Por Rafael Torres
O trabalho de um regente é um dos mais valorizados e, certamente, mais bem pagos no universo da Música Clássica. Mesmo sendo o mais incompreensível, enigmático e misterioso. Quando uma grande Orquestra anuncia o fim do contrato de seu maestro corrente, os admiradores dessa orquestra manifestem-se calorosamente em fóruns pela internet, enumerando candidatos com suas vantagens e desvantagens.
O ritual de escolha de novo regente principal da Filarmônica de Berlim parece, de verdade, com um Conclave para escolha de um papa. Forma-se uma multidão do lado de fora da Sala de Concertos, com jornalistas transmitindo ao vivo, enquanto os músicos deliberam. Ao final, um deles sai com um papelzinho e anuncia o nome, para espanto de alguns e admiração de outros.
Mas O Que uma Orquestra Procura?
Isso depende de, basicamente, três fatores: o tipo de repertório que ela já domina e o que deseja dominar (se a Orquestra peca, por exemplo, no repertório de vanguarda, tende a contratar um regente que seja forte nesse quesito); o orçamento de que dispõe; e o "barulho" que quer causar com a contratação. Há, ainda, um quarto fator, mas este pode ter tanto uma grande importância quanto ser insignificante: a relação prévia da Orquestra com o candidato, adquirida através de concertos em que ele a regeu como convidado.
Vamos a um exemplo de contratação recente que demonstra claramente as intenções da Orquestra. A Filarmônica de Nova Iorque contratou, em 2023, o maestro-sensação venezuelano Gustavo Dudamel. Sabemos que ele é um excelente músico, mas é possível especular que o que a orquestra buscava era causar comoção, gerar notícia, chacoalhar a cena musical da cidade. A Filarmônica, uma das maiores e mais poderosas dos Estados Unidos, conseguiu, desde a saída da estrela Leonard Bernstein, ainda em 1969, manter seu nível de excelência, com regentes do porte de Pierre Boulez, Zubin Mehta, Kurt Masur e Lorin Maazel.
Mas desde a saída deste último, em 2009, vinha sofrendo com contratações de regentes excelentes, mas que não entregavam o que ela precisava. Alan Gilbert e Jaap van Sweden não conseguiram atrair público novo; tiveram, mesmo, dificuldade em manter o público velho; não tiveram grandes contratos de gravação e não lançaram grandes discos. Daqueles antológicos! E, para piorar, nesse período, por algum motivo a Orquestra apelou para a estratégia de lançar majoritariamente discos gravados ao vivo, em concreto. Isso desagrada os ouvintes, há barulho do público, aplausos e gritos de bravo e, embora a Orquestra aproveite pra demonstrar seu controle de sua sonoridade, com intervenções mínimas da tecnologia, a experiência não é a mesma de se ouvir um disco cuidadosamente talhado em estúdio. Mas acontece que é muito mais barato gravar um concerto que já seria tocado de qualquer maneira, do que mobilizar todos os músicos para ensaios e gravações fora do horário habitual.
A Orquestra Sinfônica de Londres, a Orquestra Filarmônica de Londres, a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara e a Orquestra do Concertgebouw Real de Amsterdã têm lançado muitos discos ao vivo. Na verdade, a maior parte dos lançamentos recentes dessas e de quase todas as orquestras, são relançamentos de discos lendários, em novas masterizações (algumas das quais, pouco mudam o som - ou melhor, dá para perceber a mudança, mas muitas vezes não dá para dizer se foi para melhor ou pior).
A Filarmônica de Nova Iorque chegou a demitir seu CEO e agora, com Dudamel, certamente vai alcançar o que quer: público novo, maior poder político (caso queira uma nova sala de concertos, terá (isso é altamente hipotético e improvável); caso queira novas audições para músicos, para substituir aquele flautista tão sibilante ou para aveludar mais as Violas, o que seja, poderá) e o repertório... Bom, será o mesmo de sempre. Sinfonias e Concertos de Beethoven; umas três Sinfonias de Mozart; muito Mahler e Bruckner; as três últimas Sinfonias de Dvořák, quem sabe; Sibelius; música de compositores norte-americanos, especialmente John Adams e, ainda, uma pitada de especiarias "latinas", pecinhas alegres, de três minutos, que Dudamel introduzirá com gosto.
