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Fortaleza da Manhãzinha

  • Foto do escritor: Rafael Torres
    Rafael Torres
  • 24 de mar.
  • 10 min de leitura
Por Rafael Torres

Decidi falar, hoje, sobre a minha querida cidade: Fortaleza, do Ceará, do Brasil. Ela tem área de 312.353 km² (34 Km de praias) e 2,428,678 habitantes. o que a torna a quarta maior cidade do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. É, também, a maior cidade do Norte e do Nordeste brasileiros.


É a 11ª cidade do país pelo PIB, com R$ 73 milhões. Abriga, também, o terceiro maior Parque Estadual das regiões Norte e Nordeste. É o Parque do Cocó.


Meninas potiguara
Duas potyguarinhas que devem ser mais ferozes que os nossos filhos.
 

Mito Inverificável


Diz um mito Inverificável que, antes dos portugueses invadirem nossas terras, ao menos uma expedição espanhola veio e desembarcou no Ceará. Foi a expedição de Vicente Pizón, que hoje nomeia um bairro de Fortaleza. Ele teria aportado no Cabo do Mucuripe. Que hoje, também, é um bairro homônimo da cidade. Sua viagem não foi oficializada, por conta do Tratado de Tordesilhas.


Acompanhava-o o seu primo, Diego de Lepe., que desembarcou ali perto. A história oficial põe ambos desembarcando no Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, mas, atualmente esta visão é muito contestada em favor do Mucuripe.


Assista ao vídeo abaixo, do historiador Eduardo Bueno. Ele faz menção a este episódio a partir dos 2m55s.


 
Rachel de Queiroz, uma das principais escritoras brasileiras do século XX.
Rachel de Queiroz, uma das principais escritoras brasileiras do século XX.
 

Povoação da Fortaleza Colonial


O nascimento da cidade foi complicado. Quando os portugueses invadiram, havia povos indígenas vivendo aqui, logicamente. Entre 500 AC. e 1.000 DC., o Ceará foi dominado pelos tapuia, que acabaram sendo expulsos do litoral para o interior pelos tupi, que depois ganhariam seu nome regional, potyguara. Ou potiguara.


No início do século XVII, na verdade, a partir, já, de 1597, iniciou-se o processo de povoação de Fortaleza. Isso porque houve o esvaziamento dos arredores do atual Forte Dos Reis Magos, em Natal, por parte de um braço da tribo Tapuia, que veio se instalar no Ceará. Em uma região que se encontra entre os rios Cocó e Ceará. E que tem como vista a serra de Maranguape.

Os portugueses se apossaram do local um pouco depois, em 1603. Batizaram a peqena área de Nova Lisboa e a região inteira de Nova Luziânia. Mas logo foram embora, ao se depararem com a seca nordestina e os constantes ataques indígenas.


Em 1649 vieram os holandeses. Foi construído, então, às margens do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch. O forte continua lá. O rio Pajeú, hoje, é um trecho de um fiapo.


Um dos pouquíssimos trechos visíveis do RIacho Pajeú, no que, hoje, é o Mercado Central de Fortaleza.
Um dos pouquíssimos trechos visíveis do RIacho Pajeú, no que, hoje, é o Mercado Central de Fortaleza.

Em 1654, mais uma expulsão. Dos holandeses, por parte dos portugueses. O Forte recebeu seu apelido final: Forte de Nossa Senhora da Assunção.


Ele, desse jeito esquisito, dá nome e sobrenome à cidade.


 

Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção

Em 1726, o assentamento perto do forte foi elevado a vila. Em 1799 deixamos de ser o "seleiro" de Pernambuco. Com o desmembramento das capitanias do Ceará e de Pernambuco, Fortaleza elevou-se de vila a cidade. Ficou capital do Ceará por uma tecnicidade. Até então, Aracati (mais populosa) e Aquiraz (hoje, anexada à Região Metropolitana de Fortaleza) eram mais cotadas para capital, mas Fortaleza as ultrapassou em população com a explosão populacional trazida pelo plantio de algodão.


