Por Rafael Torres
Esta postagem, em vez de dilatada, foi dilacerada, deu origem a duas.
Esta Ă© a Segunda Sinfonia, em DĂł Maior, Op. 61, do compositor RomĂąntico alemĂŁo Robert Schumann (1810-1856) e foi composta entre 1845 e 1846. Schumann Ă© autor de 4 Sinfonias, mas eles as compĂŽs em ordem diferente da que conhecemos hoje.
Sinfonia NÂș 1 "Primavera", em Si Bemol Maior, Op. 38. Publicada em 1841.
Sinfonia NÂș 4, em RĂ© Menor, Op. 120. Publicada em 1841.
Sinfonia NÂș 2, em DĂł Maior, Op. 61. Publicada em 1846.
Sinfonia NÂș 3 "Renana", em Mi Bemol Maior, Op. 97. Publicada em 1851.
Ela Ă©, portanto, a penĂșltima que ele escreveu.

A obra
A 2ÂȘ Sinfonia, em DĂł Maior, Op. 61, Ă© uma obra suavemente serena, como se Eusebius tivesse sequestrado a pena. Florestan, com seus arroubos, pode ser ouvido vĂĄrias vezes na mĂșsica, mas nĂŁo chega a dominĂĄ-la. Essa leveza da obra nĂŁo condizia com a vida real de Schumann, que se achava cada vez mais perturbado. Foi quando escrevia o final dela que apareceu a nota lĂĄ, dentro de sua cabeça, para nĂŁo sair nunca mais.
Ah, é importante ressaltar que, em 1845, justo quando começava a compor a sinfonia, Schumann reformulou seu método de compor. Agora, ele não escrevia sentado ao piano, coisa que ele fazia antes, mesmo que só uma mão lhe servisse. Essa nova abordagem pode ter aparecido como fruto dos intensos estudos de contraponto que havia feito com Clara. Contraponto é a arte de escrever duas ou mais melodias para soarem ao mesmo tempo, sendo necessåria, para isso, uma série de regras e parùmetros. O estudo do contraponto, cuja pråtica vinha desde o fim da Idade Média, fortalece, entre outras coisas, o ouvido interno (a capacidade de "escutar" uma partitura na mente, apenas imaginando os sons).
Uma influĂȘncia presente, ainda que sutil, Ă© a da obra de Beethoven (que havia morrido em 1827). NĂŁo necessariamente na concepção melĂłdica ou na escrita orquestral. Na verdade Ă© na narrativa (essa palavra tĂŁo apoucada atualmente Ă© deveras Ăștil quando se trata de mĂșsica), sendo que, segundo alguns, a Segunda Sinfonia pode ser parente da 5ÂȘ Sinfonia de Beethoven. Especialmente no concernente Ă ideia da superação de um destino adverso, chegando ao triunfo.
Ela ganhou reconhecimento apĂłs a morte do compositor, no sĂ©culo XIX, mas se tornou uma peça esquecida, no sĂ©culo XX. Atualmente volta a ganhar amantes, atraĂdos pela interessante ligação que hĂĄ entre os movimentos e pela beleza deslumbrante do terceiro movimento.
Schumann sempre foi e ainda Ă© considerado um mal orquestrador. Mas temos que lembrar que a Orquestra de Leipzig era pequena, se comparada Ă s de hoje. Os regentes atuais tentam antepor a escrita para sopros (Ă s vezes um par de cada madeira) a 50 instrumentos de corda, e aĂ se queixam da falta de equilĂbrio (os sopros nĂŁo soam com clareza). O fato Ă© que, se o maestro trouxesse um naipe de cordas menor, mais apropriado, o equilĂbrio chegaria naturalmente. Dito isto, ainda assim, sua orquestração pode ser considerada um tanto sem cor. Falta de manejo orquestral, dobrar um instrumento com outro instrumento certo. Desde a Ă©poca de Beethoven, era norma dobrar Flautas com OboĂ©s e Clarinetes com Fagotes, alĂ©m de milhĂ”es de outras minĂșcias. Era como se a mĂșsica orquestral de Schumann fosse um esboço, cuja orquestração ele talharia mais tarde.
