top of page

Resultados da busca

352 itens encontrados para ""

  • Que tal: nem eu comunista, nem você nazista?

    Por Rafael Torres São duas palavras extremamente estigmatizadas e pertencem ao passado . Acusar uma pessoa que apoia Donald Trump ou Bolsonaro a Hitler (ou seus apoiadores , que foram e são muitos ) é uma estratégia , no mínimo, abstrata . E eles não são muito bons em abstrações . Pode chamá-los de burros , mas um burro não se acha burro. O mesmo vale para a comparação entre Lula e Stalin . Isso porque sabe-se que estaremos comparando extremos a moderados , colocando tudo em uma mesma panela e fazendo aquela mistura doida . O Brasil sobreviveu a Bolsonaro . Eu , pelo menos, não percebi alteração no meu estilo de vida . Egoísta , ele é, eu sei, porque LGBTs , negros e nordestinos são vítimas constantes de suas falas nojentas . Mas sabemos que, em caso de atrocidade , será preso . O ser humano , em geral, abomina preconceito (quando não parte dele mesmo ) e assassinato . Especialmente genocídios . E, mais ainda , quando os dois estão combinados . Adolf Hitler Eu ainda me surpreendo : quando fui pesquisar uma foto do monstro , coloquei Adolf e o Google me sugeriu, imediatamente, este Adolf que você vê acima . As sugestões seguintes eram todas referentes a ele . Com Stalin , o mesmo . Se bem que, Stalin , pode se referir, principalmente , ao ditador russo , enquanto que Adolf , temos um punhado de outros . Acontece que (ao menos quase ) todo mundo já assistiu a algum filme sobre o holocausto , feito para dar nojo de qualquer cidadão que simpatize com aquilo . Mas pense: Trump , recém eleito presidente dos Estados Unidos , não promete , a quem nele votou , nenhum genocídio . Ao menos, não para eles , que não são bons em subtexto . Lula , pela terceira vez , presidente do Brasil , também não propõe nada nos moldes do Stalinismo . Nem pratica . Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão bem equipados contra regimes autoritários insanos . Ser Lulista é tão sinônimo de Stalinista , quanto Bolsonarista é de Nazista ? Confesso logo que tenho muito maior simpatia pela esquerda do que pela direita . Mas digamos que ambos busquem o progresso . E ambos foram eleitos após duas administrações, digamos, polêmicas . A Dilma sofreu impeachment por uma tecnicalidade , as pedaladas fiscais (que, se for procurar , todos cometeram ). O Biden ( não conheço muito de política externa ) me parecia ruim , mesmo . Ou então, teve que consertar todas as jumentices do governo anterior , justamente, Trump . A resposta à pergunta do parágrafo anterior é não . Lula não está nem perto de convocar uma ditadura comunista quanto Bolsonaro esteve de uma ditadura militar . E isso se deve ao simples fenômeno descrito no quadro abaixo (feito pelos melhores profissionais da Arara Neon ). Tem a ver com extremos . Lula não está perto da extrema esquerda . Ele defende a democracia mais do que seu antecesssor . Já Jair , é a extrema direita pura: malicioso , cheio de " piadas " de extremo mau gosto , racista etc. O que o gráfico não mostra (nem poderia) é que, quanto mais para um lado você está, mais difícil é enxergar o outro. E, quanto mais em uma extremidade você estiver - digamos, extrema direita - tudo , para você, vai parecer esquerda . Porque tudo estará à sua esquerda . Em resumo : você, esquerdista , acredita mesmo que metade do país é nazista ? Claro, tal movimento está crescendo , e isso é surreal , mas ainda é incipiente . E você, direitista , acredita mesmo que toda a esquerda é comunista ? Eu , ao menos, não sou . Acho um horror o regime tal como foi implantado na União Soviética , tanto quanto o próprio Nazismo (que, não se engane, é de direita - a palavra Nazismo vem de Nacional Socialismo , que era justamente uma oposição ao Socialismo Internacional da Revolução Russa ). Sujiro que se eduquem antes de falar groselha . E é então que eu proponho : que tal nem eu comunista , nem você nazista ? Se você é de direita , tem, para mim, algumas visões equivocadas , especialmente sobre o que está à esquerda de você . Mas, como se diz : " quando você percebe que está em um culto , você já saiu dele ". Eu já conheci e lidei com pessoas que apoiavam o Bolsonaro , mas eram maravilhosas (fora o olhar , quando mencionavam alguma coisa de política - ficava esquisito ). Já fui " ofendido " por parentes meus , mandando-me ir à Venezuela . Presenciei a " conversão " de um irmão meu ao Olavismo e, depois, ao cristianismo . Li os mesmos textos que ele e assisti aos mesmos vídeos . Achava o Olavo cada vez mais idiota . Cheguei, até, a fazer um samba em defesa do Chico Buarque : Mandaram o samba pra Cuba Mandaram o samba pra Paris Sem saber que, em Havana , Foi o samba tão feliz O Brasil começa a amadurecer , a saber conviver com seus lados . Isso é um bom começo . Mas é apenas o começo . Temos, ainda, muito por que lutar . Se bem que, estudando história com a minha filha , 9º ano , não sei, não. Lista de postagens da Arara Neon, aqui ! E não deixe  de comentar . Basta rolar abaixo e encontrar uma caixa de diálogo vermelha .

  • Fortaleza da Manhãzinha

    Decidi falar, hoje, sobre a minha querida cidade: Fortaleza , do Ceará , do Brasil . Fortaleza tem área 312.353 km² (34 Km de praias) e 2,428,678 habitantes. Isso a torna a quarta maior cidade do Brasil, atrás de São Paulo , Rio de Janeiro e Brasília . É, também, a maior cidade do Norte e do Nordeste brasileiros. É a 11ª cidade do país pelo PIB , com R$ 65 milhões . É a quinta maior e mais populosa do país. Duas potyguarinhas que devem ser mais ferozes que os nossos filhos. Mito Inverificável Diz um mito Inverificável que, antes dos portugueses chegarem, duas expedições espanholas vieram e desembarcaram no Ceará. Uma delas foi a de Vicente Pizón , que hoje nomeia um bairro de Fortaleza. Ele teria aportado no Cabo do Mucuripe . Que hoje, também, é um bairro homônimo da cidade. Mas sua viagem não foi oficializada , por conta do Tratado de Tordesilhas . Acompanhava-o o seu primo , Diego de Lepe . A história oficial põe ambos desembarcando no Cabo de Santo Agostinho , Pernambuco , mas, atualmente esta visão é muito contestada em favor do Mucuripe . Rachel de Queiroz, uma das principais escritoras brasileiras do século XX. Povoação da Fortaleza Colonial O nascimento da cidade foi complicado. Quando os portugueses invadiram , havia povos indígenas vivendo aqui, logicamente. Entre 500 AC . e 1.000 DC ., o Ceará foi dominado pelos tapuia , que acabaram sendo expulsos do litoral para o interior pelos tupi , que depois ganhariam seu nome regional , potyguara. Ou potiguara . No início do século XVII , na verdade, a partir, já, de 1597 , iniciou-se o processo de povoação de Fortaleza. Isso porque houve o esvaziamento dos arredores do Forte Dos Reis Magos , em Natal , por parte de um braço da tribo Tapuia , que veio se instalar no Ceará . Em uma região que se encontra entre os rios Cocó e Ceará . E que tem como vista as serras de Maranguape e de Aratanha . Os portugueses se apossaram do local um pouco depois, em 1603 . Batizaram a área de Nova Lisboa e a região de Nova Luziânia . Mas logo foram embora, ao se depararem com a seca nordestina e os constantes ataques indígenas . Em 1649 vieram os holandeses . Foi construído, então, às margens do riacho Pajeú , o Forte Schoonenborch . O forte continua lá. O rio Pajeú , hoje, é um fiapo . Em 1654 , mais uma expulsão holandesa por parte dos portugueses . O Forte recebeu seu apelido final: Forte de Nossa Senhora da Assunção . Ele, desse jeito caótico , dá nome e sobrenome à cidade. Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção . Em 1726 , o assentamento perto do forte foi elevado a vila . Em 1799 deixamos de ser o seleiro de Pernambuco . Com o desmembramento da capitania do Ceará da de Pernambuco e Fortaleza elevou-se de vila a cidade . Ficou capital do Ceará por uma tecnicidade . Até então, Aracati (mais populosa) e Aquiraz (hoje, anexada à Região Metropolitana de Fortaleza ) eram mais cotadas para capital, mas Fortaleza as ultrapassou em população com a explosão populacional trazida pelo plantio de algodão . Nesse período de tanta luta e domínio , o Ceará foi um estado altamente abolicionista e tendencioso à independência de Portugal . (Leia a história do jangadeiro Dragão do Mar , da Padaria Espiritual e do município de Redenção ). O Rio Cocó, no parque estadual do Cocó. Em 1890 , foi formada, por escritores , músicos , pintores e intelectuais , a Padaria Espiritual , que tinha o nobre intuito de trazer a arte para mais próximo do povo. Formada, inicialmente, por Antônio Sales , Lívio Barreto e outros, posteriormente contou com o sanitarista Rodolfo Teófilo , inventor da cajuína , e Antônio Bezerra . Eles começaram montando tendas de café , na Praça do Ferreira , Fortaleza, nas quais se reuniam e faziam circular o " Pão ", seu pasquim. Fortaleza abriga, também, o terceiro maior Parque Estadual das regiões Norte e Nordeste . É o Parque do Cocó . Corpo da Padaria Espiritual. Fortaleza no Brasil Império No século XIX Fortaleza logrou, como mencionado, de Aracati e Aquiraz , o posto de principal cidade do estado . Tendo sido o Ceará um estado portuário , passa, então a ser um forte produtor de algodão . Houve, à época, um crescimento desenfreado da população da cidade, por conta de ser considerada cidade chave para os investimentos do Governo , o que atraiu retirantes e arruaceiros (e uns cangaceiros ). Os personagens principais dessa época são: Silva Paulet - urbanista português responsável pelo primeiro plano urbanístico de Fortaleza, em 1812, cuja ideia, de planos em xadrez, fora mantida por seu sucessor, Adolfo Hebster , em 1875 . A Confederação do Equador , movimento separatista que se deu em todo o nordeste. Seus mártires: o Padre Mororó e Pessoa Anta , mártires da Revolução. Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura Em 1999 , o então governador do estado do Ceará, Tasso Jereissati , entregou à capital o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura . Trata-se de um centro cultural enorme (e com o espaço mal aproveitado), que conta com cinema , teatro , planetário (muito bom}, biblioteca , livraria e restaurantes . Eu e meus amigos temos boas memórias de lá. Ainda funciona , mas eu não posso atestar sobre a segurança . Costumava ser tão legal que, durante anos , a gente se encontrava lá, muita gente andando de bicicleta , outra na sorveteria , uns conversando com a estátua do Patativa do Assaré ... PONTOS TURÍSTICOS De pontos turísticos , além daqueles sobre os quais já falamos, temos: O Beach Park - chamado de o 2º maior parque aquático do mundo (quando eu fui, era o primeiro); A Praia de Iracema - também é um ponto que eu não posso garantir , hoje . Mas, em seu ápice, agregava a nata de uma cidade verdadeiramente boêmia, para o bem e para o mal. Nos anos 80 e 90 era comum você encontrar no Cais Bar um Belchior , um Fausto Nilo , um Manassés ,,, A Catedral Metropolitana de Fortaleza - no centro. Inaugurada em 1978 - Mas não a frequente frequentemente, nem por motivos religiosos. Faz mal à psiquê. Se bem que é linda . A Feirinha de Artesanato da Beira-Mar , em que você encontra roupas, itens decorativos e castanha (a melhor do mundo). Em 1921 você podia encontrar, no que hoje é a praça Luísa Távora , o Castelo do Plácido , uma cópia fiel de um palácio veneziano que foi construída pelo comerciante Plácido de Carvalho como pedido de casamento à sua noiva milanesa Pierina . Ao redor deste, Pierina fez construírem-se 6 palacetes , para abrigar os funcionários (edifícios que ainda existem). E que, no início dos anos 70 , foi vendido pela herdeira Zaíra para virar supermercado (e nem virou). Feitos do/no Ceará Cajuína - foi inventada por um piauiense, Rodolfo Teófilo, mas ele criou em Fortaleza, de modo que temos metade do mérito; Praias fantásticas - visite Jericoacoara , Mulungu , Canoa Quebrada e Aracati ; Fortaleza já perdeu quase metade de sua população para a fome , em 1877 ; É a capital brasileira mais próxima da Europa e dos EUA , mas, estranhamente, nem por isso as passagens são mais baratas ; Embora esteja Fortaleza fora do eixo do stand up comedy , a cidade desenvolveu há décadas seus "shows de humor" , com atores/personagens, por vezes travestidos, como Meirinhha , Zé Modesto e Adamastor Pitaco ; Também na seara do humor , temos personagens marcantes que obtiveram consagração nacional e internacional, como Chico Anysio , Tom Cavalcante , Renato Aragão (de Sobral) e Edmilson Filho ; O linguajar do fortalezense é repleto de armadilhas. Por conta disso, foram lançados alguns dicionários de "Cearês" em livro ou em blogs, com entradas que servem até aos nativos , como: Ande, Tonha! - Tanto pode significar um suspiro por um desejo sexual iminente ante uma presença feminina irresistível como pode exprimir o desejo já satisfeito e deselegantemente divulgado. "Eu ainda pego essa menina e ande, Tonha!..." ou "Eu peguei a menina e ande, Tonha!..."; Bãe de Cuia - No jogo de futebol, corresponde a lençol; Curubau - Ver Canelau; Canelau - "Gentinha". Ralé. Gente mal vestida. "Não sei como uma menina tão bonita gosta de um cara tão canelau". Dentre os grandes personagens fortalezenses  do passado e do presente, encontramos: José de Alencar  (o grande escritor do romantismo brasileiro, de cuja casa ainda podemos visitar, no bairro Messejana), Dom Helder Câmara  (líder católico, arcebispo de Recife durante a ditadura), Frei Tito  (perseguido, preso e torturado na ditadura, cometeu suicídio na França), Humberto Castello Branco  (ditador militar, 26º presidente do Brasil), Alberto Nepomuceno , compositor romântico, fundador da música nacionalista no Brasil (aguardem artigo), Rachel de Queiroz  (uma das maiores escritoras do século XX, de Memorial de Maria Moura  e O XV ), Paula Ney  (poeta e boêmio da belle époque, os anos 1920), Recentemente, o Cineasta Karim Aïnous , diretor de Madame Satã , O Céu de Suely , Praia do Futuro  e A Vida Invisível  (forte candidato ao prêmio no último festival de Cannes) e Firebrand e o escritor e biógrafo Lira Neto , autor de uma Trilogia sobre Getúlio Varga; de Maysa: Só numa multidão de amores; O inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar e muitos outros. Verdades sobre Fortaleza Temos 2 estações (trocadas): o verão , em que o problema é a seca ; e o inverno , em que o problema é a chuva ; É quente quente . Você não progride um quarteirão sem ficar suado ; Teve um dia , de manhãzinha , que os termômetros marcaram 21º . Fiz uma música em homenagem. O comum é 30 . De 28 a 34 . A chamada " vaia cearense " é motivo de orgulho para alguns e de estresse para os outros; Tem cantores bons e cantores ruins . Os bons são tão bons quanto os ruins são ruins ; A cidade é seletivamente perigosa : em alguns bairros você transita em paz ; em outros, transita rumo à morte ; Mas a parte turística é de boa ; Os carros buzinam o dobro do necessário. Talvez o triplo . O que falta à cidade? Mais centros culturais . Imaginou? O Centro Cultural Ariano Suassuna ? O Cego Aderaldo ? Facilitação do tráfego de pedestres , especialmente na região da Aldeota . Mas em toda a cidade : o pedestre sofre , também, na Maraponga ; A Universidade Fortalezense das Artes , que eu idealizei. Os cursos seriam Música - Licenciatura , Bacharelado em todos os instrumentos de Cordas , Madeiras , Metais , Percussões , Harpa , Piano , instrumentos antigos , Composição , Composição e Regência , enfim, tudo de música , tudo de artes visuais , literárias , estilismo e moda e muito mais . Assim como o Plácido nos deu um castelo , eu daria, de bom grado, essa faculdade ...

  • O Mistério do Trágico Incidente Dyatlov

    A Terra tem muitos mistérios. A começar pelo fato de ser esférica . Não, isso não é mistério . Mistério é ter gente que acha que ela é plana . Outro mistério : como foi que o mundo se tornou tão desagradável ? Se reduzíssemos a humanidade ao ideal de certas pessoas , só haveria: homens , loiros , altos , héteros (sei lá como, pois não existiriam mulheres ), armados e com camisa xadrez . E nenhum deles poderia pilotar um avião . Não acho seguro . Tá bom, estou pensando alto . O que eu quero falar aqui é daquele que me parece um dos maiores mistérios da história . O Incidente Dyatlov . Eu tive minha fase , quando a internet era mais incipiente , de bancar o detetive e buscar respostas ou conjecturas sobre grandes enigmas . Não tenho mais , a maioria parece bobagem . O Mary Celeste , por exemplo: pode ter sido uma tempestade , ou então o capitão pirou e matou todo mundo . Ou acharam uma ilha tão bonita que quiseram ficar lá . Amelia Earhart tenho quase certeza que caiu . Mas o Incidente Dyatlov é o diacho . Simplesmente não tem explicação . Vamos do início . Em fevereiro de 1959 , Rússia , um grupo de 10 esquiadores e esquiadoras , liderados por Igor Dyatlov, partiu em uma expedição pelos montes Urais . Eles queriam chegar ao monte Otorten , a 10 Km de onde partiram. Um dos esquiadores ficou doente e voltou , restando apenas 9 . O grupo estava animado . A trilha era difícil , mas todos eles tinham experiência . No dia 1º de fevereiro eles acamparam numa passagem conhecida como Kholat Syakhl , que significa Montanha dos Mortos na língua Mansi , do povo local. Hoje o lugar é conhecido como Passagem Dyatlov . Ou então, Montanha Silenciosa - não há quem traduza essa coisa? Não há consenso sobre nada a respeito do Incidente Dyatlov ? Verão que não . Até quando acamparam , tudo estava bem , os diários e fotografias nos certificam disso. Mas de madrugada alguma coisa aconteceu . Alguma coisa fez aqueles 9 jovens abandonarem o calor de sua barraca e irem procurar refúgio na floresta , a cerca de 1.500 metros da clareira onde estavam. Eles saíram da barraca , não pela porta , mas por cortes feitos à faca no pano . Alguns saíram de meias , outros com apenas um sapato e outros, ainda, descalços . O frio era desesperador , cerca de - 30º C . As pegadas indicam que eles não estavam correndo em desespero , mas que saíram ordenadamente . Semanas depois, as autoridades começaram a encontrar os corpos . Foram encontrados nos mais diver sos lugares . Alguns fizeram uma fogueira sob as árvores , mas morreram de frio , mesmo assim (estavam só com a roupa de baixo ), outros caíram de uma ravina , outros morreram de hipotermia ao tentarem voltar para a barraca . No final das contas nenhum dos nove apareceu no ponto final . Uma das moças tinha a língua decepada e estava sem os olhos (dizem que pode ter sido algum animal ou até mesmo o frio , mas muitos questionam essas hipóteses). Um outro tinha levado uma pancada no peito comparável à de um atropelamento . Outro estava sem a orelha ! Outro, ainda, tinha um buraco na parte frontal da cabeça . Na árvore , os galhos tinham sido quebrados até 5 metros de altura, dando a entender que alguém tinha subido para olhar a barraca . Um pouco sobre Semyon Zolotaryev - Um dos membros do grupo , Semyon Zolotaryev , era, no mínimo, esquisito . Ele não era do grupo ; tinha uma certidão de nascimento com data diferente da que constava no cartório ; era bem mais velho ( 38 ) que os outros do grupo ; tinha várias tatuagens (incomum, em 1959 ) incluindo um pentagrama ; era solteiro , o que era estranho , na sua idade ; suspeita-se que trabalhasse para a KGB ; e o pior de tudo: o DNA ( mitocondrial ) do corpo atribuído a ele não combina com o dos seus sobrinhos . Como se jamais tivessem enterrado o verdadeiro corpo de Semyon . Mas havia se entrosado com o grupo porque era divertido , cheio de histórias da 2ª Guerra e ainda tocava música para dançarem (e sabia várias ). Bom, mas, de qualquer forma , se alguém matou o grupo , não levou qualquer pertence deles ( câmeras , diários , dinheiro ...). A teoria diz que ele forçou os outros a sair da barraca , andar até a floresta , e os matou . E achou alguém para servir de corpo em seu lugar. Tá bom, improvável . Investigação A investigação subsequente demonstrou que: três morreram de ferimentos ou pancadas e, seis , de hipotermia ; a possibilidade de avalanche era baixíssima (era uma passagem relativamente plana e o grupo saberia onde acampar para fugir da possibilidade de uma. Além disso, eles fugiram montanha abaixo , exatamente para onde uma avalanche correria ); eles não foram atacados pelos Mansi e nem por algum animal selvagem , pois não havia pegadas que o indicassem ; havia radiação nas roupas deles (o que pode ser explicado pelo fato de que alguns trabalhavam, na universidade, com produtos radioativos ); a pancada em um dos rapazes foi fatal e tem uma particularidade : não pode ter sido causada por alguma criatura , pois não havia dano na pele dele, o ferimento era interno ! Durante o funeral , as pessoas notaram que eles todos tinham um bronzeado laranja bem forte . A pergunta não é nada sobrenatural . Na verdade, é bem simples : por que 9 jovens abandonam a aparente segurança de uma barraca , alguns só de cueca , e não voltam posteriormente pra ela ? O que houve naquela tenda ? A cada década surge uma nova teoria , recebida sem entusiasmo : nenhuma conseguiu explicar cada um dos aspectos do Incidente Dyatlov. Para completar , você vai achar que estou brincando , mas duas outras expedições em locais próximos relataram ter visto OVNIs (OVNI não quer dizer Disco Voador , mas simplesmente um objeto voador não identificado) verdes sobrevoando o local . Pronto, mais um mistério para a história do nosso planetinha redondo . Para esse, duvido que você encontre resposta . Eu fico arrepiado pensando se eles ouviram algum rugido assombroso e correram , se tiveram um acesso de loucura coletivo , se houve um vento sobrenatural , um barulho subgrave ... Recentemente deram novo " veredicto ": houve uma avalanche , fugiram da tenda , alguns morreram de hipotermia , outros de uma queda . Ponto . Só que isso está longe de ser satisfatório . Por que correram para tão longe ? Por que, ao menos, não agarraram umas roupas (enquanto várias pessoas saem por um buraco na sua frente , há tempo de você puxar sua mochila )? Como não havia sinal de avalanche ? Os investigadores da época descrevem com clareza as pegadas que saíam do acampamento... Imagino que, se houvesse avalanche , isso não seria possível . Editado em 26.09.2020 Algumas teorias e por que elas não funcionam 1. Avalanche – É tentador acreditar que tenha sido uma " simples avalanche ", mas não havia sinal de deslizamento no local. A barraca ainda estava levantada , apoiada em pás de esqui , também ainda em pé . A neve que cobria parte da tenda tinha caído de cima , passaram-se 20 dias até que os corpos fossem descobertos . Além disso, a hipótese de avalanche foi levantada desde a primeira investigação , já na época e considerada fraca . Eles eram experientes , se houvesse essa possibilidade estariam mais agasalhados . Além disso, ela explica alguma parte da situação , mas só se combinada à teoria do Vento Catabático . E, sendo ela tão forte , teria derrubado a barraca . Por fim, se ouviram sinais de avalanche por que de tentaram abrir a barraca por dentro ? ( deve demorar ). Saíram sem pressa e com pressa ao mesmo tempo? 2. Assalto – Um assalto a mão armada - Os oficiais foram bem claros : havia 8 ou 9 pares de pegadas saindo da tenda , não mais . Além disso, por que eles teriam feito um corte lateral na tenda, em vez de sair pela entrada ? 3. Ataque pelos Mansi – Homens Mansi foram torturados pelas (covardes) autoridades , segundo alguns documentários . Mas mesmo sob tortura a história que eles contavam era que tinham encontrado os esquiadores quando eles iam entrar na montanha , e os alertaram para que não fossem por ali . Era a Montanha dos Mortos . As histórias dizem que tinha esse nome porque os Mansi não encontravam nada pra caçar naquela região (a tradução pode ser " Montanha dos Mortos ", mas também pode ser " Montanha Estéril "). Há, ainda, a lenda de 9 Mansi que teriam morrido no lugar em circunstâncias jamais elucidados . 4. Um som subgrave que eles teriam confundido com uma avalanche se aproximando – Um infrassom muito específico , de alguma natureza , os teria posto em desespero , pensando tratar-se de avalanche - Mas não explica por que eles saíram “ de maneira organizada ” e sequer pegaram alguma mochila . Além do mais, na direção para a qual andaram , jamais teriam conseguido correr do que pensavam ser uma avalanche por 1.5 km . 5. Vento catabático – É um vento que vem encosta abaixo , carregando um ar de alta densidade . Mas esse vento teria derrubado a barraca . 6. Ieti – Não preciso falar sobre Ieti , mas vou . Defensores dessa " teoria " sustentam que havia pegadas enormes no local, mas as autoridades não documentaram . Além disso, em uma das últimas páginas do diário do grupo, que era todo escrito de forma irônica e brincalhona , eles escreveram “ agora sabemos que o homem das neves é real ”... Tá. Então o monstro os teria atacado e perseguido por mais de 1 km e depois matado um por um só por matar ? Ou então teria sido responsável pela saída deles da tenda e dado uns golpes em alguns e, posteriormente, eles, não conseguindo voltar ao acampamento , teriam morrido de hipotermia ? Amigo, se você quer acreditar nisso , vá em frente . 7. Frozen - Quando estavam produzindo o filme Frozen , desenvolveram um algoritmo do comportamento da neve que chamou a atenção de dois cientistas suíços . Fizeram simulações de computador a respeito do caso Dyatlov . Elas mostraram uma nova possibilidade : a de uma slab avalanche (algo como avalanche em bloco ), que, segundo os cientistas e animadores do filme, explicaria, por exemplo, as escoriações e fraturas de alguns . Essa avalanche , diferente da de neve , é de gelo , o que explicaria os golpes que alguns sofreram , que foram comparados , na época, aos da onda de impacto de uma grande bomba . Mas não explica como eles escaparam , todos , do deslizamento e por que não voltaram depois . O vídeo abaixo detalha essa tese. 8. Surgiu , recentemente, da boca do canal National Geographic , a hipótese de que o grupo tenha sido assassinado por seu ex-integrante Yuri Yudin , que havia ficado para trás . Mas essa tese é tão leviana que eles não se preocupam em explicar nada do incidente. E, muito menos, de explicar as inconsistências . 9. Testes nucleares – Talvez alguma arma nuclear da própria União Soviética tenha atordoado o grupo, com um calor e uma radiação absurdas . O problema é que haveria marcas , pistas dessa detonação. E a barraca , novamente , não estaria íntegra . Pontos a se observar - A maioria deles tinha alguma pancada muito violenta . Pode ser que quatro deles tenham caído de uma ravina , de uma boa altura , mas e os outros cinco ? - Um deles morreu com um papel em uma mão e uma caneta na outra , como se estivesse prestes a escrever algo . - A causa oficial da morte , na investigação de 1959 , foi “ mortos por uma força desconhecida ”. - A entrada da barraca não tinha zíper , mas botões , o que, pela demora de desabotoar , poderia ter levado o pessoal a fazer um corte na lateral da tenda . - Alpinistas e trilhadores de caminhos muito gelados não tiram as roupas de frio nem para dormir , principalmente quando, lá fora, está fazendo – 30º . - Uma das câmeras do grupo nunca foi encontrada (oficialmente). - Um dos diários, também não. - Um puttee , ou obmotki , que é uma espécie de bota que militares usavam, foi encontrado perto dos corpos . Não pertencia a nenhum deles, segundo parentes e o amigo que faria a viagem com eles, mas teve que voltar . - Eles não pegaram roupa , mas tiveram tempo de pegar uma câmera e uma lantena . - A radiação encontrada nas roupas deles era muito maior do que o esperado de quem trabalha em laboratórios , como alguns. - Sobre Yuri Yudin , já foi dito "ou ele é um cara muito sortudo , ou é o assassino . Eu investigaria mais Semion Zolotaryev" . - Quanto mais você investiga , mais esquisito fica . - As mais recentes expedições para elucidar o ocorrido (a última ocorreu em 2018 ) são mais fantasiosas que o próprio ocorrido ; envolvem ventos catabáticos e um tipo específico de avalanche - a slope avalanche . - Não é apenas um caso de morte . É preciso explicar por que eles sobreviveram na barraca e não na árvore . Comente aí o que você acha. Que tipo de desespero os teria tirado da tenda com tanta (e tão pouca) pressa ? Um memorial foi erguido no cemitério de Ecaterimburgo em homenagem aos 9 esquiadores. Leia mais: https://dyatlovpass.com/controversy https://pt.wikipedia.org/wiki/Incidente_do_Passo_Dyatlov https://ermakvagus.com/Europe/Russia/Cholat-%20Syachil/Kholat%20Syakhl.htm

  • Argonautas Interpretam Sobre Todas as Coisas, de Edu Lobo e Chico Buarque

    Por Rafael Torres Fiquem com mais uma faixa , uma das minhas favoritas , do disco Argonautas (meu grupo) Interpretam Edu Lobo , lançado em 2022 em todas as plataformas de streaming de música . Sobre Todas as Coisas , que tem uma versão definitiva na voz e no violão de Gilberto Gil , no disco O Grande Circo Místico , de 1983 , é uma parceria entre eles dois ( Chico e Edu ) que consegue ser igualmente interessante na letra e na música . Renato Braz e Rafael Torres. Para essa, convidamos o excepcional cantor paulistano Renato Braz , que, com sua voz limpíssima , se integrou magistralmente ao arranjo e emprestou à canção aquele abandono de que ela precisa . O disco também está no Site dos Argonautas para desfrute gratuito . Ficha Técnica : Renato Braz - voz; Rafael Torres - violão e arranjo; Ayrton Pessoa - piano Ednar Pinho - contrabaixo. Gravação: Luiz Orsano e Hugo Lage Mixagem e Masterização: Luiz Orsano Estúdio Trilha Sonora Fortaleza, Ceará Sobre Todas as Coisas ( Edu Lobo e Chico Buarque ) Pelo amor de Deus Não vê que isso é pecado, Desprezar quem lhe quer bem? Não vê que Deus até fica zangado Vendo alguém abandonado? Pelo amor de Deus Ao nosso Senhor Pergunte se ele produziu Nas trevas o esplendor Se tudo foi criado O macho, a fêmea, o bicho, a flor Criado pra adorar o criador E se o criador Inventou a criatura, por favor Se do barro fez alguém com tanto amor Para amar nosso Senhor Não, nosso Senhor Não há de ter lançado um movimento terra e céu Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel Pra circular em torno ao criador Ou será que o Deus Que criou nosso desejo é tão cruel? Mostra os vales onde jorra o leite, o mel E esse vales são de Deus Pelo amor de Deus Não vê que isso é pecado, Desprezar quem lhe quer bem? Não vê que Deus até fica zangado Vendo alguém abandonado? Pelo amor de Deus A Lista com as outras postagens agora fica aqui . Deixe seu comentário!

  • As 5 Melhores Marcas de Piano da Atualidade

    Os grandes pianistas não tocam nem possuem Pianos de uma fábrica qualquer . 90% dos instrumentos que eles tocam pertencem a essas 5 marcas . O Piano veio substituir o Cravo e surgiu a partir do Fortepiano , instrumento que criado em 1687 pelo construtor de instrumentos musicais Bartolomeo Cristofori , de Pádua , Reino de Veneza . Um papel dos Inventários Medici , em 1702 , refere-se a: "Un Arpicembalo di Bartolomeo Cristofori di nuova inventione, che fa' il piano, e il forte , a due registri principali unisoni , con fondo di cipresso senza rosa ...". Traduzindo : Um Cravo de Bartolomeo Cristofori , inventado recentemente, que faz o piano e o forte , em dois registros (dois jogos de cordas) uníssonos principais, com tampo harmônico de cipreste sem rosácea . Piano Bartolomeo Cristofori do Século XVIII. O próprio nome Fortepiano faz referência ao fato de o instrumento tocar forte e fraco ( piano ). No Romantismo (Século XIX), o instrumento passou a ser chamado alternadamente de Piano ou Pianoforte. No Século XX , ele ficou com apenas metade do nome . Piano significa fraco , suave . Enquanto no Cravo a intensidade com que o instrumentista pressionava a tecla era irrelevante , pois não influía na força com que a nota soaria , o principal avanço do Fortepiano era justamente a superação disso. No Fortepiano, se você pressionasse a tecla fraco , a nota soava fraca . Com força e ela soava mais forte . As possibilidades expressivas e de tradução sentimental que isso trazia, e que só começariam a ser explorados no Classicismo (1750-1810 , por Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart ) acabaram por aposentar o Cravo no Barroco . Se bem que ele voltaria a ter enorme relevância a partir do século XX , tanto por intérpretes de Música Barroca , quanto em novas composições (com o Concert Champêtre , de Fancis Poulenc ; concertos de Manuel de Falla , Philip Glass , Bohuslav Martinů e Elliott Carter , Les Citations , de Henri Dutilleux , Comboï e Oophaa , de Iannis Xanakis , HPSHD , de John Cage e Lejaren Hiller e obras de diversos outros compositores ). Um instrumento de teclado que fosse capaz de tocar forte e piano como o Violino , revelava uma envergadura infinita , que tanto beneficiava instrumentistas como compositores . Agora você podia , por exemplo, tocar a mão esquerda mais fraco e a direita com mais força . Até na mesma mão você podia equilibrar um acorde , elegendo que notas deveriam soar mais fortes . Além disso, os futuros Pianos ultrapassariam a envergadura do Cristofori , de 54 teclas até o padrão atual de 88 teclas (tem Pianos com até 97 teclas , como você verá abaixo ). Superariam seu tamanho do teclado à cauda . Era, enfim, um instrumento mais versátil e adaptável que o Cravo . E também, logo no começo da trajetória do Pianoforte , ele foi ganhando os pedais , importantíssimos na ampliação da possibilidade de coloração desse instrumento . Sobretudo o pedal Sustain , criado em 1730 , por Gottfried Silbermann , que permite que o músico largue as teclas e mantenha as notas correspondentes soando enquanto o pedal estivesse pressionado (ou até que o som decaia ). Esse pedal , o mais crucial do Piano , possibilita também a produção legato , em que uma nota se liga à próxima sem pausas. São as 5 marcas mais cobiçadas e que atingiram um padrão ade sonoridade e de mecânica alto. Sem delongas , vamos a elas , sem ordem ou hierarquia : Edição "Quadros de Uma Exposição", da Steinway & Sons. I. Yamaha Uma fabricante versátil , a japonesa Yamaha fabrica todos os instrumentos da orquestra , e mais alguns , incluindo o Piano e a motocicleta . São os pianos de escolha de Cipryen Katsaris , Maria João Pires , André Mehmari , César Camargo Mariano e Chick Corea . Sua sonoridade é perfeitamente adequada e a mecânica é fácil de manipular . Seu modelo de concerto , o CFX é conhecido por sua facilidade em tocar muito forte ou muito piano . Foi desenvolvido ao longo de 12 anos , por 60 profissionais que chegaram a produzir 30 protótipos até chegar à versão ideal . A Yamaha tem, ainda, a linha híbrida Enspire Pro , de instrumentos capazes de gravar o que você tocou e reproduzir com a mais alta fidelidade . Além disso ele vem com um tablet , com o qual você pode acessar uma gigantesca biblioteca de música gravada por grandes pianistas do mundo todo . Ao colocar para tocar , você os tem na sua sala , o piano reproduzindo exatamente o que eles gravaram . Isso, o Piano fica tocando sozinho , baixando as teclas e os pedais , conformemente. II. Bösendorfer A fábrica austríaca , fundada por Ignaz Bösendorfer em 1828 evoluiu para se tornar uma das mais queridas pelos pianistas . O Bösendorfer tem por característica o som cristalino e os baixos mais responsivos . Seu modelo máximo é o Concert Grand 290 Imperial , o 290 descreve seu tamanho : 2,90m do teclado ao fim da cauda . Isso lhe proporciona um alcance sonoro sem precedentes. Além disso, ele tem 97 teclas , em vez das costumeiras 88 , aumentando sua amplitude de 7 oitavas e pouco para 8 oitavas . O Piano tem mais notas graves e mais notas agudas . Foi adotado por pianistas como: Stephen Hough , András Schiff , Valentina Lisitsa , Daniil Trifonov , André Previn e, no passado, por Arthur Rubinstein , o jazzista Oscar Peterson , Alfred Brendel , Arturo Benedetti Michelangeli , Friedrich Gulda e até Franz Liszt . A fábrica tem também uma linha Disklavier , semelhante ao Yamaha Enspire Pro , e a linha Silent , que permite que você estude sem incomodar e sem ser ouvido por outras pessoas - você se escuta com um fone de ouvido . Já os Pianos enquadrados na categoria Item de Colecionador têm como diferencial os diversos desenhos , como o Dragonfly e o Barroco , que você vê abaixo . III. C. Bechstein A fábrica sediada em Berlim é famosa por seus Pianos especiais , de aparência surpreendente e feitos com o auxílio de designers . Fundada em 1853 , já no seu começo foi endossada por Franz Liszt . É um Piano de alta qualidade , que chamou a atenção de Edvard Grieg , Maurice Ravel e, mais recentemente, Edwin Fischer , Wilhelm Backhaus , Jorge Bolet , Walter Gieseking , Wilhelm Kempff , Pierre-Laurent Aimard , Kit Armstrong , Vladimir Ashkenazy e outros . É considerado um dos 4 grandes fabricantes de Piano , os outros 3 são Blüthner , Bösendorfer e Steinway & Sons . Em 1986 , com a reputação em baixa , a fábrica foi comprada por Karl Schulze . Depois, foi dando passos sempre mais longos . Nos anos 2000 recuperou seu prestígio e a empresa voltou a dar lucro , os pianos voltaram a ser comprados por salas de concerto , estúdios e indivíduos . IV. Steinway & Sons A mais famosa marca de Piano da atualidade . Quer ter uma ideia ? São ou foram endossados por Ignacy Jan Paderewski , Daniel Barenboim , Evgeny Kissin , Lang Lang , Irving Berlin , George Gershwin , Cole Porter , Benjamin Britten , Vladimir Horowitz , Sergei Rachmaninoff e estão em 90% das salas de concerto do mundo . Um Piano Steinway de cauda completa custa cerca de US$ 150.000,00 , ou R$ 760.000,00 . Sua notoriedade é sem precedentes, se assistirmos a um concerto na tv é certo que veremos um Piano preto com a inscrição em dourado ao lado: Steinway & Sons . Seu modelo de concerto , o Modelo D , tem 2,74m , do teclado ao final da cauda . No site você pode escolher , se quiser, entre 14 tipos de madeira para o corpo, caso não o queira preto . A Steinway também fabrica Pianos tecnológicos , como a linha Spirio , que também lhe permite fazer com que o instrumento toque performances pré-gravadas por uma infinidade de pianistas . A marca também tem as Coleções Especiais e Edições Limitadas , desenhadas por artistas como Karl Lagerfeld e Dakota Johnson . São várias opções . V. Fazioli O título de melhor fabricante de Pianos tem que ir para a Fazioli , de Sacile , na Itália . Fundada em 1981 pelo engenheiro e pianista Paolo Fazioli , a fábrica logo ganhou fama . A fama de melhor do mundo . Aliás, não é uma fábrica comum , é mais uma espécie de butique . Eles fazem apenas cerca de 140 Pianos por ano , artesanalmente, e o mais caro pode custar US$ 347.000,00 ou R$ 1.757.000,00 . É o Fazioli F308 , um piano enorme , com 3,08m de comprimento. Aliás, esse é o mais caro dentre os produzidos em série . Nos Modelli Speciali tem o Fazioli M Liminal , custando US$ 695.000,00 , ou R$ 3.519.000,00 . É admirado e tocado por pianistas como Murray Perahia , Alfred Brendel , Angela Hewitt , Herbie Hancock , Hélène Grimaud , Tamás Vásáry , Vladimir Ashkenazy e muitos outros . Assista a Angela Hewitt interpretando a Aria das Variações Goldberg , de Johann Sebastian Bach em um Piano Fazioli . Espero que esse texto seja útil . A Lista com as outras postagens agora fica aqui . Deixe seu comentário!

