desapropriação e redistribuir a terra para fins de reforma agrária. Existe legislação a respeito, mas o que se observa é uma grande dificuldade de se aplicar esse direito em situações práticas. Por que isso acontece? Porque ainda temos introjetado em nosso Direito Civil uma proteção exacerbada ao direito de propriedade. Embora a Constituição Federal flexibilize a propriedade privada em detrimento dos interesses coletivos, a legislação cível, apesar de ter passado por várias revisões e alterações durante os últimos anos, ainda é rígida, além de servir de uma maneira geral a interesses de pessoas que detêm várias posses e boa situação financeira. Todavia, caminhamos progressivamente para um colapso ambiental e uma super lotação de centros urbanos e, atualmente, dentro de um contexto de pandemia mundial. Se não repensarmos as estratégias básicas de reforma agrária e planejamento urbano, muitas vidas serão perdidas e os direitos fundamentais não significarão mais nada. AMANDA LEITE é advogada. Graduada pelo Centro Universitário Uniceub, de Brasília e pós-graduada pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios - FESMPDFT. Especialista em Criminologia e Direito Penal. Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/DF e ativista de direitos humanos.
- Top 10 das melhores faixas de rock brasileiro: os anos 70!
E estamos de volta com mais uma viagem pelo tempo! Desta vez partimos da década de 70 e seguiremos até os dias de hoje viajando pelo mundo do rock brazuca! Estão preparados! Rodrigo Vargas disseca o que e apresenta o que existe de melhor desse estilo que virou praticamente mundial e se é mundial, também é brasileiro! Vamos lá! 10 – Vou Morar No Ar (Casa das Máquinas) – Mistura de sons e percepções, bebem no progressivo e se inspiram em Bowie. 9 – Porque Sou Tão Feio (A Bolha) – Banda clássica da época, muito influenciada por Dylan e cia. Abaixo, como não conseguimos um link só da faixa, disponibilizamos um vídeo com o áudio do álbum completo! Pra quê melhor!? Mas a título de informação, a faixa citada já é a segunda da sequência! 8 – Pente (O Peso) – Excelente grupo cearense que usou o jazz e o blues de forma marginal e poética. Poucos foram tão decisivos na formatação do rock nacional! 7 – Rio de Janeiro City (Joelho de Porco) – O rock começa a dar o ar da graça tupiniquim com irreverência e brasilidade. 6 – Matança do Porco (Som Imaginário) – Banda de apoio de Milton Nascimento para o seu famoso show... Ah! É o Som Imaginário, durou três anos e é simplesmente impecável! 5 – Deus (O Terço) – Potencia pura! Progressiva e extremamente bem executada. Genial! 4 – Mistério do Planeta (Novos Baianos) – Essa é a banda mais hippie da história da música brasileira. A galera morava numa casa, juntos, e passava o dia inteiro fazendo música. O resultado é definitivo! Abaixo uma versão deliciosa ao vivo e raiz bem a cara deles. 3 – Gîtâ (Raul Seixas) – Um dos letristas mais completos do rock nacional e com uma vida inteiramente controversa, deixou um legado intocável. Abaixo o antológico videoclipe da canção. 2 – Sangue Latino (Secos E Molhados) – Essa é sem duvida uma das maiores bandas de rock mundial. Ney Matogrosso e cia. mudaram a trajetória da música brasileira e impactaram em grupos estrangeiros como o Kiss, apesar de negarem. Poucas pessoas fora do meio musical sabem, mas a banda até hoje existe, ainda que sem o sucesso de antes, com João Ricardo, o principal compositor do grupo (e quem criou o nome da banda também) à frente de quase tudo. 1 – Ando Meio Desligado (Mutantes) – Rita Lee e os irmãos Baptistas são tropicalistas geniais que romperam parcialmente com a dependência externa que o rock nacional tinha até então e exerceram influência em bandas como o Nirvana. RODRIGO VARGAS é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- racismo algorítmico
Você já ouviu falar em Racismo Algorítmico? No mínimo deve ter escutado ou lido alguém fazendo comentando sobre os programadores serem racistas e não os algoritmos (é a discussão mais comum). Se você não viu nada sobre isso, muito provavelmente você está contribuindo e nem está percebendo. Mas te explicar. Os algarismos das redes sociais são números que levam e trazem informações. Eles trazem pra gente aquilo que percebem que queremos ver, como propagandas de produtos para decoração quando estamos vendo com frequência perfis que compartilham esse assunto. Se você viu o filme O Dilema das Redes (disponível na plataforma streaming Netflix) você sabe mais ou menos do que estou falando: Os algoritmos nos dão essa ilusão e em troca levam todas as informações que puderem sobre nós. E claro, as intenção disso tudo existir é o lucro. Mas como isso interfere no racismo? Há uns meses, uma denúncia de racismo algorítmico viralizou no Twitter: Quando você coloca duas fotos ao mesmo tempo num Tweet pra rede, a ferramenta de socialização escolhe automaticamente qual foto ficará maior ou menor. Após alguns testes, os rostos das pessoas negras apareciam sempre no tamanho menor em detrimento das imagens das pessoas de pele branca. O teste foi feito de outra forma: As pessoas negras tiveram suas peles embranquecidas, e somente assim essas pessoas apareciam no tamanho maior. Ou seja, nós recebemos mais conteúdos e vimos mais imagens de pessoas brancas no Twitter. O mais curioso é que a denúncia começou por um programador, o Tony Arcieri, que deu o start e outras pessoas continuaram chegando a viralizar. Alguns programadores e líderes da rede social fizeram testes não-formais e dividiram os resultados sem saber direito como explicar o que estava acontecendo. Alguns assumiram o erro, outros como a Liz Kelley da comunicação do Twitter que relatou que a companhia "não encontrou evidências de preferências raciais ou de gênero em seus testes". É importante a gente saber que cada Rede Social funciona e reage de uma forma independente. Claro, e cada uma delas trabalha com algum foco, algumas mais voltadas para texto, outras pra imagens, o caso do Instagram (que foi onde eu me atentei pro assunto) demonstra entregar as cartas do jogo logo "na entrada". Se uma pessoa, que nunca tinha Instagram antes, faz um cadastro na rede pela primeira vez e procura por "beleza" na busca, ela vai receber a maioria dos resultados para a palavra "Beleza" Pessoas de pele branca. Se essa pessoa dá preferência para pessoas pretas (foi o teste que eu fiz) aos poucos a consulta vai mudando e mostrando pessoas pretas na consulta. Mas não é tão fácil assim mudar o algoritmo. Se quero ver perfis de profissionais da fotografia (minha área) e colocar na busca por "Fotógrafo" ele ainda vai me mostrar a avassaladora maioria pessoas brancas. Percebi que não depende só de mim para que esse algoritmo tenha a diversidade que precisa ter. Nesse mesmo tempo que comecei essas pesquisas, outros perfis no Instagram fizeram esses e outros tipos de denúncias. Influenciadoras negras colocaram a foto de mulheres brancas num mesmo post que colocaram suas fotos por último, e essas postagens foram as que tiveram mais alcance. E as reclamações para tudo isso foram as mesmas: "Os programadores são racistas". E não é bem assim. Podemos e devemos reclamar das empresas que ainda entopem de homens brancos todas as funções de liderança e precisamos ter corpos pretos em todo tipo de liderança. Mas não podemos cobrar sem fazer a nossa parte: Seguir, curtir, acompanhar, comentar e compartilhar (de fato), os algoritmos são reagentes das nossas buscas, portanto nós também somos responsáveis para mudar isso. O Racismo Algorítmico nada mais é do que um reflexo do racismo estrutural que vivemos. Helosa Araujo Afro indígena descendente, Cearense, graduada em Publicidade e Propaganda e pós-graduada em Moda e Comunicação. Trabalha com fotografia, leitura de imagens e análise de mídias digitais. Ativista, atua como coordenadora do movimento Waldorf Antirracista e co-fundadora do curso de Resgate de línguas originárias Nhee-Porã. no Rio Grande do Sul.