No caso da Sinfonia NÂș 2, a orquestra que ele determina contĂ©m: 2 Flautas, 2 OboĂ©s, 2 Clarinetes, 2 Fagotes, 2 Trompas, 2 Trompetes, 3 Trombones, TĂmpanos, Violinos 1, Violinos 2, Violas, Violoncelos e Contrabaixos. Lembrando que qualquer compositor raramente especifica quantos de cada instrumento de corda ele quer.
Em seguida farei uma postagem sobre uma obra realmente bem orquestrada e vou me referir a essa como comparativo.
NĂŁo considero essa sinfonia (e nenhuma outra dele) mal orquestrada. Na verdade, acho que ele faz um belo estrago com a orquestra que pediu. Ă sĂł uma orquestração tĂmida.
A obra dura cerca de 40 minutos e tem 4 movimentos. Ă uma sinfonia quase cĂclica. Uma obra cĂclica Ă© aquela em que o material temĂĄtico de um movimento invade os outros movimentos. No caso dessa sinfonia, os temas dos trĂȘs primeiros movimentos vĂŁo se acumulando e sĂŁo todos invocados no quarto movimento.
Abaixo, temos a NDR Elbphilharmonie Orchester (Orquestra do Elphilharmonie, uma sala de concertos lindĂsssima - link externo - e moderna em Hamburgo) sob a regĂȘncia do maestro alemĂŁo Christoph von DohnĂĄnyi.
1Âș Movimento - Sostenuto Assai - Allegro, ma non Troppo
Introdução
Marcada Sostenuto Assai (muito sustentado), a introdução (que Ă© longa e toma 1/3 do movimento) se inicia com o preguiçoso acordar dos Trompetes e das Trompas, com fanfarras ascendentes, em uma linha de notas longas, enquanto as cordas, em duplo piano, pp (baixinho), tocam uma linha um pouco mais ĂĄgil. Esta Ă© uma das passagens traiçoeiras da orquestração de Schumann: em pianissimo, os trompetes e as trompas soam bem mais alto do que as cordas, de maneira que cabe ao regente equilibrar a intensidade dos dois naipes. Isso nĂŁo chega a ser problema para as super orquestras e os super regentes da atualidade, mas, no começo do sĂ©culo XX, era uma barreira tĂŁo forte, que os regentes tinham que trabalhar Ă exaustĂŁo (o compositor tcheco-austrĂaco Gustav Mahler chegou a escrever uma edição reorquestrada por si, que ele considerava mais satisfatĂłria - arredondando as arestas e polindo as texturas, vou recomendar uma gravação no final). A melodia amorfa dos metais continuarĂĄ ao longo da mĂșsica. Shumann aproveita para lançar algumas dissonĂąncias pontuais (35s) de muito efeito.
Flautas e OboĂ©s irrompem (1m27s), enquanto a mĂșsica vai ganhando corpo, desta vez com verdadeiro aspecto de mĂșsica coral de J S Bach.
Aos 2m20s a mĂșsica começa a ganhar mais substĂąncia, a partir das notas curtĂssimas das madeiras, metais, Violinos 1, Contrabaixos, Violoncelos e TĂmpanos. Agora, a partitura instrui aos mĂșsicos: Un poco piĂč vivace (um pouco mais vivo). A orquestra vai, pouco a pouco, se tornando mais densa e assertiva. Perceba que as cordas, agora, fazem alusĂ”es Ă s fanfarras dos metais (2m48s).
Uma sessão repleta de notas em staccato (a partir de 3m02s), seguida (3m34s) por uma em que os Violinos assumem. A passagem estå marcada stringendo (acelerando gradualmente) e nos conduz à exposição.