  • Idade Média - História da Música I

    Por Rafael Torres Aqui, bem aqui . Nesse intervalo de quase mil anos , a música , como arte , começou a ganhar confiança . A Idade Média abarca os anos entre 450 e 1400 . É muito tempo ! No início nada ocorreu . Não surgiam novos instrumentos musicais dignos do nome ; nas igrejas , era a eterna melodia monofônica do Canto Gregoriano , ou do Canto Ambrosiano . Mas quando o período Medieval ia se aproximando do fim , os músicos , compelidos por uma força quase transcendental de mudar , evoluir , fazem seu milagre e criam a Polifonia . Veremos os nomes por trás das façanhas , suas técnicas , seus segredos de artesãos e, ainda, ouviremos exemplos da música que estivermos a discutir . Essa é a primeira postagem de uma série sobre a História da Música . Os próximos serão: Música Renascentista , Música Barroca , Música do Classicismo , Música do Romantismo e Música do Modernismo . Então, que a música comece . Idade Média Em termos amplos , Idade Média se refere ao período da história entre a Queda do Império Romano do Ocidente (em 476 ) e a chegada da Renascença (que alguns datam junto à Queda de Constantinopla , em 1453 ), período que estudaremos um pouco adiante . A Idade Média é, mesmo, marcada por um caos social , as lideranças (reis , rainhas e senhores feudais ) ainda lutavam para se estabelecer e os problemas não paravam de acontecer . A vida , sobretudo, era um tanto difícil : As punições a criminosos eram totalmente desproporcionais (para começar, eram arbitrárias , cada rei ou nobre definia a sua ); Os filhos pequenos eram completamente ignorados (isso porque muitos morriam na infância ). Os pais só conseguiam se apegar após os 5 anos , quando já poderiam dizer que as crianças haviam vingado ; A constante peleja entre os Senhores Feudais e camponeses , que lutavam por sua liberdade , pelo direito de ir e vir e de ter uma casa ; Houve as Cruzadas , expedições de militares religiosos a Jerusalém no intuito de (teoricamente) retomar a cidade do controle dos muçulmanos ; Havia a Peste Bubônica (foi mais adiante , entre os séculos XIV e XV ), que era facilmente transmissível , tinha alta taxa de mortalidade ; e não se sabia o que causava a doença . Isso acabava gerando uma paranoia desvairada , um labirinto de notícias falsas e dava vazão a experimentos de todo tipo , tentando achar a cura ; A igreja não era muito santa . Enquanto os médicos tentavam de todo jeito achar a cura para a Peste (e para outras dezenas de doenças que judiavam os homens , à época), a igreja boicotava as pesquisas e os tratamentos . Boicotava até as operações em si , tornando-as mais perigosas , menos eficientes e muito mais dolorosas . Por pura maldade; As cidades e, principalmente, as estradas , eram extremamente perigosas - os viajantes estavam sujeitos à ação de ladrões , à inanição e, olha só, a cair no meio de uma briga entre dois feudos e acabar sequestrado e escravizado ; Para o pagão comum , qualquer micro contravenção verbal poderia ser enxergada como a mais terrível heresia , especialmente se ele fosse judeu ou muçulmano . Mas houve conquistas , também: Os músicos conseguiram organizar uma linguagem visual , a partitura , que desse perfeitas diretrizes para que, lendo-a , o intérprete tivesse instruções precisas sobre o que tocar ; O surgimento da primeira universidade ; Além disso, houve avanços na ciência , medicina e tecnologia . A denominação "Idade Média " não era usada durante a Idade Média . Posteriormente , no Século XV , os Renascentistas não acharam nada indelicado chamar a era anterior por esse nome tão infeliz (e pejorativo ): para eles, o período Medieval havia trazido um hiato ao mundo . A interrupção da tão amada Antiguidade Clássica . E eles , os renascentistas, afirmavam estar trazendo essa época de volta (ela estava renascendo ). O período entre o fim da Antiguidade Clássica e o duvidoso Renascimento dela , foi apelidado de " Idade Média ", aquela que fica no meio . E os Renascentistas não hesitaram , ainda, em cunhar outro apelido obscuro ao seu vizinho temporal : Idade das Trevas . A Idade Média é um período da história da música , das artes e do mundo , que abrange os anos de 500 a 1400 . É a mais longa divisão histórica da música . O Classicismo , por exemplo, tem meros 50-70 anos . Muitos documentos , como partituras e tratados (sobretudo de alguns séculos adiante ), além de instrumentos inteiros , foram e continuam sendo encontrados em porões de igrejas , em arquivos bibliotecários e casas antigas pela Europa . Sim, a nossa história se desenvolveu na Europa, não por algum Eurocentrismo que possa escorrer das penas da Arara . Mas simplesmente porque a Música Erudita ficou confinada lá até por volta de 1850 . Voltando aos porões de igreja : o que não costuma ser encontrado neles é (enigma) a partitura do acompanhamento instrumental de obras sacras grandes : hoje, quando se faz uma gravação de uma dessas peças , os músicos e musicólogos precisam recompor essas partes , baseados em conhecimentos muito especializados , obtidos em muitas horas em bibliotecas e arquivos . Costuma-se dividir o estudo musical da Idade Média em 2 períodos : Alta Idade Média ( 500-1000 ) Baixa Idade Média ( 1000-1400 ) Trovadores Medievais. Alta Idade Média (Sécs. V a XI) I. O Cantochão, a Música Sacra Por ser a mais antiga dentre as eras da Idade Média , os documentos que nos informam das práticas do Cantochão (o Canto Gregoriano ), bem como partituras da época , estão bastante deteriorados . Mas foi possível achar muita coisa e, através de estudos musicológicos , reconstruir o que faltava . Na Alta Idade Média , toda a música sacra era monofônica , ou seja, apenas uma melodia soava, sem acompanhamento . Chamava-se Cantochão , e ele se desenvolveu independentemente em várias cidades europeias . E com características individuais . O Canto Gregoriano foi, por algum tempo , a forma " oficial " da igreja , já que tinha sido criado, teoricamente , em contribuição com o Papa Gregório I . Em Milão , a forma de cantochão era o Canto Ambrosiano ; na Península Ibérica , usava-se o Canto Moçárabe (eu aprendi como Mozarábico ), que tinha características norte-africanas ; o Canto Celta era usado no Reino Unido e o Canto Gálico , na Gália . Pra ser mais didático , mostro os itens todos : Canto Cristão ; Canto Litúrgico ; Canto Velho Romano ; Canto Gregoriano ; Canto Ambrosiano ; Canto Moçárabe ; Canto Gálico ; Canto Beneventano ; Canto Anglicano ; Canto Celta ; As diferenças entre um e outro estão na divisão silábica , nos diferentes usos de melisma ( cantar várias notas em uma mesma sílaba , numa espécie de ornamentação ) e nas escalas que usavam e em como as usavam . Além de cada um organizar como quer suas divisões silábicas : Salmódica , Silábica , Melismática e Neumática . Uma curiosidade é que poucos coexistiram . Uns iam substituindo os outros. Veja as regras e práticas de interpretação do Canto Gregoriano , o mais importante e comum de todos : Quanto à colocação das palavras na melodia , temos três formas de cantar: Salmódica (em que para uma nota se cantam várias sílabas ); Silábica ( cada sílaba do texto é cantada com uma nota ); Melismático (uma silaba pode ser cantada com várias notas ); Neumático (uma espécie de canto misto, majoritariamente silábico, mas com doses discretas de melismas ). No que tange à forma na música cantada , o Cantochão se estrutura em uma das três opções a seguir : Antifonal (em que dois coros se revezam em versos com refrão ); Responsorial : ( um cantor solista canta os versos e o coro responde com o refrão ); Direta : (em que não há refrão e um ou mais cantores cantam os versos ). Aprecie abaixo um Canto Gregoriano interpretado pelo Choralschola der Wiener Hofburgkapelle . É o Glória do In Nativitate Domini ad Missam in Die (para o Domingo de Páscoa ). O Cantochão , seja ele o Canto Ambrosiano , o Canto Moçárabe , o Canto Gregoriano ou qualquer outro , tinha características invioláveis : Lembrando, apenas, que o Cantochão geralmente era Música Sacra , cantada na igreja , pelo padre e tudo mais, embora também existisse de Música Profana ; Eram cantados acappella (sem nenhum acompanhamento instrumental ); Por algum motivo , que certamente diz respeito à perene misoginia que imperava , e ainda impera , na Terra , Cantos Gregorianos eram preferencialmente cantados por homens (ou grupos deles ). Eventualmente as mulheres foram proibidas ; No início eram cantados em missa e pelo padre e a congregação . Mas logo se passou a designar um grupo chamado " coro ", que era dotado de vozes bonitas , para cantar as respostas ; Os cantos eram modais (utilizavam escalas mais exóticas que a Maior e a Menor ); Existia apenas uma linha melódica mesmo que várias pessoas cantassem ou se alternassem ; Com isso, o Cantochão era Monofônico (uma linha melódica), em oposição ao Canto Polifônico , que veremos mais tarde ; Dito isto, em algumas práticas , utiliza-se a nota pedal (uma linha de notas graves e bem longas , cantadas junto à melodia , que nos situam harmonicamente ); Cantochão existia desde o início da Era Cristã ( Século I ), mas as versões com os textos selecionados pela igreja vieram depois ( Século VIII ); Os compositores escreviam de forma anônima na época do Cantochão, quase sempre ; A cultura do Cantochão foi amplamente estimulada por Carlos Magno ( 747-814 ); As músicas não tinham compasso ; Esse tipo de música (o medieval) parou de ser produzido quando adentramos a Renascença . Mas isso não indica que ele tenha sumido . Na verdade, através dos séculos e até hoje , ainda, ele é cantado como antes ; Hoje ele é honrado de três formas: é cada vez mais gravado ; mais tocado em forma de concerto , mesmo em igrejas, e continua sendo cantado em sua função eclesiástica em pequenos mosteiros espalhados por toda a Europa e além ; É importante termos em mente que a figura do compositor ainda não era importante , nessa época. Mas que, a passos lentos , a música evoluía . Por exemplo: em alguma altura de sua vida , o musicólogo italiano Guido D'arezzo resolveu batizar as notas musicais . Os nomes , sílabas , eram: Ut ; Re ; Mi ; Fa ; Sol ; La ; San ; Para isso ele usou o texto sagrado do Hino a São João Batista , em latim . Os versos diziam : Ut queant laxis Re sonare fibris Mi ra gestorum Fa muli tuorum Sol ve polluti La bii reatum San cte I oannes Em tradução livre para o português , fica mais ou menos assim : “Para que os servos possam, com suas vozes soltas, ressoar as maravilhas de vossos atos, limpa a culpa do lábio manchado, ó São João!” II. Música Profana Existia, também, a música profana, ou secular ( desvinculada de laços eclesiásticos ); Para começar, tinha os grandes compositores medievais , como Guillaume de Machaut , Francesco Landini , e os compositores da música italiana do Trecento (o Trecento foi um período de 300 anos em que a cultura da Itália prosperou de modo respeitável ); Mas a maior parte da música profana estava ligada ao despojamento e talento de alguns grupos que surgiram na Europa . São eles (todos variações dos Trovadores ) os que se seguem : Os Trouvères , indivíduos análogos aos Trovadores , que floresceram entre os Séculos 11 e 14 . Essas pessoas colaboraram muito com a comunicação entre norte e sul da França ( Ducado de Burgundy e Provença ), que, então, falavam praticamente idiomas irreconhecíveis uns aos outros ; O Troubadour , que podia ser mulher ou homem , cantava poesia lírica . Eles vinham da Occitânia , a 750 Km de Paris ; Surgiram os Jongleurs , um grupo de contação de histórias , entretenimento de plateias, muito parecido com o Trouvère . Eles formavam grupos com um músico , um acrobata e uma pessoa que lia longas prosas ; Os Trovadores , estes, vindos de Portugal e da Galícia , afloraram entre o Século XII e o XIV . Suas canções eram chamadas de trovas ou cantigas (Lembra ? As Cantigas de Amor , as Cantigas de Amigo e as Cantigas de Escárnio e Maldizer ?). Várias obras de Trovadores foram compiladas e publicadas em livros chamados Cancioneiros (dos quais quatro têm o paradeiro conhecido ), de modo que temos , hoje, muito material de pesquisa e material a ser cantado ; Os Minnesänger , da Áustria e Alemanha , que existiram entre os Séculos XII e XV , eram aristocratas (ao menos depois do começo ) e cantavam em grupo ou solo . Há, ainda, os Menestréis , músicos itinerantes que tocavam e cantavam Canções de Gesta , que falavam sobre Cruzadas e reis e nobres a lutar contra os Mouros . No início eles costumavam ser servos das cortes e eram bem menos cultos que os Trovadores , Troubadours , Trouvères , Minnesänger e Jongleurs . Mas música secular não se resume a isso . Haviam as Canções de Amor , de Sátira Política , Obras Dramáticas , Danças , Ballades , Rondeaux , Canons , Caccias e Canções ; Aqui começam a ganhar importância os compositores . Ouçamos exemplos da Música Sacra e da Música Profana . Música Sacra - Ouviremos , a título de exemplo de Música Litúrgica , a Antífona "Immutemur Habitu" , anônima , provavelmente do Século XIII . A Música Litúrgica , ou música religiosa da Idade Média, se utilizava sempre de textos bíblicos . Além disso, era comportada e quadrada . Mas era linda. Música Profana - E, para que possam conhecer a Música Profana da Idade Média, eu ofereço a Ballata Nº 19, "Amour Me Fait Desirer" , do importantíssimo compositor francês Guillaume de Machaut ( 1300-1377 ). Os intérpretes são os do grupo pioneiro Early Music Consort de Londres , sob a direção de David Munrow . Temos aqui uma obra mais relaxada , que utiliza acompanhamento instrumental e servia para ser tocada em tavernas , praças e locais públicos em geral . IV. hILDEGARD VON bINGEN, A COMPOSITORA MAGA Hildegard von Bingen ( 1098-1179 ), às vezes traduzido (de maneira um tanto desconcertante ) para Hildegarda de Bingen , foi uma teóloga , mística , eventual médica (adepta da medicina natural ), abadessa beneditina , nobre, escritora e compositora alemã . Fundou e dirigiu os mosteiros de Rupertsberg (em 1150 ) e Eibingen (em 1165 ). Tudo isso apesar de, por ser mulher , não ter tido acesso ao conhecimento do Cânone das Sete Artes Liberais : o Trívio (gramática , retórica e dialética ) e o Quadrívio (geometria , aritmética , música e astronomia ). Ah , e, postumamente, ela virou santa ! Aos 3 anos começou a apresentar habilidades premonitórias . Habilidades estas que foram melhor entendidas e clarificadas aos 15 anos , quando ingressou no Mosteiro Beneditino de Disibodenberg . Aos 38 tornou-se a madre superiora desse convento. Nessa época ela ainda tentava esconder suas visões , mas aos 42 anos , recebeu a incumbência divina de colocá-las no papel . E trabalhou por cinco anos até que estivesse pronto o Scivias , seu primeiro livro , que, segundo o próprio Papa , continha as palavras de Deus . Foi também inspirada por visões que ela fundou , fora da Ordem Beneditina , os dois mosteiros mencionados: Rupertsberg e Eibingen . O que mais chama a atenção nessa mulher extraordinária é o seu pioneirismo e seu prevalecimento em uma sociedade quase caricatamente machista . É considerada a primeira compositora mulher da história . E uma das mais prolíficas da Idade Média . Fundou dois monastérios , escreveu nove livros , poemas e obras musicais . Quanto à sua música , ela produziu 70 obras (as sobreviventes) monofônicas (cantochão), sempre litúrgicas e extraordinariamente melismáticas (melisma é a técnica de fazer uma multiplicidade de notas sobre uma simples sílaba do texto , como vemos muito na ópera ). Observe , abaixo, a antífona "Studium in Divinitatis" , de Hildegard von Bingen , interpretada pelo grupo VocaMe (outra coisa muito interessante é que, na sua música, vemos muitos grupos femininos ). VI. ARS ANTIQUA Depois de séculos produzindo Cantochão , os compositores medievais inventam a Ars Antiqua (Arte Antiga). É uma denominação dada por historiadores da música para se referir, sobretudo, à Música Medieval sacra escrita entre 1170 e 1310 pelos membros da Escola de Notre Dame , da qual os maiores representantes são os compositores Léonin ( 1135 a 1201 ) e Pérotin (data de nascimento desconhecida - morte em 1238 ), assim como o letrista Philippe le Chancelier (1160-1236 ). A própria Escola de Notre Dame também contribuía , provendo textos para obras de Pérotin . Mas em que consistia a Ars Antiqua? Suas principais características são a iniciação do desenvolvimento da Polifonia , através do Organum , que eles ajudaram a desenvolver e a criação de um sistema de escrita de partitura que contemplasse a notação do ritmo . VII. Léonin Léonin (1135-1201 ) foi um Compositor francês pioneiro do Organum Polifônico (cuja prática consiste em, a partir de uma linha melódica , fazer outra idêntica , mas uma quarta ou uma quinta ou uma oitava abaixo ), que foi um dos primeiros e maiores passos em direção à música polifônica (aquela em que não há apenas uma linha melódica , mas algumas , soando paralelamente ). Sua importância é incalculável . Foi o primeiro nome célebre da Escola de Notre Dame de Polifonia , que tem esse nome por agregar compositores que trabalhavam na Catedral de Notre Dame , em Paris . Pouco de sua obra sobreviveu . A mais icônica é o "Magnus Liber" , uma compilação de obras corais em Organum , com a qual ele deve ter contribuído com várias obras , mas não há certeza ao atribui-las a Léonin . VIII. Pérotin Pérotin (?-1238 ) foi discípulo de Léonin . Ele deu continuidade aos trabalhos do mestre . Sua vida nos é contada graças aos livros de um misterioso estudante de Notre Dame : Anonymous IV , que se acredita ser o pseudônimo de um inglês que lá estudou posteriormente, nos anos 1270 . Léonin e muitos outros também foram documentados por ele . Igual a Léonin, trabalhou em pseudônimo (ou você achou que esse era mesmo seu nome? ) e, até hoje, sua verdadeira identidade (e, portanto, boa parcela de sua biografia ) é ignorada . Mas ao menos não é um dos milhares de compositores anônimos da Idade Média . Seu trabalho é muito mais abundante que o de Léonin, até porque ele completou várias obras de seu mestre . Abaixo, um maravilhoso exemplo de Ars Antiqua com o Organum "Procurans Odium " de Pérotin , da escola de Notre Dame , interpretado por The Hilliard Ensemble . Perceba como é o Organum Triplum : a segunda e a terceira vozes estão aí , mas não têm independência , limitando-se, majoritariamente, a imitar a primeira , porém, cantando abaixo . VII. Música Instrumental A música instrumental existe desde sempre (lembra de Nero tocando uma lira a observar o grande incêndio de Roma ?). De lá os próprios instrumentos foram evoluindo , bem como a interação entre músicos . Na Idade Média a Música Instrumental tinha 4 funções : ( 1 ) ser tocada por camponeses ou em tabernas , por diversão própria e para entretenimento alheio ; ( 2 ) como música de espetáculos de dança ; ( 3 ) como música incidental em teatro ; ( 4 ) nos cantos eclesiásticos , como acompanhamento do coro . Acho oportuno , aqui , mostrá-los quais eram esses instrumentos - alguns deles , pois eram uma infinidade . Flauta Doce (de madeira ); Saltério (instrumento muito antigo , em forma semi-triangular , de cordas dedilhadas ou tocadas com palheta ); Lira (parecida com uma harpa , mas tinha que ser tocada com palheta ); Viela de Roda (uma espécie de Violino Semiautomático , isto é, ao rodar uma manivela , um certo número de cordas começava a soar , ficando o músico responsável por manipular os botões que fazem as notas mudarem ); Rabeca (um precursor do Violino e o mesmo instrumento que temos em tradições populares , aqui no Nordeste ); Pratos (instrumento de percussão semelhante ao de hoje); Pandeiro ; Pandeireta ; Fiddle (em Violino menos sofisticado ); Guitarra Latina ; Guitarra Mourisca ; Alaúde (instrumento de cordas pinçadas , semelhante ao Violão ); Mandolin (um parente do Bandolim ); Viola da Gamba (uma família , a princípio, muito parecida com a dos violinos , até que se comecem a notar as diferenças : a família dos Violinos tem 4 cordas , a da Viola da Gamba geralmente tem 6 , isso só para começar); Bombarda ; Cromorno ; Órgão Portátil ; Órgão ; Charamela ; Temos aqui : Alaúde Medieval Guitarra Latina Charamela Cromornos Órgão Portátil Medieval Saltério Mandolin Medieval Fiddle Medieval Viela de Roda Medieval A Baixa Idade Média (Sécs. XI a XV) I. O Início da Polifonia: o Canon O Cânon é uma forma primordial de Contraponto . Uma voz entra e canta o primeiro trecho , passando para o segundo , quando termina e assim por diante . O fato é que quando ele começa o segundo trecho , uma segunda voz começa a cantar juntamente o primeiro . Quando a primeira voz está no terceiro trecho , a segunda está no segundo e a terceira voz, no primeiro . E daí ficam circulando a música . Vou dar um exemplo e você vai entender rapidinho . Abaixo temos um dos movimentos de Le Lay de la Fonteinne , "Mais Ceste Trinité" , de Guillaume de Machaut ( 1300-1377 ), interpretado por The Medieval Ensemble of London, dirigido por Peter e Timothy Davies . É um Canon a 3 vozes . Machaut era possivelmente o mais habilidoso compositor do seu tempo . II. O Início da Polifonia: Organum O Organum veio de uma necessidade expressiva que surgiu no Século IX , em um mosteiro na Suíça (A Abadia de São Galo ), de, de alguma forma, enriquecer a música , que, monofônica , era tediosa . Para isto eles bolaram uma ideia : iriam adicionar uma segunda voz , cantando uma quarta, quinta ou oitava abaixo da que já existia . Estavam criados o Organum , o Contraponto e a Harmonia . Não, de fato, não . A criação do Organum não resolvia a vida de quem queria compor Música Polifônica , uma música com 2 ou mais melodias que se comportassem de forma independente . Mas abria todas as portas para que fossem dados vários passos em direção ao Contraponto . Este último , por sinal, é a forma mais garantida de se escrever Polifonia rica . Antes de prosseguirmos, dê uma olhada nesses pontos de facilitação : Organum é quando a uma linha melódica do Cantochão é acrescida de ao menos uma nova linha melódica (depois evoluiu para duas , depois três ); Polifonia é a música que tem duas ou mais linhas melódicas ; Na prática do Organum , faz-se Polifonia (existe mais de uma voz soando ao mesmo tempo); Uma importante contribuição com o Organum ocorreu em 1100 , na Abadia de São Marcial , que desenvolveu uma técnica chamada Florid Organum . Nele, a voz principal deveria cantar notas lentas e longas , enquanto as outras cantariam uma profusão de notas , ao mesmo tempo . E, ainda assim, enfatizariam a melodia quando eles se vissem cantando a intervalos de quarta , quinta e oitava , os intervalos chamados consonantes , pois sua superposição gera um som que é agradável aos ouvidos . III. ARS NOVA Falamos acima sobre a Ars Antiqua . Falaremos aqui sobre a Ars Nova (Arte Nova), que apareceu , assim como a anterior, na França . A Ars Nova , não era muito chegada à Música Sacra , era pródiga em nos oferecer Música Profana . Houve o ressurgimento do Moteto (agora, Moteto Isorrítmico ) e o aparecimento de novas formas . Assim como foi explorada a isorritmia . Outras formas foram reaproveitadas , como a Ballata e o Rondó . Isorritmia - É uma técnica para composição coral em que é criado um padrão rítmico repetitivo (chamado de talea ) que pode acontecer em apenas uma voz ou em todas . Vejamos um exemplo de Moteto Isorrítmico . É "Garrit Gallus/In nova fert" , do compositor francês Philippe de Vitry . Moteto : um estilo de música cantada , com letra profana e escrita polifônica ; Moteto Isorítmico : um estilo de Moteto que usa a Isorritmia ; Tendência Musical Profana : não há como negar que, na Ars Nova , a Música Sacra cedeu seu lugar à Música Profana , graças à aplicação do Moteto e do Moteto Isorrítmico ; Havia três Formas Fixas ( modelos que apresentavam variadas e complexas estruturas para se compor ): a Ballata , o Rondeau e o Virelai . Cada uma tinha formas diferentes . Aliás, às vezes, mais de uma forma ; Ballata , Rondeau e Virelai são formas da chamada Música de Amor Cortês , obras que falavam de honra , de cavalaria , de nobreza , devoção e coragem . Não tinham nada a ver com igreja , e a Igreja Católica chegou a tentar banir o Amor Cortês no Século XIII . Para que tenha uma ideia do que significa uma forma musical , na idade média, observe a tabela abaixo . Uma das Possíveis Formas de Rondeau : - A B a A a b A B - A B a A a b A B - A B a A a b A B Todo “ A " apresenta a mesma música e as mesmas palavras ; Todo “ B " apresenta a mesma música e as mesmas palavras , em ambos os casos diferentes de “ A "; Todo “ a " apresenta a mesma música de “ A ", mas as palavras são diferentes a cada nova ocorrência ; Todo “ b ” apresenta a mesma música de “ B ”, mas as palavras são diferentes a cada nova ocorrência . Ou seja, era uma fôrma predefinida , sobre a qual o compositor fazia suas obras . É só para você ter uma ideia . Escutemos uma Virelai de Guillaume de Machaut . Trata-se de "Douce Dame Jolie" , interpretada por The Early Music Consort de Londres . Por ser profana , a música pode ser apoiada por instrumentos , inclusive de percussão . IV. Guillaume de Machaut Guillaume de Machaut ( 1300-1377 ) foi um compositor francês , nascido em Reims e pertencente à Ars Nova , que está entre os mais célebres e os mais prolíficos da sua época . Em Música Sacra , sua composição que chegou até nós foi a Missa de Notre Dame , considerada o primeiro exemplo em que a música foi feita em cima do texto da Missa Católica Canônica . Em Música Profana , ele era versado e prolífico nas chamadas Formes Fixes , o Rondeau , o Virelai e a Ballade , além de Motetos : são 24 Motetos , 42 Ballades , 22 Rondós e 33 Virelais . Ele compôs , potencialmente, muito mais que isso , mas isso é o que nos chegou . Machaut também era um poeta , com 400 obras suas tendo chegado até nós . V. Ars Subtilior No final da idade média surgiu a Ars Subtilior (Arte Mais Sutil), que preconizava o capricho na escrita da melodia , linhas melódicas complexas e quase sempre profanas . É um movimento centrado , inicialmente, em Paris e Avignon (posteriormente, no sul da Espanha ). A música da Ars Subtilior é moderna , sofisticada , complexa e difícil de cantar . Sua complexidade rítmica também era notável . É possível que elas fossem executadas principalmente em pequenas reuniões de músicos e estudiosos . O fato é que suas inovações e sua ousadia rítmica , pioneirismo melódico e complexidade foram aproveitados pelos músicos e musicólogos Renascentistas . Eles tinham, também, imenso zelo com a aparência da partitura . Veja : O que você está vendo aqui em cima é a partitura de um Rondó . A notação foi feita pelo autor em forma de coração . As notas em vermelho são as que indicam alterações rítmicas . Ah, esses jovens medievais . Eram uns românticos ! Aqui temos o exemplo de uma partitura em forma circular , por Baude Cordier , o mesmo que escreveu a obra acima . A Ars Subtilior teve muitos adeptos e os compositores são inúmeros . Alguns dentre os principais são : Matheus de Sancto Johanne ; Petrus de Goscalch ; Johannes Susay ; Trebor ; Solage ; Borlet ; Johannes Cuvelier ; Egardus ; Baude Cordier ; Conradus de Pistoria . Escute um pouco do que se trata , reparando no acúmulo de vozes que parece caótico , nos intervalos incomuns , para a época, assim como os ritmos por vezes rápidos demais . A obra é um Canon Circular , chamado "Tout par Compas" , do nosso velho jovem Baude Cordier . Aproveite para ficar atento , também, à edição , que nos dá uma boa ideia de como as vozes vão se comportando em meio às partituras circulares . Considerações Finais Quando eu era pequeno minha mãe , juntamente com o compositor Liduino Pitombeira , era coordenadora , e meu pai era músico , de um grupo aqui em Fortaleza , do qual uma das prioridades era tocar Música Antiga (Medieval, Renascentista e Barroca ). O nome era Syntagma . Eu cresci vendo e ouvindo o som do alaúde , da viola da gamba , das flautas doces , do cromorno e do cravo , além de instrumentos renascentistas . A música da Idade Média continua gerando interesse e amantes . Nos Estados Unidos e na Europa inteira existem Festivais de Música Antiga . Só para citar alguns , temos o Musica Antiqua Bruges , que é um galho do Festival van Vlaanderen , na Bélgica (aliás, Bruges tem um forte movimento de Música Antiga ); o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga , em Juiz de Fora , Minas Gerais ; o Boston Early Music Festival , em Boston , Estados Unidos ; o Festival d'Ambournay , em Ambournay , França e o York Early Music Festival , em York , Reino Unido . Nesses lugares existem instrumentistas especializados , bem como luthiers (constroem instrumentos , cordas e palhetas e fazem reparos ). Musicólogos e historiadores continuam a escrever livros e tratados . Existe uma verdadeira cultura de Música Medieval nos músicos e um sincero fascínio do público . O entusiasmo pela Música Medieval não parece que vai acabar e só dá mostras de fortalecimento . Discos Interessantes de Música Medieval - Instrumentos da Idade Média e da Renascença ( 1976 ), do Early Music Consort de Londres - o Early Music Consort foi um conjunto idealizado por David Munrow e Christopher Hogwood . O grupo foi fundado no final dos anos 50 , ficando Munrow como diretor e instrumentista (flauta doce , flauta transversa , charamela , cromorno e bagpipe ) e Hogwood como instrumentista (tocava os instrumentos de teclado , de percussão e harpa ). Lançou a maior parte dos seus discos nos anos 60-70 . Este disco é um guia dos instrumentos da Idade Média ( disco 1 ) e Renascença (disco 2 ). Por exemplo, a primeira faixa se chama Charamela/Saltarello . O nome do instrumento e o da obra . O autor , em alguns casos , é anônimo . Nos outros, é devidamente identificado . Eles apresentam 30 instrumentos , mas raramente você ouve apenas o instrumento apresentado . O Consort faz acompanhamentos com todo tipo de instrumento , inclusive de percussão . O grande pianista André Previn cuidou das notas de texto . O Early Music Consort de Londres acabou em 1976 , com a morte prematura de Munrow . Hogwood seguiria para uma carreira de sucesso ao fundar e se tornar regente de uma orquestra com instrumentos de época ( Academy of Ancient Music ) especializada em Música Barroca e Música Clássica . https://open.spotify.com/album/4B5Qk85ZhE1ki6JFaU1ydx?si=W7VTX6ONQgKIm-UNGkM53g - Música das Cruzadas - Early Music Consort de Londres - Outro disco do pessoal de David Munrow . Música das Cruzadas também chega a sair da Idade Média e entrar na Renascença . Diferente do outro, é um disco cantado (acompanhado por instrumentos ), pois nos apresenta as músicas dos Trouvères e Troubadours . São peças que certamente todos conheciam na época . A penúltima faixa é atribuída ao rei inglês Ricardo Coração de Leão : "Je Nus Hons Pris" é um lamento que fala do cativeiro em que esteve na 3ª Cruzada . - Hildegard von Bingen - Celestial Hierarchy , pelo grupo Sequentia , regido por Benjamin Bagby - A música pura , imaculada , quase transcendental da maior compositora de música monofônica da Idade Média . As melodias de Hildegard têm um caráter pacífico , mas confiante . Ela usa notas longas , mas as misturas com cadências ligeiras , em uma estruturação rítmica perfeita . E aqui temos a oportunidade de ouvir vozes solo e coros integralmente femininos , que fazem a música mudar de índole e adquirir uma ainda mais mística . São Antífonas e Responsórios aos quais se unem , apenas algumas vezes , raros instrumentos . A Antífona dos Mártires "O Victoriosissimi Triunmphatores" é um dueto entre a voz e harpa (provida pelo próprio regente Benjamin Bagby ). O CD é de 2013 . https://open.spotify.com/album/31QDLC0PjTJYbi6PCcr1w8?si=DFdKElKdTaexzfdMNXJzqg - Guillaume de Machaut - Chansons , com o Orlando Consort - Este excelente disco do mais famoso compositor da Idade Média contém algumas de suas Chansons . São Ballate , Rondeux e Virelais , todos polifônicos que, cantados pelo Orlando Consort , nos dão uma clara visão da excepcionalidade e da complexidade do mestre na escrita de Música Profana . É de 2007 . - Guillaume de Machaut - Missa de Notre Dame , interpretada pelo Ensemble Gilles Binchois , regido por Dominique Vellard - Esta é a mais importante obra de Machaut e considerada uma obra prima da Idade Média . É também a mais antiga missa composta por uma só pessoa . Enquanto, no disco anterior , tínhamos uma coletânea de obras pequenas , aqui, a Missa é uma só obra grande e complexa . Já vemos nela as partes que servirão de base para todos os compositores do futuro (o futuro de Machaut , espero que tenha ficado claro) que desejam compor Missas . O Introitus , o Kyrie , o Gloria , o Credo , o Agnus Dei e outros . Quase todos são textos bíblicos . Quando, séculos depois , Mozart escreveu seu Réquiem , por exemplo, ele utilizou majoritariamente estes mesmos textos . A gravação , em que o Conjunto Gilles Binchois , regido por Dominique Vellard , está impecável , é de 1990 . - A Escola de Notre Dame - Léonin , Pérotin , com obras cantadas pelo Orlando Consort - Um disco excepcional , que mostra a música dos dois mestres da Ars Antiqua , que viram a Catedral de Notre Dame ser construída e trabalharam nela (por isso diz-se , hoje, que esses compositores pertencem à Escola de Notre Dame ). A maior parte das faixas está creditada a Léonin/Pérotin juntos. Elas pertencem, todas, ao Magnus Liber , uma compilação de obras de Organum em que acredita-se que ambos tenham trabalhado . Ouvimos, também, as bem-vindas vozes de um coro infantil . O disco , mais um com o Orlando Consort , foi gravado em 1996 . - Pérotin , com obras interpretadas por The Hilliard Ensemble , dirigido por Paul Hillier - O disco é assim, mesmo . Intitulado , simplesmente, Pérotin , o compositor de quase todas as peças do mesmo disco . O que acontece com Pérotin (e, também, com seu mestre Léonin ) é que, por ser muito antigo , não é possível rastrear suas obras e provar ou descartar sua autoria . Como dito , sua própria existência só nos é comprovada por citações sobre ele em alguns livros . Mais interessantemente na obra de um escuso monge inglês , que trabalhava em Paris . Ele escrevia sob o pseudônimo de Anonimous IV . Por isso, há obras que não são , no disco, atribuídas a ele e têm o autor nomeado anônimo . Agora, quanto ao álbum : trata-se de música muito refinada e complexa , especialmente em sua harmonia . As peças são todas Polifônicas , Polifonia que é lograda através do uso da técnica Organum . Poucas vezes ouvi música coral tão estimulante . E o Hilliard Ensemble , sob Hillier , está um nível acima dos outros desta lista . Eles montam sua interpretação em torno das dinâmicas (do piano ao forte ). O resultado é sensorialmente magnífico . Foi gravado em 1989 . https://open.spotify.com/album/5kZW1eLPUuntVmdiph4BwB?si=ao_szGwKR4KUO7J59ERg6g - Troubadors - Música dos Trovadores , com o Clemencic Consort , sob a direção de René Clemencic - A música dos Trovadores franceses ( Troubadours ), enfim. É um disco leve e animado . Que não se procure aqui a profundidade de Guillaume de Machaut ou a transcendência de Hildegard von Bingen . Em compensação, a experiência de estar ouvindo o que a maior parte da população da Idade Média ouvia é ímpar . O próprio Clemencic Consort contribui para isso, executando a música de maneira (apropriadamente) crua , sem muito refinamento . Há trechos em que os poemas são narrados (em uma língua que pode ser o francês ou o provençal antigos), entrecortados por música instrumental . Temos, também, vozes femininas e diversos instrumentos de acompanhamento . O disco é de 2009 . Espero que esse texto seja útil . Aguarde pelas próximas partes : Música Renascentista , Música Barroca , Música do Classicismo , Música do Romantismo e Música do Modernismo . Lista de outras postagens aqui . Deixe seu comentário!

  • Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Análise

    Antonín Leopold Dvořák (1841-1904) foi um compositor tcheco dos mais bem sucedidos no final do romantismo . Ele escreveu 9 Sinfonias , 3 Concertos e um monte de música de câmara . Além de ópera e música sacra . Violinista e violista de formação, ganhou notoriedade ganhando o Concurso Austríaco de Composição por três vezes ( 1874 , 1876 e 1877 ). Entre os jurados estava Johannes Brahms , que ficou muito impressionado e que se tornaria seu amigo até o fim da vida. Sucessor de Bedřich Smetana , Dvořák foi um nacionalista, até certo ponto, incorporando na sua música, ritmos e melodias da sua Boêmia (hoje, parte da República Tcheca ). Sua fama internacional veio com as Danças Eslavas , que existem em versão orquestral e para piano a 4 mãos. Até hoje são muito tocadas. Convidado a tomar parte de um projeto de Nova Iorque de criação de um grande conservatório nos EUA , Dvořák muito relutou, até que a oferta se tornou irrecusável ($$). Ele foi, em 1892 , e lá compôs obras famosas, como o Concerto para Violoncelo e o Quarteto de Cordas Nº 12 - chamado de " Quarteto Americano ". A sinfonia " Do Novo Mundo ", a que muito se tentou atribuir uma influência americana, seria mais como uma sinfonia de saudade de casa. Tanto que ele voltou para a Tchéquia em 1895 . Dvořák faleceu em praga em 1904 , vítima de influenza. Teve uma carreira altamente bem sucedida, sendo celebrado em seu país - no seu aniversário de 60 anos fizeram-se executar várias de suas obras - e no mundo. Nas décadas que se sucederam à sua morte, foi rebaixado a "apenas" um bom compositor de melodias. Mais recentemente, graças ao esforço de músicos e musicólogos, sua reputação como um dos grandes cameristas e sinfonistas do século XIX tem sido reestabelecida. Sinfonia "Do Novo Mundo", descrita como Nº 8 A Sinfonia "Do Novo Mundo" Interessante notar que Dvořák achava que essa era a sua 8ª sinfonia, pois a sua primeira, ele tinha mandado a um concurso e, não só não venceu como nunca devolveram os manuscritos. Ele achava que estava perdida. Já seu editor, começou a contar da 6ª, que foi a primeira a ser publicada na Alemanha, e desconsiderava as 4 primeiras, que não foram publicadas, de forma que, até os anos 50, a "Do Novo Mundo" era a 5ª. Ou seja, ela já foi 8ª , 5ª e 9ª . Vamos ver se agora estabiliza. Essa informação é útil, porque se você gosta de discos de vinil, pode ser que encontre ela mumerada como 5ª, em doscos mais antigos. A maneira de identificar é que ela sempre vai vir com o apelido "Do Novo Mundo". Nome completo: Sinfonia Nº 9 - "Do Novo Mundo", em Mi menor, Op. 95 Orquestra 2 Flautas (1 alternando para Flautim ) 2 Oboés (1 alternando para Corne Inglês ) 2 Clarinetes 2 Fagotes 4 Trompas 3 Trompetes 3 Trombones (1 Alto , um Tenor e 1 Baixo ) Tuba Tímpanos (1 tocador) Triângulos e pratos (1 tocador) As Cordas : 1os Violinos , 2os Violinos , Violas , Violoncelos e Contrabaixos As cordas se distribuem mais ou menos assim: 16 Violinos I - 14 Violinos II - 12 Violas - 10 Violoncelos - 6 a 8 Contrabaixos; podendo ser um par a menos ou a mais de cada. A Obra Em 4 movimentos, ela é na clássica forma sonata . Na verdade, ela é o ápice da forma sonata, que diz que o primeiro movimento (e às vezes o último) deve conter: Introdução - geralmente um trecho curto e lento, que estabelece um clima; Exposição - com Tema 1 e Tema 2 (e às vezes, como aqui, Tema 3 ) Desenvolvimento - em que ele elabora os temas; Recapitulação - a exposição tocada novamente (com algumas alterações pequenas); Coda - a finalização. Observemos. Abaixo, a Sinfônica da Rádio de Frankfurt , sob a regência de Andrés Orozco-Estrada . 1º Movimento - Adagio - Allegro molto Começa com uma lenta e bela introdução (23s ) nas cordas graves. Um anúncio da trompa (43s ) é seguido da mesma melodia da introdução ( 51s ), transposta (em outro tom), nas madeiras . Os golpes orquestrais que se seguem ( 1m13s ), ainda pertencem à introdução. A 1m30s os baixos fazem uma elaboração até que as madeiras assumem ( 1m37s ). E a 1m40s ouve-se pela primeira vez uma ameaça do que será o tema nos violoncelos . Novos golpes da orquestra ( 1m51s ). Aos 2m02s eles fazem dois acordes, seguidos por uma nota violenta dos violinos (2m06s ) que prepara para a exposição. A exposição começa já com o Tema 1 ( 2m09s ) sendo apresentado pelas trompas , com respostas dos clarinetes e fagotes . E é repetido pelos oboés ( 2m16s ), desta vez as flautas , os fagotes e os próprios oboés respondendo. Perceba que ele agora ( 2m23s ) começa a elaborar o tema, mesmo ainda não estando no desenvolvimento. A orquestra, em tutti, faz o tema novamente, ameaçador ( 2m41s ). A resposta, desta vez ( 2m45 ) já vai acalmando os ânimos para o 2º Tema , nas flautas e oboés ( 3m11s ), que é imediatamente repetido pelos segundos violinos . E já prepara para a entrada do 3º Tema ( 4m14 ) , na flauta , o mais melódico e calmo. Os três terão importância no movimento. Ele é lindamente repetido pelas cordas . Aos 4m54 temos dois acordes da orquestra que preparam para a repetição da exposição , ou seja, esse parágrafo aqui todo vai ser repetido. Nem sempre os regentes fazem isso, tem gente que gosta, tem quem não goste. No caso dessa sinfonia, como a exposição é curta, eu não vejo problema em fazê-lo. Tema 1 ( 4m57s ), Tema 2 ( 6m01s ) e Tema 3 ( 7m03s ). Repare que no Tema 3 ele faz uma desaceleração. E na repetição também. Um dos momentos em que o regente e a orquestra mostram seu virtuosismo é quando fazem duas desacelerações perfeitas, uma igual à outra. Como aqui. Quando chega a hora em que ele repetiu, dessa vez ele passa adiante, com um acorde aumentado ( 7m44s ). É o começo do desenvolvimento . E o primeiro tema que ele pega é o 3 ( 7m56s ), na trompa e depois no flautim . Perceba que os violoncelos ficam fazendo um pequeno ostinato com as primeiras notas desse tema , só que em modo menor ( 8m12 ). Trompetes ( 8m16s ), trombones respondem com o Tema 1 ( 8m20s ). Trompas (8m24s ) e trombones (8m29s ). Tema 1 ( 8m40s ). O movimento vai ganhando tensão até que suspende, quando o oboé toca o Tema 1 (09m03s ), depois a flauta , o clarinete e então volta tudo. É a recapitulação . Com o Tema 1 ( 09m18s ). A orquestração é muito parecida com a da exposição. As trompas tocam o tema, os clarinetes e fagotes respondem. Depois, os oboés fazem o tema, as flautas respondem. A passagem para o Tema 2 é diferente, porque agora ele vai entrar em outro tom (sol sustenido menor) ( 9m56s ). Isso tudo para que ele possa cair em lá bemol maior (que sonoramente é o mesmo que sol sustenido maior ) no Tema 3 ( 11m05s ), na segunda flauta . Aos 11m39s as trompas fazem surgir o coda , bastante agitado, em que se ouvem todos os temas, e que acaba de maneira brilhante e assertiva o movimento, com um último ( 12m21 ) tocar do Tema 1 . 2º Movimento - Largo Como terminamos em mi menor, ele se dá o luxo de começar o segundo movimento em mi maior. Só pra modular lindamente para ré bemol, com uma linda e potencialmente arrepiante transição dos metais ( 13m ). E aí o corne inglês pode fazer sua comovente e comprida Melodia (13m42s ), talvez a mais famosa da obra. Esse tema era erroneamente percebido como uma homenagem de Dvořák à paródia de spiritual Goin' Home . De fato, foi este último que se apropriou da melodia da sinfonia - ele veio depois. Aos 15m30s volta a transição do começo, mas dessa vez mais nas madeiras, seguida de um acorde fortíssimo ( 15m56s ). As cordas elaboram um pouco sobre a ideia do Tema ( 16m03s ) até que volta o corne inglês ( 17m04s ). A Parte B do movimento é um pouco mais tumultuada, começando no oboé e na flauta ( 18m18s ), depois nas cordas com surdina ( 19m39s ). A música muda repentinamente para tom maior ( 21m39s ) para o oboé tocar uma melodia meio alegre ( 21m42s ) que anuncia a volta do Tema ( 22m33s ). Dessa vez ele volta fragmentado, especialmente no final. E parece como se a orquestra estivesse realmente indo pra casa, abandonando os instrumentos ( 23m03s ) e também a melodia ( 23m20s ). Aos 23m56s temos um pequeno crescendo (23m56s ) até que a música acaba apenas nos contrabaixos . 3º Movimento - Molto vivace Aos 26m24s temos o Scherzo da sinfonia. É um movimento ligeiro e ágil. É reminiscente do Scherzo da 9ª Sinfonia de Beethoven . Não é uma relação distante, na verdade, Dvořák esperava que o público fizesse essa relação, não sei se por ser a 9ª dele também - embora ele a considerasse a 8ª (perdera uma), ele sabia que a 1ª estava escondida em algum lugar. Tem relação temática também com os outros movimentos ( 29m14s ). Como a maior partes dos Scherzi, tem um Trio contrastante ( 29m30s ), que é leve. Aos 32m21s volta o Scherzo , terminando furiosamente, ainda com referências ao 1º movimento. 4º Movimento - Allegro con fuoco Eu falei que o segundo movimento fosse talvez o mais conhecido. Por causa desse aqui, que talvez seja ainda mais. Ele começa ameaçando ( 34m05s ) até que explode, aos 34m21s, no Tema 1 (o dele, não o do 1º movimento). É um tema bélico, másculo, nos metais , mas gruda mesmo na cabeça. Aos 35m53s , o prato e uma subida dos fagotes anunciam o Tema 2 ( 35m57s ), no clarinete , muito mais lírico, pontuado pelos violoncelos. No desenvolvimento ele trabalha o Tema (38m43s ) do segundo movimento , o Tema 1 (39m42s ) do 1º movimento e seus próprios temas . Isso caracteriza a obra como cíclica , uma coisa que sempre impressiona os musicólogos, mas que na verdade, é fácil de fazer. A reexposição é inesperada. Ela vem aos 39m55s , com o Tema 1 nos metais e fica bem calma ( 40m25s ). Aos 41m16s aparece o Tema 2 nos violinos . Aos 43m23s começa o longo coda, que ameaça terminar a peça com vários golpes da orquestra mas termina mesmo com um acorde mais adocicado que se esvai nos sopros ( 46m01s ). Considerações finais Foi estreada em 15 de dezembro de 1893 , no Carnegie Hall de Nova Iorque , regida por Anton Seidl . A orquestra foi a da Sociedade Filarmônica de Nova Iorque , que daria origem à Filarmônica de Nova Iorque . Ao final de cada movimento o público aplaudia freneticamente, obrigando Dvořák a se levantar e se curvar no camarote . É uma sinfonia muito impactante, sendo, ao lado das de Brahms e Beethoven , uma das mais gravadas. Neil Armstrong pôs pra tocar logo antes de pisar na lua . É a minha obra musical favorita - que é um fato muito mais importante que essa história de lua. A orquestração é exemplar, a forma é bastante clara e, claro, as melodias são muito reconhecíveis, o que, inclusive, ajuda nessa clareza. Isso torna a sinfonia a mais gravada do compositor. Mesmo por quem não grava nenhuma outra. A interpretação do vídeo acima é espetacular. Fico sem palavras. É como se eles estivessem num dia bom à beça. Pior que não, essa orquestra é boa o tempo todo. Orozco-Estrada , regente colombiano , é um grande talento dos nossos tempos. Quase tudo que o vi reger, foi com um toque a mais de sensibilidade, de sabedoria em construir o som da orquestra e expressão na dose certa. Mesmo nessa obra, que praticamente toca sozinha. Ainda assim, vou passar minhas gravações favoritas. Gravações recomendadas - Sinfônica de Londres , regida por Eugene Ormandy - Qualquer listagem de gravações mais monumentais dessa sinfonia vai incluir essa aqui. Foi uma das poucas, se não a única, que Ormandy, regente húngaro, fez com uma orquestra que não fosse a de Filadélfia, em 1966 . Cresci com ela, que ganhei em CD . A precisão é de níveis enlouquecedores. Os crescendos, definitivos. Ninguém faz o crescendo no final do 2º movimento como eles. E poucos tocam o comecinho igual: eles começam p (fraco, mas nem tanto), em vez de ppp , como a maioria. É a minha favorita, embora não necessariamente a que mais indico. - Filarmônica de Berlim , sob a regência de Rafael Kubelik - Essa, de 1972 , é ainda mais consenso. Numa das melhores gravações da Filarmônica de Berlim na era Karajan, sem Karajan, os músicos parecem estar à vontade. Os andamentos são muito bons. - Filarmônica de Viena , sob Karl Böhm - Böhm me surpreendeu nessa gravação. Ele é um regente excepcional, mas não é conhecido por sutilezas. É meio duro. O que o torna ótimo para Brahms e Mozart . Dvořák exige maleabilidade, mas ele se sai muito bem aqui. Além disso, a gravação é curiosa. Ele usa uns fraseados que só ele. 1978 . Muito bom. - Orquestra de Cleveland , regida por Christoph von Dohnányi - Outra gravação com a qual eu cresci. É de 1987 . Mais moderna que as anteriores, tem também um melhor som, acho. Mas o som das outras já é bom. Dohnányi pegou uma orquestra mágica, tida como " o instrumento mais afiado dos Estados Unidos " e gravou uma das peças que mais se adequam a seu som. - Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara , com Andris Nelsons - A gravação moderna mais bem tocada, de 2013 , quando tudo ainda era tão bonito... A orquestra é um fenômeno e Nelsons, assim como Orozco-Estrada, sempre me encanta. E então? Gostou do texto? Deixe seu comentário, por favor. Escute alguma dessas gravações, que essa sinfonia não tem erro. Não tem como não gostar. E comente. Já comentou? Ah, e olha aqui nossas famosas análises. Tchaikovsky - A Sinfonia Nº 6 "Pathétique" Rachmaninoff - Concertos Nº 1 , Nº 2 , Nº3 e Nº 4 Debussy - Os Prelúdios para piano: Livro 1 e Livro 2