- ++ 7 Discos de MPB Fora da Caixinha
Já emendando com essa lista, que vem depois dessa. Não são Top 7, é uma lista infinita de discos que eu considero fundamentais na MPB mas que nem sempre são lembrados pelo grande público. ConSertão (Arthur Moreira Lima, Paulo Moura, Elomar, Heraldo do Monte) Consertão é uma reunião de 4 músicos fantásticos. Tão fantásticos que quase não cabe. É legal ver o Arthur Moreira Lima fazendo arpejos pirotécnicos no piano pra não desperdiçar seu virtuosismo. Às vezes ele toca cravo. De qualquer forma a sonoridade é única: piano/cravo, viola, violão e saxofone. Única mesmo. Além da voz singular do Elomar, absolutamente afinada e expressiva. Na viola, Heraldo do Monte e no sax, o Paulo Moura. Foi lançado em 1982 pela Kuarup. É um disco voltado para a obra de Elomar, mas tem outras peças brasileiras, inclusive eruditas, como a Valsa da Dor e a Festa no Sertão (Villa-Lobos) e a Valsa de Esquina Nº 12 (Mignone), além de Luiz Gonzaga, Waldir Azevedo e Severino Araújo. Campo Branco, talvez a música mais conhecida de Elomar tem um tratamento instrumental, contrapontístico e caloroso. Inselença prá Terra que o Sol Matou é cósmica, ao sax e ao piano e à viola, tocados com muita delicadeza. Quando Elomar canta, a gente já tava com saudade. Só essa faixa, que tem 8,5 minutos, dá uma tese de doutorado. A Valsa da Dor soa muito bem com o piano e o saxofone soprano. Pedacinho do Céu é com piano, sax e guitarra. E o disco encerra com a diferente Corban. Diferente no universo de Elomar, mas ele é infinito. Lunário Perpétuo - Antônio Nóbrega Esse álbum fantástico de 2002 do Antônio Nóbrega faz jus total ao legado de Ariano Suassuna. Somos guiados entre ricas instrumentações até a "coivara" da infanta do imperador Dom Pedro. Carrossel do Destino é altamente charmosa, com o clarinete atraente do Zezinho Pitoco. Nas percussões desse disco consta o Gabriel, filho do Antônio, batuqueiro nato. O disco canta ainda o romance de Riobaldo e Diadorim, de Grande Sertão: Veredas. E músicas instrumentais, como Canjiquinha, Pagão e Luzia no Frevo. Alma nordestina e alma brasileira minha gente. Dançando Pelas Sombras - Boca Livre Lançado pelo quarteto vocal Boca Livre em 1992, esse disco é o melhor deles, pra mim. A formação à época contava com: Zé Renato, violão e voz; Maurício Maestro, baixo e voz; Lourenço Baeta, violão, flauta e voz; e Fernando Gamma, violões e voz. Fernando era novo no grupo, mas se encaixou perfeitamente. Cantava muito bem e tocava violão como uma fera. E o grupo soube explorar isso tudo. A linda e luminosa Dança do Ouro (Zé Renato e Lourenço Baeta) abre o disco, que tem uma tolice chamada Gotham City (Jards Macalé e Capinam) como único ponto fraco. As mais mais são The First Circle (Pat Metheny e Lyle Mays), Caxangá (Milton Nascimento), Nua (Fernando Gamma), Todos os Santos (Maurício Maestro e Joyce) e Zen Vergonha (Guinga e Aldir Blanc). Contando ainda com Marcos Suzano na percussão, o disco chegou a ser lançado nos EUA e Canadá. Apenas recentemtente foi disponibilizado nos aplicativos de streaming. Caipira - Mônica Salmaso Com a proposta de gravar músicas do universo caipira (o que conhecemos como "sertanejo raiz"), Mônica Salmaso fez os seus dois milagres habituais. Cantar como ninguém e escolher um repertório impecável. Impagável. O ponto alto é Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo), uma música absurdamente comovente e que se tornou muito importante pra mim. Os arranjos abusam da viola (Neymar Dias) e da sensível flauta de Teco Cardoso. Ela faz até um dueto com Rolando Boldrin (Saracura Três Potes) e um com ela mesma (Minha Vida). Sonora Garoa você pode ver de dois jeitos: como um arranjo delicado bem sucedido ou como um pianista tentando impressionar; mas de qualquer modo, é um pouco deslocada no disco. Talvez por isso a colocaram pra encerrar o álbum. Dá Licença Meu Senhor - João Bosco Certo. Este é um famosão da MPB. Mas esse disco não é óbvio. Dá Licença Meu Senhor é o disco de intérprete do João Bosco. Foi um dos primeiros discos que eu comprei quando saíram. No caso, aos 14, em 1995. Aqui ele se esbalda com seu genial violão e voz em canções de Villa-Lobos (Melodia Sentimental), Chico Alves e Ismael Silva (Se Você Jurar), Tom Jobim e Newton Mendonça (Desafinado), Dorival Caymmi (O Vento e Vatapá), Noel Rosa (Gago Apaixonado), Gilberto Gil (Expresso 2222) e muitos outros. O disco tem muito suingue, mas ao suingue do João Bosco até eu me rendo. Amor e Cordas - Léo Tomassini Professor de canto, Léo Tomassini lançou em 2003 esse obscuro disco que eu nem sei como veio parar nas minhas mãos. Mas é maravilhoso. A voz agradável, ainda que meio perfurante do Léo, e a instrumentação fiel ao nome do álbum, além do repertório muito bom, fazem desse disco uma coisa preciosa. Muito bandolim, violão, cavaquinho, violoncelo, uma atmosfera de roda de samba... Ele canta Tom Jobim, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Luiz Gonzaga, Cartola e Sinhô. Confiram, confiem. Piazzollando Com Sotaque Brasileiro Mais um disco de 1992, e mais um que a Kuarup lançou, produzido pelo Mário de Aratanha. São faixas de Piazzolla em um punhado de instrumentações diversas. Egberto Gismonti fez o arranjo da Fuga 9 para o Rio Cello Trio (Alceu Reis, Jacqes Morelembaum e Marcio Mallard). O trio, aliás, toca metade do álbum, auxiliado pelo Quinteto Villa-Lobos nas Estações Portenhas. Depois temos a Orquestra de Cordas Brasileiras e Chiquinho do Acordeon. Os arranjos são de Morelembaum, Zeca Assumpção, Henrique Cazes... Temos músicas como Libertango, a Suíte Portenha e Deus Xangô. Disco muito bem acabado. Se gostou não deixe de ver as outras listas e toda a seção de música do site. Ouça a playlist dessa seleção clicando aqui.
- top 10 melhores faixas de rock da década de 2010
Como bem sabemos, o rock é um estilo que a cada década deixa marcas que podem ou não ser aproveitadas na década seguinte, e talvez justamente por isso ele seja um dos estilos musicais que se renova e muda tão rápida e intensamente, influenciando comportamentos, moda e outras tendências. Então a gente convidou o Rodrigo Vargas, ex-VJ e editor de cultura, para fazer uma sequência semanal arrebatadora daquilo que ele considera as melhores faixas para entender e, sobretudo, sentir (porque entender é coisa do século passado) o rock década a década. Ele não só topou como sugeriu fazer uma contagem regressiva começando nos anos de 2010 e indo até os anos 1950. Não precisa concordar com nada, só ligue o som e e aproveite a viagem! 10 – Je Ne Me Connais Pas (Mattiel): Americana, canta como se conhecesse a fundo o brega brasileiro. 9 – The Trip (Still Corners): Grupo de intenções maliciosas. Quer nos tirar do chão e elevar a qualquer altura. Vale a pena ouvir sem pressa. 8 – Sure (Hatchie): As músicas dela são tão leves que acalmam, completam. Se é possível ser pop sem ser popular, é ela. Tem vigor, talento e carisma. 7 – Evil (Greta Van Fleet): O Greta é a primeira banda de rock com adolescentes dessa geração a fazer sucesso entre os adolescentes, daí chega a velha guarda do rock e massacra os caras. Primeiro que ninguém tem bastão da sabedoria. Segundo que, se tivesse, não seriam eles. Atiram no próprio pé. Além de inibir a sobrevivência do rock, tentam desmantelar um grupo que é talentoso e que pode ser genial. Dica: escutar o primeiro trabalho dos Rolling Stones. 6 – UnAmerican (Dead Sara): Grupo potente, com discurso afiado e o peso que o rock precisa para chocar. 5 – Loose Change (Royal Blood): Esse duo é tão fodástico que se você ouvir e perceber que são apenas baixo e bateria de primeira, mudo meu nome. 4 – Level (Raconteurs): Essa é uma das poucas vezes na história em que uma banda de rock reúne caras já conhecidos e dá certo, completamente diferente do que seus membros fizeram previamente. 3 – Elephant (Tame Impala): A sonoridade do Impala varia de acordo com o humor de seu criador e quase onipresente líder, mas essa música é a síntese do que é. 2 – Exits (Foals): Impossível ouvir esses caras e não perceber a força do new wave e do indie oitentistas correndo pelas veias da banda e explodindo em sintetizadores e sonoridades contemporâneas. Frenéticos! 1 – Sunflower (Vampire Weekend): A número um tem motivo. Conseguiu ser original além de extremamente bem executada. Para quem diz que o rock morreu, começar por essa pode ser o início da vergonha. Até a próxima década! Nos encontramos nos anos 2000! RODRIGO VARGAS é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- Top 10 melhores faixas de rock da década de 2000.
Caros Araretes a viagem continua!! Voltamos para o começo dos anos 2000, também chamado por alguns de ZERO ZERO. Rodrigo Vargas continua nos guiando nesse túnel do tempo passando pelo que considera o que melhor sintetiza cada década em termos de rock! Vamos lá! Top 10 (2000´s) 10 – Islands (The XX): Grupo inglês que aproveitou bem a transição dos instrumentos base do rock como guitarra, baixo e bateria, substituindo-os por bases eletrônicas ou efeitos de sintetizadores. 9 – Somewhere I Belong (Linkin Park): Vocais gritados, peso e uma base com DJ atravessou aquela geração e se espalhou pelo planeta. Fazer o que trouxeram não é fácil. Tanto que poucas bandas que se arriscaram nessa mistura sobreviveram. 8 – Seven Nation Army (The White Stripes): Duo absurdo! Bateria e guitarra extremamente afinados. Todas as influências indie, new wave e hard se entrelaçam para formar um dos grupos mais espontâneos dessa geração. 7 – Sex on Fire (Kings of Leon): Herança "rolling stoneana" do Sex Appeal com uma pegada contemporânea. Vocais altos e distorções ajudam a compor a verve. 6 – Take Me Out (Franz Ferdinand): Ninguém é mais indie do que eles. Escoceses, homenageiam o personagem estopim da Primeira Grande Guerra com o nome do grupo. Mas o fazem sem nenhum motivo aparente. Suas musicas também passam por aí. Falam de qualquer coisa ou de coisa alguma. 5 – Show Me How to Live (Audioslave): Esse é o típico grupo formado por músicos já famosos, mas que deu tão certo que a gente já não sabe mais o que era melhor: se eram eles antes ou como estão. 4 – Go With The Flow (Queens of the Stone Age): São hard ao extremo. Os riffs não dão descanso e a bateria fraseia sempre que possível. Depois de ouvir pela primeira vez, ninguém esquece. 3 – Last Night (The Strokes): música chiclete de um tipo de punk nova iorquino de classe média. Tem até brasileiro entre eles! 2 – Times Like These (Foo Fighters): Imagine você como baterista de uma das melhores bandas de rock de todos os tempos. Agora imagine esse mesmo cara formando uma banda como vocalista e guitarrista. Qual a chance de dar certo?? Bem, o Foo Fighters é a parte positiva da estatística! 1 - Fall to Pieces (Velvet Revolver): Mais um grupo formado por quem já fazia sucesso. Mistura aí Guns N´Roses e Stone Temple Pilots. Agora ouve! A gente se vê semana que vem, agora lá nos anos 90, beleza? Rodrigo Vargas é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- top 10 melhores faixas de rock da década de 1990.