Exposição (3m48s)
A exposição jå começa lançando o saltitante Tema A (3m48s), nos Violinos 1 e 2, Fagotes e Clarinetes, logo agregando os Oboés. Repare nas frases de resposta das Flautas, Oboés e Fagotes (a partir de 4m07s), com material que jå foi apresentado na introdução.
Aos 4m17s temos, nos Violinos 1 e 2, Violas e uma Flauta, o Tema B, que começa com uma subida cromåtica de 4 notas também derivada da introdução. Nesse ponto fica claro que a introdução é mais que uma introdução, antecipando muitas das ideias do primeiro movimento.
O Tema C aparece logo em seguida (4m42s), nos Violinos 1, Flautas e Oboés e tem caråter de tema de transição, passageiro, mas não o é. Aos 4m53s aparece novamente o Tema A, ao que se segue uma repetição da exposição.
A repetição termina aos 6m15s, abrindo espaço para o desenvolvimento.
Desenvolvimento (6m15s)
Aqui Schumann vai desenvolver, trabalhar, os trĂȘs temas. De cara (6m15s), o Tema A Ă© pincelado, pelos Clarinetes e Fagotes. ApĂłs uma breve e bela divagação (6m20s), com arpejos dos Primeiros Violinos e notas intrusas do OboĂ© e da Flauta, o Tema B aparece, em outra tonalidade, aos 6m32s, nos Violinos 1 e Flautas. Tudo em tons mais escuros, de carĂĄter enigmĂĄtico. A aparente ingenuidade que os temas apresentavam no inĂcio se revela um sentimento mais profundo, no desenvolvimento.
Perceba, aos 7m04s, que o Tema C vem com seu carĂĄter completamente transformado, como Ă© tĂpico de Schumann. Sutilmente e muito mais lento do que o conhecemos, o Tema C (7m27s) pode ser percebido vĂĄrias vezes nessa sessĂŁo, assim como sua inversĂŁo (as notas sĂŁo ascendentes), que acaba por se transformar no Tema B. Aos 7m48s ouvimos uns fortepianos (o mĂșsico ataca a nota forte, mas logo diminui para piano) que lembram claramente a mĂșsica de Beethoven. Aos 8m10s ele pode ser ouvido com mais clareza nos Violinos.
Aos 8m22s temos o Tema A alterado, nas madeiras. Aos 8m38s nós o temos em tom menor. Aos 8m46s vårios temas e melodias menores do movimento começam a ressurgir. Um crescendo da orquestra (9m24s) finaliza o desenvolvimento e jå se conecta à recapitulação.
Recapitulação (9m27s)
Recapitulação é o momento em que o compositor traz todos os temas sem grandes alteraçÔes. Começando em triunfo, ela traz primeiro o Tema A (9m27s), nas madeiras (flautas, oboés, clarinetes e fagotes), com respostas das cordas. O Tema B aparece aos 10m09s, nos Violinos 1 e 2 e Violas, com respostas das madeiras. Aos 10m34s surge o Tema C, nos Violinos 1 e Flautas.
Coda (10m52s)
O Coda Ă© a finalização do movimento, podendo ser curto (especialmente no Barroco) ou comprido (especialmente no Romantismo). Esse Ă© relativamente longo. Ele começa com uma descida das cordas (10m52s) que faz a mĂșsica modular (mudar de tom). Logo os Clarinetes e Fagotes (10m54s) fazem uma melodia. Surge, entĂŁo, nas Flautas e OboĂ©s, uma referĂȘncia ao Tema A (11m06s). A partir daĂ a mĂșsica ganha a instrução Con Fuoco (com fogo), tornando-se mais agitada.
Ouvimos, aos 11m34s, nos Trompetes, o pequeno motivo da introdução. A partir dos 11m45s somos conduzidos ao final da mĂșsica, que termina alegre e ruidosa, sendo a utilização dos metais mais presente aqui.