  • Romantismo - História da Música 4, Vol. I - A Invenção da Música Descritiva

    Por Rafael Torres O meu querido e finalizado livro Contos Medonhoa e Desarranjados ( Vol. 1 ) (cuja campanha de arrecadação coletiva para a publicação eu vou divulgar na Arara , nos próximos dias), costumo definir como um livro de contos em que um depende do outro ; ou como um romance cujos capítulos são contos. Desarranjados , porque a ordem em que estão propostos não segue uma linha temporal estrita . Falo isso porque, quando eu vou escrever sobre algum período da história da música , adoto esta mesma abordagem. No Romantismo , brotava compositor em cada esquina . A música ficou tão complexa que tinha compositor só de música para piano . Ou só de ópera . A história toda é centrada na Alemanha e na Áustria , mas, vez por outra, surge um Tcheco , um Norueguês ... Portanto, paciência . A gente tenta dar um fio para essa história, abre um parêntesis aqui, uma nova sessão acolá e dá certo. No fim, vocês entendem . Imagem imaginária de Kasper David Friedrich, "O Viajante Sobre o Mar", 1818. Como dito anteriormente, nos escritos sobre o Classicismo , não há consenso a respeito do ano exato do começo do Romantismo . Isso é normal , não se pode imaginar que todos os compositores fizessem algum tipo de votação em que vencesse o Romantismo , assim, de chofre. Eu considero duas datas : 1806 , quando Ludwig van Beethoven apresentou a primeira obra claramente romântica : sua 3ª Sinfonia , apelidada “ Eroica ”; e a década de 1820 , quando toda a Europa já compunha música plenamente romântica. Os críticos tendem a atribuir a chegada do Modernismo à dissolução do sistema tonal . Nesse caso, peço que ouçam este pequeno trecho de uma Suíte do Barroco Georg Muffat . Ela é, no mínimo, politonal (muda de tom várias vezes) e meio atordoadora de se acompanhar. Outro em quem se vêem quebras de paradigmas é o clássico Wolfgang Amadeus Mozart . O que sabemos sobre o compositor que Mozart seria em dez anos é o que podemos especular da sua obra nos seus anos finais de vida , e não mirarmos no conservador Joseph Haydn . O que dizer das cadências que ficam como pendentes nesse despretensioso Minueto ? Embora perfeitamente tonal , suas implicações são ambíguas , com seu excesso de cromatismos . Liszt , o próprio Romântico Franz Liszt , chegou a escrever uma Bagatela sem Tonalidade . Ele atinge a atonalidade do jeito que se propunha , em sua época: através dos cromatismos . Cromatismos são escalas (escala cromática) que não selecionam notas . Por exemplo: Dó Maior = Dó , Ré , Mi , Fá , Sol , Lá . Si , Dó . Você não deve ter percebido , mas, das doze notas , cinco foram omitidas . Nenhuma tecla preta do piano foi tocada . Desse modo, uma escala cromática começando em dó ficaria: Dó , Dó Sustenido , Ré , Ré Sustenido , Mi , Fá , Fá Sustenido , Sol , Sol Sustenido , Lá , Lá Sustenido , Si , Dó . Doze notas , se repetirmos o Dó . Viena em 1873, por Franz Alt. (Parêntesis para Beethoven Vimos que Beethoven chegou a Viena em 1792 , pianista, clássico e dentro dos padrões da música da época. Teve aulas com Haydn , Salieri , escreveu uns Quartetos de Cordas e Trios com Piano , Sonatas e, até, Sinfonias , tudo dentro do que se pode identificar como classicismo . Caricatura de Beethoven usando um trompete de ouvido para aguçar o som. Mas Beethoven tinha algo que ninguém mais tinha. Era um compositor freelancer , isto é, não compunha para a igreja , nem para as poucas realezas que sobreviveram à Revolução Francesa etc. Beethoven escrevia para Beethoven, o que queria : e sempre evoluindo . E ele sempre foi vanguardeiro . Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn , Alemanha , em 1770 , filho do complicado Johann von Beethoven. Ele pretendia treinar o jovem Ludwig até o ponto de torná-lo um " novo Mozart ", um menino-prodígio . Mentia sobre a idade do filho. E, depois que sua esposa morreu , em 1887 , tornou-se alcoólatra , chegando ao ponto de parar de trabalhar. Ludwig foi à justiça obter uma ordem judicial para que Johann fornecesse sustento aos filhos (ele tinha dois irmãos : Karl e Johann , ambos mais novos que ele). Johann pai , sabe-se, batia nos filhos . De qualquer forma , ele foi o primeiro instrutor de música de Ludwig. Depois, entre 1780 e 1781 , teve aulas com Christian Gottlob Neefe . Beethoven compôs obras ainda em Bonn , como Musik zu einem Ritterballett , para balé, e um Octeto de Sopros (que, em Viena, ele retrataria como Quarteto de Cordas )... Vamos dar uma olhada nas três fases de Beethoven, que são uma espécie de consenso universal . Primeiro Período O primeiro período de Beethoven começa com a sua chegada em Viena , em 1792 . Obviamente, existe um período anterior , o de Bonn , mas pouca música sobreviveu . Na Áustria , ele era uma espécie de imitador , chegando a dizer que tinha dominado o ' Estilo Vienense ' (de Mozart e Haydn ). Mesmo assim, sua música já era difícil para o público e longa demais. Compôs os Seis primeiros Quartetos de Cordas , Op. 18 ; as Duas primeiras Sinfonias , Opp. 21 e 36 ; os Três primeiros Concertos para Piano e Orquestra , Opp. 15 , 19 e 37 e umas 12 Sonatas para Piano. Aqui, Beethoven começou a sentir os sintomas de uma surdez progressiva que carregaria até a morte . Obedecendo ordens médicas , retirou-se para a pequena cidade de Heiligenstadt , na Áustria (entre abril e outubro de 1802 ), onde escreveu o famoso Testamento de Heiligenstadt , do qual um trecho você vê abaixo . Em Alemão . Nesta carta , destinada aos seus irmãos , ele relata, com sofrimento , a perda do seu principal sentido na arte de compor . Menciona, inclusive, suicídio , Ele escreve o nome do irmão Karl várias vezes, mas nunca o do irmão Johann . Simplesmente deixa em branco . Mas, principalmente , ele fala de uma resolução que teve. De continuar vivendo através e para a sua arte . Acontece que, para um músico treinado , a surdez não o impede de compor . Mas impede de tocar piano , de reger , coisas que eram muito mais rentáveis , na época. De modo que ele tinha quer criar uma sonoridade especial , característica , nas composições. Foi então que ele começou a se reinventar . Segundo Período O segundo período , chamado, antigamente de Fase Heróica , começou com essa mudança de atitude . " Eu não estou satisfeito com o trabalho que fiz até aqui. De agora em diante eu pretendo seguir um novo caminho. " É o seu período mais conhecido . Ee compôs suas Sinfonias 3 a 8 , os dois últimos Concertos para Piano e Orquestra ; diversas Sonatas , incluindo as famosas Nos. 18 ' A Caça ', 21 ' Waldstein ' e 23 ' Appassionata '; e sua única ópera , ' Fidélio '. Detenhamo-nos em sua 3ª Sinfonia , em Mi Bemol menor , conhecida como ' Eroica '. Foi sua primeira Sinfonia após o retorno de Heiligenstadt . É altamente revigorante , com muitas dissonâncias (no tempo forte ), intensificações de dinâmica nos tempos fracos , um comprimento imenso (cerca de 45-50 minutos ) e a famosa Orquestra Romântica (com as cordas , 2 flautas , 2 oboés , 2 clarinetes e 2 fagotes , 3 trompas , 2 trompetes e tímpanos ) (ele utilizava flautas e clarinetes , oboés e fagotes ), que seria incrementada ao longo do século XIX . O público , mesmo um tanto confuso , amou a obra . Veja, abaixo, a ' Eroica ' inteira ( não recomendo : ouça trechos do primeiro movimento), com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Frankfurt , regida pelo colombiano Andrés Orozco-Estrada . Terceiro Período A partir de 1810 o compositor fica um tanto errático , de modo que, em 1812 , inicia-se o seu último período . A propósito, esta divisão da carreira de Beethoven em 3 fases não é ideia minha. Em 1818 já se falava nisso e essa convenção é adotada por todos os biógrafos . Nessa fase tardia , ele estuda o contraponto de Giovanni da Palestrina , Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Händel . E o aplica abundantemente , através de fugas , a forma mais complexa de contraponto . Escreve seus últimos Quartetos de Cordas ; a ' Grosse Fuge ', para quarteto de cordas; as Variações Diabelli , para piano; as últimas Sonatas para Piano e a 9ª Sinfonia , que incorpora cantores solistas e um coral , no último movimento. Nesse período, Beethoven é imprevisível , entregando partituras experimentais , de durações inéditas e com conotações surreais . Ele morreu em sua cama, em Viena, aos 56 anos , em 1827 . O fígado estava ruim. Seu cortejo fúnebre levou mais de 10.000 pessoas às ruas de VIena. Tenho lido por aí que Beethoven não tinha , necessariamente, um talento musical extraordinário. Mas quem afirma isso terá de se virar para explicar o conteúdo completamente novo de suas obras. Verdade que inovar não é , especificamente, o objetivo de um compositor , mas ele encontrou a música parada e a sacudiu até quase esgotá-la . Os contemporâneos de Beethoven Beethoven era um homem difícil e arrogante (que podia ser doce e generoso ). Seu ídolo de adolescência era o escritor e polímata Johann Wolfgang von Goethe . Beethoven escreveu a ele, uma carta educada e reverente , afirmando já ter os direitos de 18 obras do escritor. Na carta, seguia a música incidental para a peça Egmont . Eles se encontraram no Resort de Teplitz , em 1912 . Escute a abertura da Música Incidental de ' Egmont ', com a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig , regida por Kurt Masur . Wolfgang Amadeus Mozart Não há evidências em primeira mão a respeito de um encontro entre os dois . Mas, também , não há nada que impeça que tal coisa tenha ocorrido . O que se sabe é que, em 1787 , Beethoven passou 6 meses e Viena . E que tinha ido para lá para ter aulas com Mozart . Beethoven teve que voltar a Bonn , pois sua mãe estava doente e morreu naquele mesmo ano. Quando o compositor pôde, finalmente, voltar a Viena , em 1792 , Mozart é quem havia morrido no ano anterior . Joseph Haydn Com seu professor Joseph Haydn (a partir de 1890 ) a relação foi mais complicada . Quando Ludwig escreveu seus 3 Trio com Piano, Op.1 , o austríaco Haydn sugeriu de bom grado que ele assinasse Ludwig van Beethoven, pupilo de Haydn . Isto, só, lhe garantiria público para a apresentação , já que Haydn tinha fama em toda a Europa . Beethoven teria dito que " apesar de ter tido aulas com Haydn, nunca aprendeu nada útil com ele ". Já na apresentação , Haydn sugeriu que não fosse publicado o Trio, Op. 1 - Nº 3 , pois certamente não agradaria o público . O terceiro era o Trio favorito de Beethoven , e ele insistia que Haydn queria escondê-lo por inveja , O que me faz pensar : Beethoven era cearense ? Porque aqui o povo pensa mais ou menos nesses termos ... O que consta em várias fontes históricas é que Haydn admirava a música do aluno . E vale lembrar que o Trio com Piano (para Piano , Violino e Violoncelo ) havia sido ' elaborado ' e era especialidade de Haydn , tendo ele escrito cerca de 20 peças , geralmente com três movimentos ; e de Mozart , que escreveu 6 deles . Beethoven escreveria 11 , dos quais o 4º , chamado ' Trio Fantasma ' ( 1809 ) e o 7º , ' Arquiduque ' ( 1811 ), são os mais famosos . É inútil tentar ouvir o Op. 1 - Nº 3 agora e tentar encontrar o que Haydn achou desagradável . A verdade é que o trio é encantador . Ademais, enquanto os Trios tinham 3 movimentos , no classicismo , os de Beethoven tinham 4 , com a sua insistência de incluir um ' Scherzo ' ou um ' Minueto '. No final das contas, Beethoven manteve até o fim de sua vida que Haydn era um compositor de estatura e importância igual à de Bach e à de Mozart . Clique aqui para escutar o Trio. ( Spotify ) Antonio Salieri A sua relação com o italiano Antonio Salieri , aquele mesmo que dizia ter matado Mozart , era das menos problemáticas . Antigo Diretor de Ópera Italiana e, posteriormente, Compositor da Corte do imperador Joseph II , da Áustria (da família Habsburgo ), Salieri tinha escrito mais de 20 óperas , era um homem erudito e humilde , dava aulas de música de graça a alunos dotados de talento , mas não de dinheiro . Por muitos anos , Salieri havia ganho dinheiro como poucos na corte , e soubera economizar . Beethoven procurou Salieri , a princípio, para aprender música vocal . Conta-nos Ferdinand Ries , compositor , amigo e contemporâneo de Beethoven: " Eu os conhecia muito bem; eles valorizavam muito Beethoven. Diziam que o aluno era tão cabeça-dura e autossuficiente, que tinha que aprender muito através da dura experiência, que ele tinha se recusado a aceitar quando era apresentada a ele como matéria de estudo. " Mesmo sabendo que as aulas com Salieri eram gratuitas , Beethoven fazia questão de pagar , demonstrando seu interesse em aprender aspectos técnicos e sua pretensão de se tornar um compositor completo . Em 1799 , Beethoven dedicou a Salieri suas 3 Sonatas para Violino e Piano , Op. 12 . Clique aqui para escutar a 1ª Sonata. Luigi Cherubini Em 1805 , Beethoven conheceu o compositor italiano Luigi Cherubini . Beethoven estimava enormemente o italiano, considerando-o o maior compositor de sua época (Cherubini era 10 anos mais velho que ele). O italiano escrevia, principalmente, ópera (cerca de 36 !) e música sacra (música cantada ), enquanto Beethoven era um sinfonista e compositor de música para piano e conjuntos de câmara . Réquiens ? Cherubini escreveu 2 . Um deles, para seu próprio funeral . Beethoven, nenhum . Era Cherubini que não gostava de Beethoven . Ao menos de sua música . Chegou a Viena em 1803 e assistiu a algumas récitas da Ópera Fidelio , a única de Beethoven . Desdenhou dela e do toque ao piano de Beethoven, considerando-o rústico . Não se sabe se ele sabia , ou se ainda teria dito essas coisas caso soubesse, que Beethoven não escutava quase nada , mais. Seu piano e sua fala eram rudes porque ele mesmo precisava se ouvir . Ferdinand Ries Nascido em 1784 , o compositor Ferdinand Ries tornou-se pupilo e ajudante de Beethoven. Compostor prolífico , compôs oito sinfonias ( 41 , como Mozart e 104 , como Haydn , ninguém jamais conseguiria , ao menos no alto romantismo ). Ries escreveu, junto com Franz Wegeler , em 1838 , um livro de memórias sobre Beethoven . Johann Nepomuk Hummel Hummel é muito mais importante do que costumamos pensar . Pianista virtuose , compositor inovador , aluno de Mozart , Salieri , Haydn e Muzio Clementi , amigo de Beethoven e Schubert . Hummel é muito conhecido  entre músicos (e até gravado ). A maior parte  de sua obra é para piano solo  ou piano com orquestra (são 8 ). Stephen Hough  interpreta o  1º movimento  da Sonata em Fá Sustenido Menor , de J N Hummel . Hummel influenciaria Franz Schubert , na sua " Wanderer Fantasy " e Robert Schumann , na sua Fantasia , Op. 17 Com Johann Nepomuk Hummel a situação era completamente diferente . Hummel , 8 anos mais jovem que Beethoven , havia sido uma criança prodígio e aluno de Mozart . Os dois (Hummel e Beethoven) travaram uma amizade de anos . Gioachino Rossini Rossini já era um compositor famoso , tavez o mais famoso da Europa , quando seus esforços para conhecer Beethoven deram frutos . Beethoven o reconheceu e elogiou pela ópera ' O Barbeiro de Sevilha ', acrescentando que ele nunca deveria escrever algo diferente de opera buffa (comédia operística), pois isso iria contra a natureza de Rossini . O poeta Giuseppe Carpani , que arranjou o encontro, lembrou a Beethoven que Rossini já tinha composto várias óperas sérias . " Sim, eu dei uma olhada nelas. Opera seria não combina com os italianos . Vocês não sabem lidar com o drama real ." Franz Liszt Franz Liszt , nascido em 1811 , conta ( ele que conta ) o seguinte: "Eu tinha cerca de onze anos quando meu altamente estimado professor Czerny me apresentou a Beethoven. Czerny já o tinha contado sobre mim e pedido que ele me ouvisse. Mas Beethoven tinha aversão a prodígios e, por um longo tempo, se recusou a me ouvir. Finalmente, como se persuadido pelo meu incansável professor Czerny, disse: 'Então, pelo bem de deus, traga o pequeno patife'." "Era uma manhã, cerca de dez horas, quando eu entrei nas duas salinhas do Schwarzspanierhaus, onde Beethoven vivia. Eu estava bem embaraçado - mas Czerny gentilmente me encorajou. Beethoven estava sentado à janela em uma longa e estreita mesa, trabalhando. Por um momento, ele olhou para nós com uma cara séria, disse duas palavras rápidas a Czerny, mas ficou em silêncio quando o meu querido professor me sinalizou que sentasse ao piano." "Primeiro, eu toquei uma pecinha de (Ferdinand) Ries. Quando eu terminei, Beethoven me perguntou se eu podia tocar uma fuga de Bach. Eu escolhi a Fuga em Dó menor, do Cravo Bem Temperado. 'Você pode transpor essa fuga?" Beethoven perguntou." "Felizmente, eu podia. Após o acorde final eu olhei para cima. Os olhos profundos e brilhantes de Beethoven descansaram em mim - mas, de repente, um leve sorriso percorreu sua outrora séria face. Ele se aproximou e bateu na minha cabeça várias vezes, com afeto." "'Bem - eu fui surpreendido' - ele sussurrou, 'um demoniozinho tão pequeno'. Minha coragem subiu, repentinamente: Posso tocar uma de suas peças?, perguntei com audácia. Beethoven fez que sim, com um sorriso. Eu toquei o primeiro movimento do seu Concerto para Piano em Dó Menor (o 1º). Quando eu terminei, Beethoven esticou os braços, beijou-me a testa e disse, suavemente:" "Você pode ir, agora. Você é um dos sortudos. Será seu destino trazer alegria e júbilo a muitas pessoas e essa é a maior alegria que se pode atingir." Franz Schubert Shcubert era bem mais novo que Beethoven, tendo nascido e 1897 . Isso não o impediu de morrer apenas um ano depois do ídolo, em 1828 , aos 31 anos de idade. Morou a maior parte de sua vida em Viena , mas, por pura timidez , jamais se aproximou de Beethoven ou lhe mostrou algum trabalho . Sabe-se que conheceu o mestre alemão em 1822 . Foi com o também compositor Anton Diabelli à casa de Beethoven com a intenção de lhe oferecer uma cópia de sua peça ' Variações Sobre uma Canção Francesa '. Mas, tímido que era, gaguejou e quase desmaiou quando Beethoven apontou um pequeno problema na obra. Anos depos , em 1827 , Beethoven já dava a vida como finda , e seu amigo (e futuro biógrafo ) Anton Schindler , a fim de distraí-lo , entregou-lhe algumas partituras de lieds (canções: voz e piano) de Schubert . Beethoven teria dito: " Realmente , a faísca do gênio divino reside nesse Schubert ! ". "... vai ser uma grande sensação no mundo ". Carl Maria von Weber Weber era um pouco mais novo que Beethoven ( 17 anos ), primo de Mozart , através da esposa desde, Constanze Weber . Excelente pianista , regente e crítico musical, não gostava, no princípio, da música de Beethoven . Os dois eram figuras colossais no mundo da música europeia , Beethoven, na música instrumental , Weber, na ópera em alemão . No final, Weber se tornaria um grande admirador de Beethoven. Já este , sem saber e sem querer, era tão importante e central que ofuscava os demais . Eles se conheceram e 1823 , em um almoço , em que Weber pediu que Beethoven desse uma olhada em sua ópera Euryanthe . "Nós passamos o meio-dia juntos, muito alegres e felizes. Este homem rude realmente fez corte a mim, serviu-me à mesa com cuidado, como se eu fosse uma dama etc." Espero que esses parágrafos mostrem com fidelidade a importância de Beethoven . É muito difícil cravar " quando ", exatamente, acabou o período Barroco . Igualmente difícil é definir quando terminou o Classicismo . Mas na minha concepção , o Classicismo foi derrubado à força . E por um homem só . Vou insistir na Sinfonia Eroica e fazê-los comparar com uma obra contemporânea a ela. Quero que ouçam apenas o início dos trechos a seguir : Beethoven - Sinfonia Nº 3 'Eroica' Haydn - Concerto para Trompete Na ' Eroica ', escrita em 1802 , chamam-nos a atenção imediata os dois acordes iniciais . Agressivos , expoentes do que eu chamo de " a raiva de Beethoven ". O Tema A aparece logo depois, nos Violoncelos e é rudemente interrompido pelos Violinos . No Concerto , escrito em 1796 , não há nada nesse sentido. Nada acontece fora do previsto pelas convenções musicais da época . É ruim ser convencional ? Não . Haydn era, mesmo, um gênio . Mas, se fosse por ele , ainda estaríamos por aí, com Sinfonias , Sonatas e Concertos de 15 minutos . A ' Eroica ' dura 50 minutos , tempo suficiente para o compositor fazer tudo o que sabe e, ainda, elevar a exigência do público . Fecha Parêntesis para Beethoven) E em Paralelo a Beethoven? A música é uma arte que nunca parou de evoluir. Havia, nós sentimos, hoje, uma certa escassez de sinfonistas . Mas, primeiro , havia muitos compositores escrevendo sinfonias e concertos , basta lembrar dos citados acima . Johann Nepomuk Hummel , Gioachino Rossini (este, especializado em ópera ), Carl Maria von Weber (tem 2 sinfonias e 6 concertos ) e Ferdinand Ries , que foi um compositor fértil e criativo (compôs 8 sinfonias , 9 concertos para piano etc.) Mas só isso ? Sim, na Alemanha , só. Mas na Itália e, especialmente, na Espanha , crescia um movimento , iniciado por Luigi Boccherini e Nicolò Paganini , de especialização em um instrumento que só agora vai aparecer (embora vivamos cercados por ele): o violão . A Música Descritiva Sei que acabamos de sair de Beethoven, mas teremos que voltar . É que música descritiva era uma novidade e, ao mesmo tempo, não. Lembram-se das Quatro Estações de Vivaldi ? Do Barroco ? São 4 Concertos para Violino e, cada um, descreve, com uma orquestra de cordas e um violino solo , uma estação do ano . Veja o 3º Movimento do " Verão ", na interpretação de Ashot Tigranyan e da Classical Concert Chamber Orchestra . É uma tempestade . E o compare ao 3º Movimento do " Outono ", tocado por Oliver Braut e a Orquestra Barroca de Cleveland . É incrível . Eu diria até prodigioso . Existem, de autoria de Vivaldi (ou não ), 4 Sonetos que a música vai acompanhando . O 1º Movimento do Verão , por exemplo, tem um " langor, causado pelo calor "... No Outono , aos 37s do segundo vídeo , o solista imita as trompas de caça . Imagino que a cadência ( 2m40s ) do Violino Solo (esse solista não é muito bom) aluda à morte da fera (abaixo). No 3º movimento do Outono , o poema diz: " Os caçadores emergem com a aurora / E com trompas e cães e armas, partem para sua caça / Os bichos correm no encalço das suas trilhas / Assustados e cansados do grande barulho / De armas e cachorros a fera, ferida, ameaçada / Languidamente para voar, mas atormentada, morre . " No Barroco e no Classicismo existia, sim , música descritiva . Basta lembrarmos das Fantasias para Piano de Mozart . Mas precisamos ter em mente que elas não descrevem algo exato . São sensações , sentimentos etc. András Schiff interpreta a Fantasia em Dó Menor , K. 475 , de Wolfgang Amadeus Mozart . Aberturas de Óperas Desde o Barroco , existiam as aberturas de ópera . No começo, eram isso, mesmo, peças tocadas apenas pela orquestra , antes da ópera . Mas, eis que, no Classicismo , a abertura passa a ser tocada em concertos , apenas com a orquestra , sem os cantores . Era usada como um cartão de visita da ópera . Ex. Mozart : aberturas de Don Giovanni , Cosi fan Tutte , A Flauta Mágica . Abertura de Concerto No Romantismo , passa a existir a abertura de concerto . Ela independe de Ópera . É o caso da abertura de " Sonho de uma Noite de Verão ", " Mar Calmo e Viagem Próspera " e " As Hébridas ", de Felix Mendelssohn . Beethoven escreveu " Egmont ", " Coriolano ", " Rei Estêvão ". Todas estas sem ópera . Hector Berlioz teve enorme importância por causa de sua Sinfonia Fantástica e as aberturas " Les Francs-Juges " e " Le Corsaire ". Poema Sinfônico O conceito de Poema Sinfônico é muito parecido com o da Abertura de Concerto . É uma peça longa , geralmente descritiva , com um só movimento (no geral). Franz Liszt foi o primeiro a usar o termo poema sinfônico (ele publicou 13 peças com esse nome ). Dentre estes temos: Tasso: Lamento et Triunfo , Les Préludes e Mazzeppa . Georg Solti rege Les Préludes , com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara . A partir de então, poema sinfônico se tornou a principal forma de composição (com excessão da sinfonia ), influenciando compositores como Antonín Dvořák , Edward Elgar e César Franck . O Violão Começou na Renascença , com o alaúde . Até hoje, grava-se muito John Dowland , que escrevia para alaúde , em transcrições para violão . Depois, veio o violão barroco , para o qual pouco foi esccrito . O primeiro virtuose do violão e compositor de cerca de 400 obras  para o instrumento, foi o napolitano Ferdinando Carulli  (1770-1841). Seguiram-no Mauro Giuliani  (1781-1829) e o espanhol Fernando Sor  (1778-1839). Confira, abaixo, o Estudo Op. 35 Nº 22 , de Fernando Sor , por David Jaggs . Hoje em dia, toca-se música de Johann Sebastian Bach ao violão . Mas é importante que lembremos que se tratam de transcrições . As peças não foram escritas para violão . Algumas, para alaúde , outras para violino , violoncelo , cravo , órgão etc. Um bom exemplo é a Tocata e Fuga em Ré Menor , para órgão , transcrita para violão por Edson Lopes e executada, abaixo, por Tariq Harb . Ainda no Classicismo Luigi Boccherini (1743-1805) Ainda no Classicismo , o violão moderno começava a aparecer , com, por exemplo, Luigi Boccherini . Ele escreveu uma dúzia de obras de câmara com violão . Mas ainda não havia repertório específico para (apenas) violão . No Romantismo Fernando Sor (1778-1839) O catalão Fernando Sor foi o primeiro grande compositor a se dedicar ao instrumento . O primeiro de muitos . O romantismo é a era do violão . Ele compôs obras exclusivamente para o instrumento: 4 Sonatas , diversas Fantasias , música didática , além das normais Sinfonias e obras de câmara . René Lacôte interpreta a Fantasia , Op. 7 de Fernando Sor . Sor estudou no Mosteiro de Montserrat entre seus 12 e 15 anos. Mas foi quando voltou a Barcelona , que ele resolveu se dedicar ao violão , criando técnicas , componto exclusivamente para o instrumento e estabelecendo técnicas que são usadas até hoje . Por exemplo: ele evitava usar o dedo mínimo da mão direita . Quando o fazia, era em acordes , jamais na melodia . Usamos estes preceitos até hoje . Mauro Giuliani (1781-1829) O italiano Mauro Giuliani era um prodígio . Tocava violoncelo , violão , compunha e cantava . Ana Vidovic toca a Grande Abertura , Op. 61 , de Mauro Giuliani . Nicolò Paganini (1782-1840) Muito mais conhecido como compositor para violino e violinista , Paganini era considerado um prodígio do violão . Escreveu pouco para o instrumento solista (por exemplo: 5 Peças para Violão , de 1800 ), mas é considerado o primeiro virtuose do instrumento, tanto quanto do violino . Luigi Attademo toca a Romanza da " Grande Sonata " de Nicolò Paganini . Matteo Carcassi (1792-1853) Outro compositor importante para o violão , Matteo Carcassi teve fama tardia . Insistiu no violão , fez alguns concertos de sucesso pela Europa . Alexandra Whittingham toca o Estudo Nº 7 dos 25 Estudos , Op. 60 , de Matteo Carcassi . Francisco Tárrega (1852 – 1909) O espanhol Francisco Tárrega é um dos compositores de música para violão mais gravados e bem sucedidos de todos os tempos . É dele a famosíssima peça " Recuerdos de la Alhambra ", assim como " Oremus " e o " Capricho Árabe ". Pepe Romero toca " Lágrima ", de Francisco Tárrega . O violão seguiu sua trajetória de instrumento solista no modernismo (especialmente com Heitor Villa-Lobos ) e até hoje (tendo uma tradição extraordinária no Brasil e com o cubano Leo Brower ). O Piano Até o início do Classicismo , os principais instrumentos de teclado eram o órgão e o cravo *. No primeiro , de certa forma, pode-se controlar a intensidade do som , mas não de notas individuais . Já no cravo , o máximo que se pode fazer é alternar entre os teclados (cravos costumam ter dois ou mais teclados ). Por exemplo: fica a mão esquerda no teclado de baixo , que aciona todas as cordas (cada nota aciona duas ou três cordas ), enquanto a direita , vai ao teclado de cima , que geralmente, aciona apenas uma corda para cada nota e tem um som mais doce . * As obras para órgão e cravo de J S Bach , por exemplo, podem ser executadas ao piano , mas isso exige uma transcrição , feita, geralmente por compositores ( F Liszt , F Busoni ). Elas podem até ser tocadas por uma orquestra moderna inteira , como nas transcrições de Leopold Stokowski e Ottorino Respighi . Eis que, no século XVIII , Bartolomeo Cristofori criou um instrumento em que o músico podia controlar a intensidade da nota de maneira imediata , o Fortepiano . Ele tem esse nome porque pode-se tocar forte e fraco ( piano ) apenas controlando o toque . Não foi uma grande revolução , a princípio. W A Mozart chegou a escrever concertos para cravo . Mas foi graças a ele , a Haydn e a Beethoven que o Fortepiano se consolidou . Frédéric Champion toca, em um Fortepiano , o Rondó em Ré Maior , KV 485 , de W A Mozart . Esse era o Fortepiano da época de Mozart . Sobre o piano moderno , é muito difícil dizer quando nasceu . Ele foi evoluindo a partir do Fortepiano , ganhando pedais - especialmente o de sustentação , que permite que as notas tocadas continuem a soar mesmo que se tire a mão . Com o tempo e a evolução , o Fortepiano passou a ser chamado de, apenas, Piano . Ludwig van Beethoven escreveu suas 32 sonatas para piano (até hoje estão entre as mais gravadas ) e ajudou a consolidar o instrumento . Petra Somlai toca a Sonata Nº 8 , Op. 13 , " Pathétique ", de Ludwig van Beethoven , em um Fortepiano réplica de um instrumento de 1795 . A mesma peça , tocada em um piano moderno , por Anastasia Huppmann . A Sinfonia A sinfonia , tal como a conhecemos, existe desde o Classicismo , sendo um meio de o compositor demonstrar seu virtuosismo . São famosas várias sinfonias de Joseph Haydn , de Wolfgang Amadeus Mozart e de Carl Philipp Emanuel Bach . Mas foi no início do Séc. XIX que Beethoven (especialmente a partir de sua 3ª Sinfonia , " Eroica ") atribuiu à sinfonia o status de obra sinfônica mais importante do repertório . A partir da " Eroica ", surgiram a " Sinfonia Fantástica ", de Hector Berlioz , as 4 Sinfonias (são 5 , mas a segunda não é uma sinfonia ) de Félix Mendelssohn , as 4 de Robert Schumann , ao menos 2 das Sinfonias de Franz Schubert (a 8ª , " Inacabada ", e a 9ª " A Grande ") e, posteriormente, as 6 (ou 7 , ou 8 ) de Tchaikovsky , as ao menos 4 das 9 de Antonín Dvořák , a Sinfonia em Ré Menor , de César Franck e uma infinidade de outras. A sinfonia persiste como principal meio de comunicação entre o compositor e o ouvinte . Abaixo, a Sinfonia Fantástica , de Hector Berlioz , com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Frankfurt , regida por Andrés Orozco-Estrada . A Orquestra Romântica Enquanto na Idade Média e Renascença prevaleciam os Consorts ( grupos de instrumentos de uma mesma família ), a partir do Barroco começou-se a consolidar a Orquestra . Geralmente, com ( poucas ) cordas , e dois oboés . No Classicismo , ela cresceu . Eram mais cordas em uníssono , agora, com o contrabaixo , fagotes e oboés ou flautas . No final do Classicismo , Mozart implementou o clarinete . A Orquestra Romântica é muito parecida com a atual . As cordas : cerca de 12 Violinos I , 10 Violinos II , 8 Violas , 8 Violoncelos e 4 a 8 contrabaixos . As madeiras : 2 Flautas , 2 Oboés , 2 Clarinetes e 2 ou 3 fagotes . Os metais : 4 Trompas , 3 Trompetes , 3 Trombones . As percussões : 4 Tímpanos . E alguns instrumentos extras , como o Clarinete em Mi Bemol , o Clarone , o Contrafagote , o Piano , a Celesta etc. Abaixo, o regente Paavo Järvi rege a Sinfonia Nº 9 , " Do Novo Mundo ", de Antonín Dvořák ., com a Tonhalle-Orchester Zürich . Fim da parte 1 - Parte dois vem logo. Confira aqui uma lista de postagens da Arara .

  • Alguns dos Mais Importantes Maestros do Século XX

    Vou deixar uma lista com alguns dos principais regentes do século XX . Em nenhuma ordem, aliás, a ordem ficou bem louca. Uma desordem . Digo logo que vou editar essa lista sempre que lembrar de alguém. E que o que vou falar é muito pouco, apenas uma orientação sobre cada regente, senão essa postagem ficaria muito comprida. Arturo Toscanini (1867 - 1957) Nascido em Parma , Toscanini é considerado o maior regente da primeira metade do século XX . Começou a carreira substituindo um maestro no Rio de Janeiro , regendo Aida de cor. Seu estilo era austero, seguia a partitura (até certo ponto, pois nessa época todo regente burilava um pouco com a música). Nos EUA , criaram uma orquestra especialmente para ele, a NBC Symphony . Suas gravações de Beethoven , de Berlioz , Brahms , de um repertório que ia, enfim, do clássico ao moderno , são até hoje respeitadas. Era sogro do pianista Vladimir Horowitz . Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Sinfonias Nº 5 e Nº 8 - Com a NBC Symphony . https://open.spotify.com/album/3EOD30EpoAWcLZSqwS9Nf4?si=B58akMZGR1O7z1tejT8GqA - Pyotr Tchaikovsky - Concerto para Piano Nº 1 / Johannes Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Com Vladimir Horowitz ao piano e a Sinfônica da NBC https://open.spotify.com/album/7adEp6zg9wCwsMWEBAOxAE?si=xxngsGFQSuGwefullZYXuA Wilhelm Furtwängler (1886 - 1954) Enquanto Toscanini se solidificava nos EUA como o regente mais austero e rigoroso da época, Furtwängler era adorado na Europa pelo oposto. Seu estilo era relaxadão, ele mal ensaiava e, quando ensaiava, falava pouco. Era gentil e educado com seus músicos. Foi regente da Filarmônica de Berlim durante os anos do Nazismo , o que abalou sua reputação, mas consta que ele odiava o regime. Salvou alguns músicos judeus e suas famílias de irem ao campo de concentração. Regeu muita ópera e música romântica . Era também compositor. Não era um regente técnico. Às vezes fazia um gesto e 4 segundos depois a orquestra respondia. Gravações recomendadas - Richard Wagner - Música orquestral de óperas - Regendo a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/1877rkxWjMGOSdaiQdAMv9?si=HeR8AzW6RAyjYpCYdlAA8g Georg Solti (1912 - 1997) Dotado de um talento absurdo, o húngaro Georg Solti trabalhou com a Filarmônica de Viena , com a Companhia de Ópera do Covent Garden e, mais adiante, com a Sinfônica de Chicago , com a qual seu legado gravado é inestimável. Regia desde ópera até Beethoven , Brahms , Bartók e Mahler . Também era pianista. Gravações recomendadas - Béla Bartók - Concerto para Orquestra - Solti regendo a Sinfônica de Chicago https://open.spotify.com/album/2Ev0JwFyUqjQ8xpXVmuDzt?si=doXZ73HwQdCT2ffTcl1BtQ Herbert von Karajan (1908 - 1989) Herbert von Karajan pedindo mais. Karajan foi o maestro mais famoso da segunda metade do século XX . Talvez de todos os tempos . Pegou a Filarmônica de Berlim em 1954 , com a morte de Furtwängler , e a transformou no conjunto mais popular do planeta. Era excelente no repertório germânico ( Mozart , Beethoven , Schumann , Brahms ) e música do começo do modernismo, como Honnegger , Stravinsky , Bartók , Debussy e Ravel . Dou ainda mais crédito a ele porque tentou emplacar, nos anos 80, uma clarinetista, Sabine Meyer na Filarmônica de Berlim numa época em que não se viam muitas mulheres em orquestras. Mas isso (junto com outras coisas) desgastou a imagem dele na orquestra, com a qual tinha contrato vitalício desde 1954. Gravou também com a Philharmonia, a Orquestra de Paris e a Filarmônica de Viena. E foi diretor do Festival de Salsburgo (cidade onde nasceu, na Áustria, conterrâneo de Mozart) e do de Bayreuth . Gravações recomendadas - Dmitri Shostakovich - Sinfonia Nº 10 - Regendo a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/7hZVPlCdPrM43os3eK40Sb?si=Zm6y7xF6QXmU8QI0qbVe3Q - Richard Strauss - Assim Falou Zarathustra - Com a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/1kHbPoLRmiAHIDgYRraYU9?si=8DYfYJR9QiqXNVaekii4Ew Otto Klemperer (1885 - 1973) Klemperer era o regente da tradição alemã . É considerado o pai de definitivas gravações de Beethoven , Brahms, Bruckner , Mahler e até JS Bach . Era um regente lento e pesadão. A orquestra com que é mais associado é a Philharmonia de Londres , formada para ele. Regendo os Concertos de Beethoven com Daniel Baremboim ao piano, revela-se um ótimo acompanhante. Chegou a gravar o 4º e uns de Chopin com a Guiomar Novaes . Gravações recomendadas - Johannes Brahms - Um Réquiem Alemão - Com a Orquestra Philharmonia . https://open.spotify.com/album/3n1f4IPF3oo2qDgAKI2bdb?si=pD9tFesITZOVYTwnd6kN7w Karl Böhm (1894 - 1981) Karl Böhm subdominava a Europa na era Karajan , atrás deste. Também era especialista no repertório germânico . Seu Requiem de Mozart é muito bem quisto, embora eu considere indulgente demais. Em Beethoven e Brahms é fenomenal. Principalmente associado às Filarmônicas de Berlim e Viena . Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Concertos para Piano Nº 3 e Nº 4 , com Maurizio Pollini ao piano e Böhm regendo a Filarmônica de Viena https://open.spotify.com/album/3rrNigsPwSPiKVkhmiYhxT?si=BHifKV7qTViRODWbkdCe3Q Eugen Jochum (1902 - 1987) Um dos maiores intérpretes de Brahms de todos os tempos, Jochum trabalhou com orquestras como a Sinfônica e a Filarmônica de Londres , com a Sinfônica da Rádio Bávara e com as Filarmônicas de Berlim e Viena . Procure suas gravações das sinfonias de Brahms. As sinfonias de Beethoven também são gravações muito importantes. Ele pouco regeu de música moderna, indo geralmene até Bruckner , em que era especialista. É outro que se complicou no nazismo , ganhando popularidade durante o regime. Seus irmãos eram "nazistas fanáticos". Gravações recomendadas - Johannes Brahms - As Sinfonias - Regendo a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/2a5ecREgxnHAavudnAOEeQ?si=HJwY-x-LQsKQit6gmq8-tw Antal Doráti (1906 - 1988) Doráti é um dos meus regentes favoritos. Ele não deixava o som tão limpinho, preferindo uma certa rudeza, aspereza. Gostava mais de música moderna e regeu importantes gravações da Sagração da Primavera , de Stravinsky . Trabalhou com a Orquestra do Concertgebouw , com a Sinfônica de Minessota ( Minneapolis ) e a Sinfônica de Detroit . Sua discografia é uniformemente excelente. Foi o primeiro regente a gravar as 104 Sinfonias de Haydn . Gravações recomendadas - Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera - Com a Sinfônica de Detroit https://open.spotify.com/album/5KzQ7bTTt4zxRP0sqIgikX?si=DCyaOBUZT7OSXLkMzrGzPw George Szell (1897 - 1970) George Szell foi para os EUA e transformou a Orquestra de Cleveland simplesmente no " instrumento mais afiado do mundo ". Construiu a orquestra desde a base e a deixou como uma das Big Five americanas. Também era consistente, muito bom em um repertório vasto. Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Concerto para Piano Nº 5 - Com Leon Fleisher ao piano, e regendo a Orquestra de Cleveland https://open.spotify.com/album/02fZiecH4sYIPLZaabHWsF?si=6YggE8cJTMyxQt24zOxc2A Eleazar de Carvalho (1912 - 1996) Cearense de Iguatu , no Cariri , Eleazar está nesta lista por puro mérito . Foi o primeiro grande regente brasileiro . Trabalhou com orquestras de todo o mundo , como a Sinfônica de Londres e a Sinfônica da Rádio Bávara . Durante seu mandato , a Sinfônica da Paraíba foi a melhor orquestra do Brasil . A principal orquestra de Fortaleza se chama Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho . Gravações recomendadas - Villa-Lobos - Uirapuru , Choros N° 8 , Fantasia para Violoncelo (com Janos Starker ) - Marlos Nobre - Convergências - Regendo a Sinfônica da Paraíba - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras e André de Leão e o Demônio de Cabelo Encarnado . Com a Sinfônica da Paraíba . - Franz Liszt - Concerto para Piano Nº 2 (com Nelson Freire , abaixo) - Com a Sinfônica da Rádio Bávara . É o segundo concerto do segundo disco . Bernard Haitink (1929 - 2021) Nosso querido Haitink morreu em 2021 , aos 92 anos. Foi o principal transformador da música holandesa , trabalhando por décadas com a Orquestra do Concertgebouw . Era especialista em Bruckner e Mahler . Foi um dos mais festejados regentes de sua época. Gravações recomendadas - Claude Debussy - La Mer , Ibéria e Prelúdio para a Tarde de um Fauno - regendo a Concertgebouw https://open.spotify.com/album/1EMwks4HLj5fEc0ULy2ej5?si=VhqIiqtOQ9CIAepFNM9CPA Claudio Abbado (1933 - 2014) O notável italiano que sucedeu Herbert von Karajan na Filarmônica de Berlim e surpreendeu a todos. Em 1989, os mais cotados eram Daniel Barenboim e Riccardo Muti . Até que os músicos, numa reunião que parecia que ia anunciar o novo papa, saíram com o nome dele. Antes, tinha trabalhado com a Sinfônica de Londres e com a Sinfônica de Chicago . No final de sua vida queria trabalhar com músicos jovens, da Orquestra Mozart , Orquestra Mahler e Simón Bolivar . Era muito versátil, regendo desde Bach até música moderna. E tudo muito bem. Gravações recomendadas - Johannes Brahms - Sinfonia Nº 2 - Regendo a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/51t56BDG99Lemqam6wANlP?si=PsB4nOU7RveTJZI4QkkVBg - Pyotr Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Sinfônica de Chicago https://open.spotify.com/album/7gef5HGkjWaUpP5YxHHLx7?si=vEGBxU_EStOm47rtYnGEKQ - Igor Stravinsky - O Pássaro de Fogo e A Sagração da Primavera - Com a Sinfônica de Londres https://open.spotify.com/album/1FsAiWfcCm4d5GPKfV9Q1R?si=FZ4NJJeMRrmNq1KwbDm5_w Nikolaus Harnoncourt (1929 - 2016) O pai (ou um dos) do movimento de interpretações históricas , com livros e tratados sobre como mover o arco nas cordas, como fazer uma espécie de respiração no fraseado e tudo. Regeu principalmente a Concentus Musicus de Viena , uma orquestra especializada em música barroca que tocava com instrumentos da época. Mas regeu orquestras modernas também, sendo muito elogiado por seu Dvořák com a Orquestra do Concertgebouw . Gravações recomendadas - Johann Sebastian Bach - A Paixão Segundo São Mateus - Regendo a Concentus Musicus de Viena https://open.spotify.com/album/1WvjBGg9O0QI9gF66bfG9x?si=Y9b0Ft-oQ3WtkSrFw640Ig Charles Mackerras (1925 - 2010) O australiano Charles Mackerras era um colorista sonoro de primeira. Seu trabalho na República Tcheca é famoso. Regeu todas as orquestras que você imaginar, incluindo a Sinfônica de Sydney . Era bom em Mozart , Dvořák , Janáček , Tchaikovsky e muitos outros. Gravações recomendadas - Leoš Janáček - Sinfonietta e Taras Bulba - Regendo a Filarmônica de Viena https://open.spotify.com/album/6Xti76tYgcTpl4fkn4WgtU?si=2PvRNNivSTSs1gElNNAN8Q Rafael Kubelík (1914 - 1996) Filho do violinista e compositor Jan Kubelík , o tcheco Rafael foi um dos mais respeitados de sua era. Seu trabalho é mais associado com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara , que regeu entre 1961 e 1979 . Como é uma orquestra de rádio, muitos dos concertos eram gravados, e temos alguns registros magníficos. Mas ele será sempre lembrado pelo seu Dvořák . Gravações recomendadas - Antonin Dvořák - Sinfonias Nº 8 e Nº 9 - Regendo a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/3ZFAZ6hnng0lLB0e8YIbL4?si=lxB2C1zHRBGQx3l8PYI21w Sergiu Celibidache (1912 - 1996) Se Klemperer era lento, o romeno Sergiu Celibidache era uma lesma . Pesado, monumental, elefântico até onde isso não cabia. Tudo que ele regia durava uns bons minutos a mais. Às vezes funcionava, porque dava a impressão de que a obra era um monumento. É muito conhecido por seu Bruckner . Eu tenho um preconceito com ele porque li a história de uma trombonista que ele teimava em não deixar se tornar 1º trombone só porque era mulher . São as coisas imperdoáveis da época. Sua orquestra era a Filarmônica de Munique . Gravações recomendadas - Anton Bruckner - Sinfonia Nº 4 " Romântica " - Regendo a Filarmônica de Munique . https://open.spotify.com/album/1ro7ATGyJ0peq1UIGLeLvo?si=7-5qVeIAS8KjuJzxz8zQgg Riccardo Chailly (1953) Chailly é um regente ainda relativamente jovem. E o italiano é um talento. Excepcional intérprete de Stravinsky , ele também é especialista em Beethoven e Brahms . Suas principais orquestras são a do Concertgebouw , a do Gewandhaus de Leipzig e a Sinfônica da Rádio de Berlim . Com todas fez gravações de extrema importância. Gravações recomendadas - Johannes Brahms - Os Concertos para Piano - Com Nelson Freire ao piano e a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig . https://open.spotify.com/album/0E7SxD7APEbclkjtimbfc5?si=GKXS9o8qSPqiOPEPOVYevg - César Franck - Sinfonia em Ré Menor e Variações Sinfônicas - Regendo a Concertgebouw e com Jorge Bolet ao piano. https://open.spotify.com/album/7B0raq6OwkRcE53V78y5OE?si=NhgtYCwBQiq5fqBK8WeuGA - Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera - Com a Orquestra de Cleveland https://open.spotify.com/album/2yskaJYHG3dtY8hT5OJ9ge?si=63Zfc3mjRNaAD-bLgRFirg (disco 2) Zubin Mehta (1936) O indiano Zubin Mehta deve ser um dos maestros mais famosos de hoje em dia. Foi dele a ideia dos " 3 Tenores ". Também fez um alarde quando juntou as Filarmônicas de Berlim e Israel num concerto. Mas além do talento para marketing, ele é um talento musical sério . Começou como contrabaixista . Sua orquestra é a Filarmônica de Israel , e vive regendo a Filarmônica de Viena . Gravações recomendadas - Gustav Holst - Os Planetas - Com a Filarmônica de Los Angeles https://open.spotify.com/album/6Tyl0PfSo9hpB38SxbS3ao?si=HzNFarhZSFek0OMNV6VhbA Seiji Ozawa (1935) Ozawa é o mais famoso regente do Japão . Foi aluno de Karajan e de Eleazar de Carvalho . Rege engraçado, parece um samurai . Dia desses circulou um vídeo que dizia que ele estava com Alzheimer e Zubin Mehta o colocou para reger uma orquestra. Parecia uma criança. Acontece que ele não tem Alzheimer. Ele parece uma criança, mesmo. Samurai. Regeu todas as grandes orquestras, sendo muito associado à Sinfônica de Boston , mas atualmente se dedica à Orquestra de Câmara Mito e à Orquestra Saito Kinen , ambas do Japão. - Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Sinfonia Nº 1 e Concerto para Piano Nº 1 - Regendo a Orquestra de Câmara Mito , com Martha Argerich ao piano. https://open.spotify.com/album/1eF8vat0HGQHWYCmexghiY?si=KRWXG3vyRMGqUYfv9l5Bnw Riccardo Muti (1941) Riccardo Muti é um maestro italiano muito bem realizado na ópera , mas que rege a Sinfônica de Chicago , que faz pouca ópera. Também é um dos mais talentosos da atualidade. Muti tem um repertório vasto e é competente em todo ele. Gravações recomendadas - Modest Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Com a Orquestra de Filadélfia https://open.spotify.com/album/67kAhZb8fo6FplntTFqsV2?si=3ZTt8ygXR4eBNUJ6-wH2KQ Daniel Barenboim (1942) O argentino Daniel Barenboim é um dos músicos mais talentosos da atualidade. Pianista, já gravou as Sonatas de Beethoven umas 5 vezes (todas as 32 ). Trabalhou também com a Sinfônica de Chicago , mas hoje rege a Orquestra da Ópera de Berlim e a West-Eastern Divan Orchestra , que ele fundou com jovens músicos talentosos da Palestina e Israel . Judeu , luta pela causa palestina . Gravações recomendadas - Maurice Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) , Pavanne , Boléro e La Valse - Regendo a Orchestre de Paris https://open.spotify.com/album/4iFMjQ9K032UvHJTjFAhvd?si=EbgwloVrQxWdVgc6yowIrg Evgeny Mravinsky (1903 - 1988) O russo Mravinsky era autoritário e conivente com o regime comunista , até onde eu sei. Quem o desobedecia ia para o Gulag na Sibéria . Mas foi um importante regente daquele país, onde fez estreia de várias obras de Shostakovich . Gravações recomendadas - Dmitri Shostakovich - Sinfonia Nº 5 - Com a Filarmônica de Leningrado https://open.spotify.com/album/4n4zKOkzZSwuymCZ4XGxuk?si=ptLoPSF5R0-llscTt3VZaA Evgeny Svetlanov (1928 - 2002) Svetlanov era talentoso. Mas podia acertar em cheio ou errar feio . Como ele viveu para além da União Soviética , teve oportunidade de se tornar conhecido no ocidente , regendo, entre outras, a Sinfônica de Londres . Mas sua orquestra principal foi a Sinfônica Estatal da União Soviética . Gravações recomendadas - Sergei Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2 e A Ilha dos Mortos - Com a Sinfônica Estatal Acadêmica https://open.spotify.com/album/7pZ3p6xHYRWx2001UziVJm?si=F3cXBURjRdiB0QH0pRo68w Yuri Temirkanov (1938) Temirkanov é mais um importante maestro russo , titular da Filarmônica de São Petersburgo . Também tem uma saudável reputação no ocidente, regendo com frequência orquestras como a Sinfônica de Baltimore , a Royal Philharmonic de Londres e a Sinfônica Nacional Dinamarquesa . Aparece no documentário Nelson Freire . Gravações recomendadas - Sergei Rachmaninoff - Danças Sinfônicas e Rapsódia Sobre um Tema de Paganini - Com a Filarmônica de São Petersburgo e Dmitri Alexeev ao piano. https://open.spotify.com/album/6V8ua27F71FzsmNA0xXZNR?si=MKKLqu_gSsWgKnMuWkhwpQ Herbert Blomstedt (1927) O sueco Blomstedt rege constantemente a Filarmônica de Berlim e é especialista em música escandinava , como Sibelius , Grieg , Nielsen e Berwald . Mas é um nome internacional, regendo também Beethoven, Schubert e Brahms . Gravações recomendadas - Carl Nielsen - Sinfonias Nº 4 "A Inextinguível" e Nº 5 - Com a Sinfônica de San Francisco https://open.spotify.com/album/7p3NmADKnenuJu9A3pvRlj?si=spsXo-zyTR2AB0TLGqD6xg Neeme Järvi (1937) O pai do clã estoniano Järvi (dos filhos falarei em uma postagem sobre os maiores regentes da atualidade), Neeme tem gravações excepcionais com a Orquestra Real Nacional Escocesa , conjunto que ajudou a transformar em um muito respeitado. Rege também a Sinfônica de Gotemburgo e a Sinfônica Nacional Estoniana . E faz todas soarem extremamente bem. Gravou e grava muito. Gravações recomendadas - Igor Stravinsky - O Pássaro de Fogo / Anatoly Liadov - Kikimora, O Lago Encantado e Baba-Yaga - Regendo a Sinfônica de Londres https://open.spotify.com/album/6FSIwXtUe3Dw1Idmy5UY9i?si=QqHX5M3QR0mdVaUgqdV9OQ - Béla Bartók - Concerto para Orquestra / George Enescu - Rapsódias Romenas - Com a Orquestra Real Nacional Escocesa https://open.spotify.com/album/67xusI1c8yCVmzvGfI7Nn0?si=S6QZJ3GyQeOA5oRn1gwhAA John Barbirolli (1899 - 1970) Barbirolli foi, ao lado de Thomas Beecham e Adrian Bould (todos tinham " Sir " no nome, mas eu acho bobagem) um dos maestros ingleses mais importantes de meados do século XX . Regeu nos EUA , em Berlim , Viena e, principalmente em Londres . Em Manchester, resgatou da falência a Hallé Orchestra , com a qual gravou profusamente. Só que na época ela era meio ruim. Hoje é uma das grandes orquestras inglesas. Gravações recomendadas - Edward Elgar - Introdução e Allegro para Cordas , Serenata para Cordas em Mi menor / Ralph Vaughan Williams - Fantasia "Greensleeves" e Fantasia Thomas Tallis - Com a Sinfonia of London e o Quarteto Allegri https://open.spotify.com/album/2pS2J5uHihljcuevwgEhB0?si=_arlshSdS2O77tX4UTaX2A - Edward Elgar - Concerto para Violoncelo - Com Jacqueline Du Pré no violoncelo e a Sinfônica de Londres https://open.spotify.com/album/5cP82ZEUSCSoHu5lp1t63F?si=Ocuvu5clQIiQTDFbYPOQ9A Thomas Beecham (1879 - 1971) Beecham era um típico quase lord inglês . Costumava conversar com o público nos concertos, fazer piadas e era extremamente carismático. Regeu principalmente a Filarmônica de Londres e a Royal Philharmonic . Foi o primeiro maestro britânico de reputação internacional. Regia ópera , música inglesa (especialmente Delius ), Beethoven , Sibelius , Tchaikovsky etc. Gravações recomendadas - Frederick Delius - Brigg Fair e outras obras - Com a Royal Philharmonic https://open.spotify.com/album/1C9lazROQL8T0rFS1HAGF0?si=xCLBDDyJRbabgF0UyizR0A Leonard Bernstein (1918 - 1990) Foi o mais talentoso maestro americano de sua geração. Era também pianista e compositor . O novo filme de Steven Spielberg , "Amor, Sublime Amor" , é sobre um musical dele. Foi também um importante educador e fomentador de público nos Estados Unidos . Suas principais orquestras foram a Filarmônica de Nova Iorque , Filarmônica de Israel e Sinfônica de Boston . São famosas também as palestras que gravava explicando as obras do disco. Morreu no Edifício Dakota , aquele do John Lennon e de A Mão que Balança o Berço . Gravações recomendadas - Dmitri Shostakovich - Sinfonia Nº 5 - Com a Filarmônica de Nova Iorque https://open.spotify.com/album/00d6wTUJHGsrxPmbETXGWm?si=9SatMQFEQcWYEb5sI2TQ1Q - Antonin Dvořák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Regendo a Filarmônica de Nova Iorque https://open.spotify.com/album/0j0RpKPF6EfpmY8jiCNKXY?si=zbATiQHzQma0Pl_m-Hl1Wg Carlo Maria Giulini (1914 - 2004) O italiano Giulini regeu no mundo inteiro. Suas orquestras principais foram a Sinfônica de Chicago , a Filarmônica de Los Angeles , a Sinfônica de Viena , a Filarmônica de Viena e a Orquestra do Teatro Scalla de Milão . Pacifista, foi mandado para a guerra, mas se recusou a atirar uma bala . Ficou escondido nos esgotos de Roma estudando a 4º Sinfonia de Brahms , obra que viria a reger com maior frequência na carreira. Gravações recomendadas - Johannes Brahms - Sinfonia Nº 4 - Com a Filarmônica de Viena https://open.spotify.com/album/3UiMKuMaamot4HF1q7aP19?si=eOrMXzQZRbSF70SWAaPMaQ - Claude Debussy - La Mer e Prelúdio para a Tarde de um Fauno / Maurice Ravel - Pavana para uma Infanta Morta e Ma Mère l'Oye - Com a Orquestra do Concertgebouw https://open.spotify.com/album/49VNmq2OFjqMubXerpsPQs?si=3SCJIiT1QhOtmb4dxK5OCg - Wolfgang Amadeus Mozart - Requiem - Conduzindo a Orquestra e o Coro Philharmonia https://open.spotify.com/album/64F7HOQ1Vi04u9bbIkde7q?si=U2tWv3T_Tvm9Jzxt2Cwx-Q Giuseppe Sinopoli (1945 - 2001) Sinopoli morreu muito cedo, aos 56 anos, de um ataque do coração quando regia uma ópera. O italiano era considerado um talento nato tanto para ópera quanto para música sinfônica. Regeu principalmente a Philharmonia e a Orquestra do Staatskapelle de Dresden . Regia muito Mahler , Bruckner , Verdi e Wagner . Gravações recomendadas - Richard Wagner - Música Orquestral de Óperas - Com a Staatskapelle de Dresden https://open.spotify.com/album/4tpRDswjJDyUMCqXkwrHAM?si=GFrfKHuRRSKHVjgIZexw2g - Wolfgang Amadeus Mozart - Concerto para Flauta e Harpa e Sinfonia Concertante para Sopros - Com a Philharmonia e solistas https://open.spotify.com/album/0CxK7EiWB5HFdEdSOzjaPZ?si=ky08XkrpSayk3Q8u5-nimQ Karel Ančerl (1908 - 1973) importantes regentes da escola tcheca . Especializou-se na música de seu país e na música moderna . Durante a II Guerra Mundial foi preso em um campo de concentração ( Aushwitz ), onde sua mulher e seu filho morreram. Em 1955 ele assumiu o cargo de titular da Filarmônica Tcheca , onde ficou até 1968 , com a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética . Emigrou para o Canadá , onde foi o titular da Sinfônica de Toronto até sua morte. Gravações recomendadas - Igor Stravinsky - Petrushka - Com a Filarmônica Tcheca https://open.spotify.com/album/2Hbtd1IeZdkpKpugvSGfEO?si=scfwHowSQPaH8eMCqpXTXA - Antonin Dvořák - Requiem - Regendo a Filarmônica Tcheca https://open.spotify.com/album/6LmdqQUBn1ZtHwcccemtl3?si=h0G8NTQfSXGB25Z9Xxoigg Ferenc Fricsay (1914 - 1963) Foi um húngaro que morreu cedo, também, de câncer no estômago. Se tivesse vivido mais, seria um dos maiores nomes da música recente, pois trocava tudo com extrema precisão e elegância . Especialista em Bartók e Kodály , mas também em Mozart e Beethoven . Sua orquestra era a da Rádio de Berlim ( RIAS ), mas regeu muito a Filarmônica de Berlim . Gravações recomendadas - Béla Bartók - Os 3 Concertos para Piano - Com a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin e Geza Anda ao piano. José Serebrier (1938) Regente e compositor uruguaio , Serebrier tem uma carreira reputadíssima, trabalhando com orquestras americanas , como a Sinfônica da América e a Sifônica de Pittsburgh , além de orquestras europeias , como a Royal Philharmonic , a Philharmonia e a Orquestra de Câmara Escocesa . Suas interpretações de Dvořák são muito respeitadas. Gravações recomendadas - Antonin Dvořák - Sinfonias Nº 3 e Nº 6 - Com a Sinfônica de Bournemouth Carlos Païta (1932 - 2015) O argentino Carlos Païta foi um dos grandes, também, com um repertório muito vasto e tendo trabalhado com grandes orquestras. Nascido em Buenos Aires de um pai húngaro e de uma mãe italiana, logo cedo assistiu a ensaios de Furtwängler no Teatro Colón , interessando-se desde então pela regência. E foi no Teatro Colón (a ópera de Buenos Aires) que começou a carreira. Regeu também a Sinfônica de Houston e a Sinfônica de Londres . Gravações recomendadas - Hector Berlioz - Sinfonia Fantástica - Com a Sinfônica de Londres https://open.spotify.com/album/0iYWdp0FrwIIgICJKhKfkA?si=G17fiOGQQ_CJE2hZQ-H1Zw Václav Neumann (1920 - 1995) Mais um regente tcheco de extrema importância. Ocorre que na República Tcheca eles têm a Filarmônica Tcheca , que acaba fomentando a música clássica e os talentos de lá. Foi diretor da Gewandhaus de Leipzig e da Ópera de Leipzig , e da Filarmônica Tcheca , esta por mais de 2 décadas . Regeu muita ópera , música tcheca e ópera tcheca . Gravações recomendadas - Bedřich Smetana - Minha Pátria - Com a Gewandhaus de Leipzig https://open.spotify.com/album/3H4BJChRZsYr5u8TbUJVJs?si=AktDN7-RStCXIHjS2G7SIw - Antonin Dvořák - Concerto para Violoncelo - Com Julian Lloyd Weber e a Filarmônica Tcheca / Edward Elgar - Concerto para Violoncelo - Com Julian Lloyd Weber e a Royal Philharmonic Igor Markevitch (1912 - 1983) Igor Markevich é considerado um gênio russo (de fato, ucraniano ). Gostava de música moderna e regeu as maiores orquestras do mundo, a principal sendo a Orquestra Lamoureux , de Paris . Gravações recomendadas - Pyotr Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Com a Filarmônica de Berlim https://open.spotify.com/album/1gqFX5hHIHaRXoJs631EnW?si=MCBy4fGpTkyygDXgOOt9Lw Erich Kleiber (1890 - 1956) Erich regeu na Argentina , no Teatro Colón . O vienense era respeitadíssimo, tocando Mahler , Beethoven e música moderna . Foi um dos regentes germânicos que não aceitaram o regime nazista , preferindo migrar. Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Sinfonias Nº 3 "Eroica" e Nº 5 - Com a Orquestra do Concertgebouw https://open.spotify.com/album/5R0xJXV51SeZg7Kv9rwrcn?si=KAknjzkrQI2veuGldYuINg Carlos Kleiber (1930 - 2004) Filho de Erich , Carlos regia pouco, e principalmente ópera , como seu pai. É lendário por causa de um disco , e não é de ópera. Trata-se da 5ª e da 7ª Sinfonias de Beethoven . Também regia Brahms . Trabalhou com a Sinfônica do Estado Bávaro e com a Filarmônica de Viena . Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Sinfonias Nos. 5 e 7 - Com a Filarmônica de Viena https://open.spotify.com/album/6eOuqhCfrTPp1H0YbQ9PmL?si=UNjI8l6uSMKXTgYMgunqvA - Antonin Dvořák - Concerto para Piano - Com Sviatoslav Richter e a Orquestra do Estado Bávaro https://open.spotify.com/album/6ra82l7VUPydA97q3ixBKq?si=Ev6FHxRqRpaxa9-vali5Ww Bruno Walter (1876 - 1962) Tendo começado sua carreira no século XIX e chegado a fazer gravações em estéreo , Walter é a prova de como a música soava antes da era gravada. Suas interpretações são, de certa forma, austeras, mas muito respeitosas à música. Regeu orquestras como a do Gewandhaus de Leipzig , a Filarmônica de Nova Iorque , a Ópera do Estado Bávaro , a Ópera Estatal de Viena e muitas outras. Walter era amigo e assistente de Mahler , suas gravações do compositor são referência. Gravações recomendadas - Gustav Mahler - Sinfonia Nº 9 - Com a Columbia Symphony Orchestra https://open.spotify.com/album/4f2vAkQMFmayps1sUzUzar?si=B8pqjjCYRmihucIAS3TBdw Pierre Monteux (1875 - 1964) Outro do século XIX que chegou a gravar em estéreo, Monteux é consagrado por ter regido a estréia da Sagração da Primavera , de Stravinsky ; de Daphnis et Chloé , de Ravel ; de Jeux , de Debussy e de tantas peças modernas, quando trabalhava com os Ballets Russes . Depois foi para os Estados Unidos , onde regeu a Sinfônica de Boston e a de Chicago . Gravações recomendadas - César Franck - Sinfonia em Ré menor - Com a Sinfônica de Chicago https://open.spotify.com/album/5jjcKu7AXnx4Dr8MtxMHmC?si=jxEg4nRESlqm5O12if7EIw - Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera - com a Sinfônica de Boston https://open.spotify.com/album/2pFq0zeE0WchpawxuWlVMV?si=90hv1gFPQ2qgxQd9jRP84Q Mariss Jansons (1943 - 2019) Jansons é um dos meus regentes favoritos. Gravou muito, e muito repertório repetido. Às vezes mudava de orquestra e regravava tudo de novo e ainda repetia obras. Parte disso se deve ao fato de que duas das suas principais orquestras, a da Rádio Bávara e a do Concertgebouw , faziam transmissão por rádio dos concertos. E essas transmissões eram gravadas. Ele era muito versátil, regia Beethoven , Brahms , Richard Strauss , Stravinsky e música contemporânea . Era o titular, também, da Filarmônica de São Petersburgo , na cidade onde morreu. Gravações recomendadas - Camille Saint-Saëns - Sinfonia Nº 3 "Com Órgão" - Com a Orquestra da Rádio Bávara e Iveta Apkalna , ao órgão https://open.spotify.com/album/4XDQNEslaf6OmImLkVb6m5?si=vmFk05doQ9icJ5IP8zih-g - Antonin Dvořák - Concerto para Violoncelo / Pyotr Tchaikovsky - Variações Rococó - Com Truls Mørk e a Filarmônica de Oslo https://open.spotify.com/album/7AMkC9uI8IzPggRX6c4cES?si=VDAUllJrRUWE-jl7dL73xg Fritz Reiner (1888 - 1963) Era um alemão austero. Levou a Sinfônica de Chicago ao patamar das Big Five americanas. Foi professor de Bernstein . Gravou muito Beethoven , Richard Strauss , música russa e como acompanhante (de Emil Gilels a Van Cliburn ). Gravações recomendadas - Ludwig van Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Sinfônica de Chicago https://open.spotify.com/album/4rAKCqVZ3t20EycqXb0Pi3?si=SSpXaTwnQBiydQD0oq08lw - Richard Strauss - Don Quixote - Com a Sinfônica de Pittsburgh e Frederick Stock https://open.spotify.com/album/3m6MgOp917VyDFrFGqWYwZ?si=sBcSex5pShKnB6IMrmtImA Jiří Bělohlávek (1946 - 2017) Outro importante maestro tcheco , trabalhou com a Sinfônica de Praga por vários anos. Regeu também a Filarmônica Tcheca , mas saiu por causa de desavenças. Foi o principal diretor convidado da Orquestra Sinfônica da BBC . Gravações recomendadas - Leoš Janáček - Glagolitic Mass , Sinfonietta e Taras Bulba - Com a Filarmônica Tcheca https://open.spotify.com/album/4A8df1zINOngqQ35osLiP5?si=4_3rQjLWSy64UWv4o6F4DA Leopold Stokowski (1882 - 1977) Stokowsky era um dos regentes mais populares dos Estados Unidos . Era britânico . Transformou a Orquestra de Filadélfia em um conjunto excelente, participando do filme Fantasia , de Walt Disney . Além disso, aparecia em filmes comerciais interpretando a si mesmo . Era uma celebridade. Como regente, gostava de mexer na orquestração e de fazer orquestrações novas para peças para telado. Como a Toccata e Fuga em Ré Menor , de JS Bach e Quadros de Uma Exposição , de Mussorgsky . Gravações recomendadas - Álbum Fantasia , com peças de JS Bach , Tchaikovsky , Beethoven , Stravinsky , Dukas e Mussorgsky - Com a Orquestra de Filadélfia https://open.spotify.com/album/6yiERKWqeJIEC9OQzhyRcu?si=nTkrcsR2TMWBlkqszZ97lQ Eugene Ormandy (1899 - 1985) Sucedeu Stokowski na Orquestra de Filadélfia , gravando com Sergei Rachmaninoff alguns concertos para piano deste. Praticamente só gravava com a Filadélfia. Alguns críticos o consideram superficial, buscando apenas sonoridades suntuosas ou sensuais. Mas era extremamente talentoso. Gravações recomendadas - Antonin Dvořák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Regendo a Sinfônica de Londres https://open.spotify.com/album/5fvrOHIhLYMVlOY9Yxjj3m?si=Ldu_frRYShedBIuznQadag Iván Fischer (1951) Um dos regentes húngaros de maior sucesso da sua geração, fundou a Orquestra Festival de Budapeste , que se tornou rapidamente um dos conjuntos mais refinados do mundo. É especialista em Mahler . Rege no mundo todo, frequentemente estando com a Filarmônica de Berlim . Gravações recomendadas - Gustav Mahler - Sinfonia Nº 5 - Com a Orquestra Festival de Budapest https://open.spotify.com/album/59j8vpevjEm1naHQlq4k6g?si=UJo4VcgyQ7qyiO8r_FLrXQ Por enquanto é só, mas, como falei, posso lembrar de vários outros, que vou incluindo aqui. Gostou? Comente! Veja aqui, como ouvir música clássica. E veja nossas famosas listas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart E análises de obras: - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Chopin - Os Études - Chopin - As Baladas - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Stravinsky - A Sagração da Primavera

