Inspirado parcialmente pelo vídeo do meu caro Rafael Fonseca, resolvi fazer uma lista de 10 livros que vão lhe ajudar muito a conhecer mais profundamente a história da música, a história dos compositores, a história das obras e outras coisas muito importantes. Por exemplo, como perceber uma música. Às vezes a gente não sabe bem o que era para esperar de uma obra, e acaba não enxergando seu ponto. A percepção, o aguçamento do ouvido, melhora com audição, obviamente, mas também com leitura. Incluí também alguns que não falam exatamente sobre música clássica. Vocês verão.
1 - A Vida dos Grandes Compositores, de Harold Schonberg
Esse livro, que teve a primeira edição em 1970, é um dos que eu mais recomendo. É uma bela iniciação à música através de uma breve história da vida de cada um dos mais importantes. Ele mescla compositores por período e por afinidade.
Schonberg também trata de reabilitar a reputação de compositores como Antonín Dvořák, Camille Saint-Saëns, Carl Maria von Weber e outros.
Narrado de maneira bem casual, trata das angústias, dificuldades, alegrias e triunfos dos grandes compositores.
É uma leitura leve, pelo menos pra mim. E rápida. Pode ser lido linearmente, mas também é um ótimo livro de consulta.
2 - A Música do Homem - Yehudi Menuhin e Curtis W. Davis
Escrito pelo grande violinista americano Yehudi Menuhin com Curtis W. Davis, é um livro passional, que tenta unir a história da música e a da humanidade de forma que compreendemos as motivações da própria arte e seus desdobramentos.
Baseado em uma série televisiva canadense de mesmo nome, apresentada por Menuhin, A Música do Homem nos insere em cada contexto musical a que se propõe, de maneira sempre informativa e bem-humorada.
A primeira edição é de 1979.
3 - A Sagração da Primavera - Modris Eksteins
Outra excelente leitura, mesmo para quem não se interessa particularmente por música erudita, A Sagração da Primavera parte dos acontecimentos da noite de 29 de maio de 1913, no Théâtre des Champs Elysées, em Paris: a estreia do balé de mesmo nome de Igor Stravinsky.
Mas muito mais do que retratar a peça em si, ele nos transporta à Europa da época, com todas as questões que nos levariam à 1ª Guerra Mundial e, mais adiante, à 2ª Guerra.
É uma leitura encantadora, em que, através de personagens como Serge Diaghilev, o famoso empresário, dono da companhia Ballets Russes, acaba nos dando uma figura bem maior do cenário carregado em que o mundo se encontrava no começo do século XX, tentando encontrar na arte e na guerra as respostas para seus dilemas.
4 - Guia da Música Sinfônica - François René Tranchefort e colaboradores
Um excelente livro de consulta. Voltado, obviamente, à música sinfônica, ele se propõe a fazer uma breve, mas concisa, análise das obras mais importantes dos compositores mais importantes.
Os compositores são listados em ordem alfabética; e as obras, divididas em categorias: poemas sinfônicos, aberturas, sinfonias, concertos.
De cada obra ele nos informa a duração e a instumentação, nos dá dados históricos acerca da composição e da estreia; e tece comentários às vezes pessoais, mas muito bem dosados.
Acaba que, quando você quer conhecer uma nova sinfonia, por exemplo, você lê a entrada existente e escuta ao mesmo tempo, tendo assim, maior clareza sobre o que está escutando.
5 - Música Impopular - Júlio Medaglia
Música Impopular, do maestro Júlio Medaglia, é uma leitura maravilhosa. E leve. Adquirimos intimidade com a música de Debussy, Satie, Stravinsky e até compositores de cinema.
A abordagem é bem simples, e ele trata os compositores como anedotas, fazendo a leitura ficar fácil e atraente.
Lembro que li várias vezes na adolescência. Adorava ler que Eric Satie tinha dois pianos, um em cima do outro!
Com poucos dados técnicos, o livro vai agradar mesmo a quem não é músico, assim como vários dessa lista.
6 - O Discurso dos Sons - Nikolaus Harnoncourt
Musik als Klangrede (Música como Fala), ésse é o título original do livro de Harnoncourt. Lançado em 1982, ele contém muitos dos preceitos da chamada abordagem HIP (historically informed performance), em que os músicos utilizam técnicas e instrumentos do século XVIII para tocar as músicas desse período.