2Âș Movimento - Scherzo: Allegro Vivace (12m55s)
O Scherzo Ă© um movimento RomĂąntico que substituiu o ClĂĄssico Minueto. Tal como o Minueto, ele tem partes A-B-A (nesse caso A-B-A-C-A). A Parte B Ă© chamada de Trio, e o de Schumann tem dois desses trios. A diferĂȘnça do Scherzo para o Minueto Ă© que ele Ă© bem mais dinĂąmico e rĂĄpido que o outro. Os dois costumam ter compasso de 3 tempos (3/4), mas este aqui apresenta um compasso de 2 tempos (2/4).
Scherzo
Os Violinos 1 jĂĄ aparecem apresentando o Tema Principal do Scherzo, baseado no Tema B do primeiro movimento (4m17s). Lembra que esse Tema B tem uma subida cromĂĄtica? Agora, essa subida Ă© transformada e apressada. O Tema logo Ă© repetido (13m07s), com respostas das madeiras.
Como esse movimento nĂŁo tem desenvolvimento, Schumann trata de variar a melodia (13m24s).
Trio 1
Observe que, agora, a mĂșsica adquire outra personalidade, mais sossegada e burlesca. O Tema do primeiro trio surge (14m32s) nas Flautas, OboĂ©s, Clarinetes e Fagotes, em quiĂĄlteras e staccato, com respostas das cordas. Aos 14m42s os Violinos 1 e 2 e as Violas tocam uma frase lĂrica e, aos 14m54s, as madeiras retomam seu Tema. A frase lĂrica volta, aos 15m05s, nos Violinos 1. Aos 15m15s as quiĂĄlteras do Scherzo começam a voltar, nos Violinos 1.
Aos 15m24s o Tema ressurge nas madeiras e aos 15m59s os Violinos 1 o reproduzem, mas de maneira lĂąnguida, com ritenuto (desacelerando) e um pouco modificado. Aos 16m05s ocorre o contrĂĄrio: a mĂșsica começa a acelerar. O Tema do Scherzo (16m10s) pode ser ouvido nas cordas antes que acabe o Trio, em crescendo.
Scherzo
Aos 16m11s voltamos a ouvir o Scherzo, com o Tema tocado pelos Violinos 1. Ele é tocado à guisa de variação da primeira vez.
Trio 2
Iniciando aos 17m07s e bem mais lĂrico do que o Trio 1, este aqui se trata de uma homenagem a Johann Sebastian Bach, sendo escrito em forma Coral (as aulas de Contraponto tiveram serventia). Ele usa um tema conhecido commo BACH (assim chamado por conter as notas si bemol, lĂĄ, dĂł e si natural, que, na nomeclatura alemĂŁ, sĂŁo chamadas de B, A, C, H). VocĂȘ pode escutĂĄ-lo discretĂssimo nos Violinos 1, aos 17m14s.
Esta sessĂŁo Ă© absurdamente linda e bem escrita. A homenagem a Bach Ă© perceptĂvel, o trecho Ă© um Coral (escrita Coral Ă© aquela em que vĂĄrios instrumentos tocam, simultaneamente, notas diferentes, mas obedecendo mais ou menos o mesmo ritmo e a mesma harmonia do instrumento que faz a primeira voz, ou primeira linha melĂłdica).
Durante uma intervenção dos Oboés (18m06s), os Violinos 1 começam a ameaçar o Tema do Scherzo. A célula de semicolcheias ascendentes vai cada vez mais tomando conta até explodir no Scherzo.
Scherzo
Aos 18m23s o Scherzo volta para sua derradeira apresentação, novamente nos Violinos 1. Trata-se de uma variação ainda mais viva que as outras. Aos 19m20s começa o Coda, todo baseado no Tema do Scherzo (ainda que conte com uma aparição do motivo da fanfarra de metais da introdução do primeiro movimento, aos 19m38s), e que termina a peça de maneira assertiva.