Nossa viagem no tempo continua! Estamos nos anos 90, emblemáticos por causa do grunge e do surgimento de bandas com um som alternativo e que até hoje fazem sucesso numa trajetória que foi ficando cada vez mais experimental. Há quem fale que foi a última década boa de rock. Será? Parece que quanto mais voltamos para as origens nessas listas, mais polêmicas surgem. Estão preparados? Vamos lá! Top 10 (90´s) 10 – Just (Radiohead) o grupo inglês se sente de outro mundo. Não à toa, simplesmente tenta esquecer os primeiros discos, em que as guitarras, baixo e bateria existiam. Ao fazer isso, quebram a barreira do rock e podem se chamar ou se localizar em qualquer lugar. Just é a lembrança eterna de uma mente sem passado, ou que pelo menos tenta não ter. 9 – Cigarettes & Alcohol (Oasis) O Oasis surgiu com essa marra toda de classe média baixa inglesa, que usa moletom, come peixe frito com batata e torce para o Manchester. Algumas músicas são obras primas, como esta. Vai... Wonderwall é legal! 8 – Bulls On Parade (Rage Against The Machine) O trio de músicos é perfeito e junta-se a eles o vocal funkiado e libertador do De La Rocha. O Rage foi a primeira banda americana a tocar em Cuba e durante a sua existência e mesmo depois, sempre gritou pelas minorias. 7 – Vasoline (Stone Temple Pilots) Essa é uma das melhores bandas do Grunge. Pena que seu vocalista, Weiland, sempre esteve envolvido com drogas. Condenado a não sair do seu estado de residência pela justiça americana, minou a possibilidade de vida longa do Stone Templo Pilots, de sua outra banda Velvet Revolver e talvez a própria. 6 – Burnout (Green Day) sou louco pelo Dookie! É um dos melhores álbuns dos anos 90 e me lembra o início da minha adolescência. Essa música é fodastica! 5 – Civil War (Guns N´ Roses) Guns é demais! Só quem viveu aquele febre mundial consegue dimensionar. Os caras ultrapassaram a barreira do humano. Tocaram até no filme Exterminador do Futuro. Civil War é a mais empática. 4 – Alive (Pearl Jam) O disco Ten é um dos melhores da história e qualquer uma que eu escolhesse dali representaria bem esse quarto lugar. Alive é forte e significa muito para um grupo que perdeu um de seus membros para as drogas e que viu todos os grupos periféricos perderem também. 3 – Give It Away (Red Hot Chili Peppers) Esse baixo é desgraçado de bom...kkk. O Flea é um gênio! Sou tão maluco por essas linhas de baixo que quando escuto Red Hot só consigo ouvir o cara! 2 – Man in the Box (Alice In Chains) Essa é na minha opinião a melhor banda do Grunge. Pode observar, nenhum tem os vocais afinados quanto eles. Nenhuma tem um guitarrista solo quanto eles. Nenhuma é mais Alice in Chains que eles! 1 – Breed (Nirvana) O Nirvana é genial, por isso merece estar no topo. Tudo o que representa e é. Essa música é para ouvir com a seguinte pergunta para responder: o que mudou? Gostou? Concordou? Não concordou? Marcou a tabelinha do bingo nas suas favoritas? Comenta aqui e deixa sua opinião! Semana que vem vamos até a década da new wave e dos pós-punk, os anos 80! Até mais! Gostou do texto! Comenta pra gente! Gosta de pesquisar e aprender sobre rock? Que tal ler a primeira parte de uma matéria sobre a instigante história do rock russo aqui? Quer ver onde começa essa lista com as melhores faixas de rock de cada década? Clica aqui! Rodrigo Vargas é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- Top 10 melhores faixas de rock da década de 1980.
Continuando nossa viagem no tempo regressiva até o nascimento do rock, estamos, nesta sexta-feira, em uma das décadas mais coloridas e estravagantes da cultura pop: os anos 80! Influenciados pela passagem do movimento punk, a popularização dos sintetizadores e uma tentativa de continuar se divertindo enquanto o mundo continuava girando sem parar, os anos 80 são polêmicos: muitos acham cafona, outros a melhor década que já existiu. Mas como tudo na vida existe sempre uma lista de top 10! Top 10 (80´s) 10 – Never Tear Us Apart (INXS) esses australianos sabem fazer tanto músicas com batidas que não nos deixam parados como baladas românticas que ajudam a qualquer casal se apaixonar. 9 – I´ll Be There For You (Bon Jovi) Estilo texano, com botas e fivelão, Bon Jovi e cia arrebataram corações e almas pelo planeta com um hard rock country meloso. 8 – How Soon Is Now (The Smiths) Morrissey é a grande influência de personagens do rock brasileiro como Renato Russo, apesar de estarem fazendo sucesso na mesma época. Todo o requinte Indie acabou provocando na Legião uma transição importante que vinha de um espírito mais Joy Division, ou melhor, Ian Curtis. 7 – Concrete Jungle (Bob Marley) Letrista absoluto, e com uma sensibilidade necessária para qualquer época, mas para a nossa, faz inveja e causa saudade. 6 – Dancing With Myself (Billy Idol) Quem já viu o Supla cantar sabe do impacto que é ouvir Billy Idol. Ouve aí! É uma espécie de punk/pop/indie saraivado de David Bowie. 5 – Still Loving You (Scorpions) Vocal destacado e único. Guitarras afinadas e virtuosas. A maior banda de rock da Alemanha arrasa corações ainda hoje. 4 – Let's Dance (David Bowie) Bowie é do final dos anos de 1960 mas o cara é o camaleão. A cada álbum um personagem diferente, um estilo contraditório. Essa música é quase que o marco final da sua epopeia. 3 – Wherever I May Roam (Metallica) maior banda metal da história – muitos discordam – simplesmente destroem com essa pedrada. 2 – Where The Streets Have No Name (U2) essa é uma das letras mais bonitas do rock. O U2 sempre se deixou ligado as causas humanísticas. Essa é a prova! 1 - Purple Rain (Prince) Maior de todos! Gênio! Semana que vem nos vemos em uma década que é, sem dúvida alguma, emblemática para o rock: os lisérgicos anos 1970! Tá chegando agora e quer saber pode onde a lista já passou? Uma dica: ela começa aqui! Quer conhecer tudo sobre rock? QUer sair da mesmice um pouco? Que tal investigar um pouco sobre o rock russo aqui? Se quiser saber mais sobre a influência do rock na música brasileira, tem um artigo ótimo sobre esse disco do Pepeu Gomes também! Rodrigo Vargas é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- Top 10 melhores faixas de rock da década de 1960.
Após uma breve pausa, continuamos com nossa viagem até o surgimento do rock através do que, na visão de Rodrigo Vargas, são consideradas as melhores faixas do gênero! E chegamos na década de 60! Essa década consolidou o estilo surgido nos anos 50 com muita música divertida, mas também uma boa dose de experimentalismo! Vamos lá! 10 – Surfin USA (The Beach Boys): esse som é muito americano e diz sobre uma década onde o bem estar capitalista também surfava. 9 – Maybe (Janis Joplin): Voz potente e apaixonante. Simplesmente diva! 8 – Sunshine Of Your Love (Cream): Esse power trio é insuperável. Era a seleção da época, melhores guitarrista, baixista e baterista. Não podia dar em outra... 7 – Respect (Aretha Franklin): Outra diva no top 10. Essa me deixa simplesmente estirado e soluçando...kkk 6 – Suspicious Mind (Elvis Presley): Muitos consideram essa a melhor fase do rei. Adoro a sua performance. Música completa! 5 – Blowin In The Wind (Bob Dylan): Dylan é para ouvir e ler. Ninguém se arrepende! 4 – Hey Joe (Jimi Hendrix): Maior guitarrista da história viveu pouco mas deixou um estrago na musica que nunca mais foi a mesma. Uma curiosidade que poucos sabem é que esta música não foi composta por Hendrix, e sim por Billy Roberts, mas foi através de Hendrix e sua banda (The Jimi Hendrix Experience) que esta canção foi imortalizada. 3 – People Are Strange (The Doors): Morrisson é gênio! Pena que foi cedo demais como vários dessa lista. 2 – Simpathy For The Devil (Rolling Stones): Bem escrita, bem elaborada e com muita profundidade. Essa é a obra mais bem-sucedida dos Stones. 1 – A Day In The Life (Beatles): A melhor música do maior álbum de todos os tempos da maior banda que já pisou nesse planeta. Agora a gente se despede marcando o próximo encontro para a semana que vem, lá nos anos 50, quando tudo começou!! Gostou? Já viu as nossas outras listas? Caso tenha chegado aqui agora, dá uma olhadinha na lista dos anos 70! Mas lembrando que nosso túnel das melhores faixas de rock começa aqui! E se você gosta mesmo de anos 70, saca essa listinha do Lauro André aqui do Novidades do Passado! Também temos uma só de discos dos Beatles! E uma interessante história sobre o Rock Russo! RODRIGO VARGAS é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- Top 10 melhores faixas de rock da década de 1950.