 

O Ceará

Nessa história de tanta luta e domínio, o Ceará foi um estado altamente abolicionista e tendencioso à independência do Brasil. (Leia a história do jangadeiro Dragão do Mar, da Padaria Espiritual, de Alberto Nepomuceno e do município de Redenção).


Rio Parque Cocó
O Rio Cocó, no parque estadual do Cocó.

Em 1890, foi formada, por escritores, músicos, pintores e intelectuais, a Padaria Espiritual, que tinha o nobre intuito de trazer a arte para mais próximo do povo.


Formada, inicialmente, por Antônio Sales, Lívio Barreto e outros, posteriormente contou com o sanitarista Rodolfo Teófilo, inventor da cajuína, e Antônio Bezerra. Eles começaram montando tendas de café, na Praça do Ferreira, Fortaleza, nas quais se reuniam e faziam circular o "Pão", seu pasquim.


O Ceará é, também, a terra do mitológico "Seu Lunga" (Juazeiro do Norte), dos humoristas Chico Anysio (Maranguape, atual Grande Fortaleza), Renato Aragão (Sobral), Tom Cavalcante (Fortaleza); dos escritores José de Alencar (Messejana, atual Grande Fortaleza), Rachel de Queiroz (Fortaleza), Adolfo Caminha (Aracati) e Ana Miranda (Fortaleza); do poeta Patativa do Assaré (de, bem, Assaré); dos músicos Humberto Teixeira (Iguatu) e o chamado "Pessoal do Ceará": Fagner (Fortaleza), Belchior (Sobral), Ednardo (Fortaleza) e Amelinha (Fortaleza); do pianista Jacques Klein (Aracati); do maestro Eleazar de Carvalho (Iguatu); do compositor Alberto Nepomuceno (Fortaleza) etc.


Tudo bem: e do primeiro ditador militar, Humberto Castelo Branco (Fortaleza). Tá, e Wesley Safadão (Fortaleza).


Corpo da Padaria Espiritual.
Corpo da Padaria Espiritual.
 

Fortaleza no Brasil Império


No século XIX Fortaleza logrou, como mencionado, de Aracati e Aquiraz, o posto de principal cidade do estado. Tendo sido o Ceará um estado portuário, passa, então, a ser um forte produtor de algodão. Houve, à época, um crescimento desenfreado da população da cidade de Fortaleza, por ser esta considerada cidade chave para os investimentos do Governo, o que atraiu retirantes e arruaceiros (e uns cangaceiros).


Os personagens e eventos cearenses principais dessa época são:


  • Silva Paulet - urbanista português responsável pelo primeiro plano urbanístico de Fortaleza, em 1812, cuja ideia, de planos em xadrez, fora mantida por seu sucessor, Adolfo Hebster, em 1875;

  • A Confederação do Equador, movimento separatista que se deu em todo o nordeste e teve início em Quixeramobim;

  • Padre Mororó e Pessoa Anta, mártires do movimento.


 

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura


Em 1999, o então governador do estado do Ceará, Tasso Jereissati, entregou à capital o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Trata-se de um centro cultural enorme (e com o espaço aproveitado de maneira duvidosa), que conta com cinema, teatro, planetário (muito bom}, biblioteca, livraria e restaurantes. Eu e meus amigos temos boas memórias de lá. Ainda funciona, mas está em uma daquelas "reformas" que duram anos.


Costumava ser tão legal que, durante anos, a gente se encontrava lá. Muita gente andando de bicicleta, outra na sorveteria, uns conversando com a estátua do Patativa do Assaré...


Centro Cultural Belchior (CCBEL)


Este centro cultural, que homenageia, naturalmente, Belchior, fica em plena Praia de Iracema. Foi inaugurado em 2017 pela prefeitura de Fortaleza (através da Secultfor), em parceria com o Instituto Cultural Iracema. Passou por reformas e foi reinaugurado em 2025. Embora seja voltado à divulgação da música cearense, tem, também, exposições e faz lançamentos de livros.


Museu da fotografia Fortaleza


O Museu detém um dos maiores acervos de Fotografia do Brasil. Bem localizado, no bairro Varjota, funciona de a domingo, das 12 às 17h. Estão expostas obras de Chico Albuquerque, Adriana Varejão, Bob Wolferson, Celso Oliveira, Sebastião Salgado e muitos outros.