3Âș Movimento - Adagio Espressivo (20m12s)
Parte A
O movimento lento da sinfonia Ă© a coisa mais linda em que eu posso pensar. Ă o Ășnico da obra que nĂŁo Ă© em DĂł Maior, sendo em um apropriado DĂł Menor. Ele Ă© em forma ternĂĄria (A-B-A), embora alguns estudiosos o enxerguem em forma sonata e eu mesmo prefira pensar nele como em forma ternĂĄria. Começa com os Violinos 1 e 2 jĂĄ tocando o Tema Principal, marcado cantabile, (20m12s), que se baseia nas suas 4 primeiras notas, mas segue por quase 8 compassos. Ele serĂĄ repetido incontĂĄveis vezes, mas nunca cansa. Schumann aplica uma tĂ©cnica de variação singular: o Tema permanece intacto, enquanto seu acompanhamento Ă© que vai se transformando. O Primeiro OboĂ© assume, adicionando seu belo e melancĂłlico timbre, com a mesma melodia (20m46s), sendo que, aqui, a variação Ă© o belo contracanto do Primeiro Fagote.
Aos 21m39s as Trompas intervĂȘm com um motivo simples, respondido pelas madeiras. No final da sua parte as duas Trompas fazem belos arpejos (21m50s). Aos 22m11s as cordas respondem, começando pelos Contrabaixos e Violoncelos, mas logo seguidos pelo restante do naipe. Os Violinos 1 e 2, especialmente, tocam vĂĄrias vezes o motivo do arpejo das Trompas, oferecendo coesĂŁo temĂĄtica ao movimento.
A Tema A logo retorna, sendo declamado pelo Primeiro Clarinete (23m), entrecortado pela Primeira Flauta e o Primeiro Fagote e utilisando também o Primeiro Oboé. A ideia de usar, frequentemente, apenas um instrumento de cada madeira (ele tem dois de cada) confere uma atmosfera mais desolada, sendo a sonoridade individual dos instrumentos muito bonita. Nos movimentos råpidos, convém usar o par, pois a orquestração costuma ser mais pesada e, só assim, eles são escutados com clareza. Neste trecho o Tema tem vårias alteraçÔes tonais (modulaçÔes).
A partir dos 23m36s os Violinos 1 tocam o motivo do arpejo das Trompas, antes de desembocar no Tema (23m56s) em registro agudo, com os Violinos 2 apoiando uma oitava abaixo. Termina com trinados (duas notas repetidas alternadamente com rapidez), enquanto o Primeiro Clarinete e o Primeiro Oboé repetem o Tema.
Parte B
A Parte B é um fugato, que é como a gente chama um trecho curto e sem o rigor de uma Fuga, mas que tem elementos de uma. Inicia-se no Violino 1, em staccato, em uma frase relativamente comprida (25m01s), derivada dos arpejo ascendente das Trompas. Aos 25m10s os Violinos 2 começam o mesmo Tema, mas as notas estão um grau acima. Aos 25m25s as Violas retornam, executando a frase no mesmo tom dos Violinos 1, e aos 25m42s entram os Violoncelos, no mesmo tom dos Violinos 2. O fugatto continua, mas se transforma em acompanhamento para o Tema A, atacado pela Primeira Flauta, Primeiro Oboé e Primeiro Clarinete.
Parte A
Assim que o Tema A entrou, retornamos Ă Parte A, ainda que ecos do fugatto continuem a ser ouvidos nas cordas (25m50s). O Tema A aparece, mais uma vez, variado - lembrem-se, no acompanhamento, que Ă© derivado do fugato, e na estrutura tonal. Aos 26m25s a mĂșsica modula para DĂł Maior, a tonalidade geral da sinfonia. Esta passagem tem carĂĄter de Coda e se baseia na parte final do Tema A, mas o Coda em si começa um pouco mais tarde. Aos 27m12s o Tema A soa novamente, no Primeiro Clarinete, alternando com Primeiro OboĂ©, Primeiro Fagote e Primeira Flauta.