Finalmente chegamos aonde tudo começou! Os anos 1950!! Quando o Country e o Rhythm and blues se encontraram e criaram o rock'n roll. Um estilo visceral, corajoso, jovem, divertido, outsider e até meio selvagem já. Mas também cheio de amor e romance. Enfim... Um banquete de sentimentos! 10 – So What (Miles Davis) – Muita gente deve se perguntar, como assim, isso é Jazz?! Justamente, toda a potência expressada livremente por esse gênio ecoa nos trabalhos mais elaborados que vieram a seguir. Miles é uma das maiores influências para a consolidação do rock. 9 – Blue Train (John Coltrane) – Essa canção é absoluta e nos coloca diretamente ligados ao que sentimos. Aquelas emoções mais guardadas aparecem aqui com força e vigor. Coltrane é mais um gênio que sustenta o futuro. Futuro que é passado para quem está lendo essa lista agora e presente para quem a ouve. 8 – Tutti Frutti (Little Richard) – Frenética e acidental. Esses adjetivos elevaram o status da música pop e abriram caminho para que os jovens da época sonhassem em ter uma banda. Deixo o resto para a imaginação de vocês. 7 – Please, Please, Please (James Brown) – Mais conhecido pelos passos rápidos, giros e deslizes de suas músicas mais agitadas, Brown era versátil e é um dos alicerces para a música moderna. A sua influencia se espalhou por todos os estilos que vieram a seguir, do rock, ao rap. 6 – Someday Somewhere (B. B. King) - Solos endiabrados e muito swing. Um dos deuses da guitarra. Essa música faz parte de seus primeiros anos e mostram um músico forjado no blues e mostrando a que veio. 5 – Johnny B. Goode (Chuck Berry) – Figura controversa. Amada por poucos, odiada por muitos mas genial nos palcos. Seus acordes são eternos! Essa música foi imortalizada de várias formas, inclusive pelo cinema. Abaixo uma das primeiras gravações deste clássico roqueiro. Também postamos aqui uma antológica versão ao vivo de 1995 no Rock'n Roll Hall of Fame mostrando toda sua energia mesmo aos 69 anos e com participação de Bruce Springsteeen! 4 – I´d Rather Go Blind (Etta James) – Se você é daqueles que gostam de Bon Jovi, Creed ou qualquer banda hard que espalha histórias de amor, ouça Etta e vai entender qual a fonte desses caras. 3 – What´d I Say (Ray Charles) – Ouça e se deixe levar. Feche os olhos! É mágico! 2 – Hound Dog (Elvis Presley) – Os gritos e desmaios começaram aqui! Se o rock se espalhou pelo planeta foi graças ao gingado e talento do rei! Abaixo selecionamos sua apresentação no famigerado no The Ed Sullivan Show! 1 – Ain´t Got No I Got Life (Nina Simone) – É o ápice de uma mente e alma inquietas e que transformou a música para sempre! Gostou da lista? Concorda? Discorda? Comente! Em breve começaremos mais uma viagem temporal através do que há de melhor no rock brasileiro! E que tal agora que chegamos aos anos 50 fazer a viagem de volta ao presente avançando década por década ouvindo tudo de novo até o começo da lista na década de 2010? Se curtiu a ideia a lista dos anos 60 tá na mão! RODRIGO VARGAS é do mundo. Nasceu em Goiânia, cresceu em Brasília, estudou em Londres e está cearense. Jornalista e psicólogo, teve bandas de rock e atuou como VJ na televisão. Foi apresentador e editor de cultura da afiliada à rede Globo no Ceará. O resto é história!
- + 7 Discos de MPB Fora da Caixinha
Se você gostou desta lista, vai gostar dessa aqui. Aos poucos a gente vai construindo uma discoteca de MPB que não passe necessariamente pelos "clássicos". As aspas são pelo seguinte: a maior parte dos discos do Caetano Veloso, do Gilberto Gil, do Chico Buarque, do João Gilberto etc., são clássicos com todo o merecimento. Mas alguém aqui ousará dizer que os de fora da caixinha não são clássicos? Alguns são tão bem cuidados e desprendidos da tarefa de se vender, que se saem até melhor do que os grandes. Só peço perdão para uma coisa: vou repetir artistas, que eu também não sou nenhuma biblioteca da música brasileira. Então, mais 7 discos fora da caixinha para uma ilha deserta (é a ilha de Lost, porque tem aparelho de som lá). Quinteto Villa-Lobos Interpreta Só com arranjos de choros maravilhosos para quinteto de sopro, esse disco é muito bom. Pra começar com as faixas de abertura, "Odeon", de Ernesto Nazareth e "Naquele Tempo", de Pixinguinha. O quinteto contava com o talentosíssimo clarinetista Paulo Sérgio Santos, ainda novinho, mas já arrasando. Adoro "Brejeiro", também de Ernesto Nazareth; "Primeiro Amor", de Patápio Silva e "Choro Negro", do grande Paulinho da Viola (com Fernando Costa). Alceu Valença & Geraldo Azevedo Começando juntos, em 1972, com esse disco gravado pelas madrugadas, Alceu Valença e Geraldo Azevedo fizeram um álbum intrigante. Com arranjos do tropicalista Rogério Duprat, você não encontra esse disco no Spotify (pelo menos até agora, dezembro de 2020). Mas encontra no YouTube. Conhecido como "Quadrafônico", esse disco utiliza uma tecnologia chamada Quadrifônica (outro que a utilizou foi Benito di Paula), que precisa de 4 caixas de som para ser desfrutada. Essa tecnologia foi natimorta, pois era muito caro montar um sistema de som nessas condições. Já o álbum, nasceu pra ser cult. Mônica Salmaso - Corpo de Baile Talvez (eu disse talvez) o melhor disco da Mônica, ao lado do Caipira. Ela se deparou com um baú cheio de músicas de Guinga e Paulo César Pinheiro, há 20 anos intocadas. A maioria nunca gravada. Daí selecionou as 14 desse álbum e atribuiu cada uma a um arranjador de sua confiança. Dá pra ver que eles se saíram muito bem. Porque não é fácil. Você tem que fazer um arranjo diferente, excelente, surpreendente, mas sem parecer que quer impressionar. Ela tinha um grupo mais ou menos fechado, com um quarteto de cordas, um violeiro, um violão, baixo, bateria, piano e seu esposo Teco Cardoso nos sopros. Esse disco me mata. Destaco "Fim dos Tempos", "Navegante", "Bolero de Satã", "Curimã" e "Violada". Até pro PC Pinheiro, que não é meu letrista favorito, tiro o chapéu. Quinteto Violado Mais um disco de 1972 e de estreia. O Quinteto começa com uma poderosa versão de Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), de arrepiar. É um álbum de extrema importância na Música Popular Brasileira, que apresentou o Quinteto Violado ao mundo. Basicamente pernambucano, o grupo existe até hoje, com outra formação. Destaque para: Acauã, Marcha Nativa dos Índios Quiriri e Agreste. Sivuca e Quinteto Uirapuru O quinteto de cordas paraibano Uirapuru gravou com Sivuca, em 2004, clássicos do repertório deste e do seu próprio. O disco é comovente, e a interação entre acordeon e cordas produz uma sonoridade mágica. Filhos da Lua está belíssima, assim como Minha Luiza e Um Tom Para Jobim. Dominguinhos e Yamandú - Lado B Eu mudei minha opinião sobre Yamandú muito recentemente. Achava seu toque agressivo e repleto de explosões de velocidade desnecessárias. Pois é, ou eu mudei ou ele mudou. Seu som é profundo, no 7 cordas. E sua inventividade é infinita. Outro que é inigualável é o Dominguinhos. Aparentemente ele não sabia nada de música, nem o nome dos acordes. Se o chamassem para gravar uma música, por mais complexa que fosse, ele pedia pra ficar sozinho numa sala do estúdio escutando com seu acordeon no peito. Em 10 minutos pedia para gravar. E aí ninguém soava como Dominguinhos. Quando os dois se juntaram, em 2007 para lançar o primeiro disco, Yamandú + Dominguinhos, não dei muita bola. Mas recentemente, procurando no Spotify achei esse, o segundo: Lado B, de 2010. É perfeito. Yamandú está maravilhoso e Dominguinhos, um poeta dos foles. O repertório também é impecával, com: Da Cor do Pecado, Noites Sergipanas, Fuga pro Nordeste, Naquele Tempo e Pau de Arara. Guinga - Delírio Carioca O cantor, compositor e violonista carioca Guinga tem muito a nos oferecer. Suas composições são lindas, cheias de curvas inesperadas, modulações na hora e na dose certas. Isso pra não falar do seu violão. Complexo, denso, cheio de acordes que deviam se chamar Guinga I, Guinga II... A voz é bonita e aguda, só reclamo do fato de ele não cantar muito compreensivelmente as palavras. Adoro Saci (dele e de Paulo César Pinheiro), Passarinhadeira (idem), a linda Canção do Lobisomem, Baião de Lacan e Mise-en-Scène (todas com Aldir Blanc). Confira a outra lista de Discos Fora da Caixinha. E prepare-se para a próxima.
- Você Não Pode Ser Irlandês e Racista.