Precisamos compreender que esse "congelamento" do repertório acontece pela manifestação passiva do público. Se comparece ou não para o concerto quando tocam a 6ª Sinfonia de Bohuslav Martinů. Ou se a bilheteria do concerto em que tocaram a 9ª Sinfonia, "Do Novo Mundo", de Antonín Dvořák lucrou o triplo da primeira.
Mas quase não foi isso o que vim falar hoje. Apenas mantenham em mente o que acabaram de ler. O fato é que, se nos Estados Unidos é assim, na Europa a situação tende a ser um pouco diferente. A começar pelo repertório: é mais espesso. O público escuta a quadragésima primeira Sinfonia de Mozart no despertador do celular ou no comercial de seguro de vida. Seus pais, avós, bisavós, sua árvore genealógica conhece os meandros mais secretos da obra. Por isso mesmo estão dispostos a desbravar um repertório menos restrito.
Especialmente no norte, na Escandinávia. E nas margens do Mar Báltico. Estônia, Letônia e Lituânia têm intrigado o mundo. Assim como Finlândia e Suécia. Esses países não param de gerar músicos do mais alto calibre. Especialmente compositores e maestros. E, de sobra, desvelar compositores interessantíssimos de séculos atrás.
Dos Países Bálticos saíram: a mezzo-soprano Elina Garanča, os maestros Mariss Jansons e Andris Nelsons, o compositor Pēteris Vasks e os violinistas Gidon Kremer e Baiba Skride (Letônia), o compositor Arvo Pärt (Estônia), o compositor Balys Dvarionas e a potencialmente revolucionária regente Mirga Gražinytė-Tyla (Lituânia) e tantos outros.
O Mais Interessante Maestro do Mundo
Pois bem. É aí que entra o maestro mais interessante do mundo. Nasceu em Tallinn, capital da Estônia, em 1937 (ele ainda está vivo em 31 de dezembro de 2023). O sofrido país era, desde o Século XVIII, parte do Império Russo. Houve a Revolução Comunista em 1917 e a Estônia passou a ser parte da União Soviética. Conseguiu, de alguma maneira, a independência em 1920, mas em 1940 foi anexada novamente à União Soviética e, no mesmo ano, ocupada pelo regime Nazista. Quando acabou a guerra, seguiu com a União Soviética até o período de desmanche desta, em 1991.
Neeme Järvi é impressionante não apenas pelo seu talento, mas porque acumula superlativos. Patriarca de uma família de músicos (Paavo Järvi e Kristjan Järvi, regentes e Maarika Järvi, flautista), sua carreira está no topo. Um topo que ele atingiu tardiamente - a partir dos anos 80 - e com muito esforço. Seu filho Paavo Järvi é ainda mais requisitado, talvez um dos 5 maestros mais reconhecidos no mundo todo.
Como Descobri
Já havia ouvido falar, ele é famoso. Tenho até alguns discos, de que gosto muito. Ocorre que, entre janeiro e agosto de 2023, estive acamado (era em uma rede, portanto arredado?) por uma doença misteriosa. Mais uma manifestação oculta e astuta da perene Depressão. Foram meses e meses em que não conseguia sequer levantar para comer.
Meu passatempo passou a ser montar playlists no Spotify. De todos os maestros, compositores, violinistas, pianistas e orquestras que podia lembrar e que tivessem uma discografia significativamente grande. Tinha algumas regras, como a de excluir música cantada, como Óperas, Sinfonias com vozes, Lieder etc.; de excluir gravações muito antigas, anteriores aos anos 50, com som muito ruim, chiado e sem peso etc. Estou na lista 437.
E aconteceu que, quando resolvi fazer a playlist de Neeme Järvi, tive muito mais trabalho do que supusera. Eu organizo as listas por ordem cronológica do nascimento dos compositores. Nos compositores, vêm primeiro as obras para orquestra de câmara, depois as sinfônicas (Aberturas, Poemas Sinfônicos), depois, Suítes, então Sinfonias, Concertos para Piano, para Violino, Instrumentos das Madeiras, dos Metais e, por fim, Música Sacra.
Raramente, em um só maestro, encontro tudo isso, do compositor que seja. Todas as Suítes, todas as Sinfonias e todos os Concertos. Talvez de Beethoven e Brahms. Mas Järvi gravou tudo de um número impressionante de compositores. Quando ele se propõe a gravar Medtner, não grava um Concerto para Piano. Grava todos! De Busoni, grava obras esquecidas. Porque ele resgata obras e elas passam a participar do repertório comum.