Aos 27m46s os Violinos 1 fazem o motivo do arpejo das Trompas. Aos 28m08s os Violinos 1 e 2, oitavados, executam o Tema A e as madeiras agudas respondem.
O delicado Coda começa aos 29m12s, fechando a mĂșsica de maneira sutil e com as derradeiras apariçÔes do saudoso Tema A, com um acompanhamento e toda sua configuração modificados, mas sem jamais perder seu apelo emocional. A Ășltima vez em que ele aparece Ă© nos Violoncelos e Contrabaixos, aos 29m25s. O movimento termina em DĂł Maior.
Schumann posicionou o movimento lento da sinfonia, de maneira estratégica, de forma a o atepor ao alegre e festivo finale, o quarto movimento. O contraste é gritante.
4Âș Movimento - Allegro Molto Vivace (30m34s)
O Finale Ă© o movimento mais criticado. Barulhento, um tanto artificial, de estrutura confusa, sua forma sonata nĂŁo Ă© bem explicada... Ă rapidĂssimo, com a MĂnima valendo 170 BPM. Sua alegria e seu bom humor podem ser explicados por uma melhora de Schumann, que disse que, desde que começara a escrever a sinfonia, nunca tinha se sentido tĂŁo bem.
Vou escrever em tĂłpicos, que Ă© como fica mais ĂĄgil e interessante.
Começa com uma rĂĄpida escala de Clarinetes, Fagotes e cordas (30m34s) (essa escala Ă© remanescente da que começa o seu Concerto para Piano) e um teminha que, a princĂpio, pertence Ă s madeiras;
Ă o Tema A. Ele lembra o Tema principal da Sinfonia NÂș 4 "Italiana", de Felix Mendelssohn, nas Flautas e OboĂ©s, aos 30m37s, repetido, aos 30m40s pela orquestra em tutti;
Aos 31m12s, uma rĂĄpida e virtuosĂstica passagem dos Violinos 1, auxiliados pelas Flautas e demais madeiras;
Temas de todos os trĂȘs movimentos anteriores reaparecem aqui.

ConsideraçÔes finais
A peça foi estreada em novembro de 1846, por Felix Mendelssohn, regendo a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig. Mas foi escrita em Dresden, para onde a famĂlia Schumann havia se mudado em 1844 atrĂĄs de bons ares. Ainda assim, o perĂodo de composição foi marcado pela dilatação dos problemas de Robert, sobretudo a depressĂŁo, a agonia e a quase certeza de que estava enlouquecendo.
Mas a Sinfonia nĂŁo transparece isso nem um pouco. O que temos Ă© uma doce melancolia ecoando no belĂssimo terceiro movimento. Esse movimento se baseia principalmente em um motivo de quatro notas, que aparece o tempo todo. Ăs vezes eu considero este movimento a mĂșsica mais bonita jĂĄ escrita.
Ă uma obra quase cĂclica (aquela em que os temas de um movimento vĂŁo aparecendo nos outros). Na verdade Ă© assim: ela vai acumulando temas dos trĂȘs primeiros movimentos e os traz de volta no quarto. Fazendo isso, o compositor ganha credibilidade e autoridade, jĂĄ que ele precisa encontrar temas que se encaixam tanto nos movimentos a que pertencem quanto nos movimentos que os repetirĂŁo. Eu, particularmente, acho que a forma cĂclica Ă© muito mais valorizada do que deveria, sendo mais simples de fazer do que se costuma pensar.
Ă comum atribuir ao terceiro movimento grande influĂȘncia sobre o Adagietto da 5ÂȘ Sinfonia de Gustav Mahler (de 1902) e sobre o Largo da 5ÂȘ Sinfonia de Dmitri Shostakovich (de 1937). Eles tĂȘm uma espĂ©cie de parentesco metafĂsico.