O poderoso poema antirracismo da cantora irlandesa Imelda May, “You Don't Get To Be Racist And Irish” (Você Não Pode Ser Irlandês e Racista), está sendo exibido em outdoors por toda a Irlanda. Imelda fala para o jornal Irish Independent mais sobre a mensagem por trás da sua poesia, que faz parte da campanha Rethink Ireland, um fundo de apoio para organizações e grupos que capacitam comunidades marginalizadas e enfrentam a desigualdade sistêmica. Ela diz: "Somos todos humanos e, portanto, devemos mostrar nossa humanidade uns aos outros, caso contrário, o que seríamos? Estou muito feliz que o poema tenha fomentado alguma discussão e sou grata por ter encontrado as palavras para ser capaz de escrevê-lo. Mas acho que agora não é o momento de ouvir minha voz. É hora de ouvir as vozes daqueles que precisam ser ouvidos." Após a morte de George Floyd nos Estados Unidos e os protestos que se seguiram ao redor do mundo, o povo em toda a Irlanda refletiu sobre os próprios problemas raciais de seu país. Isso levou a manifestações em massa em Dublin e cidades como Galway e Cork, bem como ao reconhecimento entre os líderes de todos os partidos políticos de que a mudança é necessária. O poema, além de uma resposta aos eventos ocorridos recentemente, também faz lembrar que a própria história irlandesa, por ser vítima da opressão, torna o racismo imperdoável. You Don't Get To Be Racist And Irish pode ser lido integralmente no original, em inglês, e logo em seguida a versão para o português da tradutora brasileira Paola Benevides, que reside na Irlanda desde 2016. You don’t get to be racist and Irish You don’t get to be proud of your heritage, plights and fights for freedom while kneeling on the neck of another! You’re not entitled to sing songs of heroes and martyrs mothers and fathers who cried as they starved in a famine Or of brave hearted soft spoken poets and artists lined up in a yard blindfolded and bound Waiting for Godot and point blank to sound We emigrated We immigrated We took refuge So cannot refuse When it’s our time To return the favour Land stolen Spirits broken Bodies crushed and swollen unholy tokens of Christ, Nailed to a tree (That) You hang around your neck Like a noose of the free Our colour pasty Our accents thick Hands like shovels from mortar and bricklaying foundation of cities you now stand upon Our suffering seeps from every stone your opportunities arise from Outstanding on the shoulders of our forefathers and foremother’s who bore your mother’s mother Our music is for the righteous Our joys have been earned Well deserved and serve to remind us to remember More Blacks More Dogs More Irish. Still labelled leprechauns, Micks, Paddy’s, louts we’re shouting to tell you our land, our laws are progressively out there We’re in a chrysalis state of emerging into a new and more beautiful Eire/era 40 Shades Better Unanimous in our rainbow vote we’ve found our stereotypical pot of gold and my God it’s good. So join us... 'cause You Don’t Get To Be Racist And Irish. ________________________________ Você não pode ser Irlandês e racista Não dá para ter orgulho da sua herança de suplícios e lutas por liberdade enquanto se ajoelha no pescoço do outro! Você não tem o direito de cantar canções sobre heróis e mártires mães e pais que choraram como morreram de fome Ou do bravo coração de fala mansa dos poetas e artistas fazendo fila num campo de extermínio vendados e amarrados esperando por Godot e ressoando à queima-roupa. Nós emigramos Nós imigramos Nós nos refugiamos Por isso, não podemos recusar a nossa hora de retribuir o favor. Terra roubada Espíritos quebrados Corpos esmagados e inchados sinais profanos de Cristo pregado a uma árvore (Essa) que você pendura em seu pescoço Feito o nó da forca do libertado. Nossa cor pastosa Nosso sotaque grosseiro Mãos como pás de argamassa e alvenaria fundação das cidades você agora se põe de pé Nosso sofrimento escoa de cada pedra onde surgem as oportunidades pendendo sobre os ombros dos nossos antepassados que deram à luz à mãe de sua mãe Nossa música é para os justos Nossas alegrias foram conquistadas Bem merecidas e servem para nos lembrar de relembrar Mais Negros Mais Cães Mais Irlandeses Ainda rotulados de duendes, Micks, Paddys, brutamontes nós estamos gritando para dizer que nossa terra, nossas leis estão progressivamente por aí Estamos em uma crisálida num estado de emergir em uma nova e mais bela Irlanda (Eire)/era 40 Tons Melhor Unânimes em nosso voto pelo arco-íris encontramos nosso pote de ouro estereotipado e meu Deus é bom. Então, junte-se a nós... ‘porque Você não pode ser racista sendo irlandês. Abaixo um vídeo com Imelda declamando seu próprio poema em inglês. PAOLA BENEVIDES nasceu em Fortaleza e é licenciada em Letras e pós-graduada em Linguística Aplicada (Tradução), pela UECE. De cantora e compositora em bandas independentes, transita entre performances em saraus, experimentos audiovisuais, midiáticos e místicos. Possui poesia e prosa publicadas em antologias, blogs, zines e revistas literárias. Cofundadora da @logoslanguageservices, é revisora textual, transcritora, tradutora e intérprete. Autoexilada em Dublin desde 2016.
- SOBRE JAMES JOYCE, EXÍLIO E AFORTALEZAMENTOS
"Quando eu morrer, Dublin estará encravada em meu coração." Em 1941, dia 13 de janeiro, morria James Joyce, aos 58 anos, na Suíça. O autor, que passou boa parte da sua experiência na Terra como expatriado, me fez questionar se eu chegaria à mesma idade inteira, também longe da pátria, por tamanha impaciência com o curso tomado pelo homem, caolho pelos erros recorrentes de leitura. Logo eu, mulher nordestina, malfalada por uma porção de imbecis mais competentes. Felizmente, um bocado de nonsense verborrágico ainda disfarça o caráter genial de suas obras, cujas histórias pavimentadas por cenários dublinenses, servem de guia para não me perder entre veredas estrangeiras. Mesmo na falta de cognição para mapas, permeada por referências das belas-letras às marginálias, decido abrir meu livro ao mundo — tão quebrada quanto guarda-chuva em tempestade de cinco minutos ou tão protegida quanto cu de bêbado adormecido em assento de trem por longas horas. Aqui é assim, pelo menos não tememos perder a próxima parada conversando transcendências com os loucos. Embora não tenha logrado tanto tempo fora de meu país natal como Joyce, ainda assim carrego o peso da identificação maior com a Irlanda do que com este Brasil medievo, cuja proporção oceânica me fez desenvolver o trauma de nunca ter aprendido a nadar. Reza a lenda que, enquanto lá se vive, fica-se a boiar, esperando sempre por um farol, um mito, uma rajada de vento na baforada de um anjo, um cão-guia, qualquer coisa que nos faça atravessar este momento distópico como se não detivéssemos a própria maestria. Até quem se põe contra a maré carece de remos firmes o suficiente para a persistência na luta. As ruas serviriam para quê, além da disseminação de pandemias, carnaval e pirraça de caras brancas pintadas? Foi-se o tempo em que o medo cavalgava onças. Macunaíma mandou lembranças! Tenho lamentado tanto a falta de memória da minha gente que, por vezes, me coloco no lugar da filha de um pai com Alzheimer, tendo que explicar repetidas vezes o que ocorre, na esperança de ser, enfim, compreendida. É amor que se desgasta pela relação abusiva mantida desde a Independência, à base de chibatadas e feijoadas, racismos, fascismos e dias santos. Dali saí correndo, bati as portas de casa, mas continuo esbravejando em minha própria língua-mãe, a quem devoto fluência ilimitada. Amém. Saudades? Dizem que não se deve desdenhar das ancestralidades, por isso, tento acreditar em encarnações passadas. Sinto uma atração inexplicável pelas terras celtas desde a infância, quando ousava questionar sobre como uma ilha tão miúda poderia ser fértil assim em cultura, musicalidade e poesia. Ora, é justamente pela origem famélica que uma identidade subsiste, apesar de todas as restrições colonizadoras. Ao produzir sua arte em larga escala, seja por catarse na hora da dor ou puro dom de alma, Éire se faz guerreira, uma deusa gaélica embriagada de cerveja preta. Foi por ter me rendido às pints de Guinness em noites friorentas que, orgulhosamente, reavivo a luz do meu Ceará, na afoiteza de ter tramado tantos sonhos cantados e escritos entre a boemia de uma Iracema maldita, cartografando Centro, Fátima, Benfica, Guará e tantos outros mundos familiares. Costumo associar a bravura do Nordeste à intrepidez da Irlanda, embora a beleza do meu mar percorra um solo mais agreste. Nasci em Fortaleza, capital que carrega, na raiz do nome e no lombo desse povo, uma grande coragem, bem traduzida por Euclides da Cunha na epopeia Os Sertões: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte". Haja Vida e Morte Severina para traduzir a imagem de um retirante em seus afortalezamentos. São muitas bagagens que devemos largar de mão sem, ao mesmo tempo, nos desprender por completo, pastorando com gosto, prestando atenção em todas elas. Andamos sem tempo. Mas que deus teria coração a ponto de escrever uma bíblia em menos de 24 horas? Homero? Não. O homem é tão carente de macrocosmos que se ilude com a impossibilidade de criar maravilhas em pormenores. Menos Leopold Bloom, destinado à tragédia de ser um Ulisses moderno. Há quem maneje bem os fluxos de consciência e não permita iniciantes na sua Literatura. E é justamente nela que aprendi a mergulhar mais a fundo, sem que o frio me fustigue a pele carregada de sangue negro, latino, indígena, alienígena de qualquer definição que hoje melhor nos caiba. Estou fora, mas tudo isso muito me afeta, incomoda, destempera por dentro. Joyce costumava dizer que a história não passa de um pesadelo do qual se tenta acordar. E, por fim, ainda alerta: "Eu irei lhe dizer o que farei e o que eu não irei fazer. Não vou servir àqueles nos quais não acredito mais, mesmo que se intitulem minha casa, minha cidade natal ou minha igreja: e eu tentarei me expressar [viver] da forma mais livre e completa possível [através da arte], usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar — silêncio, exílio e habilidade." PAOLA BENEVIDES nasceu em Fortaleza e é licenciada em Letras e pós-graduada em Linguística Aplicada (Tradução), pela UECE. De cantora e compositora em bandas independentes, transita entre performances em saraus, experimentos audiovisuais, midiáticos e místicos. Possui poesia e prosa publicadas em antologias, blogs, zines e revistas literárias. Cofundadora da @logoslanguageservices, é revisora textual, transcritora, tradutora e intérprete. Autoexilada em Dublin desde 2016.