  • Entrevista - Ligia Amadio - A Maestra do Brasil

    Por Rafael Torres Maestra Ligia Amadio Ligia Amadio não é uma regente mulher . Ela é uma maestra , e ponto. E das boas . Estamos quase em 2025 e ainda chama a atenção uma mulher no pódio , comandando dezenas de músicos . Lembro-me de quando descobri que a Filarmônica de Viena não aceitava mulheres , por melhor que tocassem, no conjunto. Lembro da Filarmônica de Berlim , no início dos anos 80 , quando Karajan tentava emplacar a clarinetista Sabine Meyer e a orquestra vetou . Isso tudo abriu espaço para as audições às cegas , em que o músico é avaliado sem ser visto . Ao menos, um passo foi dado . Foto de Ligia Amadio, por Isabela Senatore. O seu currículo fala por si: entre 1996 e 2009 , regeu a Orquestra Sinfônica Nacional ; em 2009 , foi titular da Sinfônica Municipal de Campinas (cargo que já foi do lendário Benito Juarez ); entre 2010 e 2014 , comandou a Orquestra Sinfônica de Mendoza (Argentina), em 2014 assumiu a Orquestra Sinfônica de Bogotá , a principal orquestra Colombiana . Regeu a Orquestra Sinfônica de Montevidéu , a Orquestra Sinfônica da USP e, em 2023 , tornou-se a Regente Titular da Sinfônica de Minas Gerais . Ligia com Martha Argerich. Ligia com Nelson Freire. Ouça a agradável troca que tivemos com Ligia. Olá, Ligia. A Arara Neon vem te convidar para uma empreitada que constitui em mais um passo em nossa sina de povoar todo o país de orquestras sinfônicas . Acredito que o progresso está aí. Ligia, é uma honra falar com você. Espero que as perguntas agradem . Por favor, sinta-se à vontade para ignorar uma ou mais perguntas , especialmente se considerar que alguma resposta superou seu assunto ou invadiu o campo da pergunta em questão . Entrevista 1. Como foi seu primeiro contato com a música?     Meu primeiro contato com a música deu-se no ventre de minha mãe ( importantíssimo , eu - Rafael , aqui - e a Flaviana , minha esposa, tocávamos muita música clássica pra Bia no útero. Hoje, ela é das crianças mais musicais que conheço). Minha mãe canta maravilhosamente bem. É uma das vozes mais belas que já tive o privilégio de ouvir . Desde bem pequenina , eu a acompanhava aos ensaios do coro . Impressionava-me o belo órgão de tubos da igreja e pedi para estudar aquele instrumento . Fui iniciada no piano aos 5 anos de idade. Minha professora não só me ensinou piano , mas me alfabetizou , antes mesmo de eu entrar na escola .   2. Você sentiu dificuldade ou facilidade a partir de quando se propôs a se profissionalizar?   Quando decidi viver para a música , me encontrava em meio ao curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de São Paulo ( USP ). Concluí o curso e ingressei no Curso de Regência da Universidade Estadual de Campinas ( UNICAMP ). Embora houvesse cursado o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo até o início da Faculdade de Engenharia , sentia-me “ atrasada ” em relação a meus colegas , pois era 5 anos mais velha que a maioria . E então foram mais 6 anos de faculdade , período integral . Me graduei com 28 anos , mas logo consegui trabalho e não parei mais . 3. Dentre as dezenas de disciplinas da graduação, qual te deu mais trabalho?   Termodinâmica , sem dúvida, na POLI . Na faculdade de música , nunca senti que alguma disciplina fosse particularmente mais difícil que outra .   4. Você toca bem algum instrumento?   Sou pianista . Mas estudei um pouco de violino , violoncelo e sax alto .   5. Qual seu repertório de preferência? O tempo que sobra para a família é suficiente?   Meu repertório de preferência vai do classicismo à música contemporânea . Não me atrevo (herança maldita do Movimento Hip , que convenceu todo mundo que música da idade média, renascença e barroca era só com eles) a reger obras barrocas , exceto muito raramente . O tempo para a família nunca é suficiente para quem trabalha nesta profissão . Ser regente titular (e, além disso, regente convidado de várias orquestras pelo mundo afora) é uma responsabilidade permanente . Não há sábados , domingos , feriados ou férias para nós. Qualquer colega meu poderá testemunhar .   6. Quando você vai preparar, por exemplo, uma sinfonia de Schumann, costuma recorrer às partituras mais antigas que puder achar? Inclui a leitura de biografias?   O estudo de uma obra requer a máxima pesquisa possível , seja de distintas edições (nem sempre as mais antigas são as melhores ...), seja de teses a respeito , de obras de análise e, obviamente, obras biográficas e musicológicas .   7. Um maestro viaja muito, a agenda é caótica. Chega a ser uma desvantagem?   Evidentemente . Como eu já afirmei anteriormente, a vida pessoal e, também, a saúde , ficam muito comprometidas .   8. Sobre o trabalho com a Sinfônica de Minas Gerais, está ansiosa?   Ansiosa por quê ? Não entendo a pergunta. Há um belo trabalho a ser feito, e é o que estou fazendo há dois anos , com muita receptividade tanto por parte dos músicos , como por parte do público , graças a Deus.   9. Quando chegar a hora de fazermos a Filarmônica do Ceará (provavelmente estarei à frente) você acha que conseguiremos arregimentar um bom time? Falo dos músicos, claro, é o mais importante, mas também do pobre time que vai convencer governadores, deputados etc.?   Claro que conseguirão uma ótima equipe ! Há músicos excelentes em todo o território brasileiro , e o nordestino é particularmente talentoso !  Desde já lhes desejo imenso sucesso .   10. Você teve suporte integral das orquestras em que trabalhou para realizar seu projeto ideal?   Se você se refere ao apoio dos músicos , sempre tive bastante apoio . Em relação às condições de trabalho (condições salariais para músicos , equipe de apoio e regentes , orçamento para programação e compra de equipamentos e partituras , completude do efetivo orquestral , condições acústicas , disponibilidade de datas de teatro tanto para ensaios como para concertos ), sempre foi uma luta , às vezes maior , às vezes mais compensadora . Ou seja, nunca tive suporte integral para realizar meu projeto ideal , mas não desisto . O importante é seguir sonhando e lutando em prol de um ideal artístico . Obrigado mais uma vez , Lígia . A Arara agradece demais. Com a Filarmônica de Montevidéu, regendo o Réquiem de Verdi. Em concerto na Sala Minas Gerais, 2024. Partitura de Ligia, após estudada. Veja Ligia regendo o 3º Concerto para Piano de Beethoven , com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o pianista Luiz Guilherme Pozzi . A Arara agradece muitíssimo à maestra pela prontidão em nos conceder a entrevista e as fotos . Esperamos que todos tenham gostado de conhecer mais esse talento brasileiro . Lista de postagens da Arara Neon, aqui ! E não deixe de comentar .

  • Por que não gosto de ópera?

    Por Rafael Torres Bom, primeiramente , feliz ano novo . É a minha primeira postagem de 2025 . E já é um esbravejar . Ou mais ou menos , vejamos . Uma montagem sueca da ópera "Don Giovanni", de W A Mozart. Sempre me fiz essa pergunta (e, sem perceber, sempre tive a resposta ). Ópera tem, pelo menos, duas " barreiras " a superar , já na sua concepção : a temporal ; são peças longas , seja em dois , três ou mais atos . (Uma ópera de Wagner pode durar 4 horas . Fora a Abertura , que pode ser uma peça orquestral simples que introduz a ópera ou uma sessão inteira ; ou o que Wagner chama de Vorspiel , ou prelúdio , que é , simplesmente, uma peça tocada pela orquestra antes que as cortinas subam, geralmente, entre os atos). A outra é a linguística . Antes do nacionalismo atingir a Europa , nos anos 1850 , tínhamos apenas Óperas cantadas em Italiano ou Alemão . Depois , vieram o tcheco , o russo , o inglês , o português e o espanhol . E qualquer língua que se interesse . A língua corrente é o inglês , o que quer dizer que a maior parte das óperas compostas hoje em dia , são (ou têm versões ) em inglês . Se eu quisesse apreciar a arte, a solução , óbvio, seria aprender italiano e alemão e ir " me virando " nas que são em outras línguas . Isso , ou ler muto bem o resumo da ópera (que vem no programa da noite e você tem uma meia hora para ler) e ler as legendas . Sim, porque, estamos em 2025 . E eu tinha essa dúvida : óperas tinham legendas ou não ? Ficou lá , a dúvida , ruminando , que é o que as dúvidas fazem, retroalimentando uma espiral louca , ao mesmo tempo em que ficava facilmente disponível para ser sanada . Bastava ir a uma ópera . Ou perguntar ao meu irmão , que começava a apreciar . Mas eu não me interessava (a esse ponto ). Foi então que, em uma das minhas primeiras viagens, a São Paulo , com meu pai , por volta de 2001-2 , ele anunciou que tinha comprado dois ingressos para a ópera " Il Rigoletto ", de Guiseppe Verdi ( 1813 - 1901 ). Seria no Municipal da cidade, com a orquestra e elenco do Theatro . Vou falar a verdade : nem lembro se era " Rigoletto ", mesmo. Só lembro de impressões . A orquestra era muito melhor do que eu esperava (ainda é), os solistas eram excelentes (obviamente, nos papéis principais ). E tinha legenda . Sim . Era toda legendada . Mas você pensa que isso me fez " gostar de ópera "? Não . Sou muito cabeça-dura . Mas, afinal, por quê não gosto de ópera ? Poque eu acho muito brega , cafona . De mal gosto . Extravagante , exagerado . Motivo pelo qual jamais escutei ou escutarei o famoso " Concerto em Dó ", para Piano , Orquestra Gigante e Coro Masculino Invisível , de Feruccio Busoni . Mas, se fosse por isso , eu não gostaria da obra de Heitor Villa-Lobos ( 1887 - 1959 ). Mas, acontece que apenas uma das 11 Sinfonias sobreviventes (a 10ª ) de Villa tem cantores . Das Bachianas , apenas a 5ª e a 9ª têm vozes . Dos Choros , apenas o 10º usa, necessariamente , um coro . Eu não ouço as peças . Em todas as minhas playlists , elas são eliminadas . Fora isso, Villa era o compositor extravagante mais cativante do mundo. Veja, abaixo, as Bachianas Brasileiras nº 4 , com a Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo , regida por Wagner Polistchuk . Esse tema (refiro-me ao do 1º movimento ) é baseado em um tema que foi dado a Bach para que ele improvisasse uma fuga a 6 vozes . Bach sentou , cansado da viagem, observou o tema, e improvisou uma fuga ( ricercar ) a 3 vozes . E foi dormir . E, duas semanas depois , enviou ao desafiante uma obra chamada " Oferenda Musical ", em que " trata " o tema (chamado thema regium , o tema do rei , já que o desafiante era um) das mais diversas formas : ele repete a referida fuga a 3 vozes , faz diversos cânons (cânon é uma forma um pouco mais simples de fuga ), adiciona camadas , inverte , espelha , faz a tal fuga a 6 vozes etc. Você pensa que Bach o tinha tratado de todas as maneiras sãs . Mas faltavam as insanas . Enfim... Pois bem . Essa é a minha justificativa . Considerando que ninguém jamais perguntou sobre o assunto, está de bom tamanho . É uma mistura de preguiça com a crença firme de que ópera não é para os nossos tempos . O canto lírico , com todo o respeito aos cantores , verdadeiros artistas , não condiz com a nossa realidade , na minha imaginação . Obrigado por ler a Arara Neon . Role para baixo  e encontrará uma caixa de comentários vermelha . E lá que você deverá deixar seus pensamentos mais sinceros . E, também, os mais absurdos . Veja uma lista de postagens interessantes : aqui .

  • Barroco - Os Períodos da História da Música III - Parte 1

    Por Rafael Torres Atenção , os vídeos , agora, vão ser mais longos . É muito difícil achar miniaturas a partir do Barroco . Se não viu ainda, já tem duas postagens sobre os Períodos da História da Música - Idade Média e Renascença . Aproveite o texto! Muito bem, pessoal. A História da Música é dividida em: Música Antiga (música praticada em solenidades e festas por civilizações como a Romana , a Grega , a Suméria , a Azteca etc ., sobre a qual não falarei , pois exemplos são escassos e, embora esta seja a verdadeira "Música Clássica", é muito difícil saber, por exemplo, quando um exemplo de música é encontrado , se alguém no mundo saberá, mesmo, tocar aquilo.) Música Medieval Renascentista Barroca Clássica (outra " verdadeira Música Clássica ", que durou 50 anos , no séc . XVIII ) Romântica Moderna Contemporânea Demos uma olhada na Idade Média e na Renascença . O Barroco , por ter uma infinidade de compositores , de novas técnicas , de novos conceitos , teve que ser apresentado em duas postagens . O Concerto de Flauta de Frederico, o Grande em Sanssouci, de Adolph von Menzel, 1852. (Este quadro é anacrônico. Ele representa uma cena ocorrida um século antes, em que Frederico, o Grande, rei da Prússia, toca flauta acompanhado ao cravo por Carl Philipp Emanuel Bach, filho de Johann Sebastian Bach.) Por convenção, o Barroco abrange uma época que vai de 1600 a 1750 . Embora a chamemos de Período Barroco , na verdade é um Estilo Artístico , ou seja, não existe a Era Barroca fora do estudo das Artes . É o período do surgimento da Música Tonal (baseada nas escalas maiores e menores ), da implementação do Temperamento Igual , do Baixo Contínuo e do uso (exagerado) das Ornamentações . O Contraponto ainda era muito usado e, aqui, surgiu o Instrumentista Virtuose e, com ele, a obsessiva exploração das possibilidades técnicas instrumentais . Ornamentar uma música e era tocar a sua linha melódica adicionando floreios , isto é, fazendo-a repleta de pequenos desvios , como o trinado , o mordente , a apojatura . A ornamentação barroca , leva anos para o instrumentistas dominarem e, realmente pode dar uma variedade refrescante . O problema é que músicos, alguns autodidatas , costumavam ornamentar sem nenhuma elegância . A música ficava parecendo um peru . A ornamentação pode ser escrita ou improvisada . Bach , por exemplo, anotava em pormenores como queria que as músicas soassem . Veremos também o Barroco Mineiro , uma manifestação brasileira um pouco atrasada da europeia , e da qual o público conhece melhor a pintura e a escultura . Mas há música barroca mineira , e muito digna . Abordaremos esse tema aqui . A palavra Barroco vem do português (Barroco , mesmo) e significa "pérola mal formada ". O Sonho de Salomão, de Luca Giordano, 1695. Glossário da Música Barroca A Época A palavra Barroco vem do português e significa " pérola mal formada ". O Barroco , começando no Século XVII , viu o Século de Ouro Holandês , o Século de Ouro Espanhol , o Grand Siècle Francês (a época de Luís XIV , o Rei Sol ), a Revolução Científica e a Crise Geral do Século . Era um período em que ainda havia muitas monarquias, reinados , aliás mais do que seria possível hoje , já que muitos países ainda não eram unificados (a Alemanha , por exemplo). Do que surgiu na época , podemos destacar No Barroco as pessoas usavam peruca , se locomoviam de carruagem e comiam pão , frutas , bolo de carne , carne , vegetais e doces . Usavam o garfo (invenção recente) e a faca . As cidades eram sujas e havia um grande contraste entre ricos e pobres . Ademais, o período foi de 150 anos , houve várias guerras e, de acordo com a história , teve início a Idade Moderna . Pintores famosos da época incluem Rubens , Diogo Velazquez , Anthony van Dyck , Rembrandt van Rijn e Johannes Vermeer . Las Meninas, de Diogo Velázquez, 1656; Os Instrumentos Muitos dos instrumentos Barrocos foram evoluções dos Renascentistas . Muitos destes também foram aposentados . Mas houve o surgimento de muitos instrumentos importantes . Aqui já se montavam orquestras , e parte dos instrumentos já são os que pertencem à orquestra moderna : A Flauta Doce Barroca , uma Flauta Doce de madeira idêntica à que músicos profissionais usam hoje ; O Trompete Natural (não tinha pistos ); A Trompa Natural (não tinha válvulas ); O Trombone ou Sacabuxa ; O Flauto Traverso (antecessor da Flauta ); O Oboé ; O Oboé d'Amore , instrumento mais grave que o Oboé , mas menos que o Corne Inglês ); O Fagote ; O Chalumeau , que deu origem ao Clarinete ; O Serpentão ; O Órgão ; O Cravo ; O Fortepiano ; que evoluiria até se tornar o Piano de hoje; O Violino ; A Viola ; A Viola d'Amore , uma versão do Violino (que tem 4 cordas ) com 6 ou 7 cordas tocáveis e mais 6 ou 7 que vibram por simpatia (sem que se toque nelas); O Violoncelo ; O Violone , nome do instrumento baixo da família das Violas da Gamba ; A família da Viola da Gamba , que ainda era utilizada ; A Viela de Roda ; A Harpa , que no Barroco era bem menor que a atual ; O Alaúde ; A Teorba ; O Mandolin , o antepassado do Bandolim ; A Guitarra Barroca , que evoluiria para o Violão ; Os Tímpanos , instrumentos de percussão capazes de tocar notas . Sempre da esquerda para a direita , temos: Violone , Viola d'Amore , Violoncelo Barroco , Viela de Roda , Trompete Natural , Trompa Natural , Tímpanos , Flauta Traverso , Serpentão , Teorba , Mandolin Barroco , Harpa Barroca , Oboé Barroco , Chalumeau , Fagote Barroco e Flauta Doce Barroca . Sobre o Violino Os instrumentos de corda , como o Violino , a Viola e o Violoncelo , pareciam com os de hoje , mas as cordas em si eram feitas de tripa (não de gente, de bode), que produz uma sonoridade mais aveludada e suave , quando as modernas são de material sintético e bastante estridentes . O arco era uma vareta com cabelos da cauda de um cavalo , na verdade, ainda é . Mas o que era mais diferente era a técnica . Pelo menos no início do Barroco , o instrumento era segurado no peito , só depois passando a ser colocado perto do queixo ; eles não usavam um aparato chamado espaleira e nem o descanso de queixo , ambos destinados a tornar o instrumento mais anatômico e confortável ; o vibrato era menos intenso e frequente , aparecendo, basicamente, em notas longas ; o arco era seguro menos na ponta , por volta de 1/5 de sua extensão ; o arco é quase um instrumento à parte , construído separadamente por um luthier de arcos e custando , por vezes, mais que o violino , o que também acontece até hoje . Violino Guarneri del Gesù "Cannone", de 1743 - Oferecido por US$ 1.850.000,00. O Violoncelo Barroco era muito parecido com o moderno . Mas geralmente não tinha espigão , aquela vareta que fica em baixo do instrumento , sendo seu ponto de contato com o chão . No Barroco o músico o posicionava entre as pernas e o apoiava assim. Tinha 4 cordas , como hoje . O Contrabaixo já existia , mas estava em evolução e não era incluído nas orquestras , ficando o Violoncelo como o instrumento grave do conjunto . Foi no Barroco que eclodiram os grandes luthiers de Violino , cujos instrumentos continuam valorizados mais e mais até hoje . São os Stradivarius , de Cremona , Itália , sendo, da família, Antonio Stradivari o fabricante mais cobiçado - de suas mãos nos chegaram 650 dos 960 que produziu -; Casa Amati , também de Cremona , sendo Nicolò Amati , que foi professor de Antonio Stradivari e Andrea Guarneri , o mais reputado , sendo que nos restaram 27 Violinos ; Guarneri del Gesù , apelido de Bartolomeo Giuseppe Guarneri , também de Cremona , que fez instrumentos tocados por Nicolò Paganini , Henri Vieuxtemps , Jascha Heifetz e Yehudi Menuhin . Dele restou algo em torno de 200 Violinos ; e outros . o Cravo O Cravo era o instrumento de teclado mais tocado à época . Foi criado no final da Idade Média , mas só no Barroco se tornou popular . Possuía um ou dois teclados , um sobre o outro, com timbres diferentes . Seu mecanismo é diferente do do piano . Enquanto este faz as cordas vibrarem por meio de um martelo aveludado , o Cravo belisca a corda com um plectro , uma palheta . Este mecanismo foi o que o levou a ser substituído , posteriormente, pelo piano . Porque ele tem uma limitação : o músico pode pressionar suas teclas com força ou com suavidade , mas o som produzido é o mesmo , sem refletir a intensidade aplicada por quem tocou. Isso foi sua fraqueza . O piano não tinha essa limitação , o que abria possibilidades expressivas e interpretativas . Johann Sebastian Bach escreveu para ele sua famosa obra O Cravo Bem Temperado , que consiste em 2 Livros , cada um com 24 Prelúdios e Fugas , representando as 24 tonalidades , entre maiores e menores . Com isto o compositor queria mostrar a versatilidade do instrumento . A peça é muito tocada e gravada , tanto no Cravo quanto no Piano . Além de instrumento solista , ele estava presente na orquestra , muitas vezes tocado pelo compositor/regente . Ele fazia parte do Baixo Contínuo , uma seção da orquestra que toca improvisos harmônicos e pode ser vista como a base musical . Como Baixo Contínuo ele aparece em músicas orquestrais e até em Música de Câmera . O próprio Bach escreveu uma série de 6 Sonatas para Flauta em que todas usam Cravo , mas em algumas ele é escrito nota a nota (quando sua parte é mais complexa e específica ) e em outras ele é escrito em um sistema que o faz agir como Baixo Contínuo . Veja Jean Rondeau tocando "Les Sauvages" , da Suíte em Sol Maior , de Jean-Philippe Rameau . Aqui, o Cravo é instrumento solista . o Órgão O Órgão de Tubos é um instrumento absolutamente fascinante . Muito antigo , com antepassados que remontam à Roma Antiga , no Barroco ele pode ter 4 teclados , uma pedaleira , que é um teclado para os pés , e uma infinidade de botões . É uma verdadeira obra de arte , o maior instrumento musical e um capaz de produzir timbres diferentes . Por ser muito grande é próprio para ser montado em uma igreja , geralmente se infiltrando nela e virando parte da sua arquitetura . Por este motivo é considerado por alguns um instrumento eclesiástico . Mas as peças para Órgão solista quase nunca são sacras . Seu mecanismo é altamente intrincado , são gigantescos tubos e mais tubos , 2 mecanismos de ação , o sistema de vento , os registros , o console e o desenho , que cada Órgão tem o seu . Mas, de maneira geral, o que ocorre é que você pressiona uma tecla (caso a segure por 1 segundo , uma nota soará por 1 segundo; caso segure por 10 minutos , ela soará por 10 minutos) e libera passagem de ar para um determinado tubo (estou resumindo descaradamente ). O ar passando pelo tubo é que fará soar uma nota . Em vários aspectos ele se assemelha a um acordeom . Apertando um botão ou uma combinação de botões você troca o timbre do instrumento , e existe uma infinidade de timbres diferentes . Esses timbres podem ser divididos em 4 categorias : os Principais , as Flautas , as Cordas e os Híbridos . Tocar Órgão é se preocupar com o teclado , com a pedaleira e com os botões . Alguns organistas têm um assistente só para manipular esses botões . Aprecie o organista, Reitze Smits tocando a Passacaglia em Dó Menor , BWV 582, de Johann Sebastian Bach . o Fortepiano Inventado por Bartolomeo Cristofori em 1698 , o Fortepiano tinha esse nome por sua capacidade de tocar forte ou piano (fraco). Ele não tomou a Europa de assalto . Consta que Johann Sebastian Bach desaprovou o instrumento e fez várias críticas , de forma que ele só veio a cair em suas graças em 1747 , após uma segunda testagem . Mas não era um instrumento usado pelos compositores Barrocos , eles ainda preferiam , de longe, o Cravo . Ocasionalmente surgiu o Pedal de Sustentação , que permite que as notas continuem soando mesmo quando as teclas não estão pressionadas . Foi criado também o Pedal Una Corda . O que acontece é que, no Piano e no Fortepiano , quando se pressiona uma tecla , o martelo atinge três cordas idênticas - as três dão a mesma nota , a questão aqui é volume . O Pedal Una Corda , no Foetepiano , faz com que o martelo bata em uma ou duas dessas cordas (à escolha do freguês ). Isso era para suavizar o som e fazê-lo perder potência . A vantagem do Fortepiano , a de poder tocar forte ou fraco , no começo foi ignorada ou ele foi tratado como um instrumento de brinquedo . Mas aos poucos os executantes foram se dando conta que aquilo o aproximava dos instrumentos de corda , dos de sopro . Poder tocar mais forte ou mais fraco era ideal , se o músico estava com ideias expressivas . Ele podia crescer em uma frase para, então, diminuir nas últimas notas . Eram bilhões de possibilidades . Toda essa gama de possibilidades só começaria a ser explorada no Classicismo e, mais ainda, no Romantismo . Por enquanto ele é só um instrumento que surgiu mas ninguém sabia o que fazer dele . Seu alcance no Barroco era de 5 oitavas , mas ele continuaria evoluindo . O Piano Moderno tem 7 oitavas . Quanto à sua sonoridade , era radicalmente diferente da do moderno . Mais parecia a de um Cravo . Observe abaixo Dongsok Shin tocando uma Sonata em Ré Menor de Domenico Scarlatti em um piano de 1720 , o mais antigo Fortepiano preservado , do construtor - e inventor do pianoforte - Bartolomeo Cristofori . Baixo Contínuo Era uma seção da orquestra , geralmente formada por um desses: Cravo , ou o Alaúde , ou o Teorbo , instrumentos , enfim, capazes de tocar acordes ; e um instrumento capaz de tocar notas graves , os baixos da música , como um desses: o Violoncelo , o Contrabaixo ou a Viola da Gamba . Eles não tocavam de uma partitura comum , mas de uma que continha o Baixo Figurado , uma notação em que se escrevem números sobre as notas dos instrumentos graves , e esses números são lidos como acordes . O músico tocava esses acordes de maneira improvisativa . A prática , hoje, nos conjuntos que reproduzem orquestras Barrocas , é de tocar só quando esses instrumentos graves tocarem . Se fizerem silêncio , o Baixo Contínuo não toca nada . O Baixo Contínuo foi de extrema importância na Música Barroca , tanto que ficou onipresente . Não lembro de música orquestral em que ele não apareça . A prática é completamente Barroca , tendo caído em desuso já no Classicismo . Se bem que, de maneira esporádica e pontual , ele continuou sendo usado , até no Romantismo , em obras sacras , como Missas e Réquiens . Temperamento Igual Dó , Dó Sustenido , Ré , Ré Sustenido , Mi , Fá , Fá Sustenido , Sol , Sol Sustenido , Lá , Lá Sustenido , Si , Dó . Antigamente , quando se dividia a escala (isto é, as notas que existem entre uma nota, digamos um Ré e o próximo Ré ) em 12 notas , apareciam uns intervalos (a relação e a distância entre duas notas ) anômalos , sem nada a ver com o intervalo esperado . Isso ocorria porque os intervalos iguais , antes, não eram idênticos . A Logarítmica nos deu uma forma de calcular certeiramente esses intervalos , de modo que a distância entre cada semitom de uma oitava será a mesma . Mas antes não era assim ? A afinação até a Renascença , quando a música era Modal , era cheia de anomalias . Alguns intervalos eram impraticáveis e algumas notas precisavam não ser usadas . Na Afinação Pitagórica , uma das mais usadas até o Barroco , é preciso fazer vários ajustes nos intervalos de 5ª . Os instrumentos têm que ser afinados com o prévio conhecimento da música , da escala que vai usar (partindo de qual nota) e do modo que vai usar. No próprio Temperamento Igual , para que os intervalos tivessem valor semelhante , foi preciso convencionar que alguns intervalos de 5ª (como Dó-Sol ) precisaram ser diminuídos . Nós não percebemos porque nosso ouvido é plenamente habituado à escala já ajustada . A Música Tonal Podemos dizer Música Tonal em oposição a Música Modal ou em oposição a Música Atonal . Como a Música Atonal só surgiria no século XX , aqui estamos falando em oposição à Música Modal . Nesta a escala podia ser montada com 8 modos diferentes , a Música Tonal padronizou e nos deixou com 2 escalas (idênticas a 2 dos modos , o jônio e o eólio ). Isso facilitou a assimilação dessas escalas e o desenvolvimento de encadeamentos de acordes (pequenas sequências de acordes ) que faziam sentido racional . Ainda usamos a Música Tonal , de modo que sabemos que depois de um acorde de 7ª dominante só pode vir o acorde da nota uma quarta acima dele . Talvez vocês não saibam colocar nesses termos , mas seus ouvidos estão condicionados a esses acordes e relações . São encadeamentos que já estão no subconsciente coletivo há muito tempo . A Música Tonal é, portanto, mais provável de sugerir emoções , pois temos - repito, mesmo quem não conhece teoria musical - todos uma relação afetiva com cada encadeamento de acordes. Existe um campo do estudo musical , chamado Harmonia Funcional , que estuda precisamente essas relações , os encadeamentos . A Ópera no Barroco O Barroco foi o período em que a Ópera se sedimentou como válida opção de contemplação artística . As Óperas proliferaram, surgiram escolas , correntes : a Ópera italiana , representada por Alessandro Scarlatti , Giovanni Battista Pergolesi e Alessandro Stradella ; a Ópera Francesa , de Jean-Philippe Rameau e Jean-Baptiste Lully ; a Ópera alemã , de Heinrich Schütz ; a Ópera inglesa , de Henry Purcell ; e outras . Na Itália se fazia Ópera de dois jeitos : Opera Seria e Opera Bufa , sendo a segunda , cômica . Teatro Argentina, em Roma. Óleo sobre tela de Giovanni Paolo Panini, 1747. Só para deixar claro , Ópera é um drama musical , o teatro cantado , com um enredo (ele e as falas estão no libreto , que geralmente é feito não pelo compositor , mas por um libretista dedicado ). Na época do Barroco já existiam sopranos , contraltos , tenores , contratenores , barítonos e baixos de grande fama , quase análoga à dos artistas populares dos dias de hoje . Existiam também os Castrati , cantores homens que, no início da adolescência , antes de a voz mudar , eram castrados , para que ela permanecesse aguda . As Óperas costumam ter uma Abertura , algumas Arias , Duetos , Trios , Quartetos e Recitativos . Eram apresentadas em teatros , mas também em cortes . A Ascenção da Música Instrumental A música puramente instrumental passou a ser vista como um empreendimento válido . Passou a ser valorizada e começaram a surgir os instrumentistas favoritos de todo mundo . O Barroco foi a época dos virtuosi . J S Bach era um organista lendário , assim como G F Händel ; Girolamo Frescobaldi , Louis Couperin e Domenico Scarlatti eram cravistas do mais alto nível ; Antonio Vivaldi , Arcangelo Corelli e Giuseppe Tartini fizeram o Violino estrear de vez com a maior categoria ; e Georg Philipp Telemann era um multi-instrumentista histórico . De Johann Sebastian Bach , o 4º Movimento , Double , da Partita Nº 1 para Violino Solo , na interpretação da magnífica violinista estadunidense Hilary Hahn . Cada um desses compositores/instrumentistas compunha peças para suas próprias habilidades , ou seja, difíceis . Isso ia fazendo o nível subir continuamente , como segue subindo ainda hoje . Foi no Barroco que surgiu o Concerto , uma peça em três movimentos para instrumento ( s ) solista ( s ) e orquestra , determinada a explorar o máximo que o solista é capaz de fazer . Claro que isso iria evoluir no Classicismo e atingir o limite da sanidade no Romantismo , mas no Barroco é que foi iniciado esse frenesi de aperfeiçoamento técnico instrumental extremo . O Estabelecimento da Orquestra Também no Barroco começou a se montar a orquestra definitiva . Ainda não era a Orquestra Sinfônica , do Romantismo e Modernismo . O conjunto ainda não tinha sequer tamanho definido (tinha, muitas vezes, apenas 1 instrumentista para cada linha , em oposição aos 16 Primeiros Violinos de hoje , que tocam a mesma linha ). No entanto, como o tamanho não era regrado , também puderam aparecer orquestras ocasionais bastante dilatadas ( li sobre a orquestra romana de Arcangelo Corelli , que podia empregar 80 ou até 150 músicos ). Os Violinistas e Violistas tocavam em pé . Abaixo, a Portland Baroque Orchestra toca o Terceiro Movimento , Presto , de "L'estate" , ou O Verão , que pertence ao grupo de 4 Concertos para Violino e Orquestra intitulado "As Quatro Estações" , de Antonio Vivaldi . O Baixo Contínuo está com o Cravo , a Teorba , dois Violoncelos e um Contrabaixo . Além disso, tem 4 Primeiros Violinos e 3 Segundos Violinos . (É uma interpretação mediana , talvez estivessem nervosos .) Mas o que importa é que agora eles usavam a orquestra para tudo , até Missas , e esta estava bem organizada . O Surgimento do Oratório e da Cantata Além da Ópera , dois grandes formatos passaram a existir . O Oratório , uma obra de porte enorme , com um parentesco operístico , que junta orquestra , coro e cantores solistas . Esses solistas cantam personagens , e esses personagens não interagem (sua diferença para a Ópera é que, enquanto esta é destinada ao teatro , o Oratório se destina às salas de concerto , não há ação física ). Oratório é sem maquiagem , figurino e cenário . Tem vários movimentos ( 10m, 20 , 40 ...) e é bem longo , podendo atingir mais de duas horas . Finalmente, os libretos abordam temáticas religiosas . Já a Cantata , foi ainda mais importante na época. Trata-se de uma música vocal , com instrumentos acompanhantes . Pode ou não ter um coro e têm vários movimentos . É longa , mas não como o Oratório . Existem cantatas religiosas e cantatas profanas . Falando da cantata religiosa , foi o primeiro formato musical em que as autoridades eclesiásticas autorizaram a inclusão de instrumentos . Uma Cantata muito grandiosa , com orquestra imponente , coro e solistas em profusão , pode ser confundida com um Oratório , mas no geral, é isso que as distingue : a grandiosidade (no número de instrumentistas e cantores , nas dimensões de tempo e no próprio propósito ). Digamos que a Cantata é mais modesta . Bach era o principal escritor de Cantatas no Barroco . Não se sabe quantas ele escreveu , mas foram preservadas quase 200 . Elas continuaram a ser compostas no Romantismo e no Modernismo. "Carmina Burana" , de Carl Orff é uma Cantata profana ; Ralph Vaughan Williams , Béla Bartók e Paul Hindemith escreveram as suas ; a de Sergei Prokofiev é famosa , "Alexandre Nevsky" ; Dmitri Shostakovich escreveu as patrióticas "Poema para a Terra Mãe" e "O Sol Brilha sobre nossa Pátria Mãe" ; Dmitry Kabalevsky compôs 4 Cantatas ; Heitor Villa-Lobos fez a Cantata profana "Mandu Çarará" ; e mais Francis Poulenc , Igor Stravinsky , Benjamin Britten , Luigi Nono , Carlos Chávez , Arthur Honegger , Krzystsztof Penderecki , Michael Tippett e tantos outros . O Concerto, a Sonata e a Sinfonia, mas não O Barroco é responsável pela invenção de três conceitos de música instrumental? Na verdade, apenas parcialmente . Com exceção do Concerto , que só mudaria em tamanho , a Sinfonia e a Sonata Barrocas pouco tem a ver com aquelas de a partir do Classicismo . Vejamos : Concerto , certinho. Página do manuscrito de uma Sonata para Cravo de Domenico Scarlatti. Sonata , a Barroca , pode ser, no caso de Domenico Scarlatti , uma peça para instrumento solo , Cravo , no caso. Essa peça tinha apenas um movimento e, com durações variáveis , sempre era curta (geralmente entre 3 e 6 minutos ). A Forma Sonata ainda não tinha sido criada , o que daria à obra um bom crescimento . O que existia de mais próximo com a Sonata atual era o Trio Sonata , que pode ter vários movimento e eles são mais cumpridos . Chamam Trio Sonatas porque não são para instrumento solista . Nem três . Geralmente ouvimos quatro , porque são dois instrumentos principais , dialogando , e o Baixo Contínuo , geralmente um Violoncelo e um Cravo . É bonito , há Trio Sonatas de J S Bach , G F Händel , Georg Philipp Telemann , Arcangelo Corelli e uma infinidade de outros . Escute o 1º Movimento , Allegro , de uma Trio Sonata em Dó Menor de Georg Philipp Telemann , executada por Tabea Debus , na Flauta Doce , Katharina Sprecklesen , Oboé , Satoko Doi-Luck , ao Cravo e Jonathan Manson , Violoncelo . Eles são membros da Orquestra da Era do Iluminismo , sediada em Londres , uma orquestra que utiliza instrumentos e práticas de época , especializada em Repertório Pré-Romântico . Já a Sinfonia , que nós conhecemos como uma espécie de Sonata Orquestral , tem o nome usado por J S Bach para descrever suas Invenções a 3 Vozes , um livro didático avançado de peças para Cravo . As 15 Invenções são chamadas de Sinfonia Nº 1 , Sinfonia Nº 2 e assim por diante. Não me entendam mal, são peças importantíssimas e fantásticas , todas tecidas em Contraponto a 3 vozes . Quando se estuda piano , um dos caminhos é Bach - você começa com o Livro de Anna Magdalena Bach , passa para as Invenções a Duas Vozes , depois as Invenções a Três Vozes (isso leva anos , normalmente) e, por fim, o passo final , O Cravo Bem Temperado , Livros 1 e 2 . Então, o fato é que as Sinfonias de Bach nada têm a ver com as Sinfonias do Classicismo e do Romantismo . Repare na beleza e engenhosidade da Invenção a Três Vozes (Sinfonia) Nº 2 , em Dó Menor , de Johann Sebastian Bach , interpretada ao Cravo por Kanji Daito . A Música Barroca A Transição da Renascença para o Barroco Tudo começa quando, ainda na Renascença , o conde Giovanni de' Bardi cria a Camerata Fiorentina . Era um grupo de estudiosos que queria ter influência em vários aspectos da arte . Seus ideais tinham a ver com a (velha) adoração à Antiguidade Clássica e queriam recriar a música da Grécia Antiga , mesmo sabendo que nenhum registro dela havia sobrevivido . Acima de tudo eles se opunham à Polifonia , em especial ao Contraponto . Daí que passaram várias regras sobre ele : deveria ter tal número de vozes cantando apenas um texto e coisas do tipo. E, de fato, no Barroco o Contraponto era bem mais comedido que no auge da Renascença . Também aqui foi definido que eles usariam Música Tonal e passariam a usar o Baixo Contínuo . O Trítono , o ''intervalo do cão'' e com todas as lendas que trazia, pela primeira vez podia ser usado com mais liberdade . Os primeiros compositores Barrocos assimilaram isso e aceitaram . A intenção da Camerata era limpar , enxugar a música , que, na Renascença tinha cometido excessos , como vozes demais , abuso do Contraponto e exagero até na letra , quando compositores usavam mais de um texto cantado pelo coro ao mesmo tempo . Aqui, nesse ponto , o nosso construtor de site nos avisou com bastante tato , delicadeza e sutileza que o Barroco não poderia ser acomodado em uma postagem, sendo necessário dividi-lo em duas partes . Algo a ver com a possibilidade de romper uns tanques de gás por lá . Aguardem , que a Parte 2 vai chegando .

