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Que tal: nem eu comunista, nem você nazista?

Foto do escritor: Rafael TorresRafael Torres
Por Rafael Torres

São duas palavras extremamente estigmatizadas e pertencem ao passado. Acusar uma pessoa que apoia Donald Trump ou Bolsonaro a Hitler (ou seus apoiadores, que foram e são muitos) é uma estratégia, no mínimo, abstrata. E eles não são muito bons em abstrações. Pode chamá-los de burros, mas um burro não se acha burro.


O mesmo vale para a comparação entre Lula e Stalin. Isso porque sabe-se que estaremos comparando extremos a moderados, colocando tudo em uma mesma panela e fazendo aquela mistura doida. O Brasil sobreviveu a Bolsonaro. Eu, pelo menos, não percebi alteração no meu estilo de vida. Egoísta, ele é, eu sei, porque LGBTs, negros e nordestinos são vítimas constantes de suas falas nojentas. Mas sabemos que, em caso de atrocidade, será preso.


O ser humano, em geral, abomina preconceito (quando não parte dele mesmo) e assassinato. Especialmente genocídios. E, mais ainda, quando os dois estão combinados.


Adolf Hitler
Adolf Hitler

Eu ainda me surpreendo: quando fui pesquisar uma foto do monstro, coloquei Adolf e o Google me sugeriu, imediatamente, este Adolf que você vê acima. As sugestões seguintes eram todas referentes a ele. Com Stalin, o mesmo. Se bem que, Stalin, pode se referir, principalmente, ao ditador russo, enquanto que Adolf, temos um punhado de outros.


Acontece que (ao menos quase) todo mundo já assistiu a algum filme sobre o holocausto, feito para dar nojo de qualquer cidadão que simpatize com aquilo. Mas pense: Trump, recém eleito presidente dos Estados Unidos, não promete, a quem nele votou, nenhum genocídio. Ao menos, não para eles, que não são bons em subtexto.


Lula, pela terceira vez, presidente do Brasil, também não propõe nada nos moldes do Stalinismo. Nem pratica. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão bem equipados contra regimes autoritários insanos.


Ser Lulista é tão sinônimo de Stalinista, quanto Bolsonarista é de Nazista? Confesso logo que tenho muito maior simpatia pela esquerda do que pela direita. Mas digamos que ambos busquem o progresso. E ambos foram eleitos após duas administrações, digamos, polêmicas. A Dilma sofreu impeachment por uma tecnicalidade, as pedaladas fiscais (que, se for procurar, todos cometeram). O Biden (não conheço muito de política externa) me parecia ruim, mesmo. Ou então, teve que consertar todas as jumentices do governo anterior, justamente, Trump.


A resposta à pergunta do parágrafo anterior é não. Lula não está nem perto de convocar uma ditadura comunista quanto Bolsonaro esteve de uma ditadura militar. E isso se deve ao simples fenômeno descrito no quadro abaixo (feito pelos melhores profissionais da Arara Neon). Tem a ver com extremos. Lula não está perto da extrema esquerda. Ele defende a democracia mais do que seu antecesssor. Já Jair, é a extrema direita pura: malicioso, cheio de "piadas" de extremo mau gosto, racista etc.



O que o gráfico não mostra (nem poderia) é que, quanto mais para um lado você está, mais difícil é enxergar o outro. E, quanto mais em uma extremidade você estiver - digamos, extrema direita - tudo, para você, vai parecer esquerda. Porque tudo estará à sua esquerda.


Em resumo: você, esquerdista, acredita mesmo que metade do país é nazista? Claro, tal movimento está crescendo, e isso é surreal, mas ainda é incipiente. E você, direitista, acredita mesmo que toda a esquerda é comunista? Eu, ao menos, não sou. Acho um horror o regime tal como foi implantado na União Soviética, tanto quanto o próprio Nazismo (que, não se engane, é de direita - a palavra Nazismo vem de Nacional Socialismo, que era justamente uma oposição ao Socialismo Internacional da Revolução Russa). Sujiro que se eduquem antes de falar groselha.


E é então que eu proponho: que tal nem eu comunista, nem você nazista? Se você é de direita, tem, para mim, algumas visões equivocadas, especialmente sobre o que está à esquerda de você. Mas, como se diz: "quando você percebe que está em um culto, você já saiu dele". Eu já conheci e lidei com pessoas que apoiavam o Bolsonaro, mas eram maravilhosas (fora o olhar, quando mencionavam alguma coisa de política - ficava esquisito).


Já fui "ofendido" por parentes meus, mandando-me ir à Venezuela. Presenciei a "conversão" de um irmão meu ao Olavismo e, depois, ao cristianismo. Li os mesmos textos que ele e assisti aos mesmos vídeos. Achava o Olavo cada vez mais idiota. Cheguei, até, a fazer um samba em defesa do Chico Buarque:


Mandaram o samba pra Cuba

Mandaram o samba pra Paris

Sem saber que, em Havana,

Foi o samba tão feliz


O Brasil começa a amadurecer, a saber conviver com seus lados. Isso é um bom começo. Mas é apenas o começo. Temos, ainda, muito por que lutar.


Se bem que, estudando história com a minha filha, 9º ano, não sei, não.


 


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A Arara Neon é um blog sobre artes, ideias, música clássica e muito mais. De Fortaleza, Ceará, Brasil.

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