- Argonautas - Choro Dela (para a Beatriz, com todo o amor)
Quando a minha filha Beatriz foi completar 1 aninho, em 2011, eu fiz essa música. Nós fizemos um CDzinho e distribuímos como lembrancinha no aniversário. Gosto muito dela (da música e, obviamente da minha filha). Quando fomos fazer o disco Jangada Azul, em 2017, eu quis regravá-la. É uma música buarqueana, nas suas características. A insistência nas rimas - adoro rimas - a harmonia meio estranha e o fato de ser um choro. A Bia era muito parecida comigo quando bebê, por isso falo que ela me roubou o semblante. A gravação aí em baixo não é a do aniversário, mas a do Jangada Azul. Choro Dela (Rafael Torres) Eu tenho a impressão De me roubar todo o semblante algum ladrão Roubar-me o fôlego e a fala, a direção E ainda uma costela Eu tenho a solução Pro solucinho que me estanca o coração Sei que o antídoto é alguma distração E eu me distraio nela Eu tenho algum refrão Pra cada caso, pra qualquer situação Pesquei por todo o cancioneiro da nação Eu sempre tenho uma receita, uma poção Pra cada choro, cada dor, cada aflição Pra febre, inchaço, mal, quebranto, irritação Eu fiz pós-graduação Em qualquer coisa que tivesse precisão Como a logística da manipulação De fraldas, lenços, talco, água e algodão Eu nunca tive a mais básica noção De cada pano ter um nome e uma função Vi na televisão Que pra você estava tudo em promoção Que pra você todos abriam exceção Que todos olham sempre em sua direção E lançam piscadelas E quando outro ladrão Vem te roubar algum segundo de atenção Com beijos, truques, macaquices, tudo em vão Você é quem decide se sorri ou não Se vai ou não dar trela A mãe, só que banguela Rafael Torres: violão, flauta, voz e arranjo Ayrton Pessoa: piano Ednar Pinho: baixo acústico Igor Ribeiro: pandeiro
- Argonautas - Flores de Maio
Mais uma parceria entre mim e Alan Mendonça, "Flores de Maio" foi o meu primeiro samba, e gosto muito dele. Muito antiga, de quando eu tinha 18 anos, só foi gravada no nosso segundo álbum, o "Jangada Azul". Teoricamente é um poema dificílimo de musicar, não tem métrica silábica ou de versos, não faz muito sentido e é longo. Mas aos 18 anos a gente pode tudo. E se você parar pra escutar ou ler, vai ver que é uma letra genial! Flores de Maio Rafael Torres e Alan Mendonça Nasceram flores do campo e o quintal floresceu Minha vozinha a chamar por seu Deus Às seis horas na cadeira a rezar Olhando os bem-te-vis E eu vi dias de maio morrerem assim Maravilhado no varal a esperar Meu amor num sorriso avisar Que era dia de sol e sem mais esperar Esperando, aconteceu Minha vozinha pediu ao seu Deus pra me mandar um amor que eu herdei Esperando o dia de parar E procurei Às seis horas na rua central sonhos de maio e o meu carnaval Bêbado na rua central e chorei 22 dias sem parar Maravilhado no varal e cinco dias antes de eu morrer Meu amor sem avisar Apareceu Cinco dias depois de eu nascer Maravilhado no quintal então nasceram Flores do campo e no quintal floresceram Quatro brinquedos para um filho meu Que nasceu nos dias de maio de 2006 Nasceu lutando contra o rei Em 7 palmos de arreios de ouro Escreveu poemas de maio a agosto Às seis horas na rua central descansou da batalha mortal Às seis horas na rua central deitou pra dormir e sonhar Então plantei Flores de maio no chão que herdei Às seis horas na rua central Sonhos de maio de poeta plantei Sete sonhos coloridos nas mãos que herdei ontem Depois do Natal Então nasceram flores do campo e a praia floresceu Em maio de um próximo ano Cinco meses depois de eu morrer Bêbado na rua central Crucificado no varal No bom mistério que é amar você Flores do campo não param de nascer Em verso e prosa no papel machê
- Disco - Arcadi Volodos Live at Carnegie Hall
https://open.spotify.com/album/2BHJUHktIfBQRFiPMU5xdV?si=zXhyFdCwTn-_rBgcHqvclQ O Carnegie Hall é a sala de concertos mais importante de Nova Iorque, talvez dos Estados Unidos. Com uma tradição de mais de um século, já foi palco para Pyotr Tchaikovsky, que regeu o concerto de abertura da casa; Antonin Dvořák, que estreou sua 9ª Sinfonia, "Do Novo Mundo"; além de inúmeras apresentações dos mais importantes pianistas e orquestras do mundo. Até os anos 60 era a sala da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque. Existe uma infinidade de concertos famosos gravados lá, como de Horowitz, Jorge Bolet, Van Cliburn e outros. O pianista russo de São Pertersburgo, Arcadi Volodos não era muito conhecido até que a gravadora Sony Classical resolveu gravar um concerto seu. O resultado é tão impressionante que colocou a carreira dele num patamar altíssimo. Volodos tem tudo: agilidade surreal, potência avassaladora, um som de outro mundo (sua maior qualidade) e uma técnica que nunca foi ultrapassada. A Sony, delicadamente, cortou os aplausos, para que a gente não fique sendo incomodado por eles após cada música. Mas tem uma peça, as Variações sobre a Marcha Nupcial de Mendelssohn, de Franz Liszt (ficou confuso? a peça é de Liszt e se chama Variações sobre a Marcha Nupcial de Mendelssohn) a que a reação é tão efusiva que tinha que entrar na discografia do pianista. É que ele simplesmente destroi o piano. Vou colocar um vídeo dele tocando a peça em outra ocasião. Pega essa performance, eleva ao quadrado e saberá como foi naquela noite no Carnegie Hall. Mas do começo. A primeira é também de Liszt - a Rapsódia Húngara Nº 15, apelidada de Marcha Rákóczy. Só que Volodos toca uma espécie de arranjo feito por Horowitz, mais difícil. Depois ele toca três peças de Alexander Scriabin, entre as quais, e quase milagrosamente, a 10ª Sonata. Aqui o colorido que ele é capaz de extrair do piano é inigualável. Temos então três peças de Sergei Rachmaninoff, sendo dois Études-Tableaux. O primeiro, em ré menor, sempre foi, para mim, o ponto alto do disco. Já escutei todas as gravações que eu pude desse estudo e nunca encontrei a mágica, a aura de misticismo que envolve a interpretação de Volodos. O recital em si termina com Bunte Blätter, um grupo de peças que nem está entre os mais conhecidos de Robert Schumann, mas que Arcadi defende com convicção e faz soar com uma beleza encantadora. Depois têm os bis: as Variações que mencionei aí por cima, e um Prelúdio de Scriabin. Eu comprei esse CD na época em que saiu, lá pelo ano 2000. Comprei às cegas, porque não conhecia o pianista, mas foi paixão de cara. Se eu colocar pra ouvir agora mesmo, ainda vou me surpreender. Sempre que escuto, me vem a impressão de que Arcadi Volodos é o maior pianista que há. Comente o que achou desse CD sensacional. Veja nossas outras resenhas, como: Claude Bolling e Jean-Pierre Rampal Holst: Os Planetas / Elgar: Variações Enigma - Filarmônica de Bergen / Litton Zimerman/Ozawa - Concertos 1 e 2 de Rachmaninoff Yo-Yo Ma - Obrigado Brazil
- Cataventos (Argonautas)
Música de Rafael Torres e Alan Mendonça Uma das minhas primeiras músicas, eu devia ter 18 anos. Comecei a compor exatamente aos 15. Fiz um punhado de canções e sempre gravava no estúdio do Alencar, o Cacá. Mas sempre não pra lançar. O primeiro disco mesmo foi Interiores, que saiu em 2008, quando eu tinha já meus 27. Tinha músicas antigas como essa. Ela não abriu minha parceria com o Alan, mas é a mais bem sucedida. Foi gravada por Eugênio Leandro e por Marcus Caffé. A forma original dela é de maracatu cearense, mas só nós, os Argonautas, a gravamos assim. Cataventos Rafael Torres e Alan Mendonça Vamos, morena, Assistir àquela história no cinema E sorrir quando tudo terminar Vamos reinventar Um violão desafinado em noite de luar Enquanto a cidade dorme A gente espera a sorte chegar Que como o trem e a morte Não vem Vamos então, morena, Partir pra outro bar outro cinema E aplaudir quando o palhaço chorar Vamos nos inventar Como sóis desmaiados em noite de luar Enquanto a novidade se demora Agente bebe outra, à companheira morta por Acompanhar o trem da história Sem documentos, em mil cataventos voar A morte vai nos encontrar a sorrir Porém no bar passa um trem Com olhos pro mar Meu bem
- Schubert e a Morte (e a Donzela)
O compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828) foi um prodígio. Sua vida foi prolífica e trágica. Em 1822, aos 26 anos, descobriu que tinha sífilis, doença venérea que, à época, era mortal. Em 1823 foi diagnosticado com o estágio terciário da doença, o que praticamente era um decreto de morte. Schubert ainda escreveria muito até seu fim, aos 31 anos, mas a maturidade, que muitos alcançam na velhice, a vida o fez alcançar bem mais cedo. Assim como Mozart, outro gênio austríaco que morrera cedo, na adolescência ele já era um compositor completo, e aos 20 e poucos, um artista maduro. De 1824, seu penúltimo Quarteto de Cordas foi apelidado de "A Morte e a Donzela", nome de uma canção (voz e piano) que compusera anos antes sobre poema de Matthias Claudius, e que lhe serviria de tema para o 2º movimento. Ele era realmente completo: sinfonista, camerista, operista e compositor para piano. Só não escreveu música concertante. Mas apesar disso, era pobre e tímido. Não conseguia promover sua carreira, embora fosse o queridinho de Viena. Dizem que ele não arranjou nem coragem para falar com seu ídolo Beethoven, que lá morava. Este quarteto foi executado pela primeira vez em 1826, mas numa audição privada. Só seria publicado após a morte do compositor. Mas como esse Quarteto se relaciona à maturidade de Schubert? Pra começar, o primeiro violino perde a predominância: todos os 4 instrumentos (violino I, violino II, viola e violoncelo) têm sua dose de temas, motivos e acompanhamentos. Além disso, a peça é pensada como uma grande obra, com temas se entrelaçando e se desenvolvendo não como se tivessem vida própria, mas como se fossem galhos de uma mesma árvore. Pra completar, nessa obra e em outras do período, Schubert se desvencilha da necessidade de impressionar, o que ele fazia tornando as obras longas, cheias de ritornelos (repetições de trechos inteiros). Não que ele tivesse se tornado mais econômico em suas obras. Ainda eram extremamente longas, esse quarteto tem mais de 30 minutos, mas esse comprimento passou a ser orgânico, necessário. O primeiro movimento é um golpe de gênio, porque a instrumentação é brilhante, a gente vê os motivos passeando pelo quarteto e quase se perde. Mesmo em uma época em que não se usavam ainda muitos artifícios nos instrumentos de cordas (pizzicatos, harmônicos, cordas duplas, triplas etc.) ele consegue, só na escrita padrão ser sempre criativo. O movimento dá uma atmosfera meio trágica e agitada, com vários momentos de contraste, calmos e serenos. O segundo movimento é o que dá nome à obra, como eu falei. Ele utiliza o acompanhamento feito pelo piano no lied de mesmo nome como tema. Parece uma marcha fúnebre, que começa meio resignada e vai ganhando corpo e urgência. O scherzo é o movimento mais curto. O trio (parte central) é bem gracioso, parece se suspender acima da obra, quase clássico. O finale é tão pesado e turbulento quanto se espera. Trata-se de uma tarantella muito ligeira. No fim, Schubert faz que vai terminar em ré maior, o triunfo, mas cai em ré menor, dramático. Existe um filme de um certo diretor chamado "A Morte e a Donzela", com a Sigourney Weaver e o Ben Kingsley. É um drama de mistério baseado numa peça que é inspirada nessa obra (que, como vimos, é inspirada em outra). Confira também nossas listas: 10 Concertos para Piano 10 Sinfonias + 10 Sinfonias 10 Sonatas para Piano
- Jack Lemon
Oi pessoal! Vou continuar aqui dando minhas receitas para vocês tentarem reproduzir em casa. Comentem aí se conseguiram tá? Esse drink tá carta de coquetel da pousada Teju Açu onde trabalho em Fernando de Noronha. Segue a receita e reproduz em casa ! 50 ml de Jack Daniel's ! 25 ml de sumo de Limão Siciliano 15 ml de Monin de pêssego Adicionar todos insumos na coqueteleira Adicionar gelo e bater por 15 segundos Dupla coagem. Adicionar gelo no copo guarnição uma Rodela de limão desidratado Pó de beterraba desidratado e triturador E, claro, lembrando sempre: Beba com moderação! Quer mais receitas da Cíntia? Você já viu esse drinque premiado? Tem interesse em receitas o mais naturais possíveis também para comida? Aqui, no primeiro artigo da sessão Bistrô Neon tem muitas dicas bacanas! Cintia Maria Lopes Bartender em Fernando de Noronha especialista em Coquetelaria sustentável. Amante da natureza torcedora do sport rubro-negra doente.