  • A Música Mansa

    Por Rafael Torres Música Mansa é a que eu venho fazendo desde o início dos Argonautas . Começamos bem cedo , no final dos anos 90 . Aos 16 , 17 anos de idade. Em 2025 , partirei em carreira solo . E você pode ajudar . Basta clicar neste link e depositar o quanto julgar meritório . Capa Provisória Trecho retirado da postagem "Quem São os Argonautas" Começou quando eu conheci o Bob  ( Ayrton Pessoa ), no colégio . Ele tocava violão e teclado e era uma das pessoas mais musicais que eu já conhecera. Tínhamos 15 anos, em 1996 . Lembro que ele vinha aqui em casa e a gente escutava discos de Bossa Nova , do Eugênio Leandro , Beethoven e Piazzolla . Lembro também do Hauly , que já era meu amigo desde uns dois anos antes , me dizer: " se vocês tiverem tocando, eu vou querer também, me chama ." Aí, eu e o Bob recebemos notícia de um concurso mundial de música: o Concurso John Lennon . Fizemos uma música em um inglês que não fazia sentido (era pra ser psicodélica) e fomos gravar no Alencar , um amigo da mamãe que tinha um estúdio. Não ganhamos o Concurso John Lennon . Acabou que o Alencar nos "adotou", ele gostava muito da nossa música, e a gente ia compondo e gravando. Viramos o Mira na Lira  e, logo depois, os Argonautas . Até 2001 fizemos 2 discos demo , mas nunca lançamos . Fomos seguindo, fazendo shows esporádicos (" ah, tu tem uma banda? ", " tenho ", " e onde é que vocês tocam? ", e eu sempre tinha que explicar que a gente não tinha muito a cara de banda de barzinho etc.). Vez por outra me dava uma vontade de encerrar. E o fizemos, de fato, em 2004, quando o Hauly foi morar em São Paulo . Quando voltamos, em 2007 , foi porque eu tinha um projeto de disco e show maravilhoso, o Interiores . Recriaríamos um ambiente rural, figurino do Yuri Yamamoto . Nessa época, eu chamei o Ronaldinho (Ronaldo Lage , bateria) e o Germano Lima  (baixo), amigo dele. Lançamos o disco com esse show em 2009 . Tanto o disco como o show tiveram a maravilhosa participação do grupo de flautas Ad Libitum , do qual faz parte a minha mãe . Acabamos de novo, lá por 2010 . Em 2014 apareceu um show pra gente fazer, e o Ronaldo e o Germano não podiam, então a gente chamou Ednar Pinho  (baixo) e Igor Ribeiro (percussão e bateria), formação que persistiu até o fim . Paramos de novo e voltamos em 2016 para gravar um álbum. O Jangada Azul , lançado em 2018 , todo com músicas nossas . Por motivos de saúde e de motivação , uma das poucas coisas que me interessam é gravar , de modo que seguimos fazendo isso desde então . Inventamos o " Argonautas Convidam " em 2017, quando chamamos a Mônica Salmaso  para fazer um show do repertório dela com arranjos nossos. Novamente pensei que ia decolar, mas que nada! Se bem que o show foi um sucesso e acarretou outros, com o Renato Braz  e com o Zé Renato , do Boca Livre . Fatos sobre os Argonautas Tocamos o que se pode chamar de MPB. Compomos a maior parte do que tocamos . Já tive reuniões promissoras com a Biscoito Fino . Não deram em nada. A Kuarup também ia lançar um disco, mas não deu certo. Gravamos nosso terceiro disco " Argonautas Interpretam Edu Lobo " em 2018 , mas só deu pra lançar em 2020 (desculpa, eu sei que é feio falar palavrão). Tem a participação da Mônica Salmaso , do Renato Braz , do Marco Forte , do Heriberto Porto (flauta) , do Leonardo Torres  (meu irmão, ao piano) e do próprio Edu Lobo , que canta Meia-Noite . Tentamos chamar o Chico Buarque  para participar, mas não deu certo. Ele é elusivo (com toda razão ). Fiz uma música em homenagem ao Ariano Suassuna , super armorial   e nordestina, e chamei a Mônica pra gravar. Com o Renato Braz, gravamos minha valsa " Manual da Leveza ".  Já aparecemos 2 vezes na Globo em transmissão nacional , no Jornal da Globo .  A fofíssima Silvia Machete  gravou outra música minha " So Many Nights ", no seu álbum Rhonda , todo em inglês.  Tenho umas 4 músicas em inglês pro caso de... né?...  Temos a leve sensação de que, se tocarmos num lugar, aquele lugar fecha. Aconteceu com o Ball Room , no Rio de Janeiro , com o Vila Mosquito , aqui em Fortaleza e com os Estados Unidos , em 2001 . A gente já tava certo de ir quando jogaram aqueles aviões nos prédios .  Tem tudo no nosso site: www.grupoargonautas.com.br . Apesar de tudo, continuamos a fazer música honesta , que, quando você olha do ângulo certo, é boa . Rafael Torres Depois de 23 anos dedicados ao grupo Argonautas , com o qual lançou 3 álbuns  e 1 EP , e tendo sido gravado por Mônica Salmaso , Renato Braz e Sílvia Machete , Rafael Torres  parte em uma nova jornada . É sua carreira solo . Lançou, pela Editora Viseu, seu 1º livro , “ Rubi Boto ”, que contém suas letras e outros escritos . E, agora, você poderá conferir algumas dessas canções (e outras, novas) em um álbum . Ele criou o conceito de Música Mansa , uma continuação alternativa àquela dos anos 60 e 70 , desprovida de agressividade, ainda que repleta de expressividade . Confira esta playlist  (no Spotify ) com suas músicas e arranjos com os Argonautas . Terá uma ideia do que é a Música Mansa . https://open.spotify.com/playlist/1Eq3PANsXLybeqlU ... A Música Mansa Calcado na ideia de que o Brasil ainda tem muito que mostrar com  instrumentos acústicos , sem  influências  acintosamente  estrangeiras , e com um canto natural , sem  nenhum tipo de  empostamento  especial de voz e um  mínimo de  truques de afinação , acredito que tenha encontrado uma maneira de dar sequência ao trabalho de  João Gilberto  e  Tom Jobim . A  Música Mansa  é a continuidade da  MPB . Aquela, dos anos  60  e  70 . Especialmente da de  Tom Jobim , de  Chico Buarque , de  Edu Lobo , de  João Gilberto ,  Gil  e  Caetano  etc. Sem dispensar flertes com  Milton Nascimento ,  Boca Livre ,  Elomar ,  Antônio Nóbrega  e, até,  Astor Piazzolla . A música é  mansa  no seu  soar  (ela  não troveja ); no seu  versejar  (ela não grita ) e no seu  instrumentar  (são, essencialmente , instrumentos acústicos  amplificados ou microfonados). A  Música Mansa  não ordena . Ela pega pela mão  e  conduz . É mansa no seu  existir . Na  culpa  que  não carrega . Culpa , aliás,  não há . Consuma , escute , atente e só . Ela é feita por  velhos artesãos de canções , que aprenderam com  seus pais , que com os seus ... Ela não é melhor  que  nenhuma outra . Nem  pior . Ela é o  doce mar do  Mucuripe , a lamber nossos  pés  em uma  tarde mansa . O Álbum O repertório traz apenas canções de  Rafael Torres  (letra e música). Incluem-se " Argonautas ", em homenagem a seu antigo grupo , " So Many Nights ", sua primeira letra em língua estrangeira. Temos, ainda, “ Por Que Saber? ”, um fado esparramado e dramático; " Maria Alice ", uma canção de consolação a uma  transexual ; " Siameses ", que é narrada por um irmão que não quer se separar do seu  gêmeo , situação que também podemos adequar a um casal em que um quer a  separação  e o outro , não ; dentre outras. Venho pedir pela sua colaboração . O feitio do álbum " Música Mansa " está em campanha no site de arrecadação coletiva Catarse (pode clicar no link ). O Orçamento O valor total da campanha , incluindo a Taxa do Catarse  e publicidade é R$ 12.139. O dinheiro será usado na gravação , mixagem e masterização de 14 faixas ; produção e edição de 1 videoclipe e um Lyric Video ; divulgação ; criação da capa e identidade visual e taxa do Catarse . O trabalho de gravações , mixagens e masterizações foi orçado em R$ 7.300 pelo estúdio Trilha Sonora , em Fortaleza. Serão, ainda, filmados um clipe e um Lyric Video , totalizando R$ 2.000,00 , com o filmmaker Gabriel Lage . (Orçamento abaixo.) É importantíssimo frisar que este valor pode ser ultrapassado , o que dará ao músico a possibilidade de pagar os músicos convidados ( baixista , pianista , percussionista etc.); de melhorar o Clipe (com dois cinegrafistas , iluminação etc.) e fazer uma pequena tiragem do Álbum em CD , que cada apioador receberá em casa , Como Apoiar Apoiar essa campanha é simples e seguro ! 1. Escolha a recompensa de sua preferência , confira o valor total do apoio e clique em “ Continuar ”; 2. Você precisará de um cadastro no Catarse , mas é fácil (você pode entrar com a opção login com Google , por exemplo); 3. Revise seu endereço cadastrado e selecione a forma de pagamento de sua preferência ; 4. Você já está participando e receberá as recompensas em fevereiro . Você conta com toda a segurança do sistema do Catarse ! Se você tiver alguma dúvida sobre o Catarse , entre em contato com a Central de Suporte . Comente , sempre.

  • Perfil - Khatia Buniatishvili: A pianista pintora

    Resolvi falar das 5 maiores pianistas da atualidade : Yuja Wang , Khatia Buniatishvili , Alice Sara Ott , Cristina Ortiz e Hélène Grimaud . A chinesinha Yuja já foi, agora de manhã. Essa postagem é dedicada à georgiana Khatia, de 36 anos . Nasceu em Batumi , Georgia , em 1987 . Quase tão bonita , ousada e arrojada quanto a Yuja, ela tem, também, carisma e prestígio . Khatia começou a estudar piano aos 3 anos de idade. Aos 6 tocou com a Orquestra de Câmera de Tblíssi e, em seguida, foram todos convidados a uma turnê internacional . Aos 10 foi convidada pelo virtuose soviético Oleg Maisenberg para se mudar para Viena e estudar com ele. Ela costuma tocar junto com sua irmã mais velha , Gvantsa , no repertório de 2 pianos ou piano a 4 mãos . Khatia e Gvantsa Seu pianismo é menos técnico e mais sentimental que o de Yuja , mas não muito . Além disso, borra menos , é um tanto mais clara que a chinesa. É frequentemente convidada para o Festival Verbier . Musicista de câmara, ela é contratada da gravadora Sony Classical . A discografia de Khatia é invejável , tanto pelo repertório quanto pela qualidade . Abaixo, a Balada nº 4 , de Frédéric Chopin . Khatia já tocou com os maiores nomes do nosso mundo, incluindo Zubin Mehta , Kent Nagano , Neeme e Paavo Järvi , Mikhail Pletnev , Vladimir Ashkenazy e as orquestras filarmônicas de Munique , Los Angeles , Israel , China e sinfônicas de São Paulo , San Francisco , Toronto , Londres , BBC e muitas outras. Muito do seu trabalho é de protesto contra as faltas humanitárias da Rússia na guerra contra a Ucrânia . Vive hoje em Paris ; Tem ouvido absoluto ; A música de câmara (e o contrato com a Sony) (e seu inegável talento) tem lhe rendido boas parcerias , como aquelas com o violinista letão Gidon Kremer e o violinista francês Renaud Capuçon ; É comparada não só a Martha Argerich , mas à Martha Argerich jovem , que tinha uma técnica inigualável ; Já tocou em São Paulo . Não tem do que reclamar ; Faz rubatos , mas são ínfimos se comparados aos de Lang Lang ; Ela evita se intelectualizar e se representar ; Uma crítica do inglês Norman Lebrecht tem como título: "Mais uma artista georgiana com problemas de gênero"; Eu acho que quem tem problemas de gênero é o Lebrecht. Sério, do Norman não esperamos nada além de baixaria ; A sonoridade de Khatia é maravilhosa ; Fala 5 idiomas; Tem uma tendência , na interpretação e na escolha do repertório , a tocar de maneira mais intimista (" dark ", como ela define), especialmente no som que tira do piano ; Desde criança é acostumada a ver as pessoas absolutamente extasiadas com sua técnica ; Tem forte apelo no YouTube e é conhecida mesmo fora do mundo da música clássica ; Recentemente (2024), nos preparativos para uma turnê conjunta , com Khatia e Yuja Wang , houve um sério entrevero entre as duas . Sobre o repertório , aparições na mídia etc.; Em novembro de 2024 , rumores começaram a circular de que Khatia se aposentaria do piano para se dedicar à família ; Essa técnica provém de inesgotáveis horas de estudo e de sua memória fotográfica ; Ela pode ler páginas e páginas de uma partitura , fechar o livro e tocar o que leu no piano . A Valsa da Dor , de Heitor Villa-Lobos: O Concerto nº 2 para Piano e Orquestra , de Sergei Rachmaninoff , acompanhada da Filarmonica Teatro Regio Torino , regida por Gianandrea Noseda , em 2015 . A mais famosa (nº 18 ) das Variações Sobre um Tema de Paganini , de Rachmaninoff . Repare na sonoridade . Para quem gosta de entrevistas e entende inglês (eu achei em georgiano, francês, alemão..., mas não em português), a que você vê logo abaixo é ótima. Só que tem 1 minuto de propaganda - maneira que o YouTube achou de ganhar mais dinheiro de quem já paga uma assinatura Premium . Discografia sugerida Liszt - Piano Works - Em seu segundo disco , toca as difíceis Sonata em Si Menor , a Mephisto Waltz nº 1 , o Liebestraum nº 3 e La Lugubre Gondola . Tudo com perfeição e impregnado de uma atmosfera rica e impressionante; Chopin - Works for Piano - Ela toca, além de peças pequenas, a 2ª Sonata para Piano e o 2º Concerto para Piano e Orquestra , com a Orchestre de Paris , regida por Paavo Järvi . Disco de 2012 em que ela mostra toda a poesia que faz vir do seu teclado; Kaleidoscope - De 2016 , esse álbum contém apenas 3 peças (todas longas): a versão para piano solo de " Quadros de Uma Exposição ", de Modest Mussorgsky , " La Valse ", de Maurice Ravel e " 3 Movimentos de Petrushka ", de Igor Stravinsky ; Rachmaninoff - Piano Concertos nos. 2 & 3 - Mais uma vez, Khatia aguça a sua e a nossa expressividade , trazendo a tempestade e as nuvens ; Schubert - Também econômico no repertório (é o que cabe num CD), Khatia, aqui, nos traz a Sonata nº 21 e os Impromptus , Op. 90 , do alemão Franz Schubert . Com musicalidade e categoria ; Labyrinth - Disco muito bom , mas meio bobo . Todo proposto a ser relaxante , é um recital com algumas faixas estragadas, como " Tema de Débora ", de Ennio Morricone , " I'm Going to Make a Cake ", de Philip Glass e 4'33 '', de John Cage . Mas os pontos altos do disco são bem altos: o segundo dos 6 Klavierstücke de Johannes Brahms , " Les Barricade Mystérieuses ", de François Couperin e uma interpretação estranha, mas muito musical da " Valsa da Dor ", de Heitor Villa-Lobos . Comente , seu comentário é muito importante ! Veja aqui o perfil de Yuja Wang. E aqui , o de Martha Argerich . Veja, no link abaixo , uma lista de nossas postagens . Links ! E muito boa tarde !

  • Classicismo - Os Períodos da Música IV - Parte I

    Por Rafael Torres Pode-se dizer que o Período Clássico foi um apêndice (mas um belo apêndice ) na história da Música Erudita . Você sabia que, tecnicamente, Música Clássica é a de um período ínfimo, cerca de 50 anos, entre o Barroco e o Romantismo ? A gente deu para chamar toda a tradição musical escrita , independente do tempo de que provinha , de Música Clássica . Debussy ? Música Clássica . Stravinsky ? Música Clássica . Só que não é assim . Na verdade, só tem dois compositores do Período Clássico em si que você provavelmente deve conhecer . Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart . Tem uma infinidade de outros compositores , mas a maioria deles é relativamente pouco tocada . Agora, acho bobagem ficar corrigindo quem chama tudo de Música Clássica - é Música Erudita . Bobagem . Chame do que quiser . Mas saiba que vamos agora entrar nesse período específico , o Período Clássico propriamente dito, que vai de 1750 até cerca de 1810 . (Alguns estudiosos entendem que vai até , mais ou menos, 1820 . Eu discordo . Para mim , ele acaba em 1803 ). Leopold Mozart com Wolfgang Amadeus e Anna Maria, aquarela de Louis Carrogis Carmontelle, 1763. Origens Tudo começou (lembre-se que as artes e a arquitetura quase sempre estão ligadas ) quando, na metade do século XVIII , as artes começaram a se voltar mais uma vez à estética e aos ideais da Roma Antiga e, sobretudo , da Grécia Antiga . Esteticamente, a limpeza da arquitetura , disfarçada de simplicidade , e a organização desta em estruturas claras e evidentes , chamou a atenção da Europa , nesse momento. Isso se tornou um movimento que foi chamado de Neoclassicismo . Até hoje não se sabe quem começou com isso, mas, se você leu sobre a Idade Média e a Renascença , percebeu que essa inclinação europeia a idolatrar este seu longínquo passado sempre existiu . Para falar a verdade , era uma ingênua idealização . Continuemos. Consideravam a arquitetura Grega limpa , simples , com suas colunas Dóricas , Iônicas , Coríntias . E resolveram que era seu dever simplificar também as obras de arte . Na música , isso significava uma verdadeira operação de " desbarrocamento ". Sendo a Música Barroca dada a barroquismos , ornamentações e polifonia , com muitas vozes e melodias ocorrendo ao mesmo tempo , a Música do Classicismo se viu inclinada a fazer o oposto . Seria clara , a música teria simplesmente uma melodia e o acompanhamento . E contracantos, bem mais simples de fazer do que o contraponto. E pronto . Também , agora, cada movimento teria partes (já tinha, mas agora, com mais clareza) e a divisão entre essas partes deveria ser de fácil reconhecimento . Além disso, ela viria com contrastes mais evidentes entre o forte e o fraco . As modulações eram importantíssimas , mas, geralmente, predeterminadas . Fixou-se a orquestra , também. Enquanto no Barroco a orquestra era dotada dos instrumentos que o músico tivesse à sua disposição , seja na corte , na igreja , escola etc., no Classicismo tínhamos uma coisa bem mais organizada: as cordas (Violinos I , Violinos II , Violas , Violoncelos e Contrabaixos ), com a família dos Violinos sobrepujando a das Violas da Gamba de vez; duas Flautas , dois Oboés ; três Fagotes ; duas Trompas ; Trompetes e Tímpanos . Tal conjunto era a orquestra base , à qual podiam ser acrescentados Trombones , Clarinetes e alguns poucos outros instrumentos . Ela era, também, substancialmente maior que a Barroca, especialmente no número de cordas em cada naipe . Modelos da Orquestra Barroca e da Orquestra Clássica . Clique para ver mais. Outras Influências Não podemos nos esquecer que os compositores estavam a par do que acontecia na Europa . E duas coisas muito importantes aconteceram durante esse período: o Iluminismo e, posteriormente, a Revolução Francesa . O Iluminismo foi um movimento intelectual que pregava que a razão deveria ser a maior autoridade a conduzir as ações . Defendia, também, a liberdade , a fraternidade , a tolerância , o progresso , o governo constitucional e o afastamento da Igreja dos assuntos do Estado . Era a primeira vez que o homem pensava assim , que o outro era igual a si , que a igreja não deveria ditar a vida das pessoas etc. O Iluminismo começou ainda no século XVII , mas foi no século XVIII que ele se entranhou no imaginário da população . Já a Revolução Francesa , alimentada pelos princípios de Liberté , Égalité e Fraternité (obviamente, Liberdade , Igualdade e Fraternidade ) ocorreu muito depois , em 1789 . Foi um levante social que foi fomentado principalmente pela incapacidade do Ancien Régime (obviamente, Regime Antigo ), no caso, o rei Louis XVI , de lidar com inquietações e demandas da população . Havia muita pobreza e a França vivia uma forte crise econômica . Louis XVI (e Maria Antonieta e muitos outros ) foi executado em 1793 . Tudo isso seria inimaginável acontecer sem o Iluminismo . Agora, essas ideias e ações , tão revolucionárias , truculentas , violentas , refletiram-se em uma música , não raro, branda , pacata e delicada . A Música do Classicismo é, eu diria, destituída de conflitos . Mas nesse ponto , com a aristocracia se enfraquecendo e a burguesia se fortalecendo , a população começou a querer ouvir música , também. Surgiram os teatros urbanos , não pertencentes a nenhum rei ou duque . Talvez também por isso a música tenha se simplificado . Era um novo público , não habituado a música que não fosse a popular , tocada por músicos de rua . Para eles, uma música como a Barroca soaria completamente indecifrável . Características da Música do Classicismo As principais características da Música do Período Clássico são: Sobretudo: homofonia , com uma melodia sendo ditada por algum instrumento e a harmonia (os acordes de acompanhamento ), tocados por outros; O prevalecimento gradual, mas quase irreversível do Piano sobre o Cravo como principal instrumento de teclado . Além de se tornar o principal instrumento solista , era o instrumento do compositor , onde grande parte deles compunham ; Mas o Cravo ainda permaneceu , pelo menos, até o final do Classicismo , como " instrumento do maestro ", que dirigia a orquestra ao mesmo tempo em que tocava um . Há relatos de Haydn procedendo assim no final de sua carreira , já no século XIX ; Na orquestra , foi desaparecendo o Baixo Contínuo , tão caro ao Barroco . A linha do baixo , agora, era escrita na partitura com os outros instrumentos. E os instrumentos que deveriam tocá-la (geralmente os Violoncelos e os Contrabaixos) eram especificados . O Cravo que acompanhava as Sinfonias , como mencionado acima, embora se assemelhe a um Baixo Contínuo , não o é , por um simples motivo : não é obbligato , ou seja sua inclusão é opcional e o que ele toca não tem importância à música, a não ser a de emprestar à orquestra seu som incisivo ; Houve mudanças em todos os gêneros de música : Ópera , Música para Instrumento Solo ; Música de Câmara , Música Sacra e Música Sinfônica ; Na Música Sinfônica , surge a Sinfonia , obra de grande porte , com 3 ou 4 movimentos ; Na Música para Piano , por exemplo, surge a Sonata , uma espécie de Sinfonia para um instrumento só , já que tinha os mesmos 3 ou 4 movimentos e a mesma estrutura formal do seu equivalente orquestral ; Na Música de Câmara , estabelecem-se como principais formações o Quarteto de Cordas , o Trio com Piano ( Piano , Violino e Violoncelo ) e o duo Violino e Piano ; Na Ópera , há um crescimento , por demanda popular , da Ópera Bufa , que era mais leve e cômica . Principais Compositores Joseph Haydn ( 1734-1809 ); Michael Haydn ( 1737-1806 ) ( irmão de Joseph); Wolfgang Amadeus Mozart ( 1756-1791 ); Johann Christian Bach ( 1735-1782 ); Carl Philipp Emanuel Bach ( 1714-1788 ); Wilhelm Friedman Bach ( 1710-1784 ) (os três últimos , filhos de Johann Sebastian Bach ); Muzio Clementi ( 1752-1832 ); Antonio Salieri ( 1750-1825 ); Mauro Giuliani ( 1781-1829 ); Ludwig van Beethoven ( 1770-1827 ) (considero Clássica apenas a primeira das três fases de Beethoven . Já no começo do século XIX ele partiu para o Romantismo ); Franz Schubert ( 1797-1828 ) (também o considero uma figura de transição , mais Romântico do que Clássico ). Quanto a Beethoven e Schubert , listei porque a maior parte dos autores os incluem no Classicismo . Mas, a meu ver , pertencem muito mais ao Romantismo . História Traçar as origens do Estilo Clássico , adivinhar quem mudou o que , e por que , é tarefa complicadíssima . Deixemos isto aos musicólogos . Mas vocês devem lembrar , ainda no Barroco , de quando eu falei da Arte Rococó e do Estilo Galante . Vou cometer a heresia de copiar uns pequenos parágrafos da outra postagem . Vigente entre os anos 1720 e 1770 , o Rococó foi um estilo totalmente diverso do Barroco e serviu de transição entre este e o Classicismo . Estilo Galante é o nome da vertente musical do Rococó . Suas características eram, muitas vezes, antagônicas às do Barroco . Essa oposição se manifestava , sobretudo, na forma de uma atitude simplista , sem usar contraponto , com importância dada à clareza melódica e, no acompanhamento , poucos e simples acordes . Nem todos os compositores aderiram, e se o fizeram foi no final ou início da carreira . Dentre estes contamos com Georg Philipp Telemann , Giovanni Battista Sammartini , Guiseppe Tartini , Johann Joachim Quantz , Baldassare Galuppi e os começos das carreiras dos Clássicos Joseph Haydn e de Wolfgang Amadeus Mozart . Percebemos que já existia , desde 1720 , uma vontade , tanto do público quanto, possivelmente, dos músicos , de simplificar a música . Como eu sempre digo , na Música Barroca acontece muita coisa ao mesmo tempo . Vocês não imaginam quantos anos de estudo um músico dedica se quiser apreender contraponto . Daí, aboliram o coitado . Do Contraponto . Lembram? Trata-se da arte de conciliar duas ou mais melodias para que soem ao mesmo tempo sem entrar em nenhum tipo de conflito . Mas ele nunca foi esquecido . A coisa mais comum , quando eu leio a biografia de um compositor , mesmo sendo ele bem posterior ao século XVIII , é observar que, no final da sua vida , ele se volta ao estudo do contraponto . Minha teoria é que o Estilo Galante foi ficando , sofrendo transformações , recebendo influências até que se transformou na Música do Classicismo . Nesse pequeno período , praticamente a segunda metade do século XVIII , a sociedade mudou muito . Agora, os músicos tinham que lidar com dois públicos : a aristocracia , que tinha preferência por música instrumental , e a população geral , que queria ouvir Ópera . Não subestimemos a possibilidade de que isso , só isso , tenha acarretado mudanças . Precisamos de uma orquestra maior ; precisamos de obras que contenham musiquinhas para o povo assoviar na rua ; essa harmonia serve ; essa , não ; ficou longo demais ; curto demais ... Lembrem-se , também, que os músicos que viviam naquela época podiam achar que um tipo de música era " antigo " e que um outro estava " em voga ", mas eles não tinham um panorama histórico , nem a consciência de que estavam entrando em um " novo período ". Eles sequer chamavam a Música Barroca de Música Barroca . O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau ( 1712-1778 ), que também era músico , publicou , em 1768 , seu Dictionnaire de Musique . No verbete Música Barroca podemos ler: "Uma música barroca é aquela na qual a harmonia é confusa , carregada com modulações e dissonâncias , a melodia é áspera e pouco natural , a entonação (afinação) é difícil e o movimento é restrito ". Mas ele estava definindo um tipo de música. Ou então considerava Música Barroca um adjetivo . Jamais um período inteiro na história da música . O termo só seria aceito amplamente como a denominação de um período musical em meados do século XX . A fim de facilitar o ensino de História da Música , várias definições , obviamente, sempre com precedentes históricos , se sedimentaram . Então, no fim, os compositores se viram em um ambiente inteiro que sugeria uma música mais simples (não estou dizendo " mais suave " " música clássica para estudar " etc., que detesto ). E, aos poucos, aproveitando um bocado da estética do Estilo Galante , a Música do Classicismo foi surgindo. Não dá para dizer quando ela começou , de fato. Mas é possível apontar que, uma vez cruzados alguns limites , já estávamos no Classicismo . Estou falando especificamente de duas inovações decisivas : a Forma-Sonata e a Sinfonia . Pode-se dizer que, quando já se compunham Sinfonias no modelo moderno e com o primeiro movimento em Forma-Sonata , já havia chegado o Classicismo . A Forma-Sonata Realmente ela facilita muito as coisas . Claro que não surgiu de repente . Não existe um inventor . Ela foi se desenvolvendo , até rapidamente, nessas décadas do fim do século XVIII . Trata-se de um esquema , um esqueleto , uma fôrma . Você chega com suas ideias e a fôrma lhe diz que você tem que apresentar o Tema A , fazer uma transição que não fuja de certas regras , apresentar o Tema B , mais uma transição , e partir para o desenvolvimento . Nele, você trabalha as ideias , ou seja, transforma e faz interagirem os dois temas , da maneira que sua criatividade permitir . Depois, faz nova transição e apresenta novamente, sem transformações , o Tema A e o Tema B (este, sofrendo uma modulação , isto é, tocado em outro tom ). Agora, só falta o Coda , que é a finalização da música . E que músicas são em Forma-Sonata? Ela é onipresente . É quase obrigatória em Sinfonias e Sonatas para Piano . Geralmente, em uma Sinfonia de 4 movimentos , ao menos o primeiro (mas muitas vezes o quarto , também) é em Forma-Sonata . Também é quase certo aparecer em primeiros movimentos de Sonatas para Piano , Sonatas para Piano e Violino , Trios com Piano , Quartetos de Cordas ... Enfim, em todas as formas de Música de Câmera . Vamos esmiuçar? Vou apresentar a Forma-Sonata utilizando, para as partes , uma nomenclatura que, na verdade, só apareceu bem depois , um século depois . Mas é como se analisa musica hoje . Também vou exemplificar como o primeiro movimento de uma Sinfonia . Parte 1 - Introdução : É um trecho opcional , nem todo movimento em Forma-Sonata tem Introdução. Como o nome indica, é um trecho , geralmente curto , de música livre , que normalmente é bem mais lenta do que o resto do movimento e cria uma atmosfera inicial ; Parte 2 - Exposição : Aqui o compositor apresenta , de maneira ordenada, utilizando transições apropriadas e relações entre tonalidades bem regradas , seus temas principais , que geralmente são dois , o Tema A e o Tema B , mas podem ser três , até mais . Os dois temas costumam ser contrastantes em caráter , humor ou estilo . Além disso, o Tema B é em tonalidade diferente da do Tema A (este é necessariamente no mesmo tom da Sinfonia ) . A transição nada mais é que um trecho musical em que o compositor prepara o ouvinte para um novo tema ou uma nova parte . A exposição costumava ser repetida , a fim de que o público se habituasse aos temas ; Parte 3 - Desenvolvimento : Depois que os temas são todos apresentados , uma codetta (trecho de finalização ) conduz a música ao Desenvolvimento . É considerada a parte mais apropriada para o compositor exibir sua habilidade , porque é nela que ele vai usar técnica e criatividade para transfigurar os temas , podendo, por exemplo, tocá-los de trás para frente , de cabeça para baixo (acredite, é possível ), começar a frase com um tema e terminar com o outro , as possibilidades são infinitas ; Parte 4 - Recapitulação : Essa parte , que também vem após uma transição , é bem semelhante à Exposição . Depois do Desenvolvimento , uma parte totalmente imprevisível , ela traz a música de volta ao seu comportamento inicial . São reapresentados o Tema A e o Tema B de forma quase idêntica àquela em que apareceram na Exposição . A principal diferença é que, agora, o Tema B se apresenta no mesmo tom do Tema A , a tônica da Sinfonia . As transições também podem ser diferentes . Enquanto a Exposição terminava na codetta , a Recapitulação conduz a um Coda, maior e de caráter mais assertivamente finalizador ; Parte 5 - Coda : O Coda não tem duração definida . Você sabe que a obra está acabando (por vezes, ficando mais frenética ), mas o compositor pode prolongá-lo . O Coda encerra o movimento . Essas regras eram tácitas , ou seja, não eram necessariamente ensinadas desta forma. Mas de alguma maneira , entraram no inconsciente dos compositores desde então ( ainda hoje se compõe em Forma-Sonata ). E, também, não era para serem quebradas . Tinham que ser seguidas à risca . Só que eram quebradas o tempo todo . Não por todos os compositores , em todas as suas obras . Mas há exemplos notáveis de " desobediência " do esquema harmônico e até mesmo no manejo das partes . Outras Formas Vamos seguir o modelo mais comum de uma Sinfonia Clássica . 1º Movimento - Forma-Sonata ; 2º Movimento - Movimento lento , sem forma definida , mas geralmente em duas partes , com a primeira retornando no fim ( A-B-A ); 3º Movimento - Aqui, Haydn implementou o Minueto e Trio . Ele também segue o padrão A-B-A , sendo A um Minueto , que se originou de uma dança presente em Suítes Barrocas , e B , um Trio (o Trio , ao menos no início , era literalmente um trecho em que três instrumentos , ou grupos de instrumentos , dialogavam entre si). O Minueto confere maior leveza à Sinfonia , pois geralmente seu caráter é leve e gracioso . Ele pode sofrer algumas alterações , a depender da vontade do compositor . Por exemplo: quando volta a Parte A , ela pode vir diferente , de diversas maneiras ; ou então pode-se acrescentar uma nova parte ( Parte C ) antes do Minueto final etc.; 4º Movimento - Podia ser em várias formas , sendo as mais comuns a Forma-Sonata e o Rondó . Rondó é um movimento de caráter geralmente leve e alegre , cuja estrutura prescreve que haja uma Parte A , a principal , e outras partes secundárias ( B , C , D ...). O importante é que entre cada uma das partes secundárias seja tocada novamente a Parte A . O esquema fica, portanto, A-B-A-C-A-D-A ... As partes secundárias podem bem mais de três . A Obra Fica Assim Desse modo , as formas mais populares para os movimentos eram: 1º Movimento - Forma-Sonata ; 2º Movimento - Movimento lento , geralmente em esquema A-B-A ; 3º Movimento - Minueto e Trio ; 4º Movimento - Rondó . A Sinfonia O gênero mais nobre de música orquestral desde então, mas não o único , a Sinfonia ficou encrustada no imaginário dos compositores . Tornar-se-ia , mais de uma vez , a maior obsessão de homens que nela vislumbravam uma forma de atingir a imortalidade . Mas quando Mozart e Haydn estavam " brincando " de desenvolvê-la , ano após ano , inovação após inovação , a Sinfonia era inofensiva , não passava de mais um gênero , dentre os vários com que lidavam . Acho importante vocês saberem o que um músico do Classicismo compunha . Música para Piano : Sonata , a principal forma  (não confundir com Forma-Sonata , a Sonata é mais ou menos equivalente a uma Sinfonia para Piano ); Tema com Variações ; Minuetos ; Peças  (podem ser Sonatas) para Piano a 4 mãos ; E para 2 Pianos ; Etc . Música de Câmera : Quarteto de Cordas (estabeleceu-se desde o início com a formação com 2 Violinos , Viola e Violoncelo ); Quinteto de Cordas (este foi um pouco mais confuso . Alguns compositores adotaram o formato com 2 Violinos , Viola e 2 Violoncelos , outros foram compondo para 2 Violinos , 2 Violas e Violoncelo , e ainda 2 Violinos , Viola , Violoncelo e Contrabaixo ); Trio com Piano ( Piano , Violino e Violoncelo ); Quarteto com Piano (geralmente Piano , Violino , Viola e Violoncelo ); Sonata para Piano e Violino ; Várias formações envolvendo Sopros ; Formações com Sopros e Piano ; Etc . Música para Piano : Sonata , a principal forma (não confundir com Forma-Sonata , a Sonata é mais ou menos equivalente a uma Sinfonia para Piano ); Tema com Variações ; Minuetos ; Peças (podem ser Sonatas) para Piano a 4 mãos ; E para 2 Pianos ; Etc . Música Orquestral : Sinfonia ; Serenata ; Divertimento ; Concerto (para qualquer instrumento solista e orquestra , mas, diferente do Barroco , geralmente apenas um . Os mais comuns eram o Concerto para Piano e o Concerto para Violino ); Etc . Música Sacra: Missas ; Oratórios ; Réquiens . Ópera. Tanto na Música Sacra quanto na Ópera , o compositor deveria possuir a habilidade de compor para orquestra , coro SABT , ou seja, com vozes Soprano , Contralto , Tenor e Baixo (às vezes usava-se o coro duplo , que consiste, literalmente, em dois coros SABT ) e um número variável de cantores solistas . Os cantores solistas também podem ser Soprano , Contralto , Tenor e Baixo , mas as especializações são ainda mais específicas , como a Mezzo-Soprano , voz feminina não tão aguda quanto a Soprano, mas não tão grave quanto a Contralto; o Barítono , voz masculina não tão aguda quanto o Tenor, nem tão grave quanto o Baixo. Existe o Baixo-Barítono ; o Contratenor , voz masculina que canta mais ou menos no registro da Contralto ; e outras as mais diversas que você puder imaginar: Soprano- Colatura , Soprano Leggero , Soprano Dramático , Soubrette (Soprano), Tenor Leggero , Tenor Lírico , Tenor Lírico-Ligeiro , Tenor Spinto , Baixo Cantante , Baixo Buffo , Baixo Profundo ( Basso Profondo ) etc. Enquanto a Ópera era a grande diversão da burguesia e, por outro lado, da realeza , a aristocracia (um conde , por exemplo) se deliciava com jantares "intimistas" para 120 pessoas ao som de sua orquestra pessoal . Veja bem, era um jantar . Não queremos aborrecer nossos convidados com contraponto . Não deve ser música à qual você precise prestar atencão . E os aristocratas criaram a " música ambiente ". E Haydn fez dela a música ambiente mais prodigiosa que poderia sair da cabeça de alguém . O nome Sinfonia circulava pela Europa há milênios . Milênios , mesmo. Dos Gregos Antigos . Para eles, a palavra symphōnía significava concordância de sons . Mas, enquanto palavra , esta teve uma jornada imensa , que não cabe aqui esmiuçar . Basta dizer que na Antiguidade e na Idade Média , Sinfonia era um entrelaçamento de sons bonito , harmonioso . Ao contrário da dissonância , o som de notas que não simpatizavam (tente apertar três teclas imediatamente vizinhas do seu Piano e entenderá o sentido). Já foi também o nome de qualquer instrumento capaz de tocar mais de uma nota de uma só vez (desde que em consonância ). Mas, de alguma forma, ela foi parar no lugar que lhe definiria o futuro . No começo de uma Ópera , como um prelúdio . Ocorre que os compositores , ainda no Barroco , costumavam fazer uma espécie de preâmbulo puramente instrumental da obra. Os italianos inventaram a chamada Abertura Italiana . Por algum motivo, ela tinha um segundo nome: Sinfonia . Uma particularidade crucial dessa aberturinha era que ela tinha três movimentos - rápido , lento , rápido . Os primeiros a enxergar as possibilidades de uma música instrumental com três índoles diferentes não foram Haydn e Mozart. Foram Giovanni Battista Sammartini , compositor italiano de transição Barroco-Clássico , e Carl Philipp Emanuel Bach , o segundo filho de Johann Sebastian Bach , ainda com Maria Barbara . Cada um deles escreveu um número expressivo do que podemos chamar de Sinfonia já no sentido moderno . Claro que, inaugurais , suas Sinfonias eram menos ambiciosas , geralmente em três movimentos , escritas para orquestra de cordas e com durações de 10 a 15 minutos . Joseph Haydn começou a escrever Sinfonias aos 27 anos , em 1759 . E, desde o começo , ele já utilizava instrumentos de sopro . A partir de sua 3ª Sinfonia , começou a usar (ainda que esporadicamente, no início) um novo movimento , passando a obra a ter 4 . Era o Minueto , movimento baseado em uma dança de origem francesa , de caráter leve e ingênuo . A 5ª Sinfonia , possivelmente escrita antes da 3ª (a catalogação dessas obras é mais difícil do que imaginamos), traz o Minueto de forma alterada e da maneira definitiva . O Minueto e Trio . É uma forma A-B-A , pois se toca Minueto-Trio-Minueto . O Piano e Suas Consequências Ainda no final do século XVII , em 1687 , o luthier italiano , construtor de Cravos, Bartolomeo Cristofori criou o que, primeiramente, foi chamado de Cravo que faz o piano ( suave , em italiano) e o forte . Passou-se, então, a chamar o estranho objeto de Fortepiano . Piano Bartolomeo Cristofori preservado do Século XVIII. O Fortepiano de Cristofori demorou um absurdo de tempo para " pegar ". Acho que principalmente por três motivos . ( 1 ) Instrumentistas e compositores eram muito apegados ao Cravo , tendo passado a vida o desvendando e fazendo o máximo dele . Não entendiam , no começo, que poderiam reaproveitar tudo do Cravo no Fortepiano ; ( 2 ) acho que demoraram a ver as novidades que o novo instrumento permitia ; ( 3 ) e o Fortepiano , maior e mais complicado que o Cravo , era caro . Em 1711 , uma simples crítica em um jornal veneziano chamou atenção para o instrumento . Mas o modelo de Cristofori ainda era incipiente , precisava evoluir . Uma evolução veio através do pedal abafador , invenção do próprio Cristofori, que suprimia algumas cordas (cada tecla tocava 2 ou 3 cordas - com este pedal, apenas uma, reduzindo a potência do som) para que a nota saísse mais suave . Em 1730 , com apoio do rei Frederico II , da Prússia , o luthier Gottfried Silbermann trouxe o Fortepiano para o território germânico , montando uma fábrica em Friburgo . E criou mais uma evolução : o pedal de sustentação . Você pressiona uma nota (ou quantas quiser) e tira o dedo da tecla , caso mantenha o pedal pressionado , a nota continuará soando . Não é possível explicar satisfatoriamente o quanto essa invenção revolucionou não só o instrumento , mas a música . Só uma curiosidade . Em 1736 , Johann Sebastian Bach tem a oportunidade de experimentar um Fortepiano Silbermann . E detesta , principalmente pela fraqueza do som nos agudos e pela ação muito pesada do teclado . Era um dentre milhares de instrumentos que Bach sentara para testar. Mas em 1747 , Bach visita o rei Frederico II , em Potsdam . O rei tinha vários Fortepianos , tanto de Cristofori quanto de Silbermann (que tinha ajustado o seu ao analisar com mais minúcia o modelo do colega italiano ). Nessa ocasião, Frederico II , acompanhado de Carl Philipp Emmanuel Bach , filho do grande mestre e também compositor e tecladista , músico da corte de Frederico II , ofereceu a Bach o " Tema do Rei ", um tema belo , mas especificamente complicado para fazer contraponto . E era justamente para testar as habilidades contrapontísticas de Bach que o tema fora pensado (alguns estudiosos sugerem que quem, de fato, compôs o Tema , foi CPE Bach , pois é bastante complexo e bem acabado - era uma armadilha bem-humorada para seu pai ). Bach sentou, justamente, ao Silbermann e improvisou uma Ricercare a 3 vozes (uma Fuga a 3 vozes ), para admiração de todos . O rei , então, pede que Bach improvise uma a 6 vozes . Mas Bach , aos 62 anos , disse estar muito cansado (não tivera tempo de descansar da viagem ). Duas semanas depois , já em casa, em Leipzig , o compositor envia ao rei uma peça milagrosa sobre a qual falarei aqui , em breve: " Uma Oferenda Musical ". Ela abre com o " Tema do Rei " tocado da maneira que o Rei havia lhe entregue , tem, segue com o Ricercare a 3 vozes que ele havia improvisado , o Ricercare a 6 vozes tal como o rei havia pedido , vários cânones , e a Sonata sopr'il Soggetto Reale ( Sonata Sobre o "Tema do Rei "), um trio sonata que inclui a flauta , instrumento que Frederico II tocava muito bem . Tudo composto sobre o " Tema do Rei ". E Bach rasgou elogios ao Fortepiano Silbermann , dando sua completa aprovação . Fortepiano de Gottfried Silbermann, de 1749. Apenas nos anos 1760 o Fortepiano iria suplantar o Cravo de vez. Tanto que Mozart nascido em 1756 , mas era um prodígio , provavelmente escreveu para Cravo os 3 Concertos para Teclado K. 107 . Estes nem mesmo são contados entre os 27 Concertos para Piano dele. O sucessor de Silbermann , seu aluno Johann Andreas Stein , de Augsburgo foi muito elogiado e seus Fortepianos , aparentemente, venderam muito . O martelo viajava pouco e produzia um som potente . Isso também permitia que a ação do teclado , chamada de " Ação Vienense " fosse muito leve (ação é, basicamente, a força com que se tem que tocar a tecla ), permitindo velocidades ( andamentos ) aceleradíssimas com pouco esforço . E os compositores foram começando a usar as novas possibilidades . Uma novidade era que o Fortepiano tinha expressão , podia fazer fraseados . Por exemplo, a famosa " frase em forma de arco ", ideal de tantos músicos - a frase começa suave , cresce , torna-se mais forte , decresce e termina suave . No novo instrumento era possível , ao contrário do Cravo . Com o pedal de sustentação você podia, por exemplo, tocar uma nota grave , com bastante força , segurá-la com o pedal e ir com as duas mãos para a parte mais aguda do instrumento . Nesse caso, você tem um efeito interessante , porque enquanto toca o que quiser com as duas mãos , a nota grave permanece soando . Isso vai fazendo a própria música evoluir e se transformar . Uma boa parcela da responsabilidade pelo surgimento da Música Romântica é do Fortepiano , não tenham dúvida disso. Inclusive, o potencial era tamanho que só foi explorado ao máximo no Romantismo . O Fortepiano começou a ser usado em recitais solo e, principalmente, nos recém inventados Concertos para Piano e Orquestra . Mozart , o principal compositor do formato escreveu 21 ! Desde os 17 anos até o último ano de sua vida . O mais comum é vermos caixas de CD com os 27 Concertos para Piano de Mozart . Acontece que os 4 primeiros são, em grande parte, exercícios , transcrições de sonatas de outros compositores . Até mesmo quem grava o ciclo inteiro não costuma gravar esses 4 . O 7º é um Concerto para 3 Pianos e o 10º , para 2 . Os outros , todos, são gravados com grande frequência e também aparecem nos programas das salas de concertos o tempo todo. E sim , existem caixas com os 27 Concertos de fato! Alguns exemplos de quem gravou todos os 27 : Murray Perahia , tocando Piano e regendo a E nglish Chamber Orchestra; Vladimir Ashkenazy, também tocando e regendo a Orquestra Philharmonia; Karl Engel (Piano), Leopold Hager (maestro) , Mozarteum Orchester Salzburg . E temos também gravações em instrumentos da época , inclusive o Fortepiano : Malcolm Bilson ( Fortepiano ), John Eliot Gardiner (maestro) e a English Baroque Soloists , Jos van Immerseel ( Fortepiano e regência) com a orquestra Anima Eterna . Vou deixar vídeos do YouTube de uma versão moderna e uma das de época . Murray Perahia tocando Piano e regendo a English Chamber Orchestra (Concerto Nº 20 ): Christopher Hogwood regendo a Academy of Ancient Music , com Robert Levin ao Pianoforte (Concerto Nº 15 ): Considerações finais de agora A música do classicismo é aquela com que você tem mais possibilidade de esbarrar por aí, num desenho animado numa propaganda de qualquer coisa. Por futilidade , mas não dela . Para se acostumar, escute a lista abaixo . Vai adorar . - Joseph Haydn - Sinfonias nosº 45 , 92 , 99 . - Wolfgang Amadeus Mozart - Sinfonias nosº 25 , 29 , 30 , 31 . - Wolfgang Amadeus Mozart - Concertos para Piano nosº 19 , 20 , 21 , 23 , 24 , 25 e 27 . Exemplos de Gravações No começo do Movimento HIP (Interpretações Historicamente Informadas) tínhamos poucos conjuntos dedicados exclusivamente a gravar Mozart e Haydn : eram, na Inglaterra , a Academy of Ancient Music , dirigida por Christopher Hogwod e, na Bélgica , a Anima Aeterna Brugge , com Jos van Immerseel . Mesmo assim, estes e outros compositores pós barrocos eram domínio das orquestras de câmara - conjunto um pouco menor que o sinfônico e de sonoridade mais seca . É aos Conjuntos HIP e Orquestras de Câmara que essa postagem se dedicará . - Wolfgang Amadeus Mozart - Concertos para Piano nos. 23 e 22 - Com Academy of Acient Music , regida por Christopher Hogwood e Robert Levin ao fortepiano - De todos os concertos de Mozart, o que melhor ressoa no fortepiano é o 23 . Obra doce , cálida, mas com momentos intranquilos , assombrados . Os HIP nos mostram que era comum que o compositor / pianista (geralmente eram o mesmo) tocasse com a orquestra na introdução desta (fazendo nada demais, uns arpejos, escalas, células temáticas que já apareceram...). O toque de cada um desses instrumentos exige uma técnica , para nós, nova , especialmente para afinar . - Wolfgang Amadeus Mozart - Serenatas para Sopros " Gran Partita " , em Mi Bemol , em Dó Menor e Divertimentos - Se você quer ver a escrita para sopros de Mozart (excetuando-se a flauta), comece pela famosa " Gran Partita ". O som poderoso e interessante dos sopros clássicos está todo aqui. A " Gran Partita " é escrita para 2 Clarinetes , 2 Oboés , 4 Trompas , 2 Basset Horns , 2 Fagotes e 1 Contrabaixo (ou Contrafagote ). E muito bem escrita . Seu terceiro movimento lança a teoria do Universo Derretido , em que tudo se derrete , no fim . O sexto movimento ( Tema Con 6 Variazioni ) é o melhor para você conferir a sonoridade da orquestra. E o 7º , Finale , Tem o mesmo vigor dos finales de suas sinfonias de juventude. - Joseph Haydn - Sinfonias nos. 92 , 93 e 97 a 99 - Sinfônica de Londres , com Colin Davis na regência. A Sinfonia nº 92 , apelidada de " Sinfonia Oxford ", é um trabalho genial . É quando você percebe que, mesmo repetitivo , austero e um tanto frio , Haydn era mesmo um gênio . Ouvir a Sinfônica de Londres (Clique. Não vou mentir, uma das melhores do mundo ) é um alívio . O maestro Davis está certeiro , repare no tom da alternância de humores do segundo movimento da Sinfonia Nº 93 . A Sinfonia nº 98 pode ser considerada alto romantismo . - Mozart - Concertos para Piano nos . 20 e 21 - Anima Aeterna Brugge , com Jos van Immerseel na regência e ao pianoforte - Jos van Immerseel , embora dispusesse de um fortepiano de som menos agradável que o de Robert Levin , tinha um senso de dramaticidade mais apurado. Prova disso é a sua leitura do Concerto nº 20 , considerado um dos mais amargos de Mozart . - Mozart - Concertos para Piano nos. 20 e 21 - Orquestra de Câmera Inglesa , com Jeffrey Tate na regência e Mitsuko Uchida ao piano - Os mesmos concertos da indicação interior , mas em uma interpretação moderna . Mitsuko não toca quando o piano não está anotado . O som da orquestra , sobretudo das cordas , é muito mais aveludado . Você decide qual prefere . - Mozart - Sonatas nos 11 e 14 e 2 Fantasias - As Fantasias de Mozart , essas duas, em específico, estão entre as obras mais assombrosas do repertório pianístico . Não há nada igual à sua retratação fúnebre e obscura da mente do compositor . As duas sonatas estão entre as mais conhecidas . Maria João Pires incluiu a nº 14 , igualmente arrepiante , mesmo que pelo simples fato de ser em tom menor , e a famosíssima nº 11 , que inclui o Rondo alla Turca . Maria João, para variar, está incrível . Comente ! Veja, no link abaixo , uma lista organizada de nossas postagens . Links para postagens anteriores ! Aguarde pela Parte 2 dessa postagem E muito boa noite !

