Que tal: nem eu comunista, nem vocĂȘ nazista?
- Rafael Torres
- 13 de mar.
- 4 min de leitura
Por Rafael Torres
SĂŁo duas palavras extremamente estigmatizadas e pertencem ao passado. Acusar uma pessoa que apoia Donald Trump ou Bolsonaro a Hitler (ou seus apoiadores, que foram e sĂŁo muitos) Ă© uma estratĂ©gia, no mĂnimo, abstrata. E eles nĂŁo sĂŁo muito bons em abstraçÔes. Pode chamĂĄ-los de burros, mas um burro nĂŁo se acha burro.
O mesmo vale para a comparação entre Lula e Stalin. Isso porque sabe-se que estaremos comparando extremos a moderados, colocando tudo em uma mesma panela e fazendo aquela mistura doida. O Brasil sobreviveu a Bolsonaro. Eu, pelo menos, nĂŁo percebi alteração no meu estilo de vida. EgoĂsta, ele Ă©, eu sei, porque LGBTs, negros e nordestinos sĂŁo vĂtimas constantes de suas falas nojentas. Mas sabemos que, em caso de atrocidade, serĂĄ preso.
O ser humano, em geral, abomina preconceito (quando nĂŁo parte dele mesmo) e assassinato. Especialmente genocĂdios. E, mais ainda, quando os dois estĂŁo combinados.

Eu ainda me surpreendo: quando fui pesquisar uma foto do monstro, coloquei Adolf e o Google me sugeriu, imediatamente, este Adolf que vocĂȘ vĂȘ acima. As sugestĂ”es seguintes eram todas referentes a ele. Com Stalin, o mesmo. Se bem que, Stalin, pode se referir, principalmente, ao ditador russo, enquanto que Adolf, temos um punhado de outros.
Acontece que (ao menos quase) todo mundo jĂĄ assistiu a algum filme sobre o holocausto, feito para dar nojo de qualquer cidadĂŁo que simpatize com aquilo. Mas pense: Trump, recĂ©m eleito presidente dos Estados Unidos, nĂŁo promete, a quem nele votou, nenhum genocĂdio. Ao menos, nĂŁo para eles, que nĂŁo sĂŁo bons em subtexto.
Lula, pela terceira vez, presidente do Brasil, também não propÔe nada nos moldes do Stalinismo. Nem pratica. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão bem equipados contra regimes autoritårios insanos.
Ser Lulista Ă© tĂŁo sinĂŽnimo de Stalinista, quanto Bolsonarista Ă© de Nazista? Confesso logo que tenho muito maior simpatia pela esquerda do que pela direita. Mas digamos que ambos busquem o progresso. E ambos foram eleitos apĂłs duas administraçÔes, digamos, polĂȘmicas. A Dilma sofreu impeachment por uma tecnicalidade, as pedaladas fiscais (que, se for procurar, todos cometeram). O Biden (nĂŁo conheço muito de polĂtica externa) me parecia ruim, mesmo. Ou entĂŁo, teve que consertar todas as jumentices do governo anterior, justamente, Trump.
A resposta Ă pergunta do parĂĄgrafo anterior Ă© nĂŁo. Lula nĂŁo estĂĄ nem perto de convocar uma ditadura comunista quanto Bolsonaro esteve de uma ditadura militar. E isso se deve ao simples fenĂŽmeno descrito no quadro abaixo (feito pelos melhores profissionais da Arara Neon). Tem a ver com extremos. Lula nĂŁo estĂĄ perto da extrema esquerda. Ele defende a democracia mais do que seu antecesssor. JĂĄ Jair, Ă© a extrema direita pura: malicioso, cheio de "piadas" de extremo mau gosto, racista etc.

O que o grĂĄfico nĂŁo mostra (nem poderia) Ă© que, quanto mais para um lado vocĂȘ estĂĄ, mais difĂcil Ă© enxergar o outro. E, quanto mais em uma extremidade vocĂȘ estiver - digamos, extrema direita - tudo, para vocĂȘ, vai parecer esquerda. Porque tudo estarĂĄ Ă sua esquerda.
Em resumo: vocĂȘ, esquerdista, acredita mesmo que metade do paĂs Ă© nazista? Claro, tal movimento estĂĄ crescendo, e isso Ă© surreal, mas ainda Ă© incipiente. E vocĂȘ, direitista, acredita mesmo que toda a esquerda Ă© comunista? Eu, ao menos, nĂŁo sou. Acho um horror o regime tal como foi implantado na UniĂŁo SoviĂ©tica, tanto quanto o prĂłprio Nazismo (que, nĂŁo se engane, Ă© de direita - a palavra Nazismo vem de Nacional Socialismo, que era justamente uma oposição ao Socialismo Internacional da Revolução Russa). Sujiro que se eduquem antes de falar groselha.
E Ă© entĂŁo que eu proponho: que tal nem eu comunista, nem vocĂȘ nazista? Se vocĂȘ Ă© de direita, tem, para mim, algumas visĂ”es equivocadas, especialmente sobre o que estĂĄ Ă esquerda de vocĂȘ. Mas, como se diz: "quando vocĂȘ percebe que estĂĄ em um culto, vocĂȘ jĂĄ saiu dele". Eu jĂĄ conheci e lidei com pessoas que apoiavam o Bolsonaro, mas eram maravilhosas (fora o olhar, quando mencionavam alguma coisa de polĂtica - ficava esquisito).
JĂĄ fui "ofendido" por parentes meus, mandando-me ir Ă Venezuela. Presenciei a "conversĂŁo" de um irmĂŁo meu ao Olavismo e, depois, ao cristianismo. Li os mesmos textos que ele e assisti aos mesmos vĂdeos. Achava o Olavo cada vez mais idiota. Cheguei, atĂ©, a fazer um samba em defesa do Chico Buarque:
Mandaram o samba pra Cuba
Mandaram o samba pra Paris
Sem saber que, em Havana,
Foi o samba tĂŁo feliz
O Brasil começa a amadurecer, a saber conviver com seus lados. Isso é um bom começo. Mas é apenas o começo. Temos, ainda, muito por que lutar.
Se bem que, estudando histĂłria com a minha filha, 9Âș ano, nĂŁo sei, nĂŁo.
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