- Mozart e seus Milagres: O Miserere de Allegri
Em 1770, aos 14 anos, Wolfgang Amadeus Mozart visita a Capela Sistina pela primeira vez em uma turnê na Itália. Além da arquitetura e das célebres cenas de Michelangelo por toda a igreja, Mozart estava interessado em ouvir uma peça que só podia ser executada lá. O Miserere Mei, Dios, do compositor italiano Gregorio Allegri. Trata-se de uma composição a capella (para coro) sobre o Salmo 51. Era proibido transcrevê-la ou executá-la fora da Capela. Ao chegar em casa, Wolfgang anotou quase perfeitamente a música de 15 minutos para 9 vozes. Isso. 15 minutos, 9 vozes. Isso demonstra uma compreensão musical que não dá pra entender. E uma memória que se tornaria lendária. Ele chegou a voltar para escutar uma segunda vez, fazendo uns pequenos ajustes. Mas seu feito foi tão grandioso que, em vez de puni-lo, o Papa Clemente XIV o chamou para uma conferência e lhe concedeu uma medalha. Tome essa medalha, meu filho. A música é de uma beleza transcendental. Eu imagino a experiência de escutá-la na época. Aliás, ainda vou falar de música sacra aqui. Leia mais sobre Mozart nas nossas listas: 10 Concertos para Piano 10 Sinfonias + 10 Sinfonias 10 Sonatas para Piano
- A Mina da Roupa de Borracha #03
Uma história em quadrinhos de Dona Dora. Dona Dora Nascida no Rio e criada na Ceilândia-DF, foi estudante de escolas públicas e formada em Artes Plásticas pela UnB - Universidade de Brasília. Em 2013, passou a produzir quadrinhos participando de eventos marginais ou feiras de coletivos de produção independente Zines. Desde então faz uns desenhos diferenciados, pinta quadros, faz quadrinhos e atualmente dá aula de Artes para o Ensino Médio. Curadoria de quadrinhos: Nílbio Thé e Isabelle Prado.
- COMO A LITERATURA ME SALVOU DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO
Confesso que, ao planejar o lançamento do meu primeiro livro, Boca de Cachorro Louco, para o começo do mês de dezembro, há quase quatro anos, não tinha me ocorrido que, alguns dias antes, em 25 de novembro, seria celebrado o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. Essa data marca um conjunto de ações para dar visibilidade e conscientizar as pessoas a respeito desse problema cujas estatísticas, infelizmente, só aumentam. E ela também contribuiu bastante, à época do lançamento da primeira edição do meu livro, para a promoção do meu relato em forma de obra literária, um conjunto de textos que reúnem as mais diversas e doloridas impressões que tive, durante e depois, de um relacionamento no qual sofri violência física e psicológica. E, devo dizer, registrá-lo com o próprio punho não foi mais fácil do que vivê-lo. Eu sempre gostei de escrever. Escrever para dar forma aos sonhos, às pequenas, grandes ou almejadas alegrias e, especialmente, às tristezas. Sim, as tristezas. Escrever para espantá-las e, depois de vê-las a distância, tentar entendê-las. Não foi diferente com o Boca de Cachorro Louco. Como eu mesma escrevi em algum lugar daquelas páginas, “A ode se transformou em um exorcismo poético [...]” e o enganado amor, ali de mãos dadas com uma espécie cega de paixão, deixou de ser para dar lugar ao medo e ao desprezo. Minha gente, foram tempos laboriosos. Todos os dias eu morria pelo desamor daquele homem. E todos os dias eu o desejava mais perto de mim, como se sua ausência significasse não um recomeço, mas o fim de todas as coisas que valiam a pena. E demorou um bocado para eu perceber como uma das minhas cantoras favoritas não poderia estar mais errada ao afirmar que “ele me machucou, mas pareceu amor verdadeiro” (“he hurt me, but it felt like true love”, Ultraviolence, Lana Del Rey). Nunca pareceu, por mais que eu quisesse ter acreditado nesse tipo de migalha. Antes de conhecê-lo, eu achava simplesmente absurdo que uma mulher permanecesse em um relacionamento povoado de agressões físicas e psicológicas, provocações, humilhações e por aí vai, porque me parecia que dar um fim nesse tipo desgraçado de união era a coisa MAIS ÓBVIA e FÁCIL a ser feita. Mas essa percepção ingênua e mesquinha só durou até eu mesma, depois de alguns anos, viver coisa parecida – por mais de um ano. Mais - de - um - ano. Então será que eu era uma sem-vergonha? Será que eu gostava de apanhar? Será que eu me sentia bem ouvindo as ofensas mais espinhosas e cruéis? Eu? Logo eu? Que me achava tão bonita, tão inteligente, tão segura, tão empoderada? Absolutamente não. Aquele namoro me deixou doente. E quebrada demais para dizer não. Na época, eu tinha um caderno/diário onde escrevia sobre a minha rotina dentro daquele relacionamento (sempre achei o registro da minha vida importante), sobre como eu me sentia e o que eu pensava, sobre minha autoestima destruída, sobre o medo horripilante de perdê-lo, sobre as conversas com ele, os sonhos, os maus tratos pelos quais eu me julgava culpada, a incredulidade, as agressões que seriam sempre as últimas e a minha própria e estúpida obsessão com a ideia de que ele me amava muito e de que era por isso que... (não vale nem a pena terminar o raciocínio). O resultado? Um retrato maravilhoso e fiel do meu encarquilhado estado emocional e do difícil caminho de aceitação e esclarecimento que precisei percorrer até que tivesse forças para finalmente entender que ELE ME BATEU, MAS NÃO PARECEU UM BEIJO. Boca de Cachorro Louco tem aproximadamente 134 páginas de eventos dispostos de forma não linear, alguns dos quais eu me envergonho, outros dos quais discordo veementemente e muitos que me entristecem ainda hoje por representarem a perda sem volta de um tempo precioso da minha existência, tempo que tento resgatar através da esperança de que esse livro poderá ser útil a outras mulheres que, assim como eu, conhecem na pele (muitas vezes literalmente) o que é um relacionamento abusivo. A escrita salvou a minha vida, seja nos registros poéticos que fiz através da minha visão conturbada e do meu coração sangrado, seja nas palavras duras e frias que encontrei para falar do que eu sentia, quando eu não tinha forças ou coragem de compartilhar com mais ninguém a feiura do que eu vivia. Graças a ela, posso dizer que sobrevivi e que hoje estou viva, contando outras e mais felizes histórias. Despeço-me com esta bandeira que sempre carrego comigo: a arte salva. E ainda é capaz de fazer cicatrizar e curar as feridas que estavam abertas no momento do resgate. Que nos lembremos sempre disso. Texto originalmente escrito em 2016, por ocasião do lançamento da 1ª edição do livro Boca de Cachorro Louco, para o Blog Escreva Lola Escreva. Kah Dantas Kah Dantas é cearense, mestra em literatura comparada, professora da rede pública de ensino e autora do livro autobiográfico Boca de Cachorro Louco (2016) e do livro de contos eróticos Orgasmo Santo (2020). Gosta de escrever, cometer o pecado da carne e comer docinhos.