  • Classicismo - Os Períodos da Música IV - Parte II

    Por Rafael Torres Sempre gostei do classicismo . Tenho que confessar que isto é verdade graças ao Movimento HIP . O primeiro disco que me fez apaixonar pela música de Mozart , era um de Christopher Hogwood regendo a Academy of Ancient Music e o clarinetista Anthony Pay e o oboísta Michel Piguet . Eu quase rasguei aquele disco (de tanto escutar, o CD vai perdendo a camada de informações , no que a gente chama de rasgar). Hoje, tenho uma caixinha com três CDs com todos os Concertos de Mozart para instrumentos de sopro , por Hogwood: o 1º dos para Flauta (o segundo é uma cópia em Dó Maior do Concerto para Oboé ), o para Oboé , o para Fagote , os 4 para Trompa , o para Flauta e Harpa e o majestoso e último concerto de Mozart - para Clarinete . Não pretendo encerrar essas questões: sobre os períodos da música erudita europeia . Na faculdade, temos semestre após semestre de história da música , e ainda somos estimulados a comprar (ou, digamos, "refabricar") um Grout/Palisca , livro fundamental, que custa (digamos) o dinheiro da merenda de um ano . Até pra fazer a fotocópia é caro, porque são milhares de páginas . Joseph Haydn, o pai da Sinfonia. Mas eu recomendo , se você quiser se debruçar sobre este assunto tão fascinante : A História da Música - Otto Maria Carpeaux , que todo mundo vai te dizer para não levar a sério (e você vai se pegar pensando " Por que estou lendo um livro que não devo levar a sério? Maldita Arara! "), mas é um excelente primeiro passo ; A Vida dos Grandes Compositores - Harold C. Schonberg - Perceba, não há nenhum parentesco com o compositor Arnold Schönberg . Também é uma ótima iniciação , focando em biografias de dois ou três compositores por capítulo. Fundamental , assim como todos os livros dessa lista ; Música Impopular - Júlio Medaglia , maestro brasileiro que vai te contar sobre o início da música moderna , desde Eric Satie , Debussy , Ravel , Stravinsky , até a música de cinema que era feita na época em que escreveu o livro. A Sagração da Primavera - Modris Eksteins , também é um livro episódico , em que o autor vai nos contar o Século XX a partir da noite de 29 de maio de 1913 , em que foi estreado um balé com música de Igor Stravinsky que mudaria não só a música , mas o mundo . E os sérios , para quem quer entender mesmo a evolução da música . História da Música Ocidental - Jean e Brigitte Massin - Quando você vir no título " Música Ocidental ", é porque é sério . Eles já passaram pela discussão da música clássica ser um fenômeno ocidental e, até o século XIX , eurocêntrico . E vão nos contar, na melhor das suas possibilidades , sobre essa música , que é riquíssima e que nos ajuda a compreender a história do mundo . História da Música Ocidental - Donald J. Grout e Claude V, Palisca - " O Palisca "... Na faculdade, era o mais recomendado (caro demais para ser exigido). Lembro de perguntar à mamãe, que também cursou música na UECE : "Mãe, tem um Palisca aí ?". E ela tinha. Acho que tenho até hoje . Ele já foi atualizado e ampliado , inclusive pelo Grout , e se mantém como nossa fonte mais confiável sobre a música . O croata Palisca morreu em 2001 . Sturm und Drang Pois bem. Até agora, temos uma música completamente pacata e inofensiva . Temos a música de câmera ( trios , quartetos e quintetos ), a música para piano ( sonatas , rondós e variações ), a orquestral ( serenatas , Mozart fez muitas, sinfonias e concertos ), música sacra (Haydn: As Últimas Palavras de Cristo na Cruz ; Mozart: Grande Missa em Dó Menor e o Réquiem ) e ópera (as mais conhecidas são de Mozart: Don Giovanni , A Flauta Mágica etc.). Entre 1760 e 1780 o mundo Germânico se vê tomado por um movimento artístico diferente. Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), que preconizava que, nas artes , o individualismo , as lutas internas , enfim, o ser humano e, especialmente, seus arroubos sentimentais deveriam prevalecer. Em 1776 , o dramaturgo Friedrich Maximilian Klinger publica uma peça sobre a Revolução Americana . Concorda-se, em geral, que já havia música e literatura nesse espírito desde, pelo menos 1760 . Mas é com a montagem da peça , no ano seguinte que se tem um marco histórico bem definido. O movimento foi liderado por Johann Wolfgang von Goethe , na literatura e teve em Mozart (especialmente na Sinfonia Nº 25 , em Sol Menor ) um grande representante (ainda que se busque afastar dele a influência do Sturm und Drang e atribuir essas mesmas características à música de Viena , em sua época) na música . Ouso acrescentar que este movimento , em pleno classicismo , já era um aceno ao romantismo , essencialmente do século seguinte (o XIX ). E os tempos estavam ficando violentos . A revolução francesa conduziu muitos aristocratas para a forca . Mozart, que, em 1781 mudara-se para Viena a fim de tornar-se o primeiro compositor free lancer , isto é, não empregado a uma corte , da Europa. Pode-se dizer que não conseguiu , mas agora, em 1791 , no último ano da sua vida , temos motivos para crer que isso ia mudar . Não fosse a doença , a morte e os acontecimentos desta postagem . Parêntesis para Beethoven Em 1787 visita Viena um jovem de Bonn , chamado Ludwig van Beethoven , e lá passa duas semanas , a fim de falar com Mozart e, possivelmente, ter aulas com ele. Não se sabe se esse encontro aconteceu . Por Bonn , em 1790 , temos a passagem de Haydn , que ouve o jovem tocar e se compromete a lhe dar aulas , quando voltasse de Londres . Beethoven vai de vez para Viena em 1792 e tem aulas por correio de Contraponto com Haydn , violino com Ignaz Schuppanzigh e de composição de ópera italiana com Antônio Salieri (habilidade que ele jamais usaria , mas sua relação com Salieri continuou boa até, pelo menos, 1812 ). Assim que chega a Viena, Beethoven fica sabendo da morte do pai (Nota mental: escrevi Morte do Pai iniciando em maiúsculas. Que será isso?). Fica de saco cheio de ser comparado a Mozart e apontado como o " próximo Mozart ". E, a partir de 1795 , ele se torna de fato o primeiro músico free lancer . Arranjava um fim de semana num teatro , sentava-se ao piano , improvisava e tocava músicas recém publicadas . Existem 3 Beethovens em um só. O primeiro era esse do período clássico . São composições dos anos 1790 , como os dois primeiros Concertos para Pianos , as duas primeiras Sinfonias , os três primeiros Trios com Piano , os primeiros 6 Quartetos de Cordas e as primeiras 12 Sonatas . Em todos eles, Beethoven experimentava e expandia as possibilidades musicais . Por exemplo, ele começou a usar, no terceiro movimento, o Scherzo , em vez do Minueto . Seu Scherzo podia bem mais. Enquanto o Minueto era " para relaxar ", o Scherzo aproveitava para ser música , com conteúdo e força próprias. Praticamente todos os compositores que vieram depois de Beethoven usaram, no terceiro movimento das suas sinfonias ou sonatas , um Scherzo . O tal Scherzo , de que falo, começou assim: como uma forma de Beethoven não pausar o fluxo de raciocínio da música e, simplesmente, dar continuidade a este. Vocês podem perguntar : mas não é melhor retirar o Scherzo ? Não . O Minueto , às vezes, sim , mas o Scherzo contém elementos essenciais no discorrer da música. A palavra significa brincando . Vejam abaixo o denso Scherzo da 9ª Sinfonia de Beethoven . Claro que não vão compreender o Scherzo sem antes ouvir o Minueto e desconhecendo o restante da obra . No vídeo abaixo, o Minueto está aos 14m16s . Sendo de Mozart , claro que é interessante , mas não essencial . Ouça , abaixo, um verdadeiro Scherzo de Beethoven incorporado à Sinfonia . Trata-se da 3ª Sinfonia , apelidada de " Eroica ", dele. O Scherzo começa aos 32m02s . Só isso já nos mostra o quanto o compositor lutava para " educar " o público em Viena . Aos 30 minutos , a Sinfonia de Mozart e Haydn está dando seus acordes finais . Ou os deu há 5 minutos . Na prática, um Scherzo é um movimento um tanto mais rápido que o Minueto e, assim como este, contém as partes A - B - A , sendo B chamada de Trio (isso porque, geralmente, mesmo hoje em dia, o trio , quando não é tocado por três instrumentos da orquestra , dá a sensação de que sim , pois são três vozes ). Antes que eu me esqueça , os outros dois Beethovens são do romantismo . Fecha Parêntesis para Beethoven Outros compositores importantes do Classicismo Carl Philipp Emanuel Bach - O segundo filho de Bach e Maria Barbara foi um dos compositores mais famosos da Europa na era do Classicismo . Era prolífico , especialmente em composições para teclado , em Trio-Sonatas (que Haydn transformaria em Trio com Piano - Violino , Violoncelo e Piano ) e sinfonias . Karl Philipp passou por tudo. Teve educação musical barroca , com contraponto , as formas barrocas , etc., sobreviveu à passagem do Estilo Galante , tornou-se um importante compositor do classicismo e ainda observou a interferência do Sturm und Drang . Johann Christian Bach - Esse era o caçula de Bach com sua segunda esposa, Anna Magdalena . O " Bach Inglês ", porque foi na Inglaterra que sua carreira atingiu seu ápice , enquanto seu irmão Carl Philipp Emanuel era o " Bach de Berlim " e, posteriormente, o " Bach de Hamburgo ", quando recebeu de Telemann , seu padrinho (lembram dele?) o cargo de Kapellmeister de Hamburgo . Gioachino Rossini - Nascido já no final do período clássico , Rossini meio que se recusou a ser um compositor romântico , com suas óperas , aberturas e música de câmara , que mais pareciam Haydn . Além disso, o compositor Bolonhês morava na Fran ça, meio alheio às inovações de Beethoven . E, em seus últimos quarenta anos como compositor , misteriosamente, não escreveu uma ópera sequer . Christoph Wilibald Gluck - Compositor alemão de ópera Francesa e Italiana . Compositor de Orfeu e Eurídice , Iphigénie en Aulide e Armide , era realmente muito conhecido na época. Hoje, suas óperas ainda são montadas . Mas correu para fora das casas de Ópera sua obra ( minúscula ) mais conhecida . Veja a Melodie , de Orfeu e Eurídice , transposta para piano por GIovanni Sgambati , compositor e pianista Italiano que viveu entre os séculos XIX e XX . Luigi Boccherihni - Contemporâneo de Mozart . É um dos maiores contribuidores , no Classicismo, para a ascensão do violão . Embora pouco tenha escrito para o instrumento como solista , escreveu vários quartetos e quintetos para violão e cordas . Sua obra mais conhecida , porém, é um concerto para Violoncelo , inicialmente alterado pelo violoncelista alemão Friedrich Grützmacher . Recentemente, foi, através de pesquisa musicológica , restaurado à sua versão original . Carl Ditters von Dittersdorf - Este compositor , violinista e silvicultor austríaco era amigo de Mozart e Haydn . São conhecidas suas sinfonias 1-6 " Sobre as Metamorfoses de Ovídio ". A Primeira Escola de Viena Primeira escola de Viena é um nome extremamente problemático que teimam em atribuir ao trio Joseph Haydn , Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven . Problemático porque não é " Primeira " nada e não é " Escola " nada. Quando vemos o nome original , no alemão , minha revolta diminui (um pouco). Wiener Klassik . Música Clássica Vienense . Tudo bem. Mas e o restante da música que era feita em Viena no mesmo período ? Além do mais, Haydn foi o único que, com toda a certeza , conheceu os outros dois . O termo " Primeira " veio quando apareceu a " Segunda ", com os compositores Arnold Shoenberg , Alban Berg e Anton Webern , já no começo do século XX . Quer ler a minha opinião sobre estes ? Leia ! Então , você está chamando de Primeira Escola Vienense algo que de " Primeiro " só tinha Beethoven (foi o único revolucionário do trio), que, de " Escola ", não tinha nada (posso garantir que quase nenhum dos três pretendia mudar a maneira com que se fazia música na Europa ). E, ainda, que nenhum era nascido em Viena . Haydn sequer morava lá. Mozart = Salzburgo , Haydn = Rohrau e Beethoven = Bonn (este era da Alemanha ). Me parece coisa que você diz se quiser se passar por espertinho . Tipo: "Ai, a Segunda Escola Vienense me parece tão tediosa , se comparada à Primeira !" "Ai, a Primeira Escola Vienense me parece tão tediosa , se comparada à Segunda !" Ou seja, linguajar de crítico ! Ou seja, frescura ! Dessa vez você vai entender a diferença entre interpretação moderna (ou romântica) e interpretação histórica Primeiro, ouça a gravação de um trecho do Réquiem de Mozart (o Rex Tremendae ) pelo maestro Karl Bohm , com a Filarmônica de Viena , coro e solistas . Agora vamos ouvir a mesma música tocada à maneira de Interpretação Histórica , pela Orquestra e Coro Academy of Ancient Music , Coro da Catedral de Westminster e solistas . Percebeu? No segundo vídeo a música é muito mais seca , lépida , ritmada . Há menos instrumentos , as dinâmicas (do pianíssimo ao fortíssimo) são apresentadas de outra maneira , O que mudou? Qual delas prevaleceu? Os pregadores da interpretação histórica não têm do que reclamar . Há muitas orquestras com " instrumentos de época " por aí. E além disso eles intimidaram os grandes maestros , que já não tocam muito Música Barroca , a maneirar na Música Clássica . Não exagerar nos rubatos (rubato é uma espécie de freada que a música dá, seguida de uma aceleração . Ela está na partitura , é um desejo do compositor , mas exagerar é considerado de mal gosto .), adotar articulações claras e pedir menos instrumentos para obras mais antigas . O resultado é que tanto há espaço para músicos de interpretação histórica quanto nas grandes orquestras sinfônicas se vê um esforço para adotar algumas mudanças , ao tocar música Barroca ou Clássica . O maestro Claudio Abbado foi um gigante que admirava muito os teóricos HIP , como Nikolaus Harnoncourt . Por outro lado, o próprio Harnoncourt gravou obras românticas , como Sinfonias e Poemas Sinfônicos de Antonín Dvořák . Veja como Abbado , regendo a Filarmônica de Berlim , coro e solistas, faz uma interpretação que pende para o HIP (mesma obra, mesmo trecho). Música de Transição? Certamente . Pode-se enxergar dessa forma. Principalmente porque o Classicismo não ocorreu em outras áreas . Na literatura , por exemplo, fala-se em: Primeira Maturidade (Séculos XV a XVIII ), Segunda Maturidade (Séculos XVIII a XX ) e, em português, existe até o arcadismo , que corresponde temporalmente mais ou menos ao Classicismo . Mas não existe um movimento na pintura , na arquitetura ou na literatura que tenha todas as características do classicismo. Verdade que todas as artes se voltaram novamente àquele ideal de limpeza e inteligibilidade absurdas da Antiguidade Grega . Foi, também, o que a música fez . Removeu os ornamentos e as camadas ricamente elaboradas da música barroca e era capaz de existir apenas com uma linha melódica e um acompanhamento . E foi uma transição rápida como nunca tinha se visto. Lembram da idade média ? Em que os séculos se passavam sem que nada evoluísse ? Da música renascentista ? Aqui, não. Em 50 anos, graças a Mozart , Haydn e Beethoven , já estávamos no romantismo , que corresponde quase que perfeitamente ao Século XIX . Quando Mozart morreu , em 1791 , ia nos deixando o Réquiem , obra que, a meu ver, se ele tivesse completado seria romântica . Haydn compôs 12 sinfonias enquanto estava em Londres , incluindo a sua última, 104ª , " London ". Em suas últimas obras , Haydn começa a usar o Scherzo . Ouça o Scherzo da Sonata em Fá Maior , executado por uma IA . Página Inicial do Manuscrito da Sinfonia Nº 104, "London", de Joseph Haydn. Vou lhes deixar com uma playlist do período Clássico e nos vemos no Romantismo , com personagens fantásticos como Beethoven , Carl Maria von Weber , Hector Berlioz , Robert e Clara Schumann , Franz Schubert , Johannes Brahms , Felix Mendelssohn-Bartholdy e muitos outros. Gravações recomendadas - Beethoven - Concertos para Piano nos. 1 e 2 - Com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara , regida por Kurt Sanderling , com Mitsuko Uchida ao piano - Foi lançado em 1998 como parte de uma integral dos concertos para piano de Beethoven (são 5 ). Uchida e Sanderling se dão o luxo de alternar entre duas das maiores orquestras do mundo , a da Rádio Bávara ( Concertos 1 , 2 e 5 ) e a do Concertgebouw de Amsterdam ( Concertos 3 e 4 ) - Haydn - Name Symphonies - Com a Orquestra Haydn Austro-Húngara regida por Ádam Fischer . Haydn escreveu 104 ou mais sinfonias. Se voçê está começando agora, ou está atualizando sua paixão pela música erudita, é um bom começo conhecer as 31 que têm nome . No futuro você ouvirá músicos se queixando que uma certa obra não é muito tocada porque não tem nome , etc. Aí você responde : " Mas 104 , né meu amigo? TInha que começar de alguma maneira ". Ao contrário de Mozart , cujas sinfonias só são tocadas, no máximo, a partir da 21 até a 41 , as de Haydn vêm perfeitinhas desde a Nº 1 . Sem sinfonias de exercício . A interpretação de Ádam Fischer , irmão do também maestro Iván Fischer , é na medida certa , quase irrepreensível , especialmente se você compará-la à versão meio Nutella da Academy of St. Martin in the Fields com Neville Marriner . Esta coletânea , extraída do empreendimento de Fischer e sua orquestra de gravar todas as sinfonias de Haydn , é de 2007 . - Haydn - 11 Sonatas - Por Alfred Brendel - DIsco quádruplo do mestre Alfred Brendel , de 1986 , trata-se de uma coletânea , um amálgama de três discos gravados entre 1979 e 1985 . As sonatas de Haydn , assim como as sinfonias , são especiais . Diferente de Mozart , que usa pura musicalidade , Haydn lhe mostra como cada compasso foi obtido com trabalho e aplicação de teoria . Nem por isso são menos interessantes . E Brendel tocando... Melhor que ele, só Alexis Weissenberg , nesse repertório, mas Alexis gravou apenas 3 sonatas . - Mozart - Sonatas para Piano Nos. 16 e 15 e Rondó em Lá Menor - Por Mitsuko Uchida . A rainha pianística de Mozart . 16 e 15 , coloquei, porque é como vem no álbum . O toque sutil e, ao mesmo tempo, envenenado da pianista devia ser congelado para a posteridade. Aliás, já foi : está neste CD e em qualquer outro dela. De 1984 . - Mozart - Concertos para Piano Nos. 20 e 27 - Mitsuko Uchida tocando e regendo a Orquestra de Cleveland . As peças mais ouvidas do classicismo são de Mozart . Das de Mozart, são os Concertos para Piano . Estes dois , que não lembro de ter visto juntos (geralmente é 20 e 21 ou 20 e 24 ), são absolutamente contrastantes . O 20 é uma das obras mais sombrias do compositor e um dos únicos em tom menor (o outro é o 24 ). É uma obra de tormenta e ameaça . O 27 , composto no último ano de vida de Mozart, é também seu último Concerto para Piano . Mitsuko , lembrem-se, é a maior intérprete de Mozart ao piano , tendo criado uma tradição . E regendo a Orquestra de Cleveland , revela-se uma excelente regente . Gravado em 2010 . - Carl Philipp Emanuel Bach - Sonatas & Rondos - Por Mikhail Pletnev . Pletnev ten 67 anos. Quando saiu a coletânea Great Pianists of The 20th Century , ele era um dos mais jovens . Foi em 1998-1999 , Logo depois, em 2001 , lançou este CD , todo dedicado à música para piano de CPE Bach . Hoje Pletnev mais rege do que toca - foi regente principal e é diretor artístico da Orquestra Nacional Russa , que ele mesmo fundou . As sonatas de CPE Bach são graciosas, pertencem ao estilo (outro) Empfindsamer Stil , ou Estilo Sensível , o que o levou a ser considerado um precursor do Romantismo . O disco contém 6 Sonatas e 3 Rondós , cada qual mais perfeito , mostrando-nos que CPE deveria desgarrar de J. S. Bach e se tornar um compositor de renome próprio . - Mozart - 4 Sonatas para Violino e Piano - Hilary Hahn (violino) e Nathalie Zhu (piano) - Mozart escreveu 36 Sonatas para Violino e Piano . Aqui temos a 24ª , a 18ª , a 21ª e a 35ª . A interpretação é impecável . A pianista segue os passos de Mitsuko Uchida , um toque suave e expressivo . Mas é ao violino que cabe o estrelato . A estadunidense Hilary Hahn é um dos maiores fenômenos do violino moderno . Ela chegou a gravar um Concerto para Violino do compositor, o 5º . Mas acho que seu testamento são estas sonatas . Disco de 2005 . - Mozart - Concerto para Clarinete - Anthony Pay (Clarinete-basset) e a Academy of Ancient Music , regida por Christopher Hogwood - Essa é a " mãe " de todas as interpretações do último concerto de Mozart. Não vou me delongar, porque estou preparando uma postagem sobre o concerto. Gravado em 1984 , lançado em 1986 . - Mozart - Réquiem - Colin Davis regendo a Sinônica de Londres , coro e solistas - Colin Davis, tenho impressão, é tratado como um regende de segunda categoria . Mesmo com seu repertório colossal e interpretações sempre surpreendentes . Portanto, é a minha indicação para uma interpretação moderna da obra mais importante do Século XVIII . Gravado ao vivo (mas sem aplausos) em 2008 . - Mozart - Requiem - Orquestra e Coro da Academy of Ancient Music , Coro da Catedral de Westminster , e solistas , regidos por Christopher Hogwood . Essa versão é covardia . É a minha favorita no estilo de interpretação historicamente informada (nome horrível). Hogwood adota uma prática da época em que mulheres não podiam cantar na igreja . Usam crianças . E é arrepiante (ainda que triste pelos séculos que viram mulheres como inferiores ), aquele começo difuso , pefeito , então entram os baixos , os tenores (homens), os contraltos e os sopranos (crianças). A voz delas e as técnicas de estúdio farão você se arrepiar . E, no meio do primeiro movimento , a voz mais angelical de todas: a soprano Emma Kirkby canta o " te decet hymnus ". Outra particularidade dessa gravação é que Hogwood não usa a partitura completada por Süssmayr . Ele usa uma edição do musicóloco e matemático Richard Maunder , que pretende ser o mais fiel possível a Mozart e acrescenta a fuga Amen , depois da Lacrimosa . Gravado em 1983 . Comente sempre ! Agradeço-os  pela visita. Por aqui, sintam-se em casa . Aqui , os links para as matérias da Araras Neon .

  • 10 Obras para Você Conhecer Chopin

    Esse formato é interessante para quem não tem um repertório muito grande. Vou falar de algumas das principais obras do compositor polonês Fryderyk Franciszek Chopin (1810-1849) ou Frédéric François Chopin , tradução que adotou quando se mudou para Paris. Chopin viveu pouco, chegou aos 39 anos , e sempre teve a saúde muito frágil. Sofria com tuberculose . Ele elevou o piano a um status antes inimaginado . Se Beethoven transformara o instrumento no veículo para as mais profundas expressões , Chopin (e Liszt e Schumann ) o daria recursos para que sua técnica fosse explorada ao máximo . Resume-se quase integralmente ao piano solo , a obra de Chopin. Além disso, temos peças com piano: os dois Concertos para Piano e Orquestra , outras obras concertantes para piano e orquestra, a Sonata para Violoncelo e Piano e pouco mais. Mas é uma obra respeitável e absolutamente encantadora . A obra canônica do compositor é a seguinte (onde não for especificado, é para piano solo): 2 Concertos para Piano e Orquestra 4 Baladas 4 Scherzos 4 Impromptus (o nome significa Improvisos, mas era música anotada) 3 Sonatas 26 e 1/2 Prelúdios 19 Canções Polonesas , para voz e piano 24 Estudos + 3 Novos Estudos 58 Mazurkas 21 Noturnos 23 Polonaises 19 Valsas 1 Sonata para Piano e Violoncelo 1 Trio para Piano, Violino e Violoncelo Algumas obras avulsas Veja 10 obras que o farão se encantar por Chopin . I. Concerto para Piano e Orquestra Nº 1 , em Mi Menor, Op. 11 (1830) Um jovem músico promissor se despede de seu país para ganhar a Europa ocidental . Para a despedida, ele compõe dois Concertos para Piano . Os dois poderiam ser citados aqui, mas vamos nos ater a um só. O primeiro , mais dramático e romântico . Seu primeiro movimento é de uma beleza trágica singular . Já o segundo movimento, é de uma paz quase libertadora . O finale tem ritmos e síncopes bem polonesas . O Primeiro Concerto foi escrito depois do Segundo , mas publicado antes, por isso ficou com o número 1. Ouça-o abaixo, na interpretação de Martha Argerich (piano), com a Orquestra Sinfonia Varsóvia , regida por Jacek Kaspszyk . Gravação recomendada - Nelson Freire ao piano, com a Orquestra Sinfônica NDR , regida por Heinz Wallberg II. Balada Nº 1 , em Sol Menor, Op. 23 (1835) Obs. A Balada Nº 4 também poderia estar aqui. Chopin compôs 4 Baladas (veja aqui) , que estão entre as suas obras mais adoradas. A primeira é de uma melodicidade cativante, e é uma peça muito poderosa. Ela aparece no filme " O Pianista ", de Roman Polanski , em uma cena arrepiante em que o pianista judeu Władysław Szpilman a toca para um oficial nazista. Com dois temas principais , que são levados às últimas consequências , é uma das obras mais importantes de Chopin. Abaixo, Seong-Jin Cho interpreta a Balada Nº 1 . Gravação recomendada - Maurizio Pollini III. Scherzo Nº 2 , em Si Bemol Menor, Op. 31 (1837) Os 4 Scherzos estão entre as peças mais virtuosísticas e difíceis de Chopin. Se considerarmos que os Estudos são obras para refinar a técnica de um pianista, os Scherzos , assim como as Baladas , partem do princípio de que a técnica do pianista já está bem acabada. O Scherzo Nº 2 é uma peça muito interessante, com suas perguntas e respostas (a frase inicial, em sotto voce , é uma pergunta, a seguinte, em fortíssimo, é a resposta). A seção central é mágica. Gravação recomendada - Nelson Freire IV. Sonata para Violoncelo e Piano , em Sol Menor, Op 65 (1847) A brilhante e melancólica Sonata para Violoncelo e Piano é uma das obras mais representativas da maturidade de Chopin (lembremo-nos que ele só viveu até os 39 anos). Ele já havia experimentado escrever para esses dois instrumentos juntos antes: uma Introdução e Polonaise Brillante e o Grand Duo Concertant . A Sonata é brilhantemente escrita tanto para o piano quanto para o violoncelo . Mas mais do que isso, é uma peça forte , um pouco doce e amarga , repleta de melodias maravilhosas . O curto movimento lento (III. Largo) é de uma delicadeza absurda. Gravação recomendada - Mstislav Rostropovich (violoncelo) e Martha Argerich (piano) V. Barcarola , em Fá Sustenido, Op. 60 (1846) A Barcarola é muito tocada, uma das peças mais conhecidas de Chopin. Barcarola é um ritmo musical , que imita o balançar de um barco. Para isso, usa uma métrica de três tempos (aliás, o compasso aqui é 12/8 , que é de 4 tempos, mas tem a intenção de três). É uma das obras de Chopin que se baseiam em poucos acordes , alternando, não raro, entre dois . Mas ele consegue construir melodias notáveis , além de uma narrativa, que parte de um cenário solitário , passa para um de triunfo e depois volta ao sossego . Abaixo, Daniil Trifonov interpreta a Barcarola . Gravação recomendada - Arthur Rubinstein VI. Fantasia em Fá Menor , Op. 49 (1841) Essa Fantasia , peça avulsa (Chopin não compôs outras fantasias), é incrível . Uma obra muito adorada pelos músicos, tem um caráter de improviso , mas um muito virtuosístico . Dentre as peças de 1 movimento apenas, talvez seja a mais longa , podendo durar cerca de 12 minutos . É uma música ambiciosa , com uma harmonia impecável . Gravação recomendada - Claudio Arrau VII. Noturno Nº 13 , em Dó Menor, Op. 48-1 (1841) É o meu Noturno favorito, e talvez o mais bem escrito . Ele se baseia todo nas notas Sol , Lá bemol , Sol. 3 notinhas no contratempo . Com esse minúsculo material , Chopin vai construindo uma obra tão bela e atormentada , que encanta todos até hoje. Escolhi a gravação de Alexis Weissenberg , porque, para mim, não há outra igual. Mas ela não é para todo mundo . No ápice da música ele exagera no drama. Acho que, às vezes, podemos nos permitir um pouco de vulgaridade . Escute também Claudio Arrau e Nelson Freire . Abaixo, Weissenberg toca o Noturno . Gravação recomendada - Alexis Weissenberg VIII. Fantaisie-Impromptu em Dó Sustenido Menor, Op. Póstumo 66 (1834) Chopin não gostava dessa peça. Achava uma imitação da Sonata Ao Luar , de Beethoven . Mas isso não a impediu de ser publicada depois de sua morte , e de se tornar uma de suas músicas mais conhecidas . Eu a incluo nesta lista porque a escrita para piano é simplesmente de tirar o fôlego . Temos que admitir, é uma peça muito bela . Gravação recomendada - Daniil Trifonov IX. 24 Prelúdios , Op. 28 (1839) Assim como Johann Sebastian Bach , muitos anos antes, Chopin empreendeu compor 24 Prelúdios , um em cada tonalidade (maior e menor). São miniaturas , alguns duram meros 30 segundos , mas abrangem uma gama de sentimentos e sensações imensa, além de toda a técnica pianística de então. Pianistas ganham prêmios (Grammy , Diapason D´Or , Gramophone ) por suas interpretações dos Prelúdios. Abaixo, uma interpretação impecável de Yuja Wang . Gravação recomendada - Martha Argerich X. Sonata para Piano Nº 2 , em Si Bemol Menor, Op. 35 (1839) Também a Sonata Nº 3 poderia estar aqui. Acontece que a Nº 2 é mais conhecida , especialmente pelo seu 3º movimento , que é uma Marcha Fúnebre , e é igualmente bem acabada . Do atormentado 1º movimento , com melodias marteladas , passamos para um Scherzo diabólico . O terceiro movimento é aquela Marcha Fúnebre que todo mundo conhece. O que nem todo mundo conhece é a beleza das suas frases internas , que trazem um alívio e uma calma tão esperados. O último movimento é um enigma , ninguém sabe por que Chopin escreveu uma música tão aparentemente sem sentido . Super ligeiro e curto , dura 1 minuto e meio. Abaixo, Yuja Wang interpreta a Sonata Nº 2 , de Chopin . Gravação recomendada - Mitsuko Uchida Escolha uma e insista nela. Fiz a playlist com as peças tocadas pelos pianistas recomendados. Está no Spotify . Daqui, você pode extrapolar e acabar se tornando um conhecedor profundo de Chopin. https://open.spotify.com/playlist/4sXUHRJGEkdtKfriQtKp7G?si=7d5f7ddbf3b64804 Ou, se quiser (e puder), escute abaixo : E, como sempre, o encorajamos a comentar . Nosso dever é difundir a música clássica , e não sabemos exatamente se estamos conseguindo . Às vezes parecemos rádio-amadores , transmitindo para as galáxias (possivelmente) solitárias . Seu comentário faria muita diferença. Pode ser de pirraça, de elogio, de desabafo, de conversa. O que for. Agradecemos. Algumas postagens importantes . Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia . Um "pequeno" Glossário de termos musicais . Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica Vamos Entender a Orquestra Sinfônica Música Clássica é Elitista ? Preconceito Contra Música Clássica O Movimento HIP (Interpretações Historicamente Informadas) César Franck, o Aluno dos seus Alunos Rachmaninoff ou Rachmaninov? Como se pronuncia e escreve? Música Calada, A Arte de Federico Mompou As Melhores Orquestras do Mundo : Vol. 1 - Filarmônica de Berlim Vol. 2 - Orquestra do Concertgebouw, Amsterdã Vol. 3 - Filarmônica de Viena Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires , postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas , do Blog Pianíssimo ( www.pianissimo.ovar.info ). Perfil da violinista francesa Ginette Neveu , falecida aos 30 anos em um acidente de avião , em 1949 . Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire , considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021 . Veja também: Músicas Fofinhas 1 - Humoreske , de Dvořák Músicas Fofinhas 2 - Melodia de Orfeu , de Gluck/Sgambati Músicas Fofinhas 3 - Pavane pour une Infante Défunte , de Ravel Músicas Fofinhas 4 - Caixinha de Música Quebrada , de Villa-Lobos Músicas Fofinhas 5 - Fantasia Tallis , de Vaughan Williams Músicas Fofinhas 6 - Abertura Tannhäuser, de Wagner Músicas Fofinhas 7 - Rêverie , de Debussy E veja nossas famosas listas: - As Maiores e Mais Belas Sinfonias Já Escritas - Top 10 Maiores Pianistas do Brasil - Top 10 Sinfonias Imprescindíveis - Outro Top 10 Sinfonias a se Conhecer - Top + 10 Sinfonias para Escutar Sem Erro - Top 15 Sinfonias Injustiçadas - Top 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top + 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria - Top 10 Sonatas que Você tem que Conhecer - Top 10 Concertos Para Violono - Top 10 Concertos para Piano - 10 Discos para Entender Beethoven - 10 Discos para Entender Mozart - 10 Discos para Entender Villa-Lobos - Top 10 Música Clássica de Terror - Top 10 Maiores Orquestras Sinfônicas dos EUA - As 20 Maiores Orquestras do Mundo - Alguns dos Maestros Mais Importantes do Século XX - Top 10 Gravações do 1º Concerto para Piano de Brahms - Top 10 Gravações do 2º Concerto para Piano de Brahms Música Popular Brasileira: Top 10 Discos de Chico Buarque Top 10 Discos de Tom Jobim Top 10 Discos de João Gilberto Top 10 Discos de Edu Lobo Top 10 Discos dos Beatles 7 Discos Fora da Caixinha + 7 Discos Fora da Caixinha ++ 7 Discos Fora da Caixinha E análises de obras - Bach - Chaconne em Ré Menor - Mozart e seus milagres - Réquiem - Mozart e seus milagres - Concerto para Flauta, Harpa e Orquestra - Brahms - Sinfonia Nº 1 - Brahms - Sinfonia Nº 2 - Brahms - Sinfonia Nº 3 - Brahms - Sinfonia Nº 4 - Brahms - Concerto para Piano Nº 1 - Brahms - Concerto para Piano Nº 2 - Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Elgar - Variações Enigma - Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta - Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras nº 2 - Chopin - Os E studos - Chopin - As Baladas - Chopin - Os Scherzos - Chopin - Os Prelúdios - Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" - Beethoven - Sinfonia Nº 5 - Beethoven - Sinfonia Nº 6 "Pastoral" - Beethoven - "Sinfonia Nº 10" (Completada por Inteligência Artificial) - Beethoven - O Concerto para Violino - Beethoven - Os Concertos para Piano - Berlioz - Sinfonia Fantástica - Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Pathétique" - Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Dvorák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" - Dvorák - Concerto para Piano - Debussy - Prelúdio para a Tarde de um Fauno - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 1) - Debussy - Os Prelúdios para Piano (Livro 2) - Debussy - Les Chansons de Bilitis - Dukas - La Péri - Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - Holst - Os Planetas - Honegger - Sinfonia Nº 2 - Mendelssohn - As Hébridas (A Gruta de Fingal) - Mussorgsky - Quadros de Uma Exposição - Penderecki - Trenodia para as Vítimas de Hiroshima - Rachmaninoff - Concerto 1 - Rachmaninoff - Concerto 2 - Rachmaninoff - Concerto 3 - Rachmaninoff - Concerto 4 - Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos - Ravel - Concerto para Piano em Sol - Ravel - La Valse - Ravel - Bolero - Ravel - Daphnis et Chloé (Suíte Nº 2) - Steve Reich - Música para Pedaços de Madeira - Richard Strauss - Sinfonia Alpina - Schubert - Quarteto Nº 14 "A Morte e a Donzela" - Schumann - Estudos Sinfônicos - Stravinsky - A Sagração da Primavera - Villa-Lobos - As Bachianas Nº 3 Compreendendo o Maestro : Parte 1 - História Parte 2 - Pra Que Serve? Parte 3 - Curiosidades Saiba, aqui, tudo sobre os Argonautas , um quarteto de MPB Clássica e Contemporânea Autoral Cearense . Papo de Arara (Entrevistas) Hermes Veras, poeta e antropólogo Liduino Pitombeira, compositor cearense Leonardo Drummond, da Kuba Áudio Luiz Cláudio Ramos, músico (violonista e arranjador) Verônica Oliveira, faxineira hipster Daniel Pirraça, designer de jogos Yandra Lobo Júlio Holanda Gidalti Jr., quadrinhista Emmanuele Baldini, violinista e regente E, como sempre, o encorajamos a comentar . Nosso dever é difundir a música clássica , e não sabemos exatamente se estamos conseguindo . Às vezes parecemos rádio-amadores , transmitindo para as galáxias (possivelmente) solitárias . Não esqueça de comentar!

  • Renascença (parte 2) - Os Períodos da História da Música II

    Por Rafael Torres Artigo repetido . Talvez vá até o 4 ⁰. Divisões da Música da Renascença A Música Renascentista  costuma ser dividida em partes . A divisão mais comum  a reparte por séculos , mas tem que ser em italiano: trecento (Séc . XIV ), quattrocento (Séc. XV ) e cinquecento (Séc. XVI ). Mas não me apetecem , pois não explicam  absolutamente nada . Até porque muitos compositores viveram nas viradas dos séculos . Portanto, decidi apresentar os compositores após o outro , sem divisão , sem período . No máximo, o começo e o resto . Que acham da minha transgressão ? Nesta seção, contarei a história da música  a partir de seus compositores . Enquanto na Idade Média  a música parecia evoluir à sua revelia , agora eles assumem o protagonismo .   O Início O início  se caracteriza pelo fato de que alguns dos compositores  também eram ativos no final da Idade Média . Um deles é o inglês John Dunstaple , famoso , que havia sido crucial  na Música Medieval . Outros incluem Johannes Ockeghem , Oswald von Wolkenstein , Gillles Binchois  e Guillaume Du Fay. A música , nessa época, ainda era marcada por formas antigas , como as Chansons ( Rondeau , Ballade e Virelai ), Antífonas , Motetos e outros, mas utilizando técnicas novas , como o acréscimo de vozes em intervalos de terça e sexta no Oganum (caso de Dunstaple) e o Fauxbourdon . Dentre os outros compositores , Leonel Power  era um veterano  da Idade Média , como Dunstaple  e, como Dunstaple, tinha ajudado a estruturar e formar a Escola da Borgonha ; Oswald von Wolkensteit  foi um dos mais importantes compositores  da Primeira Renascença alemã  e Gilles Binchois  era um compositor Holandês , também da Escola da Borgonha , que propunha obras simples  e claras . A Escola de Borgonha  foi uma união  de compositores que punham em prática  certos preceitos e conferiam o prevalecimento das Formes Fixes  ( Rondeau , Ballade e Virelai ). A escola foi a primeira etapa  na implantação da Escola Franco-Flamenga , que, esta sim , se disseminou  por toda a Europa e tratou de fazer evoluir  o contraponto e, também, o modelo de harmonia . Abaixo, de Guillaume Du Fay , da Escola de Borgonha , o Moteto  "Je Me Complains Piteusement" , na interpretação do Grupo Gilles Binchois . As obras dos compsitores da Renascença  podem durar mais de meia hora .   John Dunstaple (1390-1453) Nascido na Inglaterra e ainda na Época Medieval , Dunstaple foi o compositor mais famoso de Europa ,   quando estava no auge  de sua atividade. Sua obra é apenas vocal , polifônica e repleta de Isorrítmos (explicados adiante). Ele foi um dos pioneiros  em utilizar, na escrita do Organum , os intervalos de terça e sexta . Antes eram quarta e sexta . Era influente até mesmo no continente , sendo muito importante na criação da Escola da Borgonha . E era um dos principais defensores  de um certo estilo que apelidaram de Contenance Angloise , o Maneirismo Inglês , (que ninguém sabe  direito o que é , mas possivelmente se refere a) uma forma de escrever Música Polifônica  com acordes bem cheios , utilizando seus intervalos favoritos , o de terça e o de sexta . Era um homem de rigorosa e refinada educação , tendo, também, sido astrônomo e matemático . Sua obra consiste em Chansons , Motetos e Missas . Entre suas obras principais  estão os Motetos : Ave Regina Celorum , Descendi in Ortum Meum , Quam Pulchra Es , Sancta Maria , Speciosa Facta Es , Veni Sancte Spiritus . Observe este Moteto a Três Vozes  chamado " Quam Pulchra Es " , interpretado pelo Hilliard Ensemble . Repare como as vozes já têm (ao contrário do que ocorria na Idade Média ) sua independência . Uma linha  vai se trançando na outra de forma sublime . Ah, e não fiquem confusos com o nome dele: aparece em várias grafias . As mais comuns: Dunstaple e Dunstable . Guillaume Du Fay (1397-1474) Se John Dunstaple  era o compositor mais conhecido de sua época , Du Fay  viria a se tornar um dos grandes nomes da história da música . E, se hoje, Dustaple é pouco conhecido , sendo apreciado principalmente por músicos e estudiosos , Du Fay  (ou Dufay ) continua sendo mais e mais apreciado  desde que a música antiga voltou a aparecer em concertos  (a partir dos anos 1950 ). Nascido na França , Du Fay era compositor e musicólogo . Foi uma das primeiras pessoas  no mundo a poder se considerar apenas e simplesmente um compositor . Recebeu sua educação na Velha Catedral  de Cambrai e foi ordenado padre  em Bolonha . Estabeleceu-se em Roma em 1428 como cantor no prestigiado Coro Papal . Em Roma ele escreveu vários Motetos . Retornou a ao Papa em 1434 , que dessa vez estava fixado em Florença .   Criativamente, passou a alternar entre a escrita de Motetos e grandes Missas Cíclicas . A participação no Coro do Papa  o tornou conhecido em toda a Europa  - travava-se da principal organização de execução de música da época . Quando o Papa Eugênio  se estabeleceu com sua comitiva em Bolonha , Du Fay  debandou novamente e foi formar-se em direito . A partir de 1437 , Du Fay  conseguiu o apoio de um grande Mecenas , o Sr. Nicolò III , Marquês de Ferrara . Isso ainda seria útil . Até por que, anos depois , quando Nicolò III morreu , em 1441 , Du Fay visitou a Casa de Este , que o pertencia, e ficou surpreso em saber que o próximo Marquês  havia, não apenas, dado continuidade  ao patrocínio como havia copiado e distribuído  algumas de suas obras . Du Fay morreu em 1774 . Em seu velório foi executado o seu lendário Réquiem (um dos primeiros Réquiens do mundo ), que agora está perdido . Ele deixou composições em todos os estilos comuns na época: Missas , Motetos , Magnificats , Hinos , Antífonas e, falando agora em Música Profana , Rondeux , Ballades e Virelais . Todas as suas obras  são corais , algumas delas, com possibilidade de acréscimo de instrumentos . Suas obras mais emblemáticas  são: Rondeux e Ballades , as Missas Se La Face Ay Pale , L'homme Armé , Ecce Ancilla Domini , Ave Regina Celorum ; e vários Magnificats  e vários Motetos , como Ave Maris Stella , Apostolo Glorioso , Flors Florum , Nuper Rosarum Flores , Aurea Luce , Vasilissa Ergo Gaude , Virgo Virga Virens , dentre tantos outros . Fique com o sensacional Moteto "Nuper Rosarum Flores" , de Guillaume Du Fay , que em sua época  foi interpretado por 120 músicos . Aqui, a interpretação é do Cantica Symphonia . É uma peça relativamente comprida , mas eu sugiro que ouça , pois temos uma peça de grande porte , com instrumentos , muito bem escrita e interpretada .   Johannes Ockeghem (1419-1497) Nascido na atual Bélgica  e conhecido por ter escrito o mais antigo Réquiem que chegou a nós , Ockeghem foi uma necessária influência musical  entre as vidas de Guillaume Du Fay  e Josquin des Prez . Talvez você não perceba , mas quando eu digo que um compositor é importante , é porque ele já passou por umas duas triagens , aqui na minha cabeça. Esses  de que eu escrevo  aqui, são os mais importantes  diante de uma lista enorme . Perceba a dimensão da lista de compositores da Renascença . A da Idade Média  era igual . Quando eu seleciono um  para falar, é sabendo que estou omitindo dezenas . Mas que, pelo menos, selecionei os mais importantes . Por sinal, nesta sessão vou falar um pouco de outro músico , que era amigo de Ockeghem , o compositor , cantor e poeta  francês Antoine Busnois  ( 1430-1492 ) Então, Johannes Ockeghem . Ele foi um dos compositores , junto a Busnois , da Escola Franco-Flamenga , assim como havia sido Guillaume Du Fay . Essa escola  se caracterizava pela produção de Motetos a 4 vozes  (o normal sendo três), de textura bem grave , bem como pela igualdade entre essas vozes  (não havia uma principal ). Em uma boa parte  de suas Missas ele fazia uso do Cantus Firmus  (uma melodia preexistente que servia de base para a criação de outras vozes  de uma composição polifônica ). Busnois também usava essa técnica nas suas Missas . Nos dois, as vozes faziam várias variações rítmicas , como foma de manter o interesse . As maiores contribuições técnicas  de Ockenghem para a música foram a Missa Prolationum , que utiliza apenas Cânons de Medição * . E a Missa Cuiusvis Toni , que vai variando os Modos  ( escalas ) que utiliza ao longo da execução . *  Em um Cânon normal , uma voz principal começa a cantar  e vai sendo progressivamente imitada  com exatidão  pelas outras vozes . No Cânon de Medição , as vozes seguem a primeira , mas com diversas variações rítmicas , cada uma. As obras mais importantes  de Antoine Busnois são: a primeira Missa L'homme Armé  de verdadeira influência , a Missa O crux lignum triumphale , os Motetos In Hidraulis Quondam Pythagora , Anima Mea Liquefacta Est , Bel Acueil Le Sergent d'Amours , o Madrigal Fortuna Desperata  e dezenas de Chansons , como Accordes Moy , Advegne Que Venir Pourra , Amours, Amours , Amours Nous Traite , Au Pauvre Par Nessecité , Bonne Chére  e L'autrier Que Passa . Ja as obras mais importantes  de Johannes Ockeghem  são: a Missa Prolationum , a Missa Cuiusvis Toni , a Missa 'Mi-Mi' , as Chansons Flors Seulement , Ma Bouche Rit , L'autre d'Antan , Ma Maistresse , Prenez Sur Moi , um Salve Regina , um Ave Maria , o Motet-Chanson Mort tu as navré  e o Réquiem . Como exemplo , ofereço esse Cânon a 36 Vozes  ( ! ), um " Deo Gratias a 36" , interpretado pelo Huelgas Ensemble . É um Cânon (as vozes vão entrando  e se acumulando ) a 36 vozes , ou seja, existem 36 linhas melódicas  nesta minúscula obra . Josquin des Prez (1455-1521) Josquin " montou" seu estilo em cima dos de Guillaume Du Fay  e Johannes Ockegheim . Ele era francês e pertencia (adivinha) à Escola Franco-Flamenga  de música. Era reputado como O Maior Compositor  da Europa , em vida . Josquin deixou completamente para trás  a música homofônica Medieval e foi abrindo novas veredas . Foi (além de tudo) o compositor mais influente de contraponto na Renascença . No Barroco (Séc. XVIII ), seria superado (não encontrei palavra melhor , de modo que " superado " vai ter que funcionar ) nesse quesito por Johann Sebastian Bach . Eles usam o contraponto de maneiras diferentes . Josquin não era partidário  do canto melismático  (você canta notas e mais notas , mas a letra permanece na mesma sílaba , ela não avança ) que era característico da Renascença (e que " vazaria ", depois, para a Ópera ) e acabou adotando um estilo próprio , com frases curtas  e repetidas . Foi funcionário de três Papas : Inocêncio VIII , Alexandre VI  e Luís XII . Também foi empregado do Duque Hércules I do Leste . Grande parte de suas obras  foram publicadas pelo impressor italiano Ottaviano Petrucci  (que hoje dá nome a um site que distribui a partitura de milhares de obras e compositores , com um acervo monstruoso ). Petrucci sempre inseria obras de Josquin em antologias , além de fazer uma antologia só sua . É considerado o primeiro compositor a permanecer influente mesmo após a morte . Mas voltando ao seu estilo : ele utilizava o Cantus Firmus  e, nos Motetos , começou a se aproximar do tonalismo * (a música vigente  era e sempre havia sido modal ), fazendo uma verdadeira revolução nos Motetos . Na Música Modal  há os Modos da Igreja  que nada mais são do que escalas distintas. São 8 escalas , cada uma  com uma combinação de notas diferente . * Tonalismo não é uma maneira de organizar a oitava da mesma forma que o Temperamento Igual . Ele também a divide, mas utilizando as notas que o Temperamento Igual, digamos, decidiu que existiam. Este, disse que dividiríamos a oitava em doze intervalos de um semitom . Tonalismo pega Sete dessas notas e as aplica . Porque não existem apenas as naturais : Dó , Ré , Mi etc. Tem o Dó Sustenido (ou Ré Bemol ); o Lá Sustenido (ou Si Bemol) etc. São doze . Mas Tonalismo é usar apenas as sete . Espera ! Mas as contraltos não cantam esse Mi , aqui. Então, em vez de começar em Dó , comecemos em Lá . Dessa forma, o Mi (a terça do Dó), vira um Dó (a terça do Lá ). Errado . Mi fica a 4 semitons de Dó. E Dó, a três semitons de Lá. Tem que mudar tudo para que os intervalos fiquem iguais a quando era em Dó . Resumindo absurdamente , em Lá Maior , temos que usar o Dó Sustenido , que, na verdade, só tem esse nome por conveniência. É uma nota preta , que fica entre o Dó e o Ré , no piano (e, claro, consta no restante dos instrumentos). Você pode até tocar de Mi a Mi (ou de Lá a Lá ) apenas com as teclas brancas . Mas, aí, já não é uma escala maior , nem menor , as mais usadas. É um Modo . Ele usa o nome de Modo Grego , quando quer ser " matador ". Tudo bem, de fato, são escalas , geralmente, e derivadas das maiores e menores . Porque o que define isso é a terça . Se você conta cinco intervalos entre o Dó e o Mi , é uma terça maior . Mas, repare, entre o Ré e o Fá , só temos 4 intervalos . Uma terça menor . Estes dois intervalos ocorrem em qualquer escala , alternando-se. Mas, se eles formam o primeiro intervalo de terça , eles vão definir se, no final das contas, a escala (ou o Modo ) é maior ou menor . Os Modos são: Jônio (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó - Chamado, mesmo, de Escala Maior ); Dórico (Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré) - Um pouco diferente das escalas menores mais usadas, que costumam ter o sexto grau diminuído); Hipodórico (Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá - A Escala Menor Natural - Perceba, o sexto grau dessa escala é o Fá . Se quiséssemos um Lá Dórico , este Fá teria que ser um Fá Sustenido ); Frígio  (Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi); Hipofrígio (Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si); Lídio (Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá); Mixolídio (Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol); Hipomixolídio (Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré). A Música Modal  é utilizada ainda hoje , mas de outros jeitos , as escalas são vagamente diferentes  e algumas têm outros nomes . Agora, deixe-me explicar : vê o Dórico , ali ? E o Hipomixolídio ? São iguais . Mas o fato é que eles têm uma diferença crucial : todos os modos  cujo nome começa em Hipo , recebem um tratamento harmônico  diferente, que herdam daqueles com o mesmo nome, mas sem o " hipo " . Outra coisa . Não há sustenidos  e bemóis ? Há , nas transposições das escalas . Elas são apresentadas de modo a mostrar apenas seu modo natural . Sobre Josquin , suas obras principais  são as Missas Missa ad Fugam , Missa de Beata Vergine , Missa Gaudeamus , Missa Lá Sol Fá Ré Mi , Missa Pange Lingua  e outras; Motetos Ave Maria , Ave Maria Virgo Serena , Inviolata , Integra Et Casta Es Maria  e Miserere ; e as Chansons Seculares Adieu Mes Amours , El Grillo  e La Déploration de Johannes Ockeghem , uma Chanson Fúnebre  em lamentação à morte de Johannes Ockeghem . Apresento abaixo  a Chanson linda de morrer "Mille Regretz" , interpretada magistralmente pelo grupo Profeti Della Quinta . Vai ter que ter a parte 3 da parte II . Coloco já. Grato . Lista de postagens : clique aqui .