Ninguém gravou como ele. Järvi já gravou mais de 400 discos! A minha playlist com suas gravações tem 271 horas e 14 minutos. A de Herbert von Karajan, para comparação, tem 147 horas e 9 minutos; Georg Solti, 100 horas e 28 minutos; Claudio Abbado, 142 horas e 42 minutos. Até Daniel Barenboim, que é pianista e regente, portanto lida com os dois repertórios, tem menos, com 219 horas e 4 minutos.
A Carreira de Neeme Järvi
Järvi gravou muito com orquestras não muito conhecidas. Seus principais cargos, que geraram mais gravações icônicas, foram com a Orquestra Sinfônica de Gotemburgo, na Suécia (de 1982 a 2004) e com a Orquestra Real Nacional Escocesa (cargo este que manteve concomitantemente com o de Gotemburgo, de 1984 a 1988). Com ambas as orquestras ele mantém relações e títulos até hoje. É Principal Regente Emérito da primeira e Regente Laureado da segunda. E foi com elas que gravou seus projetos mais ambiciosos. E ajudou as duas a atingirem notoriedade mundial, especialmente a escocesa, que é uma das maravilhas do mundo moderno.
Seus postos seguintes foram nos Estados Unidos, para onde havia migrado em 1980, com toda a família, angariando, em 1985, a cidadania daquele país. Primeiramente, na Orquestra Sinfônica de Detroit, de 1990 a 2005; depois, da Orquestra Sinfônica de Nova Jérsei, entre 2005 e 2009.
Também em 2005 foi nomeado Regente Principal da Orquestra da Residência de A Haia, na Holanda, cargo que ocupou até 2012. Por fim, entre 2012 e 2015, esteve Diretor Artístico e Musical da Orchestre de la Suisse Romande, em Geneva, Suíça. Depois de 2015 preferiu reger orquestras como convidado, sem vínculos, e tem aparecido com as mais importantes do mundo, como a Filarmônica de Berlim, a Filarmônica de Viena, a Filarmônica Tcheca, a Orquestra do Concertgebouw Real de Amsterdã, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara e outras.
Sua discografia quase não tem Mozart, Beethoven, Schumann... Mas tem tudo de Piotr Tchaikovsky, muito mais do que qualquer outro regente já gravou; de Nikolai Rimsky-Korsakov, uma vastidão de Suítes de suas Óperas, mais o Capriccio Espagnol, Scheherazade e as 3 Sinfonias; as 8 Sinfonias de Alexander Glazunov, mais as Suítes Raymonda, Da Idade Média, Cenas de Balé e As Estações; as Sinfonias, as Suítes e os Concertos de Dmitri Shostakovich e de Sergei Prokofiev; as 9 Sinfonias, os Poemas Sinfônicos, o Réquiem e o Te Deum de Antonín Dvořák; música de balé francês, como Le Roi S'Amuse, Coppélia e Sylvia, de Léo Delibes e Espada, de Jules Massenet; música de Arthur Honegger, Albert Roussel, Jacques Ibert, Béla Bartók, Richard Strauss, Leó Weiner, Bohuslav Martinů (inclusive as 6 Sinfonias), Jean Sibelius, Alexander Scriabin, Sergei Rachmaninoff, Igor Stravinsky além de compositores norte-americanos, nórdicos e do Báltico que não eram gravados por ninguém antes dele.
Se eu quisesse montar uma playlist com repertório idêntico, precisaria pescar da discografia de mais de 20 maestros. E se eu quisesse que essa playlist tivesse a mesma qualidade da original, sei não. Acho que não poderia.
Estilo
De maneira completamente positiva, ele não busca um som muito polido e aveludado nas cordas. A sonoridade que tira delas é mais rugosa, mais selvagem. Sua precisão rítmica é prodigiosa e a concepção das obras que rege, muito bem desenhada. Neeme Järvi constantemente abre abre do polimento e da elegância em nome da naturalidade e da discrição.
Ainda assim, parece gostar de obras festivas, marchas e Aberturas com instrumentação ampla e pratos martelando, como em bandas militares. Seu estilo não é de modo algum grosseiro, apenas um pouco rudimentar, propositalmente, pois é como ele extrai sua característica espontaneidade das orquestras.