O que acontece é que, a partir de Beethoven, no começo do século XIX, as orquestras foram crescendo, tanto no número de instrumentos solistas, como de repetidos - antes, se tínhamos 2 violinos tocando uma linha só, agora tínhamos 10. E, no século XX isso se expandiu ainda mais.
Para tocar algum dos Concertos de Brandemburgo, de JS Bach, no século XVIII precisavam-se de, digamos, 9 músicos. Nos anos 50 estávamos nós a tocar com 60 músicos.
Alguns grupos de músicos e musicólogos começaram a apontar que estávamos fazendo música antiga com técnicas modernas e instrumentos modernos, e que, por algum motivo, isso não era bom.
O fato é que iniciou-se um movimento que visava a trazer de volta os maneirismos e trejeitos do barroco de volta às execuções modernas. A ideia não é má. Graças a ela tivemos vários discos imensamente importantes de maestros como o próprio Nikolaus Harnoncourt, Reinhard Goebel, Christopher Hogwood e tantos outros.
Só que depois eles foram avançando. Passou-se a tocar Mozart (do classicismo) com interpretação HIP. Depois, Beethoven (do romantismo). E hoje, vemos até Stravinsky sendo tocado com instrumentos construídos exatamente em 1912, ou coisa assim. Passaram um pouco do ponto, mas a ideia foi boa.
Esse livro de Harnoncourt eu indico mais a músicos que queiram entender a retórica da música barroca, sua instrumentação e valores de interpretação.
7 - Música, Cérebro e Êxtase - Robert Jourdain
Jourdain explora aspectos físicos e psicológicos sobre como a música afeta a gente. Por que um determinado encadeamento de acordes pode soar obscuro, ou sublime? Por que tal melodia é tão triste?
Ele explica ainda que os ouvintes de música clássica desenvolvem um tipo de memória a curto prazo, que os possibilita decorar os temas do começo de uma música e entender quando eles são trazidos depois, com desdobramentos e transfigurações tão variadas.
É um livro brilhante, que eu recomendo a qualquer um que já tenha se submetido ao êxtase na música.
8 - A Arte da Regência - Sylvio Lago Junior
Sylvio Lago Junior eplora a história da regência de orquestra de maneira fascinante. Também nos dá ferramentas para reconhecer o que há de diferente na técnica e na interpretação de diferentes maestros.
Depois nos dá biografias e comentários sobre os mais importantes maestros do século XX, divididos em: Os grandes maestros históricos; Os grandes modernos; Maestros representativos da atualidade; Teóricos e divulgadores da música no século XX; Maestros autenticistas; As mulheres regentes; Os maestros brasileiros etc.
A divisão em partes tão diferentes facilita a leitura e o torna um excelente livro de consultas.
9 - Ensaio Sobre a Noção de Profundidade em Música - Eric Rohmer (Mozart em Beethoven)
Um ensaio muito interessante do cineasta francês Eric Rohmer. Parte do princípio de que você não precisa ser músico para poder falar e, principalmente, sentir, música.
É uma leitura interessante, embora você possa terminar o livro com a impressão de que não aprendeu nada. É engano. Você aprendeu a pensar na música de maneira menos técnica e mais intuitiva. Aprendeu que pode compreender música em toda a sua profundidade sem muito aparato teórico (embora eu defenda que, quanto mais você ler, melhor).
10 - As Suítes para Violoncelo - Eric Siblin
Este livro narra em paralelo um pouco da história de Johann Sebastian Bach e do violoncelista catalão Pablo (Pau) Casals.
Da maneira casual com que Casals encontrou num sebo em Barcelona uma edição das 6 Suítes para Violoncelo Solo de Bach e como essas obras se tornaram pilares na literatura para o instrumento.
Ele nos faz entrar na vida desses dois músicos, com elementos biográficos dos dois. E ainda nos mostra um pouco o que é e o que foi a luta da catalunha para ser um país independente.
Tudo com sensibilidade e simplicidade.
Estes não são, nem de longe, os "livros mais importantes já publicados sobre música clássica". Alguns podem até ser, mas eu separei aqui livros interessantes sobre música a partir de várias perspectivas. E que podem agradar tanto a músicos quanto a ouvintes casuais. Espero que tenha gostado da lista.
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