  • Renascença (parte 3) - Os Períodos da História da Música II

    Por Rafael Torres O Restante Chamo de Restante essa parte que vai de 1530 a 1600 , mas não de modo pejorativo . Aqui vivem os maiores compositores que a Renascença produziu . Tem o nascimento  de um lendário coro com orquestra , em Veneza . Seu estilo era o Policoral Veneziano . Seu nome era Capela São Marco . Tão magnífico era, e tão grandiosa sua sonoridade que compositores de toda a Europa  queriam compor para ele. Os músicos tocavam  e cantavam de vários pontos da cidade , gerando um som quadrafônico que deve ter sido surreal escutar . Em Roma, tem também  a volta da Igreja Católica  a tentar regrar e controlar novamente a música . Havia um grupo de compositores , a Escola Romana , que tinha ligações com o Vaticano . Seu compositor de maior destaque histórico  foi Giovanni Pierluigi da Palestrina . Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594) Palestrina , juntamente com Orlande de Lassus  e Tomás Luis de Victoria , formava o trio de compositores  mais disputados da Escola Romana . Palestrina teve grande influência  no desenvolvimento da Música Sacra  e da Música Profana . Ele nasceu  na cidade de Palestrina  e seu primeiro emprego  foi o de organista na Catedral de São Agapito . Após 7 anos , o Papa o nomeou como Diretor Musical da  Capela Giulia , que fica na Basílica de São Pedro , no Vaticano . Seu primeiro casamento  lhe trouxe 4 filhos , mas o que nos interessa é o segundo casamento . Ele se casou com uma viúva . E ela tinha dinheiro  suficiente para que ele pudesse parar de circular de capela em capela  e finalmente pudesse bancá-lo como compositor . Em 1594 , quando morreu , Palestrina nos deixou 105 Missas , 140 Madrigais  e 300 Motetos . Sua maior causa , como músico, foi tentar  fazer a igreja banir  a polifonia ,   que ele via como complexa e ininteligível ,   por um estilo mais consonante e claro . Inclusive ele costumava escrever dissonâncias  apenas nos tempos fracos , com isso em vista . Outra característica sua é era a de utilizar o Cantus Firmus  com notas longas  ( semibreves ). O Contraponto estilo Palestrina que aprendemos  na faculdade é, na verdade, uma recriação do compositor Barroco Johann Joseph Fux , que, partindo de seus estudos  da obra de Palestrina , elaborou o Contraponto em Cinco Espécies  no seu influente livro "Gradus ad Parnassum" . Dentre as obras principais  de Palestrina estão as Missas In Festis Apostolorum , In Semiduplicibus Majoribus , Tu Es Petrus , Ecce Ego Joannes , Assumpta Est Maria , Missa Brevis , os Motetos Beata Es Virgo Maria , Regina Coeli , a série de Motetos Canticum Cantocorum , o Stabat Mater  e 2 Livros  de Madrigais Espirituais a 5 vozes  e mais 3 Livros  de Madrigais Profanos . Observe que maravilha é o moteto Cicut Cervos , interpretado pelo Schola Cantorum of Syracuse . Orlande de Lassus (1532-1594) Orlande De Lassus  teve grande influência  no desenvolvimento da Música Sacra  e da Música Profana . Seu nome  pode ser grafado (e pronunciado) de várias formas , as mais comuns  sendo Orlando di Lasso  e Orlande de Lassus . Ele nasceu  em Mons , na atual Bélgica  e sempre foi musical . Conta-se que, enquanto trabalhava de corista , foi sequestrado 3 vezes  por conta da beleza de sua voz . Aos 12 anos , saiu do seu país  e foi para a Itália , em Milão . Lá ele conheceu músicos famosos . Andou por Nápoles , onde teve seu primeiro emprego , como compositor e cantor , depois foi a Roma , onde, em 1553 , ele conseguiu um emprego sério . Era o posto de Maestro di Cappella  (uma espécie antiga de regente e preparador de coro ) da Basílica de São João de Latrão . Lassus tinha 21 anos  e o emprego tinha muito prestígio . Mas ele não queria emprego fixo , ele gostava de viajar . Falava francês , italiano , alemão , latim e outras. Em uma dessas viagens , para Munique , em 1558 , ele passou a trabalhar para o Duque da Baviera . Acabou flertando e, depois, casando com a filha de uma Dama de Honra da Duquesa , Regina Wackinger , com quem teve dois filhos  (que acabariam se tornando músicos ). As viagens terminaram quando, em 1563 , ainda em Munique , foi apontado como Maestro di Cappella  de Alberto V , o próprio Duque da Baviera . Lassus assentou lá e lá ficou para o resto da vida . Ele ainda seria feito Cavaleiro do Esporão de Ouro  pelo Papa Gregório XIII  e pelo Rei da França , Charles IX  e recebeu um Título de Nobreza  pelo Imperador Maximiliano II , um Imperador Sagrado Romano  que se tornou rei , de fato, da Boêmia , da Alemanha , da Hungria , da Croácia e, no final , Rei do Sacro Império Romano . Isso tudo atesta o alcance da fama de Lassus , mesmo fora dos meios musicais . Lassus é autor de 2000 obras, dentre as quais se incluem : vários Madrigale Spirituale , sendo o mais famoso  "Lagrime di San Pietro" ; 530 Motetos ; 150 Chansons (no estilo francês  e em francês ), 90 Lieder  (no estilo alemão  e em alemão ). Agora a música sacra: 60 Missas , dentre as quais, "Missa Entre Vous Filles" , "Tous les Regretz" , "Missa Osculetur Me" , "Missa Vinum Bonum"  e "Missa Vanatorum" ; os Motetos que formam o livro "Prophetiae Sibyllarum" ; "A Paixão Segundo São Mateus" , "A Paixão Segundo São Marcos" , "A Paixão Segundo São Lucas"  e "A Paixão Segundo São João" ; "De Profundis"  ( salmos ) e muitíssimo mais . Ouça abaixo  a bela e multipolifônica "Musica Dei Donum Optimi" , um Moteto  para 2 Sopranos , Contralto , 2 Tenores  e Baixo . Lembrem-se que cada uma dessas vozes pode ser cantada  por mais de uma pessoa . A obra é de 1576 e ele já usa polifonia avançada , com elementos de contraponto e de escrita harmônica . Aqui temos o grupo coral Tenebrae ,   regido por Nigel Short . William Byrd (1540-1623) E agora, para algo completamente diferente . William Byrd  é outra coisa . Embora tenha uma vasta obra coral , ele é o primeiro compositor instrumental que veremos . Pertencia à Escola Virginalista Inglesa  (que escrevia para um instrumento de teclado  chamado Virginal ). As formas musicais  pelas quais ele é mais lembrado  são as Pavanas e Galhardas para Virginal . A Pavana é inspirada  em uma dança muito lenta  da Renascença , quase estática , enquanto a Galharda também é uma dança , mas apressada e alegre . Às vezes ele escevia uma ou a outra . Mas, escrevia, também, as duas juntas . Byrd nasceu  em Londres , em uma família abastada  e em que corria a música . Não se sabe muito  a respeito de sua infância  (de nenhum deles , na verdade - mal sobreviveram as músicas! ). Provavelmente foi aluno de Thomas Tallis  na Chapel Royal , a Capela Real Britânica , que é um lugar em que se produz música  para cerimônias religiosas  e da realeza . E, segundo evidências , assim que Byrd mudou a voz ,   assumiu o cargo de assistente de Tallis . Em 1563 ele assumiu o posto de organista  e mestre dos coristas  da Catedral de Lincoln , em Lincoln , uma cidade . Em 1569 William casou com Juliana Birley , com quem viria a ter sete filhos  e uma vida feliz . Mas em 1572 ele volta  a Londres , onde foi nomeado Cavalheiro pela Chapel Royal  e, depois, organista . Sendo que o cargo de organista  não era pago . Byrd foi mudando de cargos , adquiriu , ao lado de Tallis , o monopólio da impressão de música em Londres , foi conhecendo a realeza , inclusive a rainha Elisabeth I . Ele viveu na época de William Shakespeare ! Muito estudioso , aprendeu grego , latim e, provavelmente, francês , italiano e hebreu . Mas, em um mundo  todo voltado à religião , ele demorou muito  a adquirir sua fé . Quando adquiriu , ela veio na forma Católica . Acontece que a Inglaterra era oficialmente Anglicana (protestante). Escrever missas musicais era proibido . Ele jamais abandonou a fé (o que chamavam de recusante ) , e veio a escrever  muita música sacra . A sua família  chegou a ser acusada de seduzir pessoas  para a causa católica . A própria música de Byrd  era " tão fora de moda quanto sua fé " . No final das contas  ele acabava escrevendo 2 tipos de Música Sacra : a anglicana e a católica . Apesar de  estarmos aqui dando o perfil religioso  de sua música , ele é muito mais conhecido  por suas músicas seculares , especialmente as instrumentais . Vou perfilar primeiro suas obras para coro e, em seguida , as instrumentais . Suas principais obras corais  incluem : a Missa a 4 Vozes , a Missa a 5 Vozes , a Missa a Três Vozes , 2 Livros  de Canções Sacras , dezenas de Salmos , e muitas outras obras , predominantemente, canções . Suas principais obras instrumentais  incluem: "My Ladye Nevells Booke" , de obras para teclado ; "Fitzwilliam Virginal Book"  para Virginal , mas hoje se toca ao Cravo  ou ao Piano ; e obras para consort . Geralmente, de Violas da Gamba . Escute  abaixo " In Nomine à 4 " , para consort de Violas da Gamba , em uma bela interpretação  do grupo The Voice of the Viol , que pertence ao grupo Voices of Music . E aqui , uma Galharda , do Livro Fitzwilliam , de Virginal , interpretada por Ernst Stolz . Tomás Luis de Victoria (1548-1611) Um dos mais conhecidos compositores do período final da Renascença , o espanhol Victoria era padre . Por isso mesmo , sua música  é toda coral , polifônica , sacra e com textos em latim . E ra considerada intensa como raramente se via na época . Mas vamos  do início . Tomás nasceu  nas beiradas da cidade de Ávila , em Castela , na Espanha Contrarreformista . Ele foi menino cantor , aos 7  ou 9   anos , na suntuosa Catedral de Ávila . Era um exímio organista . Em 1565 , aos 19 anos , Victoria partiu , a pedido do Rei Philip II  da Espanha . Partiu para Roma , como cantor  e estudante no Collegium Germanicum et Hungaricum , fundado por Santo Inácio de Loyola  e a mais antiga Universidade  da cidade de Roma . Lá ele estudou Filosofia , teologia e, possivelmente , música com o grande Giovanni Pierluigi da Palestrina . Em 1573 Victoria fica se desdobrando  com dois empregos : um como professor no  Collegium Germanicum  e o outro no Pontifício Seminário Romano . Lá ele foi Maestro di Cappella  e professor de Cantochão . Victoria foi ordenado padre  em 1574 e, em 1975 , foi nomeado Maestro di Capella  da Igreja de São Apolinário . Depois, voltou à Espanha , quando Felipe II  o chamou para ser Capelão de sua irmã , a Imperatriz Viúva Maria . Ele a acompanhou até a morte dela , por 17 anos .   É dito que sua música reflete sua personalidade , expressando seu misticismo e sua religião , sendo uma obra quase íntima demais . Ele tinha como característica a tendência de sobrepor e dividir coros com muitas vozes . As suas linhas melódicas  em si eram complexas e o órgão sempre tinha grande importância , acompanhando o coro . Ademais, ele preferia que a obra soasse harmônica , pensando sempre na vertical , aos contrapontos elaborados de seus contemporâneos . Por fim, Victoria fazia uso abundante de dissonâncias . Sua última obra  é um Réquiem para a Imperatriz Maria . Seus trabalhos mais importantes  incluem: as Missas "Laetatus Sum" , "Quarti Toni" , "De Beata Maria Virgine"  e " Vidi Speciosam " ; vários "Magnificat" ; várias "Lamentações" ; 54 Motetos  para 4 , 5 , 6 , até 8 vozes ; uma "Paixão Segundo São Mateus" ; uma "Paixão Segundo São João"  e os "Tenebrae Responsories" , que são uma série de 18 Motetos  a 4 vozes acappella . Escute , abaixo, o Moteto a 4 vozes "O Vos Omnes" , em interpretação  do coral Tenebrae regido por Nigel Short . John Dowland (1563-1626) John Dowland foi um compositor , alaudista e cantor elizabetano que viveu no final da Renascença . Suas peças mais conhecidas  costumam ser as para voz e alaúde , assim como as para alaúde solo , que, hoje, são tocadas majoritariamente ao violão moderno . É famoso , sobretudo, por suas Canções de Melancolia . Do pouco que se conhece sobre sua infância , é possível supor  que tenha nascido em Londres - mas pode ter sido  em Dublin . O que se sabe  é que, em 1580 , foi para Paris para servir ao Embaixador da Corte Francesa . Nesse período  ele se tornou católico . Neste momento  ele já compunha bastante  e publicava suas obras na Inglaterra . Em cerca de 1584 ele voltou à Inglaterra e, logo, casou  e  teve um filho, Robert . Em 1588 , John é graduado Bacharel em Música  pela Universidade de Oxford . Assim como William Byrd , é um católico em um país protestante . Isso trazia dificuldades . Por exemplo: em 1594 surge uma vaga de alaudista na corte . Mas sua aplicação foi deferida e ele sempre pensou  ter sido por causa  do seu Catolicismo , frente ao Protestantismo da Rainha Elizabeth I . Quatro anos depois  assume uma vaga na corte do Rei Christian IV , da Dinamarca . O rei era fascinado por música e o salário que ele entregava a Dowland era fabuloso . Mas, certa vez , Dowland, a pedido da corte dinamarquesa , foi à Inglaterra para comprar instrumentos musicais . Ocorre que, resolvendo problemas de publicação de suas obras , acaba ficando tempo demais em Londres , desagradando os patrões . Foi demitido em 1606 e voltou , mais uma vez, a Londres . Em 1612 ele conseguiu o cargo de alaudista na corte de James VI , rei da Escócia . A partir daí  suas composições começaram a escassear e John morre em 1626 . Suas obras principais  incluem : 1 Livro de Salmos ; 3 Livros de Canções para Alaúde e Coro ou Alaúde e Voz ; Lacrimae, or Seven Tears , um Livro de Músicas Instrumentais  para 5 Violas da Gamba  e Alaúde e a sua última obra , A Pilgrim's Solace , para Violas da Gamba , Alaúde e Voz ou Coro . Ouça abaixo  a linda  e famosa "Flow My Tears" , uma de suas Canções de Melancolia , extraída do Segundo Livro de Canções . Os intérpretes são Phoebe Jevtovic Rosquist , a soprano e David Tayler , alaúde , eles pertencem ao grupo Voices of Music . Claudio Monteverdi (1567-1634) Claudio Monteverdi  foi um compositor , regente de coro  e instrumentista de corda do que, agora, podemos chamar  de Transição de Renascença para o Barroco . Alguns estudiosos  já querem catalogá-lo  como Barroco . E tudo isso  por causa de uma invenção  que ele trouxe . Algo que era completamente inesperado  enquanto ele estava vivo  - não que  ele tenha criado . Algo que encantaria multidões  por, pelo menos 400 anos . A Ópera . Monteverdi fez isso 200 anos antes de Verdi fazer suas Óperas . Mas vamos ao compositor . Ele nasceu em Cremona , Itália . Teve 5 irmãos e irmãs . Sua educação musical  é toda incerta . Mas em 1613 ele foi Mestre do Coro da Capela de São Marcos , em Veneza . Aos 15 anos  já havia composto 23 Motetos  e outras obras. Entre 1604 e 1646 , Monteverdi escreve óperas . Muitas delas. L'Orfeu , uma de suas mais gravadas e tocadas  nas salas de ópera , foi composta em 1607 . Suas partituras não foram bem conservadas , de modo que das dez óperas  que lhe são atribuídas , apenas 3 nos chegaram intactas : L'Orfeu , Il Ritorno d'Ulisse in Patria  (de 1640 ) e L'incoronazione di Poppea  (de 1643 ). Das outras , faltam pedaços  da música ou do libretto . Mas ele era consistente , também, em Música Sacra . Escreveu 8 Livros de Madrigais  e Selva Morale e Spirituale , constituída por Motetos , Salmos , três Salve Regina , duas Missas e dois Magnificat . Monteverdi morreu doente , em Veneza , em 29 de Novembro de 1643 . Foi um músico respeitado , famoso e com a reputação de não ter medo de quebrar regras . E era moderno . Veja , abaixo , trecho de Vespro Della Beata Vergine , com o Coro Monteverdi , regido por John Eliot Gardiner . Maneirismo Maneirismo  foi um estilo artístico  que apareceu na Itália  e se desenvolveu entre (cirurgicamente) 1520 e 1600 . Ou seja, nos últimos suspiros da Renascença . Era uma expressão , em especial, da escultura , da pintura e da arquitetura , mas se alastrou por todas as artes  e também por toda a Europa . É possível que o movimento tenha sido engatilhado pela descoberta , em 1506 , de uma escultura helenística  em Roma  (sim, helenística em Roma), chamada Laocoön . Também foi influenciado por artistas da própria Renascença  e ainda vivos , especialmente Michelangelo e Benvenuto Cellini  (este, converteu-se  em um magistral escultor Maneirista ). Calcado no Humanismo Renascentista  e naquela velha vontade  que eles tinham de reviver , em muitos aspectos, a Antiguidade Clássica , e, também, em uma autopercepção de intelectualidade explícita, o Maneirismo  era uma abordagem exagerada  de elementos da arte . Tomemos a escultura como exemplo. A conduta Maneirista  consistia em distorcer as características físicas do objeto  (da escultura), muitas vezes com apuro técnico bastante alto , em aplicar artificialidade nas expressões e na aparência do objeto , em utilizar a técnica "Figura Serpentinata" , que se originou ainda na Grécia Antiga  e consistia em fazer, aplicando movimento à escultura , com que sua forma geral  fosse espiralada e repleta de curvas . Tudo isso com o objetivo de tornar a obra mais expressiva , elegante ou autoritária . Na música  o Maneirismo tinha pouco cabimento : o contraponto estava em seu auge , e era uma técnica altamente regrada , quadrada e com pouco espaço  para expressão . E aconteceu que o Maneirismo foi menos sentido  pelos compositores . O que não significa  que não tenha sido sentido . Mas é confuso . Denominar um compositor ou uma obra de Maneirista chega a ser polêmico . Não há consenso entre os musicólogos . Há quem sugira que é Maneirista a música que utilize intervalos anômalos , harmonias experimentais  e até que ensaie implantar  o Temperamento Igual  (tema que será abordado no Barroco ). Mas não seria isso , simplesmente, a música tentando evoluir ? De fato, encontramos esses elementos na música da época , assim como encontramos evoluções  em todas as décadas  desde o final da Idade Média . De modo que eu vou lhes deixar  um exemplo de música nesses moldes e vocês decidirão se  é ou não Maneirista . Fique com o Madrigal do Sexto Livro de Madrigais a Cinco Vozes  do excepcional compositor  e infame feminicida  (link externo) Carlo Gesualdo . É "Io Parto, e Non Più Dissi" . Nesse trecho tão mínimo  de música você encontrará dissonâncias , algumas altamente radicais , e mudanças súbitas  e igualmente futuristas  na harmonia . A interpretação é do grupo Les Arts Florissants , dirigido por William Christie .   Considerações Finais Se a Idade Média  viu séculos de estagnação , a Renascença foi objetivamente mais inovadora . Hoje se enxerga a Idade Média  com mais cautela e contextualização , tirando o veneno que, em boa parte, foi aplicado  pelos Renascentistas . Mas, como disse, não há como negar  a potência dos novos ares , parece que, bastou virar do ano 1399 para 1400 , e o excesso de tragédia  foi suavizado e as pessoas  se tornaram mais pensadoras , progressistas e perfeccionistas . Ponderando que as mudanças ocorreram gradualmente , desde o fim da Idade Média  até o fim da Renascença . Gostaria de lembrar alguns progressos  obtidos durante a Renascença (no que tange à música ): Maior utilização e organização da Polifonia , sobretudo do Contraponto ; Aprimoramento dos instrumentos musicais  e surgimento de novas famílias ; Inovações na harmonia ; Utilização mais ampla e certeira  das dissonâncias ; Melodias mais elaboradas ; Aprimoração da notação (escrita de partituras); Surgimento da ópera ; Surgimento da editoração musical . Mais do que podemos exigir  de um período de apenas 200 anos . A Música Antiga  é um período fascinante . De estudar , mas, principalmente, de ouvir . Acho que o restante cabe na parte 4 .

  • Renascença (parte 4) - Os Períodos da História da Música II

    Discos Interessantes de Música Renascentista - Johannes Ockeghem  - Réquiem , Missa  " Mi-Mi " , Missa Prolationum , 2 Salve Reginas  e algumas obras menores , interpretados pelo Hilliard Ensemble , regido por Paul Hillier  - O Réquiem mais antigo  cuja partitura sobreviveu  é uma obra fantástica . Apenas para coro , a obra tem 9 movimentos  e dura cerca de 37 minutos . Embora não seja dramática , emotiva , é muito bonita . A Missa "Mi-Mi" , curta e melismática , é uma maravilha . A Missa Prolationum , para 4 vozes , tal qual as anteriores , é uma obra ainda mais séria , comprida e digna de atenção . - Guillaume Du Fay  - Missa  "Se la Face ay Pale" , Magnificat "Quinti Toni" , Missa "Ecce Ancilla Domini" , na interpretação do Boston Church of the Advent Choir  conduzido por Edith Ho  - O Coro Adventista de Boston  faz um trabalho impecável  interpretando obras complicadas  de Du Fay . O som do disco , de 2015 , foi capturado com muito zelo  e, ao mesmo tempo, deixando o coro se expressar . "Se la Face ay Pale"  é uma obra tão complexa  que é difícil acompanhar . O Magnificat , com menos de 6 minutos , tem igual complexidade  e talvez uma pitada a mais de profundidade . Já "Ecce Ancilla Domini"  é uma missa cheia de contraponto e com um caráter luminoso . - Giosquino : Josquin des Prez  in Italia  - "Praeter Rerum Seriem" , Missa "Hercules dux Ferrariae" , " Tu Solus qui Facis Mirabilia" , " Fortuna d’un Gran Tempo" , "O Virgo Prudentissima" , "Inviolata, Integra et Casta" , "La Bernardina" , "Salve Regina" , "Huc Me Sydereo" , com o Odhecaton , o Gesualdo Six  e a direção de Paolo da Col  - O contraponto de Josquin tem um tempero . As harmonias também contêm momentos bem complicados . São obras que representam muito bem a Renascença . O disco é de 2021 . - Thomas Tallis  - " Spem in Alium "  ( moteto a 40 vozes ), Missa " Salve Intemerata "  e outras obras menores , interpretados pela Oxford Camerata , dirigida por Jeremy Summerly  - Com coro masculino  e feminino ,   o Moteto "Spem in Alium"  é uma daquelas peças  em que você parece que vai flutuar , pela meditatividade e pura beleza  da obra . A Missa "Salve Intemerata"  é engenhosa, utilizando às vezes apenas dois cantores , e outras vezes o coro inteiro  (também misto ). Imagino que a Oxford Camerata  seja famosa pela sua sessão de baixos . Tem expressividade e precisão . O disco  é de 2005 . - Giovanni Pierluigi da Palestrina  - Livro de Madrigais Sacros, Vol. 2 , com o Corvina Consort , regido por Zoltan Kalmanovits  - Também aplicando o coro misto , Palestrina cria Madrigais que podem soar menos cheios , como se as vozes estivessem esvaziados , mas eu digo isso no bom sentido . A textura é mais clara  e se entende perfeitamente  o que cada voz está cantando . O disco é de 2014 . - Orlande de Lassus  - Inferno : "Cantica Sacra Sex et Octo Vocibus" , "Audi Tellus" , "Ad Dominum Cum Tribularer" , "Media Vita in Morte Sumus" , "Circumdederunt Me Dolores Mortis", "Libera Me Domine" e outros , interpretados pela Capella Amsterdam , regida por Daniel Reuss  - Essa miscelânea de Motetos Profanos macabros , reunidos pela temática da penitência , nos traz música de qualidade ímpar . A interpretação do coro misto Capella Amsterdam  é impecável , sóbria e pálida sem, jamais , soar apagada . O álbum é de 2020 . - William Byrd  - Música Virginal e para Consorts  (incluindo Pavanas e Galhardas ), interpretadas por Skip Sempé , tocando no cravo , e pelo Cappricio Stravagante  - Um disco  mais vibrante , este aqui tem , também, maior variedade timbrística , variando entre um belo consort de Violas da Gamba  e o lépido cravo de Sempé . Boa parte das músicas  está no formatos mais cultivados por Byrd e pelos compositores de Música Virginal Elizabetana : a Pavana  e a Galharda . O repertório, secular , é mais leve do que o de outros discos da lista, mas também não lhe falta profundidade  e intimidade . É de 1997 . - Tomás Luis de Victoria  - Réquiem , interpretado pelo Musica Ficta , regido por Raúl Mallavibarrena  - O Requiem a 6 vozes  de Victória é ainda mais organizado  e encaixado que o de Ockeghem, gerando momentos  de beleza ainda maior . O coro é misto e as vozes femininas  estão próximas da perfeição . Contendo apenas o Requiem , o disco é curto , com 10 movimentos  e quase 39 minutos de duração . É de 2017 . - John Dowland  - Mel da Colmeia: Canções para Seus Patronos , cantadas por Emma Kirkby , acompanhada ao alaúde por Anthony Rooley  - Cantado pela excelente soprano  inglesa Emma Kirkby , especialista em música anterior ao Romantismo , o disco traz uma seleção de canções  de Dowland , em vez de interpretar livros inteiros  dele, como geralmente se faz . O canto  de Emma e de cantores de sua linhagem  não utiliza o vibrato , recurso tão comum e levado ao exagero  por cantores modernos de ópera , música sacra  ou lied . Isso vale para compositores a partir de Mozart . É de 2005 . - John Dowland  - Lachrimae , ou Sete Lágrimas , com o grupo de Jordi Savall  - Lachrimae ou Seven Tears é uma ambiciosa obra instrumental de Dowland . A música tem 21 movimentos , para Cinco Violas da Gamba  ( ou instrumentos da família do Violino ) e alaúde . Foi composta em 1606 e é uma peça profunda e melancólica . As Sete Lágrimas  são sete Pavanas (danças lentas, preguiçosas) que permeiam e sustentam a obra . Por entre as Pavanas , temos movimentos um pouco menos estáticos , como Allemandes , Galhardas , mais Pavanas e o funeral . Dowland disse: "As Lágrimas que a Música chora  podem ser prazerosas . Nem são as lágrimas de tristeza , mas de felicidade e alegria ." O disco é de 1987  e Savall e sua turma estão perfeitos . Espero que esse texto seja útil . Teremos: Idade Média , Renascença , Barroco , Classicismo , Romantismo  e Modernismo  (e, talvez, Música Contemporânea ). Lista de outras postagens aqui . Deixe seu comentário!

  • Renascença (parte 1) - Os períodos da História da Música II

    Por Rafael Torres Atenção , esta postagem é repetida . A original ficou tão grande , que o hospedador do site não me deixava editar uma vírgula sequer, sem gerar uma enorme comoção . Se não o fez, leia a Idade Média I   - aqui . A partir de agora , vamos ter que nos entender . Por exemplo, se música romântica ficar enorme (e vai ), terei que dividi-lo em partes. A postagem se chamará, por exemplo, Romantismo, Os Períodos da História da Música IV - Parte 4 . O s vídeos que colocarei , até agora, serão sempre curtos , como uma amostra . Aproveite o texto! Agora é tempo de  versar a respeito deste período  que tem tanto em comum com a Idade Média  e, ao mesmo tempo , tão pouco . É  infinitamente mais complexo , cheio , sonoro ; usa 4 vozes , quando, na Idade Média , costumavam usar 3  (estou me referindo a linhas melódicas , chamadas vozes, não a cantores : 1 só voz  pode ser cantada por toda uma sessão de cantores ; 4 vozes , por, no mínimo, 4 cantores , ou um piano , cravo , violão , alaúde etc. ). E, ainda assim, soa natural aos ouvidos . A sociedade da Idade Média  estava, digamos, em um estado de escuridão . Imagine as cidades sujas , cheias de doenças , esgoto passando nas ruas , ladrões , assassinos , moscas , comida estragada , poças de lama , porcos por todo lado, pobreza em todo lugar e, ainda por cima , guerras eclodindo sem parar . Por mais que eu goste da Idade Média , eu não queria estar lá . Pode até ser que o mito da " Idade das Trevas ", esta visão de que eu falei, seja um exagero . Mas eu não queria estar lá . Várias pendências medievais na evolução musical, foram pormenorizadamente sanadas na Renascença , tais como: o aprimoramento na criação da melodia , harmonia , ritmo , forma e, até mesmo, notação (a escrita da partitura ); a consagração do Contraponto  e seu melhor regramento ; a melhor interação entre Música Sacra  e Profana , que   passaram a compartilhar uma evolução cúmplice ; várias famílias de instrumentos  foram aperfeiçoadas (e algumas novas, surgiram ). A Música Renascentista intriga e fascina músicos desde a época do Barroco  ( e musicólogos ,   desde o Século XX ), é fonte incessante  de descobertas e raiz de inesgotável deleite . Notação Mensural Agora , o compositor  é capaz de produzir uma partitura mais amigável  e pode por nela instruções mais detalhadas . Fizeram evoluir , do final da Idade Média , um tipo de escrita musical  extremamente preciso . Chamava-se " Notação Mensural "  (leia direito), pois, com ela, os músicos eram capazes de anotar e ler até mesmo as menores medidas de tempo . Este tipo de escrita foi usado até o Séc . XVII , quando, no Barroco , foi substituída pela Notação Moderna . Observe , abaixo : A Renascença Trata-se de um período que, ele sim , é transicional entre a Idade Média  ( Sécs. V a XV ) e a Idade Moderna  (a partir dos Sécs. XVII e XVIII , com o Iluminismo ). Digo isso porque os Renascentistas  ficavam fazendo pouco caso  da Idade Média , dizendo que ela tinha sido uma mera pausa entre a Antiguidade Clássica  e seu " Renascimento " . Para eles , o mundo ia bem  até a queda do Império Romano e, depois, era o caos da Idade Média . Sim, as pessoas da renascença acreditavam que estavam fazendo Renascer os áureos tempos  das Antigas Roma e Grécia . Como eu tinha explicado , períodos como o Classicismo e o Romantismo da música não correspondem  às divisões históricas  que damos a esses mesmos períodos . Por exemplo, o Classicismo , historicamente, é a antiguidade clássica  ( Europa central , entre os Sécs. VIII a.C.  e V d.C. ), enquanto que, na música , é em entre 1750 e 1810 . O Romantismo , na música , equivale a todo o Séc. XIX  (até mais ), quando, na literatura , foi mais ou menos de 1780 a 1840 . Mas a Idade Média  e a Renascença , não . Estes são períodos históricos tanto quanto períodos na história da música . Humanismo O Humanismo Renascentista  era uma movimento intelectual  muito popular nos Sécs. XIV, XV e XVI . Evitemos confusão: Século XIV , ou 14 = anos 1.301 a 1.400 . Século 15 , de 1.401 a 1.500 . Etc. O Humanismo Renascentista , que tinha pensadores como Erasmo de Roterdã , Dante Alighieri  e Petrarca , serviu de suporte filosófico  e mentor moral  ao povo europeu . Eles almejavam a purificação e reciclagem de Igreja Católica . Desejavam, também (sendo o Humanismo Renascentista  inspirado no conceito Romano de Humanitas ) o retorno às leituras bíblicas , compreender  melhor (ou traduzir melhor )  os Evangelhos , o Novo Testamento etc . Tudo isso, sem ter que ficar preso às regras cada vez mais complicadas   da Igreja Católica . Este movimento valoriza o ser humano  como nunca , antes . Através dessa prática , ele descobre que, ao simplesmente raciocinar  (sobre uma pedra , que seja), ele é capaz de compreender e capturar  o que, antes, não era possível . Isso, reunido com a redescoberta da literatura clássica dos Antigos Gregos  ( Sócrates , Platão e Aristóteles ) os levou a uma receptividade mental  que se transformou na sua arte - a música , a poesia , a arquitetura , a literatura , a pintura ... Muitos se declararam adeptos do Humanismo , desde papas até a nobreza (o espaço entre papas e nobreza era um pouco menor do que o atual ) . Essa corrente de pensamento  se originou no Séc. XIV , na Itália , e, de lá, foi se alastrando . A sua maior contribuição ao homem Renascentista  está em seu próprio nome . Assim como o Heliocentrismo prega que o Sol é o centro do universo ; e, no Geocentrismo , a Terra  é que  está ; o Humanismo propôs que, no centro do universo , está o homem (acho que a mulher , também, mas só em teoria ) . Esse poderoso pensamento dota o ser  de confiança , podendo ele, agora, questionar a natureza , a realidade , e se dando a oportunidade de se valorizar .  Traços da Renascença A Renascença surgiu  em Florença , possivelmente devido à grande concentração de intelectuais  (inclusive, graças à migração  de Eruditos Gregos , refugiados da queda de Constantinopla ), aliada à estabilidade política  da região e aos grandes patronos da Itália , a Família Medici , que apreciava patrocinar as artes ; Na Renascença , existiram Leonardo da Vinci  e Michelangelo ; Também viveu William Shakespeare ; Johannes Gutemberg  criou a imprensa ( ! ), cujo impacto cultural foi (e é ) gigante ; Cristóvão Colombo  e Pedro Álvares Cabral esbarraram nas Américas (sem querer. Exterminaram milhares de ingígenas , também, sem querer) ; Aconteceram a Reforma Protestante  e sua reação , a Contrarreforma ; A Guerra dos 100 Anos  terminou; Joana d'Arc  foi covardemente estuprada e morta ; Surgiu, já com medo das possibilidades que o Humanismo abria, o Individualismo . Era uma espécie de sub-corrente de pensamento que, entre outras coisas, punha o indivíduo no centro de suas próprias preocupações , em vez de Deus , como sempre havia sido ; Com o Individualismo , o ser passa a olhar para si  e ser capaz de se compreender e de compreender o mundo ; A nobreza amava esta corrente de pensamento, pois, basicamente, dizia que ela, a nobreza, podia , até deveria, " cuidar " das suas proriedades, sem se preocupar com a pobreza que a cercava; Este pensamento prevalece em metade do Brasil ; O Universalismo existiu no começo da Renascença , um período de construção e expansão de escolas e universidades ; A doutrina reconhecia o valor humano  em suas mais diversas formas de saber , inclusive estimulando o saber em várias áreas , possibilitando o surgimento dos polímatas , aqueles que exercem vários ofícios  (como Leonardo da Vinci , que foi pintor , botânico , poeta , geólogo e muitas outras coisas ); Outros artistas  (não músicos) que apareceram na Renascença  foram: Dante Alighieri, Miguel de Cervantes , Luís de Camões , Nicolau Maquiavel , Caravaggio , Sandro Botticelli , Rafael Sanzio , Jan van Eick , Ticiano , Hieronymus Bosch , Fra Angelico , Tintoretto , Donatello , entre outros ; Técnicas de pintura  desenvolvidas na Renascença : Chiaroscuro , Cangiante , Perspectiva , Proporção , Sfumato ; As mulheres (mesmo as " nobres ") estavam em péssimas condições : não podiam ser vistas pela janela  para não despertar o interesse dos homens (estes, podiam violentá-las, afinal, foram " convidados "); não podiam  tocar instrumentos de sopro , pois, acreditava-se, deformava os lábios , sendo que uma mulher só era valorizada se fosse bonita ; eram meros acessórios  que pertenciam legalmente aos maridos ; os ajudavam , quer eles tivessem um restaurante (elas cozinhavam ) ou uma alfaiataria  (elas costuravam ); as que não se casavam jamais, adquiriam emancipação  (ficavam na casa dos pais  ou viravam freiras ); Assim como hoje , existia um punhado de muito ricos  e um número absurdo de pobres . A Música Renascentista A Música Renascentista  não apagou a da Idade Média  e nem a ignorou . Na verdade, ela evoluiu a partir da outra . Os coros ficaram maiores , os instrumentos , mais eficientes  (em termos de afinação e durabilidade ) e os estilos foram sedimentados . Na escrita contrapontística , as vozes ganharam maior independência melódica  e rítmica . Evoluiu o Cantus Firmus , que é quando uma melodia preexistente  é usada como base para a confecção  de outra (s) . Outra técnica herdada  da Idade Média  foi o Fauxbourdon , ou Faux-Bourdon  ( Falso Bordão ), que consiste na aplicação de saltos de oitava  e ornamentação para embelezar a música . No final da renascença , surgiu a afinação * moderna . Até então ,   utilizava-se um sistema de afinação  diferente. Ou vários (como, por exemplo, a afinação pitagórica ). P ara os ouvidos   atuais , parece desafinado . * Afinação nada mais é do que uma maneira de dividir , em intervalos, uma oitava , o intervalo entre uma nota e si mesma  mais aguda ou mais grave  (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si são as primeiras sete  notas, em Dó maior , e Dó , ele mesmo, é a oitava ). Acontece que, tecnicamente, este espaço é infinito . Muito gradualmente , chegamos a uma maneira mais ou menos  boa  de dividi-lo , com o chamado Temperamento Igual . É um sistema de afinação  que, mesmo sem você saber , seu ouvido conhece muito bem. A Música Instrumental  começou a ser feita por compositores sérios . Refiro-me àqueles do ocidente que sistematizaram , anotaram e trataram de espalhar sua música. Quanto aos instrumentos , muitos têm origem na Idade Média  e foram evoluídos na Renascença . Para sumir (ou evoluir ) no Barroco . Alguns dos mais comuns : A família de Violas da Gamba Renascentistas , instrumentos de Corda com Arco  com 6 cordas  (ou 7 , dependendo da região). Pesquise sobre os instrumentistas modernos Hille Perl , John Dornenburg  e Jordi Savall . O som é doce , menos áspero e rouco que o da família dos Violinos; A das Flautas Doces Renascentistas , que cresceu descontroladamente (veja vídeo abaixo ). A Flauta Doce Renascentista tem construção melhor, som mais forte e mais versatilidade do que a Medieval; O Cravo , na Renascença, tornou-se um instrumento potente  que tanto acompanhava quanto tocava solo ; Evoluiu o Órgão , de modo que, muitos sobrevivem . Com dois ou mais teclados  e uma pedaleira , pode ter metros e metros de tamanho (já que seus tubos não ficam,  necessariamente, perto do teclado ) ; Havia, ainda: A Sacabuxa , o antepassado do Trombone ; A Mandora , um pequeno Alaúde Soprano ; O Alaúde , o mais importante instrumento  de cordas pinçadas  da época; O Cistre , análogo a um Alaúde , mas com o fundo reto ; A Charamela , instrumento de sopro de palheta dupla  que seria, no Barroco , substituído pelo Oboé ; A Flauta Transversa , que ainda era de madeira , mas acabou " vencendo " da flauta doce em potência e afinação ; O Virginal , instrumento da família do Cravo , mas bem menor  e com apenas um teclado . O instrumento para o qual compuseram William Byrd , John Bull  e Orlando Gibbons ; A Espineta ,   uma espécie de Cravo compacto . Sua cauda fica na diagonal , tornando-a ainda menor ; O Violino . Surgiu no final da Renascença , mas só foi crescer em popularidade no Barroco . O Alaúde A família das Flautas Doces Renascentistas A Mandora O Órgão As Flautas Transversas O Virginal O Consort (família de instrumentos) da Viola da Gamba O Cravo Renascentista Vemo-nos na parte 2 da parte II . Obrigado. Lista de postagens : clique aqui .