Gravações Recomendadas
Decidi (como não tinha pensado isso antes?) apresentar o nome do disco em inglês. Não porque sou fã do idioma, mas porque é como vão encontrá-los no Spotify, no YouTube e demais.
- Ibert: Orchestral Works - Com a Orchestre de la Suisse Romande - Todo dedicado à obra sinfônica do compositor modernista francês Jacques Ibert, o álbum contém sua famosa Escales... (o nome é esse, Escales reticências), de 1922, que, em três movimentos, narram suas impressões no mediterrâneo durante seu período na marinha. Os movimentos são Roma, Tunis-Nefta e Valência. Há também o Divertimento, de 1930, e a imponente Suíte Sinfônica "Paris". Um disco excepcional, que destaca a obra de um dos compositores mais importantes da primeira metade do século XX. A Orchestre de la Suisse Romande é, depois da Sinfônica Real Nacional Escocesa, a mais segura e multifacetada que Järvi regeu, além de ser, provavelmente a mais experiente.
- Alexander Glazunov - As 8 Sinfonias - Com a Sinfônica da Rádio Bávara e com a Sinfônica de Bamberg - Esse foi um dos projetos mais importantes de Neeme Järvi. Poucas vezes as 8 Sinfonias haviam sido gravadas em conjunto. A gravação de Järvi não só foi a maior responsável pela inclusão dessas Sinfonias no repertório tradicional, como fez muito para resgatar a reputação do compositor Romântico russo Glazunov, manchada desde 1891, quando, regendo, arruinara a estreia da Primeira Sinfonia de Sergei Rachmaninoff, levando o jovem compositor ao um bloqueio criativo apenas superado com análise e hipnose. As Sinfonias foram gravadas entre 1983 e 1984, e lançadas agrupadas em uma caixa, em 2019.
- Atterberg: Orchestral Works, Vol. 4 - Com a Orquestra Sinfônica de Gotemburgo - Parte de um apanhado da obra sinfônica do compositor Romântico Tardio sueco Kurt Atterberg (até agora, no 5º volume), este álbum, o 4º volume, contém sua Sinfonia de que mais gosto, a Terceira, "Västkustbilder" (Retratos da Costa Oeste), de um total de 9 Sinfonias. Completada em 1916, é uma obra que dá clara e digna sequência à tradição de Jean Sibelius. Tem, ainda, Três Noturnos para Orquestra e o Poema Sinfônico "Vittorioso" (na verdade, o final descartado de sua Sétima Sinfonia). O disco é de 2016.
- Bartók: The Wooden Prince, The Miraculous Mandarin, Hungarian Sketches & Concerto for Orchestra - Com a Orquestra Philharmonia - Na verdade, a junção de dois discos, esse álbum contém 3 das mais importantes obras do compositor Modernista húngaro Béla Bartók: dois balés-pantomimas, O Príncipe de Madeira (1917) e O Mandarim Miraculoso (1924) e o Concerto para Orquestra (1945). As duas primeiras são peças do auge do modernismo, com as quais se pode perfeitamente traçar um paralelo com obras de Igor Stravinsky dos anos 1910, como A Sagração da Primavera. O Concerto para Orquestra é diferente. Encomendado pelo maestro da Orquestra Sinfônica de Boston, Sergei Koussevitzky, o pedido encontrou Bartók em uma fase em que estava disposto a escrever música mais acessível, mais inteligível para o público em geral. Havia migrado para os Estados Unidos em 1940 por sua oposição violenta ao regime nazista. Ele recebeu a encomenda, diretamente de Koussevitzky, em um hospital, onde tratava leucemia, em 1943. Finalizou e estrearam no ano seguinte. Em 1945 Bartók retrabalhou o finale e concluiu a obra. Morreu naquele mesmo ano. É uma de suas peças mais famosas, de dificuldade árdua para todos os instrumentos da orquestra. Quanto às 5 peças curtas que formam a Suíte "Figuras Húngaras", completada em 1931, são orquestrações de peças para piano de cerca de 20 anos antes. Alternadamente singelas e agitadas, são espirituosas e delicadas, mesmo nos momentos mais bárbaros, e simplesmente encantadoras. O disco é de 1991.