- A Música Mais Lenta do Mundo: John Cage
A obra do compositor norte-americano John Cage é composta mais por manifestos do que por música. É dele a famosa 4'33''. Que consiste em 4 minutos e 33 segundos de total silêncio. Como a música está aberta ao que acontece na sua duração, isso inclui a reação do público, tosses nervosas ou até vaias e gritos de reprovação. A peça não tem o mesmo efeito se gravada, mas isso nunca impediu ninguém de fazê-lo. Um dos exemplos é a pianista (embora não use uma nota sequer, a peça é para piano!) georgiana Khatia Buniatishvili, que gravou no seu disco Labyrinth. Confesso que não tenho muita paciência com esse tipo de statement (declaração), em que a intenção é mais importante que a obra em si. No caso dessa peça, Cage ainda inventa de se explicar com uma visão superficial e americanamente simplificada da filosofia budista. "Tudo é permitido, se o zero é tomado como base". Esse tipo de explicação aparentementemente profunda e cheia de referências é o que me enche o saco em certas vertentes da arte moderna, como a de Zé Celso. No fundo o que eles querem é provocar. Mas depois falo sobre isso. O que eu vim aqui pra falar foi da música mais comprida do mundo. As Slow as Possible (Tão Lento Quanto Possível) foi composta por Cage em 1987. Uma performance pode levar cerca de uma hora, mas no órgao, instrumento em que o som nunca morre, e levando em consideração o título, ela pode durar uma eternidade. Na verdade, uma performance dela começou em 2001 e pretende acabar apenas em 2640. A, digamos, apresentação, é na Igreja St. Burchardi, em Halberstadt, na Alemanha. Você pode ouvi-la, e poderá por muito tempo, no site https://www.aslsp.org/de/. Pra você ter uma ideia, como ela começa com uma pausa, demorou 17 meses até que se ouvisse o primeiro som. A última mudança ocorreu em setembro de 2020, e a próxima, em fevereiro de 2022. Eu acho bizarro. Mas o experimento de se ter uma música cuja execução é transgeracional é interessante. A música podia tomar dois caminhos: fazer sentido o tempo todo, para que qualquer um soubesse o que se passa, ou só fazer sentido se apreciada em sua completude, que é o caso aqui. Como ninguém vai viver pra ver o desenrolar da peça, é um experimento mais pro ramo da curiosidade do que da musicologia. Um statement no seu sentido mais clássico. Se quiser ouvir música mais... mmm... competitiva, confira nossas listas: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Sinfonias Top 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria Top 10 Álbuns dos Beatles
- A lista do lauro: anos 70 pra se ouvir #02
Continuamos recebendo informações transmitidas por Lauro Almeida de sua cápsula temporal estacionada ali na década de 70. Informações valiosas na forma de listas de discos importantes para ouvirmos, descobrirmos, redescobrirmos e reouvirmos. É pra emocionar mesmo! Vamos lá! 10- AL WILSON - "SHOW AND TELL" (1973) - apadrinhado por Johnny Rivers, que produziu seu disco de estreia em 1969, Al Wilson gravou o segundo álbum tardiamente em 1973. Dessa vez o novo trabalho trazia uma levada mais funk, linhas de baixo mais acentuadas e dançantes. O lado sentimental do cantor também prevaleceu e, assim como dezenas de artistas oriundos de variados estilos, Al também fez a sua versão do standard de Leon Russell, a visceral A Song For You. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Touch and Go", "Broken Home", "Show and Tell" 9- FESTIVAL ABERTURA (1975) - numa tentativa de repetir o sucesso dos antológicos festivais de música popular dos anos 60, a Rede Globo idealizou o Festival Abertura entre janeiro e fevereiro de 1975. A ideia central era apresentar novos nomes de compositores e intérpretes, e mesmo o evento não tendo alcançado o sucesso esperado, ficou conhecido por ter reunido um time de artistas que, alguns anos mais tarde, viriam a se tornar medalhões da dita "segunda fase da MPB", como Djavan e Alceu Valença. O vencedor do festival foi Carlinhos Vergueiro com a balada Como um Ladrão, que ao longo do tempo foi esquecida. Um dos pontos altos do festival foi a participação de Luiz Melodia com a inédita "Ébano", que acabou se tornando um dos clássicos do artista. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Muito Tudo" (Walter Franco), "Ficaram Nús" (Burnier & Cartier), "Bem Te Viu" (Jorge Mautner) 8- FLEETWOOD MAC - "BARE TREES" (1972) - considerado o primeiro divisor de fases na carreira da banda, "Bare Trees" trás um som mais encorpado, com guitarras mais presentes e um peso ainda não ouvido no Fleetwood Mac. O trabalho é marcado por ser o último com o vocalista e guitarrista Danny Kirwan, demitido na banda por seus problemas com álcool. Entre as faixas do álbum está a balada "Sentimental Lady" de Bob Welch, que em 1977 obteve um enorme sucesso na regravação do próprio Welch pro seu disco de estréia solo "French Kiss", tornando-se um clássico da década de 70. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Homeward Bound", "The Ghost", "Child of Mine" 7- TEREZINHA DE JESUS - "VENTO NORDESTE" (1979) - mais um disco de estréia lançado no simbólico ano de 1979, "Vento Nordeste" surfava na onda agreste que tomou o Brasil na segunda metade da década, com a explosão de Zé Ramalho, Amelinha, Geraldo Azevedo entre tantos. Com uma voz menos rascante que Elba Ramalho e Cátia de França (que também haviam lançado seus primeiros discos naquele ano), Terezinha de Jesus não fugiu à suas origens e nos presenteou com o alegre forró "Fulô da Maravilha", passeou pelo chorinho e pelo bolero e fez uma leitura de "Toada (Na direção do dia)", sucesso recente do grupo vocal Boca Livre. Mas a cereja do bolo ficou com a versão da belíssima "Vento Nordeste" de Sueli Costa e Abel Silva, numa interpretação pungente e emotiva, deixando para segundo plano a gravação de Simone, no álbum "Pedaços" do mesmo 1979. Lamentavelmente, nenhum dos discos de Terezinha foram editados em CD e nem se encontram no streaming. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Cigano", "Coração Imprudente", "Vento Nordeste" 6- CISSY HOUSTON (1970) - oriunda dos famosos corais gospel, Cissy Houston gravou seu primeiro trabalho solo em 1970, depois da sua saída do grupo vocal Sweet Inspirations, responsável por backing vocals de inúmeros artistas, como Jimi Hendrix e Elvis Presley. O álbum trazia uma mistura de soul e spirituals, marca registrada nos discos de Aretha Franklin e Ray Charles. Com canções de Burt Bacharach, Jimmy Webb e Beatles, o grande sucesso do álbum ficou a cargo da releitura do pop adolescente "Be My Baby", hit do "girl group" The Ronettes em 1963. Transformado numa power ballad arrasadora, com muitos agudos e ornamentos vocais, a canção alcançou uma boa posição nas paradas, inclusive no Brasil, onde foi muito bem executada nas rádios. Anos mais tarde, sua filha Whitney Houston viria a se tornar uma das maiores cantoras de todos os tempos, usando as mesmas técnicas que a mãe. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "This Empty Place", "The Long and Winding Road", "Be My Baby" 5- SERGIO MENDES & BRASIL'77 - "PRIMAL ROOTS" (1972) - o sucesso estrondoso que Sergio Mendes obteve nos anos 60 ao redor do mundo com a sua versão de "Mas Que Nada" rendeu frutos maduros até o final da década, com excelentes discos em companhia do seu conjunto Brasil'66. Com a chegada da nova década, novos estilos musicais em voga, a Bossa já não mais vista como "nova", o pianista resolveu arriscar no seu trabalho de 1972. Para a surpresa (e torcidas de nariz) dos amantes do som easy listening de Sergio, o que se encontra aqui é uma ode ao candomblé, Caymmi e ao Free Jazz. Talvez a canção que menos cause espanto é "After Sunrise", um vocalise já presente em outras canções de seus trabalhos anteriores. O que surpreende são os pontos de macumba "Canto de Ubiratan" e mais ainda "Pomba Gira", executado ipsis litteris como em um terreiro. O lado B foi reservado inteiro pra uma peça de autoria de Edu Lobo e Ruy Guerra com longos 18 minutos, cunhada no estilo CTI, gravadora que catapultou Eumir Deodato e Airto Moreira internacionalmente no mesmo ano. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Canto de Ubiratan", "Promise of a Fisherman", "Pomba Gira" 4- APHRODITE'S CHILD - "666" (1972) - o trio grego de música pop formado em 1968 pelo baterista Lucas Sideras, o vocalista Demis Roussos e o tecladista Vangelis (que anos depois viria a se tornar um dos grandes compositores de trilha sonora de cinema), conquistaram as paradas de sucesso com baladas melódicas, como "End of the World", "Marie Jolie" e a clássica "Rain and tears". Com o apogeu do rock progressivo em 1970, com bandas como Yes, Gentle Giant, Renaissance entre inúmeras outras ganhando seu lugar ao sol, o lider Vangelis enveredou pelo caminho psicodélico e nos entregou um álbum duplo, contando o Apocalipse de João de uma forma que muito se assemelha com o libreto da peça "Jesus Christ Superstar" de Andrew Lloyd Webber. A diferença é que aqui temos músicas instrumentais, entremeadas com barulhos, sussurros e distorções, ao melhor estilo Pink Floyd. As poucas músicas com vocais foram usadas como singles para a promoção do álbum, como "Break" e "Babylon". Insatisfeito com o caminho tomado pela banda, Demis Roussos seguiu em 1973 em carreira solo, assumindo totalmente seu lado romântico, com hits como "We Shall Dance" e "Forever and Ever", eternizadas até hoje nos programas de flash-back. ATENÇÃO NAS FAIXAS: tratando-se de um álbum conceitual, aconselho a audição completa e na ordem. 3- BAIANO & OS NOVOS CAETANOS - "VOLUME 2" (1975) - personagens do programa humorístico "Chico City", Baiano e Paulinho (interpretados por Chico Anysio e Arnaud Rodrigues), caíram nas graças do público, com uma sátira rasgada aos Novos Baianos e ao cantor Caetano Veloso (a imitação de Chico Anysio de Caetano é icônica!). Tamanho foi o sucesso, que em 1974 foi lançado um álbum da dupla, com o sucesso "Vô Batê Pá Tú", um verdadeiro clássico até hoje lembrada e a belíssima "Folia de Rei". No ano seguinte foi a vez do "Volume 2", agora na gravadora Som Livre. Com arranjos de Guto Graça Mello e produção do próprio Arnaud, o disco carrega a vertente do humor na engraçadíssima "Perereca", faz a poeria subir na animadíssima "Forró" e emociona com a linda harmonia de "Sete Luas". ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Entardecer na Fazenda", "Ameriqueiro" "Três Macaquinhos" 2– SWAMP DOGG - "TOTAL DESCTRUCTION TO YOUR MIND" (1970) - pregresso dos anos 50 e 60, o excêntrico Jerry Williams Jr assumiu a alcunha de Swamp Dogg em 1970 e lançou seu primeiro trabalho, voltado pro blues pro R&B, com pitadas de country rock. A voz rascante e gritada se assemelha muito à de James Brown, até mesmo em alguns arranjos das canções. O disco é recheado de naipe de metais, viradas de bateria típicas do funk e a marcação forte do piano nas canções mais sentimentais. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Everything You'll Ever Need", "Redneck", "These Are Not My People" 1- ZIMBO TRIO - "ZIMBO" (1976) - um dos grandes trios instrumentais brasileiros surgidos nos anos 60, o Zimbo Trio nos presenteou em 1976 com um disco vibrante, com participações mais que especiais do saxofonista Hector Costita e do multi instrumentista Heraldo do Monte. Inegavelmente um disco jazzístico, mas sem perder a brasilidade tão peculiar do trio. Duas releituras de Milton Nascimento e músicas autorais evidenciam a supremacia do encontro de Amilton Godoy, Luís Chaves e Rubinho Barsotti. ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Fé Cega, Faca Amolada", "Brincando", "Viola Violar" Lauro André Amante de música desde criança, colecionador de discos, dj e curador musical, aficionado nos anos 70 e em suas vertentes. Do clássico ou obscuro, do compacto de vinil ao cd.