Discos Interessantes de Música Renascentista
- Johannes Ockeghem - Réquiem, Missa "Mi-Mi", Missa Prolationum, 2 Salve Reginas e algumas obras menores, interpretados pelo Hilliard Ensemble, regido por Paul Hillier - O Réquiem mais antigo cuja partitura sobreviveu é uma obra fantástica. Apenas para coro, a obra tem 9 movimentos e dura cerca de 37 minutos. Embora não seja dramática, emotiva, é muito bonita. A Missa "Mi-Mi", curta e melismática, é uma maravilha. A Missa Prolationum, para 4 vozes, tal qual as anteriores, é uma obra ainda mais séria, comprida e digna de atenção.
- Guillaume Du Fay - Missa "Se la Face ay Pale", Magnificat "Quinti Toni", Missa "Ecce Ancilla Domini", na interpretação do Boston Church of the Advent Choir conduzido por Edith Ho - O Coro Adventista de Boston faz um trabalho impecável interpretando obras complicadas de Du Fay. O som do disco, de 2015, foi capturado com muito zelo e, ao mesmo tempo, deixando o coro se expressar. "Se la Face ay Pale" é uma obra tão complexa que é difícil acompanhar. O Magnificat, com menos de 6 minutos, tem igual complexidade e talvez uma pitada a mais de profundidade. Já "Ecce Ancilla Domini" é uma missa cheia de contraponto e com um caráter luminoso.
- Giosquino: Josquin des Prez in Italia - "Praeter Rerum Seriem", Missa "Hercules dux Ferrariae", "Tu Solus qui Facis Mirabilia", "Fortuna d’un Gran Tempo", "O Virgo Prudentissima", "Inviolata, Integra et Casta", "La Bernardina", "Salve Regina", "Huc Me Sydereo", com o Odhecaton, o Gesualdo Six e a direção de Paolo da Col - O contraponto de Josquin tem um tempero. As harmonias também contêm momentos bem complicados. São obras que representam muito bem a Renascença. O disco é de 2021.
- Thomas Tallis - "Spem in Alium" (moteto a 40 vozes), Missa "Salve Intemerata" e outras obras menores, interpretados pela Oxford Camerata, dirigida por Jeremy Summerly - Com coro masculino e feminino, o Moteto "Spem in Alium" é uma daquelas peças em que você parece que vai flutuar, pela meditatividade e pura beleza da obra. A Missa "Salve Intemerata" é engenhosa, utilizando às vezes apenas dois cantores, e outras vezes o coro inteiro (também misto). Imagino que a Oxford Camerata seja famosa pela sua sessão de baixos. Tem expressividade e precisão. O disco é de 2005. - Giovanni Pierluigi da Palestrina - Livro de Madrigais Sacros, Vol. 2, com o Corvina Consort, regido por Zoltan Kalmanovits - Também aplicando o coro misto, Palestrina cria Madrigais que podem soar menos cheios, como se as vozes estivessem esvaziados, mas eu digo isso no bom sentido. A textura é mais clara e se entende perfeitamente o que cada voz está cantando. O disco é de 2014.
- Orlande de Lassus - Inferno: "Cantica Sacra Sex et Octo Vocibus", "Audi Tellus", "Ad Dominum Cum Tribularer", "Media Vita in Morte Sumus", "Circumdederunt Me Dolores Mortis", "Libera Me Domine" e outros, interpretados pela Capella Amsterdam, regida por Daniel Reuss - Essa miscelânea de Motetos Profanos macabros, reunidos pela temática da penitência, nos traz música de qualidade ímpar. A interpretação do coro misto Capella Amsterdam é impecável, sóbria e pálida sem, jamais, soar apagada. O álbum é de 2020.
- William Byrd - Música Virginal e para Consorts (incluindo Pavanas e Galhardas), interpretadas por Skip Sempé, tocando no cravo, e pelo Cappricio Stravagante - Um disco mais vibrante, este aqui tem, também, maior variedade timbrística, variando entre um belo consort de Violas da Gamba e o lépido cravo de Sempé. Boa parte das músicas está no formatos mais cultivados por Byrd e pelos compositores de Música Virginal Elizabetana: a Pavana e a Galharda. O repertório, secular, é mais leve do que o de outros discos da lista, mas também não lhe falta profundidade e intimidade. É de 1997.
- Tomás Luis de Victoria - Réquiem, interpretado pelo Musica Ficta, regido por Raúl Mallavibarrena - O Requiem a 6 vozes de Victória é ainda mais organizado e encaixado que o de Ockeghem, gerando momentos de beleza ainda maior. O coro é misto e as vozes femininas estão próximas da perfeição. Contendo apenas o Requiem, o disco é curto, com 10 movimentos e quase 39 minutos de duração. É de 2017.
- John Dowland - Mel da Colmeia: Canções para Seus Patronos, cantadas por Emma Kirkby, acompanhada ao alaúde por Anthony Rooley - Cantado pela excelente soprano inglesa Emma Kirkby, especialista em música anterior ao Romantismo, o disco traz uma seleção de canções de Dowland, em vez de interpretar livros inteiros dele, como geralmente se faz. O canto de Emma e de cantores de sua linhagem não utiliza o vibrato, recurso tão comum e levado ao exagero por cantores modernos de ópera, música sacra ou lied. Isso vale para compositores a partir de Mozart. É de 2005.
- John Dowland - Lachrimae, ou Sete Lágrimas, com o grupo de Jordi Savall - Lachrimae ou Seven Tears é uma ambiciosa obra instrumental de Dowland. A música tem 21 movimentos, para Cinco Violas da Gamba (ou instrumentos da família do Violino) e alaúde. Foi composta em 1606 e é uma peça profunda e melancólica. As Sete Lágrimas são sete Pavanas (danças lentas, preguiçosas) que permeiam e sustentam a obra. Por entre as Pavanas, temos movimentos um pouco menos estáticos, como Allemandes, Galhardas, mais Pavanas e o funeral. Dowland disse: "As Lágrimas que a Música chora podem ser prazerosas. Nem são as lágrimas de tristeza, mas de felicidade e alegria." O disco é de 1987 e Savall e sua turma estão perfeitos.
Espero que esse texto seja útil. Teremos: Idade Média, Renascença, Barroco, Classicismo, Romantismo e Modernismo (e, talvez, Música Contemporânea).
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