Perfeitamente. Vamos listar aqui os 10 melhores discos do João Gilberto na minha opinião. Como a discografia dele de estúdio é pequena, incluí seus melhores discos ao vivo. Compreendam que ele é um dos meus músicos favoritos. A lista reflete apenas a minha opinião. Além da grande verdade cósmica.
João Gilberto (1931-2019) foi um cantor e violonista brasileiro, baiano de Juazeiro, que até hoje é considerado o pai da Bossa Nova. Esse estilo é uma maneira de tocar e cantar samba que João desenvolveu durante uma pausa na sua carreira. Acabou se tornando também um jeito de compor (melodias e harmonias) e de letrar (com uma puerilidade que lhe é típica).
10. Eu sei que vou te amar
Se alguém lhe pedir uma aula de João Gilberto, ponha pra ouvir Pra Que Discutir Com Madame?, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida. Nessa música ele faz o equilíbrio ideal entre seus rubatos. Ele canta a linha antes da hora e, depois, pra compensar, usa a própria respiração para completar o compasso. Na parte B, usa seu lirismo infinito, e ainda enxerta uma melodia de Tchaikovsky - a música fala de uma certa "madame" que critica o samba como coisa da ralé (personagem real).
Isso Aqui o Que É, de Ary Barroso tem uma versão maravilhosa. O álbum ao vivo, de 1994, tem clássicos de Tom Jobim, como Eu Sei Que Vou Te Amar, Desafinado, Meditação, Chega de Saudade e Corcovado. E uma das minhas favoritas, de Hekel Tavares e Joracy Camargo - Guacyra.
9. João Gilberto en México
Gravado em 1970 no México, lançado no Brasil como "Ela É Carioca", esse disco é um dos grandes álbuns de estúdio do João. É raro a gente ouvir o cantor acompanhado de coisa mais que seu violão, portanto aqui temos músicas com arranjo de Oscar Castro Neves. Temos letras em português, espanhol e o que quer que O Sapo seja. De João Donato, essa canção depois receberia uma letra de Caetano Veloso e passaria a se chamar A Rã. Não sei se o anfíbio evoluiu ou involuiu.
João Marcelo, feita por João para seu filho, é só instrumental. É uma evolução harmônica impressionante. Outra sem letra é Acapulco, de Tom Jobim. E João canta Besame Mucho (Consuelo Velázquez), que ele gravaria outras vezes.
8. Brasil
Esse disco, de 1981, é uma obra prima de João, de Caetano Veloso, de Gilberto Gil e de Maria Bethânia. Ele quase enlouquece o trio tentando extrair as articulações e a afinação perfeitas. Mas quando a voz de Gil se abre na primeira música, a Aquarela Brasileira, ilumina tudo. Logo depois vem Caetano. Foi nessa música que eu percebi como a voz dos três é belíssima.
Disse Alguém é um Foxtrot de Haroldo Barbosa, Gerald Marks e Seymour Simons e que eles cantam com coordenação perfeita. Bethânia entra em No Tabuleiro da Baiana, de Ari Barroso. Sua voz aparece grave, quase no registro limite, mas sem esforço. É uma faixa encantadora. O disco, curtinho, tem no Foxtrote seu ponto fraco, pela música, mas as outras 5 faixas são perfeitas.
7. João (1991)
Esse disco, de 1991 é excepcionalmente gravado. Um som de alta definição. Os arranjos de Clare Fischer são muito bem vindos. Ele usa os sopros, especialmente clarinetes, tanto quanto as cordas, o que dá ao disco uma sonoridade bem diferente dos outros discos de estúdio do João.
O repertório é especialmente atraente, porque tem músicas que ele não gravou em outros discos (João era afeito a regravar mil vezes a mesma música). Mas Eu Sambo Mesmo (Janet de Almeida), Siga (Fernando Lobo e Hélio Guimarães), Rosinha (Jonas Silva), Sampa (Caetano Veloso) e Palpite Infeliz (Noel Rosa), só aqui. É o meu disco favorito dele.
6. Live in Montreux
João em Montreux, em 1986 é o recital perfeito. O público claramente viria a votar no Bolsonaro futuramente. Mas o som é muito bom. A supracitada Pra Quê Discutir com Madame? é excepcional. Menino do Rio, de Caetano Veloso, está linda. Assim como Morena Boca de Ouro (Ary Barroso) e Rosa Morena (Dorival Caymmi).
5. Chega de Saudade
O primeiro disco dele, com arranjos orquestrais de Tom Jobim, que também assina as composições Chega de Saudade, Brigas, Nunca Mais e Desafinado, é de 1959. Sendo um dos discos inaugurais da Bossa Nova, ele traz canções que já nasceram bossa, como as de Tom, as de Carlos Lyra e também já mostrava a tendência de João de pegar clássicos do samba e trazer para o seu universo, com músicas de Ary Barroso e Dorival Caymmi.
4. João Gilberto (1973)
Só João e uma percussão mínima. Esse disco, de 1973, é também chamado de "Álbum Branco" do João Gilberto. Começa com uma versão inevitável de Águas de Março (Tom Jobim), que, com a instrumentação limpa poderia soar apagada, se não fossem as pequenas variações que ele impõe. Undiú (João Gilberto), com seus acordes pedais, lembra um mantra.
Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso) ele faz só com o violão e a percussão, formando uma versão que seria imitada por décadas. Avarandado (Caetano Veloso) é um dos pontos altos do disco, assom como Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti), que ele canta com Miúcha.
3. Amoroso
Amoroso, de 1977, é consenso. Os arranjos de Claus Oregman, que estava se especializando em música brasileira, são fantásticos. Deve ser o disco com arranjos mais exuberantes de João. Ele canta em inglês, espanhol, italiano e português.
Tim Tim Por Tim Tim, de Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques está lindíssima. Wave (Tom Jobim) tem sua versão definitiva, assim como Caminhos Cruzados, Triste e Zingaro (Retrato em Branco e Preto). A diferença entre esse disco e o do México é, especialmente a qualidade dos músicos de sessão. Além de a gravação ser perfeita.
2. João Voz e Violão
Esse disco, de 1999, é como se fosse um recital. Ele toca e canta e só. Não tem orquestra nem percussão. Dos seus discos de estúdio, é o mais nu. A capa é clara: cala a boca e escuta João. A maioria das músicas ele já tinha gravado, mas a gravação é bem vinda. O som é tão intimista que quase chega a ser invasivo. Parece que ele está no pé do seu ouvido, com a voz mais cremosa do mundo.
Ele canta Desde que o Samba é Samba e Coração Vagabundo, de Caetano Veloso e Eu Vim da Bahia, de Gilberto Gil, além das representativas Desafinado e Chega de Saudade, de Tom Jobim.
1. Getz/Gilberto
Getz/Gilberto, de 1964. Não dá pra escapar dele. Mesmo se desconsiderarmos a importância histórica dele, ele ainda se sustenta no primeiro lugar da discografia dele. E do Stan Getz, possivelmente. Bateria, baixo e aquele piano mínimo do Tom Jobim. Getz improvisa sem as vulgaridades que, às vezes, embotam o saxofone americano. Ele tem muito bom gosto.
Os pontos altos são Doralice (Dorival Caymmi), Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso), que ele canta de dar dó, Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça), em que Getz brilha e Vivo Sonhando (Tom Jobim).
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