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Foto do escritorRafael Torres

Por que Antônio Meneses regravou as Suítes para Violoncelo Solo de Bach?

As 6 Suítes para Violoncelo Solo de J. S. Bach estão entre aquelas peças infinitas ao quadrado do mestre alemão do Barroco. E teriam passado despercebidas a todos se, no final do século XIX, o jovem Pau Casals não tivesse encontrado as partituras em um sebo em Barcelona, acreditado que era mesmo Bach e incorporado ao seu repertório.


Casals viveu até os anos 70 do nosso século e gravou a peça várias vezes. São patrimônio imaterial da cultura ocidental, e muitos cultuam estas gravações. Eu confesso que tenho dificuldade em fazê-lo. Como todo pioneiro romântico (no sentido de interpretação romântica, aquela oposta ao HIP), Casals errava muito e tinha umas ideias que não me agradam muito. Mas há quem santifique, e são músicos muito melhores que eu.


Eu podia perguntar ao Antônio Meneses o que o levou a gravar a peça pela segunda vez. (Ele será um dos próximos entrevistados da Arara.) Mas prefiro me arriscar e tentar adivinhar apenas pelo som das duas gravações. Digo logo que a nova não substitui a primeira. Veja a capa das duas:


Capa da Primeira Gravação de Antônio Meneses das 6 Suítes de Bach.
A primeira.
Capa da segunda gravação de Antônio Meneses das 6 Suítes para Violoncelo de J. S. Bach.
A segunda.

Antônio Meneses


O violoncelista pernambucano apareceu no começo dos anos 80, quando venceu o Concurso Internacional Tchaikovsky, em Moscou (na categoria Violoncelo, que seja dito). Mais barulho, ainda, fez, quando o maestro Herbert von Karajan o convidou a gravar. Juntos, gravaram o Concerto para Violino, Violoncelo e Orquestra, de Brahms, com Anne Sophie Mutter ao violino e o Poema Sinfônico Dom Quixote, de Richard Strauss, que tem um violoncelo solista. Depois, sua fama cresceu, ainda, pois se juntou ao Beaux Arts Trio por 10 anos. Sempre entre o Brasil e o exterior, já gravou com a Osesp (os Concertos e a Fantasia de Villa-Lobos) e com pianistas do porte de Maria João Pires e Nelson Freire.


Já trabalhou com a Filarmônica de Berlim, a Filarmônica de Nova Iorque a Sinfônica de Londres, a Sinfônica da BBC, a do Concertgebouw de Amesterdã, a Filarmônica Tcheca, a Filarmônica de Israel, a da Rádio Bávara e regentes como Herbert von Karajan, Riccardo Chailly, Mariss Jansons, Claudio Abbado, Yuri Temirkanov, Kurt Sanderling, Neeme Järvi, Mstislav Rostropovich, e Riccardo Muti.


E acabei de ficar sabendo que ele morreu, nesse sábado, na Basileia (Suíça), aos 66 anos, cancelando, automaticamente, a entrevista. Mas não me faltam grandes músicos para eu perguntar em seu nome. Nesse caso, recorri ao grande violinista italiano Emanuelle Baldini.


"Arara: Mestre, por que Antônio Meneses regravou as Suítes de Bach?"


"Baldini: Porque uma gravação não é nada mais do que uma foto sonora que reproduz um momento, uma etapa, e cada um de nós muda muito com o tempo. Na música também, há sempre novas coisas para falar, para descobrir. Nenhuma gravação é definitiva."


"Arara: Mas tem algo de "último testamento"? Ou tem a ver com o movimento HIP, já que gravou um semitom abaixo?"


"Não, muitos cellistas e violinistas gravaram mais de uma vez as mesmas obras, faz parte do normal percurso de crescimento e amadurecimento do músico. E das ocasiões que se oferecem no caminho."


E eis. Itália 2 x 0 Brasil. Palavras de um violinista que conviveu com Antônio e que gravou com ele. Voltemos, então, à biografia de Antônio Meneses. As 3 gravações da Suítes que fez foram: 1 privada, que ele fez nos anos 80 para algum barão japonês, 1 para a Avie, em 2004 e a mais recente, para a Azul Music, em 2023.


Sua discografia no Spotify conta com 24 discos, já nos seu site oficial, 43, menos o mais recente. O feito é extraordinário para um violoncelista, ainda mais brasileiro. Ainda mais nordestino, Tem desde duos com piano (tudo que você imaginar - Schumann, Schubert, Mendelssohn, Villa-Lobos etc.), peças para violoncelo solo (como as Suítes de Bach 2 vezes) e concertos (Haydn, Villa-Lobos, Elgar, CPE Bach, Brahms e Richard Strauss). Isso sem falar na sua discografia com o Beaux Arts Trio, o maior trio com piano que já se viu.


 

Devemos continuar ouvindo as duas comerciais?


Sim, meus caros. Como bem disse o Emmanuele Baldini, cada regravação representa uma nova concepção da música pelo artista. Não aconselho procurarem a , a 1ª de verdade, pois essa deve ter sido gravada na garantia de que jamais seria divulgada (pode não ter ficado em um nível aceitável por Antônio para lançamento). As outras duas, já falei: ele gravou cada uma em uma afinação diferente, dando-nos mais dos que os motivos necessários para desfrutá-las à vontade.


 

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