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Foto do escritorRafael Torres

Música Calada - A Arte de Federico Mompou

Claude Achille Debussy, o grande compositor francês da virada do século XIX para o XX, talvez tenha sido o compositor mais influente de sua geração. Até mais que Stravinsky e Schoenberg. Porque seu estilo não ditava regras, ele removia regras. Ele mesmo foi influenciado por outros, obviamente. Especialmente por Erik Satie, um compositor estranho. Devia vir junto com o nome dele: Eric Satie, um compositor estranho. O que Eric tinha era uma escrita esparsa, como manteiga espalhada sobre muito pão (referência nerd)... O que não significa que não tivesse densidade. Você só tinha que esperar mais pra ver essa densidade. Mas depois eu falo sobre Satie.

Debussy herdou muito das texturas dele (ambos escreveram muita música para piano, e é a ele que me refiro aqui). Os acordes eram tonais, ou seja, tinham nome, mas eram carregados de dissonâncias "agradáveis". A forma final do impressionismo musical foi dada por Debussy. Ele detestava esse termo, mas não tinha como fugir dele. Sua música era mais uma sucessão de sensações do que uma narrativa clara.


Heitor Villa-Lobos teve sua fase emulando o impressionismo. Obras como "A Prole do Bebê", livros 1 e 2, são repletas de atmosferas fantásticas e pianismo quase orquestral, em suas cores.


federico mompou
Federico Mompou

O compositor Federico Mompou (1893-1987) foi muitas vezes chamado de Debussy catalão. Não sei se ele gostava, mas ele também não tinha como fugir do epíteto. Sua obra para piano é delicada, meio mística e muito charmosa. Morou na juventude em Paris, onde conviveu com Debussy, Ravel e Satie. Na II Guerra, voltou a Barcelona.


Vim falar da sua Musica Callada, uma série de 28 preludiozinhos para piano composta entre 1959 e 1967. O que seria uma música silenciosa? Bom, começando a ouvir, já se tem uma ideia. Ela tem notas, mas parece se valer do silêncio entre elas de maneira mais assertiva.


Parece que a música tem um segredo. Não que seja um segredo musical, mas a personalidade dela é como a de alguém que tem um segredo. Por falar nisso, algumas têm codigozinhos musicais, mesmo. Uma melodia da qual, se você tirar algumas notas, faz inesperado sentido tonal, por exemplo. Aliás isso é recorrente nas peças: ele às vezes escreve um simples arpejo e enxerta 2 notinhas dissonantes que fazem toda a diferença.


O título ele retirou de um poema de San Juan de la Cruz:


La noche sosegada

En par de los levantes de la aurora,

la música callada.

La soledad sonora

la cena que recrea y enamora


O poema, que é enorme (isso é um trecho), fala sobre a necessidade de encontrarmos a nossa música interna, que emana do silêncio.


Mompou foi gravado por grandes pianistas, como Guiomar Novaes, Alicia de Larrocha, mais recentemente, Arcadi Volodos, Daniil Trifonov e Stephen Hough. Mas existe uma gravação que não tem preço (aliás, acho que tem), que é do próprio compositor tocando os 4 livros de sua Musica Callada. Vou deixar o link do Spotify. Escutem e divirtam-se.


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