  • Orquestra de Cleveland - As Melhores do Mundo 8

    Por Rafael Torres É uma orquestra relativamente " jovem ", apareceu no cenário musical nos anos 60 , sob a direção do húngaro George Szell . A cidade de Cleveland não é, nem mesmo, a capital do seu estado, Ohio . Esta é Columbus . Em um país em que não falta(va) dinheiro , a distinção entre capital e interior não é tão importante. Outra orquestra do mesmo estado que impressiona é a Orquestra Sinfônica de Cincinnati . Mas o que faz a Orquestra de Cleveland (eles não se denominam 'Sinfônica' nem 'Filarmônica', mas adotaram o artigo: ' The Cleveland Orchestra ') ser considerada uma das melhores do mundo (não só por mim) é a tradição . Ela teve a chance de, no momento mais importante da história, para as orquestras , o pós - guerra , contratar um regente que deu muito certo : George Szell . George, já nos testes , impressionou o público (naquela época o público frequentava os testes ). Os Estados Unidos , que ainda não detestavam imigrantes (acho que, Europeus , ainda não detestam ) lhe deram o poder e as condições financeiras para substituir músicos como quisesse, a fim de tornar a orquestra a " Melhor da América " (palavras suas). Ele foi contratado em 1946 . Em 1959 , levava a orquestra para a sua primeira turnê europeia (Europa ocidental e oriental ). Em 1960 , a "casa" da orquestra, o Severance Hall , passou por reformas para melhorar sua acústica , o que, por si só, contribuiu muito com a qualidade do conjunto, já que os músicos podiam se ouvir melhor . Ele insistiu em uma estrutura que ficou conhecida como " concha de Szell ". Em 1967 eles foram a primeira orquestra não-europeia a ser convidada para os três maiores festivais de música clássica : o de Edimburgo , o de Salzburgo e o de Lucerna . Isso, pouco depois de fazer sua segunda turnê europeia , em que tocaram em Moscou , Leningrado , Tblisi e Kiev . Szell supervisionou a construção do Blossom Music Center , que dava à orquestra a possibilidade de tocar (e ganhar dinheiro ) no verão . E o mais importante para a propagação da orquestra, consolidou uma parceria com a gravadora Epic , parte da Sony (atual Sony Classical ). Já havendo gravado com grandes orquestras na Europa, como a Filarmônica Tcheca e a Sinfônica de Londres , nos Estados Unidos ele trabalhou com solistas de nome (e locais ), como o pianista Leon Fleisher - para que se tenha uma ideia , a gravação deles dos 5 concertos de Beethoven é considerada até hoje uma das mais importantes da história. Compreendendo que a gravação era o melhor cartão de visita da orquestra, chegava a gravar, por ano, 5 a 10 álbuns (e você os encontra no Spotify , em Sebos de Vinil e CD , YouTube etc.). Eles gravavam de Haydn , especialidade de Szell a Richard Strauss , compositor do século XX e orquestrador dificílimo . Tudo para criar a impressão , no público , de que se tratava da orquestra mais ágil e versátil do mundo . O público, que dificilmente tinha acesso a gravações europeias , acreditava . E, até certo ponto, com razão . Porque a Orquestra de Cleveland havia atingido um patamar em que podia ser comparada a qualquer outra , sem sair perdendo. Mas, também, sem necessidade . Gravações lendárias , eles fizera dos dois concertos para piano de Brahms . As com Leon Fleisher só tinham uma concorrente. As de Szell/Cleveland , mesmo, com Rudolf Serkin . Além disso, todo ano Szell gravava com a Sinfônica de Londres , com a Orquestra do Concertgebouw e com a Columbia Symphony Orchestra . E música de câmara (era excelente pianista ). A Sala A Orquestra, fundada em 1916 , ganhou sua sala de concertos em 1931 , a Severance Hall . Com as reformas sugeridas por Szell , em 1960 , tornou-se, além de bela , uma sala confiável , em que os músicos podem se ouvir com rapidez , o que contribui para que a orquestra seja ágil como poucas. E, como a Severance Hall é uma sala de inverno , tornando-se muito quente no verão , era comum que as orquestras dos Estados Unidos fizessem suas temporadas apenas na estação fria . Mas algumas , como Cleveland, podiam dar-se o luxo de construir uma outra sala , que abrigasse concertos no verão . É o caso do Blossom Music Center , que, desde 1968 , abriga os concertos de verão de Cleveland . Os Regentes Seis regentes (ao menos até 2027 ) compõem o compacto rol da Orquestra de Cleveland . Isso é bom para ela, que está sempre sendo disputada , e que não tem que mudar seu som a cada novo contratado . Nikolai Sokoloff (1918-1933) - Regente ucraniano . Havia sido diretor musical da Sinfônica de San Francisco , onde trabalhara para que a orquestra contratasse mulheres e as pagasse o mesmo que a homens . Em Cleveland , gravou a 2ª Sinfonia de Sergei Rachmaninoff . Artur Rodziński (1933-1943) - O polonês já era conhecido, quando nomeado regente titular da orquestra. Ele adicionou ópera (eca!) ao repertório da orquestra e, especialmente, música moderna , gravando ' A Sagração da Primavera ', de Igor Stravinsky , mais Debussy e Shostakovich . Erich Leinsdorf (1943-1946) - Regente austríaco muito respeitado, trabalhava na Metropolitan Opera , de Nova Iorque . Estavam, ele e Szell , bem cotados na disputa para ser o próximo regente principal da Orquestra de Cleveland . Ele ganhou . Mas só por três anos . Nesses três anos, Leinsdorf contribuiu significativamente com o aumento da fama da orquestra, inclusive com a negociação para que ela participasse, todo domingo , de um programa de rádio , que a permitia ser ouvida em boa parte do mundo ( América do Sul , inclusive). George Szell (1946-1970) - O húngaro foi o primeiro a gravar abundantemente . Como o repertório era, queira ou não, limitado (e, também, os avanços nas técnicas de gravação, tornavam o investimento necessário completamente justificável ), gravou obras duas , às vezes três vezes. Em 1970 ele não ia bem de saúde . Fez seu último concerto no Alaska , quando, no meio da apresentação, sentiu uma dor no peito . Faleceu em 30 de julho de 1970 . Lorin Maazel (1972-1982) - Regente americano , o único (americano), até hoje, a ser regente principal de Cleveland , Maazel era um talento notável , tendo regido pela primeira vez aos oito anos de idade. Em 1972 ele já tinha trabalhado na Deutsche Oper Berlin (de 1965 a 1971) e na Deutsche-Symphonie-Orchester Berlin (de 1964 a 1975). Quando veio a Cleveland , teve uma passagem excelente , mas foi sondado , nos anos 1970 pela Ópera de Viena , trabalho irrevcusável . Em seu último período em Cleveland, regeu apenas sete dos concertos programados para o ano inteiro . Seu sucesso na Europa era avassaloador . Maazel fora casado com uma brasileira , falava português (tenho um disco em que ele narra ' Pedro e o Lobo ', de Sergei Prokofieff ) e morreu em 2014 . Christoph von Dohnányi (1984-2002) - Regente alemão . Quando eu comecei a comprar CDs , o maestro de Cleveland era esse aqui . Sempre gostei muito dele (neto do compositor Ernst von Dohnányi ), com um repertório enorme e competente em todo ele. Regia Beethoven com segurança , Schumann com elegância e Dvořák com seriedade . Quando acabou seu contrato , foi nomeado diretor laureado pela orquestra . Durante sua passagem, nos anos 90 , a orquestra levantou fundos para remover a " concha de Szell " e recolocar o órgão no palco . Franz Welser-Möst (desde 2002) - Regente austríaco altamente prestigiado, Welser-Möst tem feito uma discografia muito boa e ganhado muitos prêmios por ela . O fato é que a indústria de gravações de música clássica , enquanto cresce no Brasil e na America Latina , tem decrescido , por várias razões, na Europa e nos Estados Unidos . Discografia Sugerida Além de gravar com seus titulares , a orquestra fez diversos registros com regentes convidados , como o francês Pierre Boulez e o russo Vladimir Ashkenazy . - W. A. Mozart - Concertos para Piano Nos. 9 , 17 , 18 , 19 , 20 , 21 , 23 , 24 , 25 e 27 (são 5 CDs) - Acho mesmo que a pianista nipo-inglesa Mitsuko Uchida tinha pretensões de gravar pela segunda vez os concertos de Mozart regendo do teclado a Orquestra de Cleveland . A primeira foi uma das primeiras gravações dela, com a Orquestra de Câmara Inglesa e o regente Jeffrey Tate . Esta daqui , iniciada quase vinte anos após o término da anterior , não nos revela uma artista mais ' madura ', ' sábia ', nem nada . Mas, em alguns concertos ( 20 , 21 , 24 , 25 , 27 ), o som é tão bom , que você dá graças aos céus por Mitsuko ainda estar ativa . São as melhores gravações destes concertos de Mozart. E são ao vivo , mas tiveram a delicadeza de remover os aplausos e ' bravos ' no final (ao menos na master que foi ao Spotify e, acredito, outras plataformas de streaming que ganham bilhões às custas dos artistas que, estes sim, fazem todo o trabalho ). - W. A. Mozart - Concertos para Clarinete , para Oboé e para Fagote - Com Christoph von Dohnániy , Franklin Cohen (clarinete), John Mack (oboé) e David McGrill (fagote). O melhor concerto de Mozart , melhor do que qualquer um para piano , é o para clarinete , seu derradeiro , sobre o qual estou escrevendo um artigo . Gravados entre 1991 e 1993 e lançados em 1995 , os solistas , todos, pertencem ou pertenceram à Orquestra de Cleveland - decisão acertadíssima de Dohnányi . É um repertório relativamente pouco gravado , deixado como sobra às orquestras HIP . Engado crucial , são obras sinfônicas . O Concerto para Clarinete foi escrito uns 12 anos antes da ' Sinfonia Eroica ' de Beethoven . - Ludwig van Beethoven - As 9 Sinfonias - Em um dos poucos casos em que um titular gravou obras que um anterior já havia gravado (falo de George Szell e Christoph von Dohnányi ) o velho Szell ganha em todas . Ele acerta a intensidade , o andamento , o clima ... Fala a língua de Beethoven . - Ludwig van Beethoven - Aberturas - Com George Szell . Um disco que facilmente passa despercebido na discografia de Szell é esse . Lançado em 1974 , contém as aberturas ' Egmont ', ' Coriolano ', ' Rei Estêvão ', ' Leonora 1 ', ' Leonora 2 ' e ' Fidélio '. Curiosamente, anos depois, von Dohnány gravou a ' Leonora 3 ', completando o ciclo com as principais aberturas . - Ludwig van Beethoven - Os 5 Concertos para Piano - Com Vladimir Ashkenazy . No final dos anos 80 e início dos 90 , o pianista e regente russo Vladimir Ashkenazy fez, com a Orquestra, a sua terceira gravação da integral dos concertos de Beethoven. Conhecendo as três , posso dizer que esta é a melhor . Mas apenas vagamente , cada uma tem seu charme . - Franz Schubert  - Sinfonia Nº 9, "A Grande"  - Com Franz Welser-Möst . Esta sinfonia específica, junto com a 8ª , do mesmo Schubert , é muito gravada . Acho que vem no contrato "gravar a 9ª de Schubert "... Desse modo, fica difícil fazer a orquestra tocar com algo além de tédio . Mas não vi sinal de tédio nessa gravação de Welser-Möst . Ele conseguiu o impossível : trazer frescor a uma obra tão batida . - Robert Schumann  - As 4 Sinfonias  - Com Christoph von Dohnányi . De Dóhnányi poderíamos escolher várias gravações . Aqui, a dosagem de grandeza com discrição está perfeita . O 3º movimento da 2ª Sinfonia é comovente , sem ser piegas . Na quarta , ele conseguiu arrancar da orquestra uma sonoridade europeia e, ao mesmo tempo estadunidense . - Johannes Brahms - As 4 Sinfonias - Com Vladimir Ashkenazy . George Szell gravou bravamente as 4 , algumas mais de uma vez . Mas aqui temos, em som nítido , uma grande interpretação de quatro grandes obras. E isso é importante . A minha sensação é que, nessas sinfonias , falta a Szell o mesmo que faltava a Dohnányi nas Sinfonias de Beethoven . Gana , estômago . Simplesmente não dá para ser elegante tocando essas obras. - Johannes Brahms - Os 2 Concertos para Piano - Com Rudolf Serkin e a Orquestra de Cleveland regida por George Szell . George Szell e Cleveland não aparecem nesta lista minha das melhores gravações do 1º Concerto de Brahms. Mas aparece várias vezes nesta , referente ao 2º concerto . Estas gravações são pilares da história da música gravada . - Antonín Dvořák - As 4 Últimas Sinfonias  - São gravações quintessenciais destas 4 obras . Se não estiver enganado, ele gravou um CD com a 7ª , a 8ª e a 9ª e, depois, gravou a 6ª . São obras (a sétima , a oitava e a nona ) que Szel já havia gravado com a orquestra. E muito bem . Mas a gravação de Dohnányi beira a perfeição e o som é muito mais equilibrado . - Igor Stravinsky  - A Sagração da Primavera  - Com Pierre Boulez . Boulez gravou esta mesma obra , com a mesma orquestra , por duas vezes . Em 1969 e em 1992 . Refiro-me aqui à gravação de 1992 , que é mais limpa e tem um som melhor . Mas seja qual for, é um item obrigatório na discografia de qualquer fã de Boulez , da Orquestra de Cleveland ou de Stravinsky . Nota-se por que já no caos da introdução . Role para baixo e encontrará uma caixa de comentários vermelha . E lá que você deverá deixar seus pensamentos mais sinceros . E, também, os mais absurdos .

  • 5 Discos para Entender Franz Liszt

    Por Rafael Torres Estes são alguns dos melhores discos sobre a obra de Franz Liszt . Você os encontra, todos (hoje são 22/09/2024 ) no Spotify e, acredito, em qualquer outra plataforma de distribuição de música digital . Mas eu disse que são alguns . Esta lista poderia ter 100 álbuns . Pesquise , sobretudo, por Jorge Bolet , Marc-André Hamelin , Nelson Freire (que tem discos atuais), Arnaldo Cohen , Roberto Szidon (brasileiro que fez a gravação de referência das 19 Rapsódias Húngaras ) e Lazar Berman . 1. Nelson Freire - Liszt: Sonata in B minor Este disco fantástico contém, ainda, a Sonata Nº 3 , de Frédéric Chopin . Mas atenhamo-nos à Sonata de Liszt, prato principal . Encabeçando nossa lista, a leitura mais visceral da obra mais visceral de Liszt. Nelson agarrou a peça, como faz, e quase a transformou em sua. Nunca o grandioso soou tão grandioso . Sua gravação da Sonata em Si menor dura 28m16s , é do início de sua carreira e faltam-me adjetivos para qualificá-la. No disco original, com a capa acima, ela vinha com a 3º Sonata de Chopin, e você não o encontra mais (a não ser em sebos. Ou no Spotify.). A sonata jamais fora ou seria gravada assim ( 1972 ). Não que lhe faltassem defensores: nomes como Martha Argerich , Krystian Zimerman , Jorge Bolet , Claudio Arrau , György Cziffra e Marc-André Hamelin deixaram seus registros. Com muito sucesso . Genialidade , até. Mas Nelson Freire foi além , muito além . 2. Volodos Plays Liszt (2012) O elusivo pianista russo Arcadi Volodos  é um fenômeno inexplicável. Dotado de uma técnica inexplicável , gravou relativamente pouco e costuma sumir por alguns anos. O começo de sua carreira foi tão hiperbolicamente entusiasmante  que chegou a curvar o espaço-tempo , em um recital no Carnegie Hall , em Nova Iorque,  em 1999 , que foi lançado em CD (está lá, no Spotify, escute apenas a penúltima faixa e a reação alucinada do público). Ele tem tudo: uma técnica infalível , permitindo-o tocar passagens dificílimas com facilidade e sem errar; um raro talento para " colorir " a música, com o pedal, com articulação e com controle de dinâmicas; e extremo bom gosto . Suspeito que algo maligno permeie a carreira de Volodos , pois a essa altura ele deveria ser por consenso o maior pianista vivo . No entanto, ela é discreta e os álbuns saem com alguns anos de intervalo . Este disco é um recital , isto é, não se atrela a nenhum grupo de obras específico. Mistura peças longas (8-13 minutos) e curtas (3-4 minutos). Inicia com Vallée d'Obermann , a sexta peça de Années de Pèlerinage - Première Année : Suisse   (Anos de Peregrinação - Primeiro Ano: Suiça - 6. O Vale de Obermann). Como muitas peças de Liszt, ela começa reticente , até meio manca . Mas logo ganha ares contemplativos , que vão ficando agitados e febris . São os pensamentos atormentados do herói do autor Étienne Pivert de Senancour , em seu romance de mesmo nome. Liszt era partidário da vertente musical de Wagner , que postulava que toda música deveria ser descritiva , seja contando uma história, seja expondo os sentimentos do compositor. O álbum segue com Il Pensaroso , 2ª peça dos Années de Pèlerinage (Deuxième Anée: Italie) (Anos de Peregrinação - Segundo Ano: Itália - 2. O Pensador), baseado na famosa estátua de Michelangelo. Liszt realmente teve um período de peregrinação em que visitou Itália e Suíça com seu primeiro amor, a condessa Marie d'Agoult , com quem teve os filhos Cosima (1837) e Daniel (1839). Mas os 3 Cadernos chamados Anos de Peregrinação são baseados na obra Os Anos de Peregrinação de Wilhelm Meister , do autor venerado por todos os artistas do Romantismo, Johann Wolfgang von Goethe . No Brasil, são mais conhecidas as obras Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister , que antecede a citada acima; o romance epistolar Os Sofrimentos do Jovem Werther (uma eterna paixão minha) e o drama literário Fausto . Goethe nasceu em 1749 , portanto, bem antes do início do Romantismo (mas ainda chegou a testemunhar o surgimento deste, no século XIX). Seu romance Os Sofrimentos do Jovem Werther , de 1774 , causou tanto entusiasmo que chegou a gerar uma onda de suicídios na Europa. Foi considerado um dos mais importantes produtos do movimento literário e musical Sturm und Drang , Tempestade e Ímpeto, dos anos 1770, movimento este que antecipava muitos aspectos do Romantismo, como a excessiva emotividade , turbulência , paixão , uma expressão , enfim, mais tempestuosa , mais impulsiva . Em seguida, Volodos faz uma leitura impecável e delicada de St François d'Assise: La Prédication aux Oiseaux (A Pregação aos Pássaros), Primeira das duas peças que compõem a obra Deux Légendes (Duas Lendas). Aqui, Liszt faz interessante uso do Piano para reproduzir o canto dos pássaros e seu agito. A quarta faixa é curta , mas crucial no desenrolar da história da música . De 1885 , a Bagatelle sans Tonalité (Bagatela sem Tonalidade). O Atonalismo só viria a aparecer uns 20-30 anos depois , especialmente com o trabalho de Arnold Schoenberg e seus pupilos Alban Berg e Anton Webern , que formam o que chamamos de Segunda Escola Vienense (ficando subentendido que a Primeira Escola Vienense seria o conjunto dos esforços de Joseph Haydn , Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven , representando o Classicismo , quando as regras da música tonal foram completamente amadurecidas - Haydn, Beethoven e Mozart jamais usaram essa alcunha ou pensaram sobre o assunto ). Embora a Bagatelle sans Tonalité possa atiçar a tentação de alguns em dizer que foi um protótipo de Música Atonal , existindo décadas antes dela ser formalizada, é necessário dizer que a Música Atonal do Século XX era muito diferente . Veja, existem duas maneiras de dizer que uma música não tem um tom. Ou ela jamais repousa em um tom seque r, ou repousa desarranjadamente em vários tons . A de Liszt faz isso , pousa em vários tons diferentes sem eleger o principal . A da Segunda Escola Vienense faz tudo que você possa imaginar para evitar sequer passar a impressão de que um acorde inteligível foi tocado . Ou que alguma nota age como centro gravitacional de certa peça. Mas a Bagatelle continua interessante . Era muito raro alguém compor uma música em que não ficasse perfeitamente claro qual era a tonalidade. Liszt usa muitos cromatismos , que são passagens em que o intervalo entre as notas é sempre de um semitom , gerando uma espécie de embaçamento musical que tira do ouvinte a orientação a respeito da hierarquia das notas. Liszt escreveu 19 das famosas Rapsódias Húngaras e aqui, Volodos nos apresenta a 13ª , uma das peças menos conhecidas do compositor. Mas, ao ouvi-la defendida por Volodos, você se pergunta por quê . Embora lenta, é repleta de passagens de absurdo virtuosismo e de bela expressão . Nessa, como em todas as Rapsódias Húngaras, Liszt menciona pelo menos três canções folclóricas de seu país natal. Voltamos aos Anos de Peregrinação na Itália com Sposalizio , composta em 1849 e publicada em 1858 , abrindo o primeiro caderno Années de Pelerinage . A inspiração foi o quadro O Casamento da Virgem , de Rafael Sanzio , que Liszt viu em exposição em Milão. Spozalito , e ele escreveu assim mesmo, é casamento em italiano. Essa obra é tem uma das construções , através de modificações e variações , que mais me impressionam . O álbum segue com o Prelúdio sobre Weinen, Klangen, Sorgen, Zagen , de Johann Sebastian Bach (Chorando, Lamentando, Preocupando-se, Temendo). Basicamente, Liszt pegou os temas da Cantata de Bach de mesmo nome e fez uma peça original . Como homenageia Bach, usando o próprio Bach, ele usa uma escrita para piano com elementos do Barroco , como a escrita coral , lampejos de contraponto e frases com características das de Ba ch. Depois, temos a sétima das Dez Harmonias Poéticas e Religiosas , caderno publicado em 1853 . Trata-se de Funérailles , talvez a mais conhecida das dez. É uma elegia às vítimas do Exército Austríaco durante a Revolução Húngara de 1848 , pela independência da Hungria . A penúltima peça é La Lugubre Gondola , ou Trauergondel (A Gôndola Sombria), uma das mais importantes composições tardias de Liszt. Em dezembro de 1882 Liszt era convidado de seu genro Richard Wagner no Palazzio Vendramin , às margens do Grande Canal, em Veneza, quando teve uma premonição da morte de Wagner . No mês seguinte começou a escrever a primeira versão da peça. Mas ele a retrabalhou várias vezes, transcrevendo para Violoncelo e Piano, para Violino e Piano até se decidir pelo Piano solo. Wagner morreu em fevereiro de 1883 , em Veneza . Seu corpo seria enterrado em Bayreuth , Alemanha, e a procissão fúnebre começou com a tradicional gôndola funeral carregando o corpo até a estação de trem. É uma peça lindamente emotiva , comovente e introspectiva . Volodos termina com uma curta e doce pecinha de 1885 chamada En Rêve ( Nocturne ) - Em Sonho (Noturno) - que certamente presta homenagem a Frédéric Chopin , o grande autor de Noturnos para Piano, falecido muito antes, precocemente. Outros recitais interessante s apenas com obras de Liszt : - Nelson Freire - Harmonies du Soir ( 2011 ) - Jorge Bolet - Liszt Paraphrases ( 1970 ) 3. Liszt: Études d'Exécution Transcendante  - Alice Sara Ott (2007) Ao se enumerar os melhores discos de Liszt, tem-se que levar em consideração os intérpretes , mais do que com a maioria dos outros compositores. Um maestro pode ser chamado de gênio por realizar a execução ou gravação perfeita de uma sinfonia de Brahms , mas o feito é de Brahms . No caso de Liszt , o mérito pende um pouco mais para o lado do intérprete . A pianista nipo-germânica Alice Sara Ott , nascida em 1988 , é dona de um talento tão supremo, que seu primeiro álbum comercial já foi fruto de um contrato com a gravadora alemã Deutsche Grammophon , possivelmente a mais tradicional da Música Clássica. Foi em 2007 e ela gravou os Estudos de Execução Transcendental , publicados em 1853 . 12 obras dificílimas , compostas para ser difíceis , mas também calejadas , tocadas em excesso e gravadas à exaustão . Parecia que os estudos já haviam dito tudo o que tinham para dizer . Mas aí veio Alice. Ela toca de uma maneira nova , mais poética , e isso não quer dizer que abra mão do virtuosismo . Sua técnica é impecável. Mas é a expressividade da menina que queria se comunicar através da música que torna este disco essencial. Infelizmente, em 2019 , a jovem pianista foi diagnosticada com Esclerose Múltipla . O resultado pode ser desde uma dificuldade na coordenação dos movimentos até atrofia cerebral. Mas seu caso é menos severo e não degenerativo , manifestando-se em crises momentâneas e depois recuando a um estado menos grave. Ela continua gravando , tendo lançado o álbum " Echoes of Life ", que contém os Prelúdios de Chopin (2021) e " Beethoven " (2023), com o 1º Concerto para Piano , a Sonata ao Luar e peças menores do compositor alemão. Os Études d'Exécution Transcendante , na versão em que os conhecemos, foram publicados em 1852 , mas são uma espécie de reelaboração de um caderno lançado em 1837 chamado Grandes Études . Apenas o Étude Nº 4 , Mazeppa , foi originalmente escrito para a versão final . E os Grandes Études , por sua vez, são baseados em uma série juvenil, de nome Études en Douze Exercices , de 1826 . Já chegaram a ser gravados , mas nem de longe com a frequência da versão de 1852. O disco contém 13 faixas : os doze Estudos , na ordem em que aparecem no caderno, e um dos 6 Grandes Études de Paganini , baseados em peças do violinista . É o 3º , o famoso La Campanella . Todos têm apelidos , alguns à força, adquiridos ao longo do tempo e não necessariamente atribuídos por Liszt. Outras recomendações dos Ètudes d'Exécution Transcendante : Claudio Arrau ; Jorge Bolet ; Daniil Trifonov . 4. Liszt: Totentanz / Piano Concertos No. 1 and 2  - Arnaldo Cohen (Piano), Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e John Neschling (regente) (2007) A obra de Liszt para Piano e Orquestra é restrita. Quase limita-se às três peças encontradas nesse e em milhares de discos . São a Totentanz (Dança Macabra), que é uma série de variações sobre o Dies Irae (Totentanz ), os Concertos 1 e 2 para Piano ( o quarto disco listado aqui, com Khatia Buniatishvili ), e obras pouco gravadas , como um Terceiro Concerto para Piano (obra inacabada ), a Malédiction e coisas menos interessantes . As mais gravadas são as que estão aqui: Concertos Nos. 1 e 2 e Totentanz . Quando as juntamos , temos bravura : Concerto Nº 1 e Totentanz e leveza e lirismo: Concerto Nº 2 . Nas três peças , Arnaldo já começa muito bem desafiado . São famosas as gravações da Totentanz com Nelson Freire , Filarmônica de Munique e Rudolf Kempe ; das três peças com Nelson Freire , Filarmônica de Dresden e Michel Plasson , ou com Krystian Zimerman , Sinfônica de Boston e Seiji Ozawa ; a Totentanz , a Malédiction e a Fantasia Sobres Cantos Folclóricos Húngaros por Jorge Bolet , SInfônica de Londres e Iván FIscher , ou ainda, Boris Berezovsky , a Orquestra Philharmonia e Hugh Wolf , e a alegria triste das versões de Claudio Arrau , com a Sinfônica de Londres e Colin Davis . Não vou enchê-los, é apenas para ilustrar a grandeza do desafio . Pois em 2007 , OSESP recém reformada, um dos melhores conjuntos musicais do mundo , Neschling afiado e Cohen em seu auge . Em 2007 eles gravam as obras. O grande desafio do disco não é a estelar , virtuosística e heroica Totentanz . Não são nem mesmo a dificuldade e a predominância do 1º Concerto . É , sim , a ternura e a candura do Concerto Nº 2 . Notemos que eles dividiram Totentanz em 10 faixas , ela que, geralmente ocupa uma . No Segundo Concerto , optaram por 6 faixas , pouco acima das habituais 4 . Convém dizer que, se formos observar as divisões de andamento na partitura, teremos 6 . Embora, também na partitura, tenhamos um movimento contínuo , como se fosse uma rapsódia . Os 6 são. Adagio sostenuto assai Allegro agitato assai Allegro moderato Allegro deciso Marziale un poco meno allegro Allegro animato Totentanz Arnaldo já havia gravado a Totentanz na dificílima versão para Piano Solo , feita por Liszt em 1865 . Sugiro que confiram . A capa é a que se segue. O repertório do disco é tão difícil que tiveram que chamar o Arnaldo Cohen para dar conta. E ele deu. Tem também a Danse Macabre , de Camille Saint-Saëns . E tem no Spotify , no link: https://open.spotify.com/intl-pt/album/4o3ljVALInrcJEZ9INRq40?si=TbnG5s86QbatMKd_fWrmJg https://deezer.page.link/DSg6ki5Cf7FChWHi8 ( Deezer ). Concerto para Piano e Orquestra Nº 1, em Mi Bemol Voltando ao nosso álbum com a OSESP , o Concerto Nº 1 é relativamente curto , com cerca de 20 minutos em seus 4 movimentos (aqui, bem separados). A estreia da peça foi em Weimar , com Liszt ao piano e Hector Berlioz na regência. Foi em 1855 , mas os esboços datam de 1830 , quando o compositor tinha 19 anos . O terceiro movimento nos trás à luz um triângulo , o inocente instrumento do vendedor de chegadinho , a fazer par com o poderoso piano . Essa demonstração fez com que o concerto ficasse por muito tempo conhecido como " Concerto do Triângulo ". No geral a obra é bem mais difícil para o solista que o segundo concerto . Concerto para Piano e Orquestra Nº 2, em Lá Esse concerto é uma joia . De inspiração única , Liszt o compôs em 1840 , tornando-o, ao mesmo tempo, anterior e posterior ao Primeiro . Desta vez Liszt o estreou como regente , em Weimar, com seu aluno Hans von Bronsart ao piano , em 1857 . A orquestra é concisa, mas sólida (ou seja, menor ): 2 de cada madeira + um flautim ; 2 trompas , 2 trompetes , 3 trombones , tuba , 2 tímpanos , pratos e as cordas . Interessante destacar que, dela, se sobressai um único violoncelo , como no Concerto Nº 2 de Brahms . É uma atitude típica do romantismo . Versões digníssimas dos dois Concertos e da Totentanz : - Os Concertos e a Totentanz - Krystian Zimerman , com Seiji Ozawa e a Sinfônica de Boston ; - Os dois Concertos e a Totentanz - Nelson Freire , Filarmonia de Dresden e Michel Plasson ; - Os Concertos e a Totentanz - Eldar Nelbosin , Filarmônica Real de Liverpool e Vassily Petrenko . 5. Liszt: Symphomic Poems - Filarmônica de Berlim, Zubin Mehta Outra faceta importante na carreira de Liszt é a invenção do Poema Sinfônico (!). Ele os começou em 1848 . Todos para Orquestra , Liszt compôs, oficialmente, 13 Symphonische Dichtung , como chamou. Algo como Poesia Sinfônica . Ele pode até não ter sido o primeiro a usar o termo , mas é o primeiro conhecido . Isso inspirou Antonín Dvořák , Richard Strauss , Heitor Villa-Lobos e muitos outros . Virou um tipo de peça canônica , que todo compositor deve fazer. Consiste em uma peça descritiva (descritiva de um humor , de um história , de um poema ) que pode durar de 5 , 6 minutos a uns 40 . A maior parte dura entre 10 e 20 minutos . Veja alguns (não de Liszt) que já analisamos : Mussorgsky - Noite no Monte Calvo Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro Mendelssohn - As Hébridas (uma espécie de Proto-Poema Sinfônico) Rachmaninoff - A Ilha dos Mortos E 10 Obras Sinfônicas Extra Categoria Pois em 1994 (lançado em 1997 ) Zubin Mehta pegou a Filarmônica de Berlim na era Claudio Abbado e gravou 5 deles . Incluindo o mais famoso, Les Préludes . Os poemas gravados foram: Les Préludes ; Orpheus ; Mazeppa ; Hamlet e Hunnenschlacht ( Batalha dos Hunos . Lembram? Átila , o Huno infernizando Roma?). É um disco sensacional . Às vezes você tem que ler para entender melhor (e, às vezes, você quer ler ). Mas sério, vou linkar vocês à Wikipédia . Não deixe as pessoas arrastarem aquele velho preconceito de que a Enciclopédia Colaborativa Virtual não presta . Já faz, pelo menos, 10 anos que, mesmo em português , ela tem muitos artigos bem escritos e elucidativos . Duvida ? Clique no link abaixo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Poemas_sinf%C3%B3nicos_(Liszt) Agradeço a quem leu esse pequeno artigo e espero que tenha sido útil . Agora, role abaixo e verá uma caixa de comentários vermelha. Ela quer ouvir suas palavras .

  • Marina Martins - A Violoncelista do Futuro

    Olá! Como vão todos? Como vocês sabem, eu tenho uma maneira peculiar de colecionar música e me manter fiel aos tempos . Faço playlists no Spotify . Escolho orquestra tal , pego todas as suas gravações que me interessam (o que exclui ópera , umas 4 sinfonias de Mahler etc.) e organizo, com os compositores mais antigos em cima e os mais modernos , em baixo. Tem toda uma emoção: primeiro, Suítes de Balé ou outras suítes , depois, Aberturas ou Poemas Sinfônicos , então Sinfonias e, por fim, Concertos . Foi com isso que pude me aprofundar na música de um dos compositores de que mais gosto no Brasil. Claudio Santoro (1919-1989). Tanto a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo , quanto a Orquestra Filarmônica de Goiás , gravaram de maneira impecável muitas de suas sinfonias , poemas sinfônicos e concertos . Aliás, não sei se já falei aqui, mas o Brasil tem, agora, mais duas orquestras de qualidade quase igual à da Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo : a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e a Orquestra Filarmônica de Goiás . Que brote uma Filarmônica do Ceará , também. Pois bem. Já faz um tempo, me deparei com o Concerto para Violoncelo de Claudio Santoro tocado pela Filarmônica de Goiás , regida por Neil Thomson , e a violoncelista Marina Martins . Pesquisei o nome dela (como se o Spotify fosse um Twitter , ela, ou alguém, colocou marinamartins ) e não havia mais nada . De modo que esta postagem vai se basear em duas coisas: o site oficial de Marina e a própria gravação do concerto. Biografiazinha Ela é muito nova . Nasceu em 1999 , na Nova Zelândia , filha de Brasileiros . Aos 5 anos , voltaram para cá. Ela começou a estudar violoncelo aos 3 anos e, aos 16 , se deu sua estreia mundial como solista em Bristol , Inglaterra . O seu violoncelo Guarneri ' Filius Andreae ' (de 1700 , concedido como empréstimo por colecionador escocês) acoplado a ela, a levou em busca de instrução musical e técnica em diversos países. Mora, hoje, na Basileia , Suíça , onde estuda sob orientação de Danjulo Ishizaka na Musik Akademie Basel . Ela é uma entusiasta de música de câmara e já tocou com o spalla da Filarmônica de Londres , o primeiro clarinetista da Filarmônica de Berlim ... Marina é um fenômeno . Já já a gente vai ver reportagem sobre ela no Fantástico , o Show da Vida. O Concerto de Claudio Santoro Claudio Santoro também impressionava ao piano e ao violino . Nascido em Manaus , seu talento foi logo reconhecido e ele foi enviado ao Rio de Janeiro pelo governo do Amazonas . Aos 18 anos já era professor adjunto de violino no Conservatório de Música do Rio de Janeiro . Estudou composição com o radical modernista Hans-Joachim Koellheutter , logo passando a compor música dodecafônica . A música de Claudio não é fácil de ser escutada, mas é extremamente prazerosa . O Concerto para Violoncelo não é uma obra dodecafônica . Em 1948 , foi a Paris estudar com maior pedagoga musical de que se tem notícia e, também, compositora, Nadia Boulanger . Foi premiado em Boston , EUA, na Academia Lili Boulanger , prêmio que tinha entre os jurados Igor Stravinsky . O Concerto para Violoncelo e Orquestra foi composto em Berlim , em 1961 . Tem três movimentos e dura entre 30 e 32 minutos. I. Moderato-improvisando-cadencia-allegro II. Lento III. Allegro deciso ma molto expressivo A interpretação de Marina Marina Martins é uma das maiores violoncelistas que eu já ouvi. O som do violoncelista pode se situar em uma das três características a seguir: aveludado (para o cúmulo do aveludado, escute Lynn Harrell ), rouco (Marina tem um som extremamente rouco ) ou entre os dois . Outro critério para se avaliar instrumentistas é o bom gosto (Marina já ultrapassou com aparente facilidade as questões de afinação ). Em que consiste? Bom, hoje mesmo eu estava fazendo a minha playlist da Orquestra de Filadélfia e me deparei com duas gravações do Concerto para Violino de Jean Sibelius , um dos mais belos do repertório. Em todo o Spotify há duas gravações com esta orquestra e o maestro Eugene Ormandy . O que muda são os solistas: David Oistrack e Isaac Stern . Vocês tem que comparar , ouvir , mesmo que apenas o primeiro minuto do primeiro movimento . Os dois são excelentes violinistas do século XX , mas essa peça não é para Isaac Stern . Ele toca de maneira ríspida , quase grosseira . É uma peça feminina (a maior interpretação é a de Lisa Batiashvili com uma orquestra que ficou incógnita, regida por Sakari Oramo - é transcendental). O experiente Oistrack tirou de letra, sem demonstrar virtuosismo gratuito e tocando com uma delicadeza maravilhosa. Entendem? O instrumentista tem que saber ser ouvido , mas sem encobrir a orqurestra . Ele tem que se engajar na proposta da obra! E Marina Martins parece já ter nascido sabendo de tudo isso . A sua entrada , no concerto de Claudio Santoro, demora , acontece depois dos 5m30s da gravação. A obra tem um caráter soturno , de modo que quando ela entra, está totalmente imersa na música e sabe que o ouvinte também está. Por isso, não pode sair dessa atmosfera . Por exemplo: não pode apressar uma frase sequer , não pode perder o controle do som , precisa dosar muito bem os rubatos . Tudo isso é coisa de músico muitíssimo experiente . Eu não sabia quem era o solista , quando comecei a escutar. Mas logo fui tomado pela necessidade de saber quem era aquele mestre . O tal do marinamartins . O site dela tem uma sessão voltada a críticas derretidamente elogiosas a ela (normal, todo músico tem que fazer isso no seu portfólio). Vou reproduzir algumas . “Eu ouvi uma extraordinária jovem violoncelista durante o fim de semana, Marina Martins. Fiz parte da banca julgadora das audições de jovens solistas do Festival Two Moors. Marina tocou o primeiro movimento da Sonata Arpeggione e a Marcha da Sonata de Britten. Que talento extraordinário! Fiquei literalmente sem palavras. ...ela é realmente muito especial. Além de todas suas qualidades como música e violoncelista, Marina tem uma presença de palco espontânea, marcante e envolvente, e parece ter uma rara combinação de uma inteligência incomum e uma capacidade de se conectar instintivamente com a música. Uma coisa é certa, ela vai longe...” Gaetan Le Divelec Askonas Holt The Moors Festival, 2015 “Grandes músicos são assim: para além da disciplina cultivada, daqueles anos e anos de desenvolvimento técnico, mantêm uma naturalidade que parece vir de dentro da própria música. Ao mesmo tempo, têm algo de só seu, original e inconfundível. Marina Martins toca como Marina Martins da primeira à última nota, seja em que repertório for. Combina intensidade com discrição; e parece fazer tudo sobre um fundo de serena alegria, de um modo que agora fica associado a ela mesma. Com apenas 20 anos, já é uma das grandes solistas brasileiras. Pode-se bem imaginar o quanto ainda há de fazer na música, para nossa grande sorte.” Arthur Nestrovski Diretor Artístico da OSESP “Marina Martins é uma jovem violoncelista para se observar. Em tenra idade, ela já toca com sofisticação, intensidade emocional e domínio técnico. Uma estrela em ascensão no horizonte internacional!” Mark Churchill Consultor Sênior da Orquestra Sinfônica de Boston Não falei? Marina Martins , brasileira, neozelandesa, 25 anos, é um fenômeno . Comente sempre ! Agradeço-os  pela visita, sintam-se em casa , aqui. Aqui , os links para as matérias da Araras Neon .

  • Liszt - Sonata em Si Menor - Análise

    Por Rafael Torres A técnica pianística teve um salto evolutivo incrível em Paris nos anos 1830 , onde viviam Franz Liszt , Frédéric Chopin , e Sigismund Thalberg , cada um trazendo peças cada vez mais intrincadas . O objetivo era esse, o de tornar tocar piano uma coisa sempre mais complexa, com novos problemas , novas soluções , novas invenções e idiomatismo . Ouso dizer que, antes dessa geração, e se excetuarmos algumas das últimas sonatas para Piano de Ludwig van Beethoven (1770-1827) e de Franz Schubert (1797-1828), todas as peças escritas para teclado , especialmente as Barrocas , como as de Domenico Scarlatti , Girolamo Frescobaldi , François Couperin e Johann Sebastian Bach , podiam ser facilmente transpostas para outro instrumento ou conjunto de instrumentos. Já ouvi discos inteiros de obras para cravo de Bach tocadas no Acordeon . Ou por Trios de Cordas , Quartetos ... Obras escritas para órgão transpostas para imensas orquestral... É absolutamente impossível fazer isso com a obra de Liszt . E com a maior parte da de Chopin. E isso , descobrir novos efeitos no instrumento, expandir suas possibilidades expressivas e explorar todos os seus recursos é, por si só, uma arte . E quando, além de toda a parafernália técnica , a música tem significado , beleza e expressão , como é o caso da maior parte da obra de Liszt , vejo que esta não é apenas válida . É essencial . Já falei bastante sobre o compositor nessa postagem , sua biografia resumida , obras e uma playliszt interessante. A Sonata em Si Menor Pesquisei muito, ouvi dezenas de gravações e sempre as mesmas duas se sobressaíam : a de Martha Argerich e a de Nelson Freire . Comparando as duas com mais cautela, percebi que pouca coisa , no universo da música gravada , é tão impressionante quanto essa gravação do Nelson . Sim, a meu ver, ultrapassa com folga a lendária e excepcional leitura de Martha Argerich . O disco de Nelson Freire contém a 3ª Sonata de Chopin e a Sonata em Si Menor de Liszt . Falaremos apenas sobre esta última , obviamente. A esta obra e algumas outras contidas neste texto , dedicarei postagens exclusivas e mais aprofundadas . É quase impossível resumir esta Sonata , então, tenham em mente que os próximos parágrafos farão apenas uma (relativamente) breve investigação dela, de modo que você possa escutá-la já com o suporte do conhecimento . Liszt finalizou a composição da Sonata em Si Menor em 1853 , tendo trabalhado nela por, possivelmente, uns 4 anos . Nesta época morava em Weimar , na Turíngia, Alemanha . Dedicou-a a Robert Schumann , ainda vivo , à época, e que havia dedicado a Liszt sua Fantasia em Dó , de 1839 . O pacote com uma cópia da primeira edição chegou à casa dos Schumann , mas não encontrou o compositor e jamais encontraria . Ele já havia partido para seu destino final , o Sanatório de Endenich , onde morreria dois anos depois. A viúva Clara Schumann , uma das maiores pianistas da época , jamais executou a obra em público , considerando-a "meramente um ruído branco ". Liszt, também, nunca a tocou em concertos públicos, pois já tinha encerrado sua carreira de concertista , mas chegou a executá-la em apresentações privadas , na casa do Barão Fulano de Tal , ou do Conde von Sicrano . A Sonata só foi mesmo estreada em 1857 , por seu genro Hans von Bülow , em Berlim . Não se pode dizer que causou um impacto positivo , na época. Mas, pouco a pouco, foi ganhando adeptos , de modo que no final da vida do compositor já tinha uma reputação robusta e, desde então, sempre crescendo, esteve no repertório de quase todo pianista de concerto . Existem, possivelmente, mais de 150 gravações comerciais dela. Acima de tudo, a obra é considerada , por especialistas em Liszt, como o pianista Leslie Howard , a maior evolução no gênero Sonata (não confundir com Forma Sonata ) desde as derradeiras Sonatas de Beethoven , ainda nos anos 1820 . Hoje é amplamente tida como a obra mais importante de Liszt. É chamada de Sonata em Si Menor (às vezes) em vez de apenas Sonata de Liszt , porque há outra , a chamada Dante Sonata , bem menos conhecida e bem-sucedida . Nenhuma peça para piano gerou tanto debate entre musicólogos , que a atribuem significados , muitos deles, provavelmente, apenas ilusórios ou, na melhor das hipóteses, sem relevância alguma. Por exemplo, é possível encontrar na Sonata, se você quiser, uma representação da história de Adão e Eva . Daí, você encontra o " Tema de Adão ", o " Tema de Eva ", o " Tema do Diabo ", o " Tema de Deus " etc. E encontra na estrutura, que para você é o enredo, a sequência de acontecimentos da história. Há quem a veja como uma " autobiografia espiritual " do compositor . É possível, também, como eu prefiro , enxergá-la como música pura , sem grandes alusões , ou pelo menos sem um programa . Isso não a impede de ser programática , pois, como veremos, sugere emoções humanas , sensações e estados de espírito com bastante clareza. Sua estrutura é um mistério . A Forma Sonata em si, está, de certa forma presente, mas o que se discute é como , exatamente, ela é aplicada . Há os que defendam que ela tem quatro movimentos interligados ; há os que digam que tem três ; ou que é, toda ela, um movimento único . Em Forma Sonata . Importante observar que você pode encaixar a sua concepção de Forma Sonata a quase qualquer obra grande . Basta dividi-la em Introdução , Exposição (de preferência com dois temas ), Desenvolvimento , Recapitulação e Coda . Vamos ver isso. Quanto à execução de Nelson Freire , ela me deixa sem palavras , por seu virtuosismo , potência sonora , lirismo poético (de extrema sensibilidade, mas sem jamais se tornar piegas ) e capacidade de mudar repentinamente a atmosfera , como se vários pianistas se revezassem em passagens diferentes. Pouco importa se ele segue ou não com precisão as milhares de articulações , pedalizações e instruções dados por Liszt (ninguém segue todas elas, faz parte do ofício do intérprete eleger as indicações mais relevantes , executá-las do seu jeito e detectar as que são desnecessárias ou que, até mesmo, comprometem a inteligibilidade do discurso geral da peça ). O disco, de 1972 , contém, ainda, a magnífica Sonata Nº 3 de Frédéric Chopin , que Nelson chegou a regravar , alguns anos atrás . A Sonata em Si Menor dura cerca de meia hora e não tem uma divisão clara de movimentos ou interrupções , de modo que fica daquele jeito: o intérprete e o produtor do disco decidem se vai haver uma troca de faixa a cada nova indicação de andamento, ou se apresentam a peça inteira em uma só faixa , como se fez no disco de Nelson. Tomando como base a primeira edição , de Breitkopf und Härtel , a partitura tem 32 páginas e a primeira delas já contém elementos básicos de praticamente todo o material que permeará a sonata. São eles (e eu vou escrever por pontos , que é mais adequado): (A capa do LP em que Nelson Freire tocou a Sonata, de 1972 .) Introdução e Exposição A introdução contém os elementos básicos em forma bruta , que comporão a estrutura da obra. Uma escala descendente ( Motivo 1 ) que será amplamente aproveitada e transfigurada , como já é aos 22s , o Motivo 1 , o Tema A e o Motivo 2 , a seguir; O Motivo 1 é o que inicia a obra: duas notas em staccato , seguidas por uma escala descendente . O interessante, nesse trecho, é que, na primeira escala descendente, Liszt usa uma escala diferente, estranha aos ouvidos: a Escala Frígia Dominante . Já na segunda escala descendente, uma ainda mais exótica . É a Escala Menor Húngara ; Tema A ( 40s ) - Marcado Allegro Energico , aparece já na introdução , quase como um subito forte , já que a dinâmica muda bruscamente (na partitura, muda de maneira mais gradual , mas quase nenhum pianista faz assim ), é uma frase um tanto diabólica em oitavas duplas , ou seja, oitavas nas duas mãos ; Motivo 2 ( 49s ) - Facilmente negligenciável e tratável como uma simples passagem de transição , o Motivo 2 , no registro grave , na mão esquerda , também terá importância gigantesca no desenvolver da obra; O Tema A parece ser desenvolvido antes da hora, mas está, na verdade , sendo apresentado formalmente . É o início da Exposição ; Tema B ( 3m11s ) - Em Ré Maior e majestoso (marcado Grandioso ), surgindo após vários compassos de preparação , temos o Tema B , seguido por aparições do Tema A adocicado ; Os outros temas e motivos reagem ao Tema B , como se fossem domados por este, e, consequentemente a atmosfera é bem menos tensa e mais agradável (por enquanto); A partir de então, Liszt trabalha os temas, alternando-os e modulando-os . Mas ainda não estamos no Desenvolvimento ; O que ouvimos aos 5m31s é nada mais que o Motivo 2 transfigurado . Anteriormente exclusivo da mão esquerda , em registro grave , ele surge, agora, doce e suave , na mão direita e em tom maior . Essencialmente, ele foi transformado no Tema C ; Perceba, aos 6m42s , uma passagem cromática descendente da mão direita, bisneta do Motivo 1 , em sobreposição com o Tema A , na mão esquerda . Logo depois ( 6m50s ), o que a mão direita estava fazendo se transforma no Tema C . E se torna ainda mais evidente que o compositor não nos entregará mais melodias novas , mas elaborações destas 5 ideias : Motivo 1 , Tema A , Motivo 2 , Tema B e Tema C ; Aos 7m11s , sob um trinado e cadências da mão direita, a esquerda, hesitantemente, nos lembra do Tema A , tentando começá-lo por duas vezes ; Desenvolvimento O Desenvolvimento , em duas partes , começa aos 7m31s , com o Tema A aparecendo mais assertivamente, em oitavas , na mão direita , em ff (fortíssimo). Os temas serão tratados aqui de diversas formas : de maneira rapsódica , improvisativa , com cadências e, até mesmo, de maneira mais padrão , como se espera ouvir em uma sonata , digamos, comum ; Na primeira parte a tensão e a turbulência são crescentes , culminando aos 9m26s e seguindo até as profundezas do inferno ; Tenebrosamente (9m34s ), o Tema B surge desprovido de todo o magnetismo e otimismo de sua personalidade; Aos 11m38s atingimos duas coisas, uma melodia que pode ser vista como um novo tema ( Tema D ) ou como um amálgama alterado dos outros temas , e, para os que consideram que a Sonata tem três movimentos , o Segundo Movimento ; Mas para a nossa análise , será, simplesmente, a segunda parte do desenvolvimento , marcada Andante Sostenuto ; De qualquer forma, é o começo da virada de sorte da obra, em que a turbulência e o inferno são deixados para trás ; Aos 12m19s há uma instrução de ritenuto , ou seja, deve-se desacelerar ainda mais até que se caia no Quasi Adagio (esses termos são todos em italiano , mas acho bom vocês irem se habituando ) ( 12m30s ); Logo em seguida, aos 12m39s , surge o Tema C . Vejam que beleza; Aos 13m34s , com sua dignidade restaurada , o Tema B aparece em registro mais grave e no tom da dominante de Si Menor (o tom geral da obra): Fá Sustenido Maior ; Aos 14m18s , depois de mais uma modulação , o Tema B é repetido , desta vez em Sol Menor ; Repare, aos 14m28s , Tema A começa, sutilmente, a dar as caras; O ponto culminante da obra acontece aos 14m44s , quando, após um rinforzando assai , uma espécie de crescendo exagerado e rápido, chegamos a um acorde de Fá Sustenido Maior em fff (triplo forte); É o Tema D gerando um clímax memorável ; A música vai perdendo ímpeto , utilizando, sempre, Temas e Motivos que já vimos, até chegar o fim do Desenvolvimento ; Recapitulação Aos 17m38s , em ppp (pianississimo) tem início a chamada Recapitulação Motívica , com as mesmas notinhas com que a obra começou (ou alterações : temos a escala menor natural , a menor melódica , a menor harmônica , e Liszt gostava de usar muito a escala menor húngara - não vou explicar, mas era para dar um elemento exótico , da " sua terra ", como se ele não fosse completamente germanizado e sequer falasse Magiar ). Na Forma Sonata , a Recapitulação é quase uma duplicação da Exposição . Então, chamamos de Recapitulação Motívica aquela que traz de volta, antes dos elementos da Exposição , os da Introdução ; Quando entra o Tema A , ele está mais leve , desacompanhado e lépido . E quando termina o Motivo 2 , também em piano, ele se transforma no Sujeito do Fugato (é uma passagem com características de uma Fuga, mas dentro de uma peça que não é, em si, uma Fuga ). Sujeito é como chamamos o Tema Principal da Fuga , que será imitado por outras vozes ou, no piano, em outros registros ; Nesse caso, temos 3 vozes ; Elas evoluem até que caímos, aos 20m01s , na Recapitulação Temática , que é a Recapitulação da Exposição , com o Tema A , novamente turbulento e no tom principal da obra, Si Menor ; Aos 21m38s , após uma transição sensacional , surge o Tema B , um pouco cansado , talvez, mas só; Aos 22m34s temos, por fim a recapitulação do Tema C , em um ambiente de quietude de paz; Aos 23m57s Liszt marca na partitura Stretta Quasi Presto , o que significa, basicamente, que deve-se passar de uma atmosfera lírica para uma mais rápida . Presto é um andamento bem rápido . Mas ele disse quase ; O movimento vai acumulando serotonina e fica quase frenético . Aos 25m20s , a obra atinge novo clímax , seu derradeiro . Coda O último parágrafo do texto de Liszt começa, aos 25m30s , em paz . É agora que ele dará fechamento à obra e veremos se é positivo. Aos 26m22s o Motivo 2 ameaça a paz geral do trecho. Mas nada mais pode ocorrer depois de tanto ocorrido, não é? A obra termina marcado Lento Assai e pp > ppp . Ou seja, lento e pianissíssimo . Não é apenas uma sonatas. É uma jornada por dentro de nós mesmos - se você for como eu, irá se certificar de que não será incomodado por uma hora, vão colocar fones de ouvido, deitar (mesmo que seja no chão) e ouvir a obra, como em ritual. E vai ter um dos momentos mais profundos de sua vida. Não esqueça de comentar. São os comentários que nós mantém vivos. sujeita pautas, aquela música que você sempre achou linda e gostaria de saber mais sobre etc. Boa noite!

  • Instagram
  • Facebook ícone social

A Arara Neon é um blog sobre artes, ideias, música clássica e muito mais. De Fortaleza, Ceará, Brasil.

2024

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, entre em contato conosco.

DIRETRIZES DO SITE

bottom of page