Boa tarde a todos. Um texto menor (esticando meus tentáculos) sobre aquela que é, na minha opinião, a melhor orquestra da cidade de Londres e uma das melhores do mundo. Se estão aqui, perceberam que, ao menos essas 6 primeiras orquestras vieram em ordem um bocado arbitrária, não de qualidade. Por exemplo, toque um disco da Orquestra do Concertgebouw Real de Amsterdã e tente me dizer, objetivamente, em que aspectos a de Londres toca pior? Ou melhor.
Isso, naturalmente, não vale se há uma discrepância muito grande entre uma e outra. Mas as 10, ou 20 melhores orquestras do mundo podem sempre te surpreender.
Precisamos lembrar que, ao ser fundada, nos anos 30, a Sinfônica era a menos refinada entre as 5 orquestras sinfônicas de Londres:
Sinfônica da BBC,
Filarmônica de Londres,
Royal Philharmonic e
Philharmonia.
Todas agradavam mais os regentes, o público e a crítica. Mas logo a sinfônica começou a galgar sempre mais alto. Resolveu seus problemas financeiros, contratou músicos e regentes de categoria e alterou duas cláusulas de contrato da orquestra que lhe deu origem: a Sir Henry Wood Queen's Hall. O que lhes ofereceu, na nova causa, uma carta de exclusividade (exclusiva por parte dos instrumentistas, que teriam tocar mais, recebendo menos). A instituição da LSO, no lugar, ofereceu um contrato de cooperativismo, com os músicos faturando cachês e honorários de gravação.
Os regentes principais já foram Edward Elgar, Thomas Beecham, André Previn, Claudio Abbado e Valery Gergiev.
Seus regentes principais recentes incluem:
Sendo uma orquestra londrina, sua sala de concertos, desde 1982, é o Barbican Centre, assim como a Sinfônica da BBC. Custou o que hoje equivaleria a mais de 500 milhões de libras. Especificamente, a orquestra se apresenta no Barbican Hall, que tem capacidade de receber 1943 pessoas.
Na tramoia (ou sistema de mosca) do teatro funciona o Barbican Conservatory, na verdade, uma estufa.
Nos anos 60 a orquestra contratou por 10 anos o regente francês Pierre Monteux, então com 86 anos! Ele morreu 3 anos depois.
Em 1964 o conjunto fez sua primeira turnê mundial, com o maestro húngaro István Kertész, passando por Japão, Turquia, Israel, Índia, Iran, Coréia, China e Estados Unidos.
Desde 1966 a orquestra tem o Coro Sinfônico de Londres como parte de seu organismo. O coro é, tecnicamente, amador. Os profissionais que lá haviam foram removidos.
Durante o mandato do maestro André Previn (1968-1979), a Sinfônica passou a ser considerada a melhor orquestra de Londres. Eles gravaram, entre outras coisas:
O balé "A Bela Adormecida", "O Lago dos Cisnes" e "O Quebra-Nozes", de Piotr Tchaikovsky;
O balé "Cinderella", de Sergei Prokofiev;
Sinfonias nos. 88 e 96 de Joseph Haydn;
Os 4 Concertos para Piano e Orquestra e mais a "Rapsódia Paganini", de Sergei Rachmaninoff, com o pianista russo Vladimir Ashkenazy;
A Sinfonia Fantástica + Aberturas de Hector Berlioz;
A 1ª Sinfonia de William Walton;
"Sheherazade", de Nikolai Rimsky-Korsakov;
Os 5 Concertos para Piano de Sergei Prokofiev, com Vladimir Ashkenazy;
Eles conduziram o programa de TV "André Previn's Music Night", sobre o qual foi dito: "Mais britânicos ouviram a LSO tocar em Music Night em uma semana do que em 65 anos de concertos".
Além de regente, Previn era pianista e compositor. Morreu em 2019.
A LSO é a orquestra que gravou "Guerra nas Estrelas" e muitos outros filmes que você conhece. Como "Indiana Jones", "Superman", "Harry Potter" e, mais recentemente, a música de Bernstein para o filme "Maestro", de Bradley Cooper, com o maestro Yannick Nézet-Séguin.
Em 1979, o italiano Claudio Abbado sucedeu Previn no posto de Regente Principal. Muitos dizem que foram as melhores temporadas de Abbado. Ele trouxe o repertório contemporâneo à orquestra, repertório com que eu não tenho muita afinidade, mas traz mais qualidade à orquestra, que, antes, só ia até Prokofiev (anos 20-40). Isso também melhora a leitura à primeira vista do grupo, pois muitas obras viriam a ser tocadas pela primeira vez por ele.
Adoro Abbado, mas seu mandato teve problemas. Pacato por natureza, ele não sabia impor disciplina aos músicos. Além disso, diz-se que aprendia as peças em Londres e ia gravar em Viena ou Chicago. Era a antítese do comunicativo André Previn. Após Londres, Abbado surpreendeu ao se tornar o sucessor de Herbert von Karajan e assumir a Filarmônica de Berlim, entre 1989 e o princípio da década de 2000.
Nos anos 90 o comediante e pianista Dudley Moore, sempre com algum músico prestigiado e a LSO montou o programa de TV "Concerto", que recebeu Grammys. Veja que talento ele demonstra ao não acabar nunca essa paródia de Beethoven.
Depois, tivemos:
Michael Tilson Thomas (a partir de 1987), americano, um estudante de Leonard Bernstein;
Colin Davis (de 1995); inglês, muito bom;
Valery Gergiev (de 2007), russo, ainda ativo;
Simon Rattle (2017), inglês, ex regente da Filarmônica de Berlim, agora na Bavarian Radio Symphony Orchestra;
Antonio Pappano (2024), italiano, ainda ativo.
Todos já haviam trabalhado com a orquestra, antes, seja como regentes convidados ou assistentes. Quase todos são aquela bobagem de "Sir" que os ingleses têm.
Alguns especialistas a classificam como a mais americana das orquestras londrinas. Pela quantidade de trabalho que realizaram com André Previn (alemão-americano) e Michael Tilson Thomas e por Leonard Bernstein ter sido presidente. Mas a verdade é que muito tempo já se passou. Além do mais, é uma orquestra com qualidade e personalidade próprias. E, principalmente, sonoridade própria.
Instituição machista, por muito tempo não aceitou mulheres no seu corpo. Mas hoje, não fazendo mais que sua obrigação, aceita. Grava desde os anos 30 (com Edward Elgar e, posteriormente, a música dele com vários maestros), passando por todas as décadas e os mais importantes regentes dos tempos.
Gravações importantes
Ludwig van Beethoven - As 9 Sinfonias - Com Josef Krips
Sergei Rachmaninoff - Sinfonia nº 2 - Com André Previn
Sergei Prokofiev - Os 5 Concertos para Piano e Orquestra - Regidos por André Previn, com Vladimir Ashkenazy ao piano
Igor Stravinsky - Os balés "O Pássaro de Fogo", "Petrushka" e "A Sagração da Primavera" - Regidos por Simon Rattle
Béla Bartók - Suíte de "O Mandarim Miraculoso", Concerto para Piano nº 3 - Com Yefim Bronfmann, ao piano, e Valery Gergiev
Maurice Ravel - Obra Orquestral Completa - Com Claudio Abbado
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