GravaçÔes recomendadas
- Christian Thielemann, regendo a Orquestra Philharmonia - Esta surpreendente gravação de Thielemann Ă© obviamente favorecida pela execução excepcional da Philharmonia, alĂ©m de sua maravilhosa sonoridade. O maestro tambĂ©m vai muito bem, extraindo da orquestra energia, onde cabe, robustez ou delicadeza. O disco contĂ©m, tambĂ©m, a Abertura Manfred e o KonzertstĂŒck para 4 Trompas e Orquestra. Acho superior Ă (tambĂ©m excelente) gravação mais recente (2019) de Thielemann com a Staatskapelle de Dresden. Ă de 1997.
- Leonard Bernstein, com a FilarmĂŽnica de Nova Iorque - Muito superior Ă indulgente gravação de Bernstein com a FilarmĂŽnica de Viena, mais de 20 anos posterior, esta gravação, de 1962, Ă© cheia de mĂ©ritos. Sua contagiante energia nos movimentos 1, 2 e 4, alĂ©m da impressionante expressividade do terceiro movimento, a tornam inesquecĂvel. O som gravado tambĂ©m Ă© Ăłtimo, especialmente na remasterização desse CD (confira a capa abaixo), que tambĂ©m traz a Sinfonia NÂș 1 "Primavera".
- Riccardo Chailly, regendo a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Conforme prometido, aqui estĂĄ uma gravação da Sinfonia NÂș 2 de Schumann reorquestrada pelo compositor RomĂąntico Tardio e tambem regente Gustav Mahler, feitas no começo do sĂ©culo XX. Muitos preferem essa versĂŁo, mas existem poucas gravaçÔes, prevalecendo amplamente as gravaçÔes com a orquestração original. Normalmente eu nĂŁo recomendaria as reorquestraçÔes, que tendem tornar as peças extravagantes, mas, especificamente na Segunda Sinfonia, as mudanças sĂŁo pequenas, limitando-se a amenizar os problemas de textura e equilĂbrio instrumental e, ao mesmo tempo, tornar a obra mais grandiosa. E graças a um trabalho muito delicado de Chailly e da orquestra (a mesma com que Mendelssohn estreou a peça), que executam tudo com convicção, ardor e uma concepção perfeita, o trabalho Ă© muito bem-sucedido. A gravação Ă© de 2007 e foi lançado em 2009 um disco duplo contendo as 4 Sinfonias.
- Thomas Dausgaard, com a Orquestra de CĂąmera Sueca - Uma gravação seca e de sonoridade grave, o que nĂŁo Ă© ruim. A sinfonia se beneficia muito com uma orquestra de cĂąmera, que tem o mesmo nĂșmero de instrumentos de sopro (os que o compositor pediu) e uma quantidade substancialmente reduzida de cordas. O resultado Ă© que a gravação sai bem mais leve, os rĂtmos sĂŁo tocados com absoluta precisĂŁo. O talento do regente dinamarquĂȘs Dausgaard de controlar as dinĂąmicas e os andamentos Ă© sobrenatural. Ă de 2005, mas a compilação com as 4 Sinfonias e uma porção de Aberturas foi lançada em 2019.
E, como sempre, o/a encorajamos a comentar. Para comentar, continue rolando abaixo e encontre a faixa vermelha, abaixo de "Posts Relacionados". Nosso dever Ă© difundir a mĂșsica clĂĄssica, e nĂŁo sabemos exatamente se estamos conseguindo. Ăs vezes parecemos rĂĄdio-amadores, transmitindo para as galĂĄxias solitĂĄrias (possivelmente solitĂĄrias). Seu comentĂĄrio faria muita diferença. Pode ser de pirraça, de elogio, de desabafo, de conversa. O que for. Agradecemos.
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Um "pequeno" GlossĂĄrio de termos musicais.
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Perfil da pianista portuguesa Maria JoĂŁo Pires, postagem da nossa correspondente prodĂgio lusitana Mariana Rosas, do Blog PianĂssimo (www.pianissimo.ovar.info).
Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de aviĂŁo, em 1949.
Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021.
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