- Sibelius: The Symphonies; Tone Poems - Com a Orquestra Sinfônica de Gotemburgo - Em uma das mais importantes integrais das 7 Sinfonias do compositor Romântico Tardio finlandês Jean Sibelius, Järvi faz a Sinfônica de Gotemburgo tocar dessa vez com refinamento, precisão e sutileza. Vocês precisam escutar essas Sinfonias, que não carecem de guia, são pura experiência sonora. Dentre os Poemas Sinfônicos temos Finlândia (evidentemente), Pohjola's Daughter (A Filha de Pohjola), Nightride and Sunrise (Cavalgada Noturna e Alvorada), En Saga (que pode ser traduzido como Um Conto de Fadas, Uma Saga...), Spring Song (Canção da Primavera), Valsa Triste, O Bardo e Tapiola. Além de Suítes e outras obras orquestrais. Gravado ao longo de um período de 9 anos (1996-2005), o álbum com 7 CDs foi lançado em 2007.
- Tubin: Complete Symphonies - Com a Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca e a Orquestra Sinfônica de Bamberg - Outro álbum importantíssimo, contém as 10 Sinfonias do compositor Modernista estoniano Eduard Tubin, além da Toccata para Orquestra e da Suíte Kratt (Goblin). A maior parte das Sinfonias tem 3 movimentos, mas a 9ª, "Sinfonia Semplice" tem 2, a 4ª e a 8ª têm 4 movimentos, e a 10ª tem apenas 1 (longo, com 25m35s). É música de altíssima qualidade e que, ainda mais, foge do lugar comum. A caixa com os 5 discos foi lançada em 2002.
- Tchaikovsky P. I.: Symphony No. 6 "Pathétique"/Francesca da Rimini - Com a Orquestra Sinfônica de Gotemburgo - Quando se trata de lugar comum, Järvi se mostra igualmente inspirado e disposto a entregar seu melhor esforço. Ele gravou todas as Sinfonias de Tchaikovsky, os Balés "O Lago dos Cisnes", "A Bela Adormecida" e "O Quebra-Nozes" (completos, não as Suítes), as 4 Suítes Orquestrais, inúmeros Poemas Sinfônicos e Aberturas e mais. A Sinfonia Nº 6, "Pathétique" vive momentos angustiantes e carregados, nas mãos dele. O longo Poema Sinfônico "Francesca da Rimini", dos mais admirados de Tchaikovsky, recebe um tratamento brilhante, sobretudo no trabalho de equilíbrio da sonoridade da orquestra (percebam como os metais, por vezes, se contêm em nome da clareza do discurso). A gravação é de 2004.
- Stenhammar: Piano Concerto Nº 2/Chitra Suite - Com a Orquestra Sinfônica de Gotemburgo e Cristina Ortiz ao Piano - Wilhelm Stenhammar é outro compositor que deve muito de sua recente e tardia redescoberta a Järvi. Tendo vivido entre 1871 e 1927, o compositor sueco de Estocolmo deveria ser um Modernista, mas sua música pertence à tradição Romântica Tardia, sendo seus principais influenciadores Jean Sibelius, Carl Nielsen e Franz Berwald - todos compositores escandinavos. No início de sua carreira ele escrevia música plenamente romântica, mas se viu em crise ao compor duas Óperas fracassadas e, especialmente ao escutar a 2º Sinfonia de Sibelius. Isso o conduziu a um longo período de busca de identidade musical. Foi então que Stenhammar compôs seu 2º Concerto para Piano e Orquestra, que está gravado neste disco. Levemente soturno, inquietante e, ao mesmo tempo, belo, ele inaugurou uma nova fase na carreira do compositor. Pianista excepcional que era (de acordo com relatos, o maior da Suécia), mostra-se também um excelente orquestrador. O Concerto Nª 2 se tornou uma de suas peças mais celebradas. Neeme Järvi e a pianista brasileira Cristina Ortiz demonstram uma sintonia e um bom gosto invejáveis. A Suíte "Chitra", com 7 movimentos curtos, extraída da sua Ópera de mesmo nome, de 1921, é escrita apenas para cordas (Violinos 1, Violinos 2, Violas, Violoncelos e Contrabaixos) e é obra da maturidade do compositor, maestro e pianista, que morreria alguns anos depois. Interessante pontuar que ele foi Regente Principal da mesma Orquestra Sinfônica de Gotemburgo que gravou esse disco com Neeme e Cristina. Foi o segundo titular da historia da orquestra, entre 1907 e 1922. Esse disco foi lançado em 1990.
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