A entrada é gratuita.


EDISCA (Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente)


A EDISCA é uma escola de dança, fundada em 1991, pela bailarina Dora Andrade, em Fortaleza. Atende cerca de 400 jovens de comunidades da periferia, especificamente, Dendê e Conjunto Alvorada.


É espetacular. Receberam, ao longo do tempo, vários prêmios e condecorações. Assisti, há muito tempo, um de seus espetáculos de dança e fiquei embasbacado.



 

PONTOS TURÍSTICOS


De pontos turísticos, além daqueles sobre os quais já falamos, temos:


  • O Beach Park - chamado de o 2º maior parque aquático do mundo (quando eu fui, era o primeiro);

  • A Praia de Iracema - um ponto que, em seu ápice, agregava a nata de uma cidade verdadeiramente boêmia, para o bem e para o mal. Nos anos 80 e 90 era comum você encontrar no Cais Bar um Belchior, um Fausto Nilo, um Manassés,,,

  • A Catedral Metropolitana de Fortaleza - Fica no Centro. Inaugurada em 1978, é linda. Especialmente pelos vitrais.

  • O Seminário da Prainha - Formou, dentre outros, o Padre Cícero e Dom Helder Câmara.

  • A Feirinha de Artesanato da Beira-Mar - Você encontra roupas, itens decorativos, artesanato e castanha (a melhor do mundo) (já vi turistas reclamarem que os preços são para turistas. Discordo. Por vezes, você encontra por lá o mais fino artesanato cearense).


Em 1921 você podia encontrar, no que hoje é a praça Luísa Távora, o Castelo do Plácido, uma cópia fiel de um palácio veneziano que foi construída pelo comerciante Plácido de Carvalho como pedido de casamento à sua noiva milanesa Pierina. Ao redor deste, Pierina fez construírem-se 6 palacetes, para abrigar os funcionários (edifícios que ainda existem). E que, no início dos anos 70, foi vendido pela herdeira Zaíra para virar supermercado (e nem virou!).


Palácio do Plácido
Palácio do Plácido.
 

Feitos e eventos do/no Ceará


  • Cajuína - Foi inventada por um piauiense, Rodolfo Teófilo, mas ele criou em Fortaleza, de modo que temos metade do mérito;

  • Praias fantásticas - visite Jericoacoara, Mulungu, Canoa Quebrada e Aracati;

  • Fortaleza já perdeu quase metade de sua população para a fome, em 1877;

  • É a capital brasileira mais próxima da Europa e dos EUA, mas, estranhamente, nem por isso as passagens são mais baratas;

  • Embora esteja Fortaleza fora do eixo do stand up comedy, a cidade desenvolveu há décadas seus "shows de humor", com atores/personagens, por vezes travestidos, como Meirinhha, Zé Modesto e Adamastor Pitaco;

  • Também na seara do humor, temos personagens marcantes que obtiveram consagração nacional e internacional, como Chico Anysio, Tom Cavalcante, Renato Aragão (de Sobral) e Edmilson Filho;

  • O linguajar do fortalezense é repleto de armadilhas. Por conta disso, foram lançados alguns dicionários de "Cearês", em livros ou blogs, com entradas que servem até aos nativos, como:


  1. Ande, Tonha! - Tanto pode significar um suspiro de desejo sexual ante uma presença feminina irresistível, como pode exprimir o desejo já satisfeito e deselegantemente divulgado. "Eu ainda pego essa menina e ande, Tonha!..." ou "Eu peguei a menina e ande, Tonha!...";

  2. Abestado - Tolo, burro;

  3. Abrir - acender qualquer aparelho, mesmo os que não são de acender;

  4. Agora, pronto! - Exprime indignação;

  5. Aluir - Prestar atenção: "Te alui, rapaz";

  6. Apapagaiado - Vestido de maneira extravagante;

  7. Batoré - Cidadão de porte baixo;

  8. Bãe de Cuia - No jogo de futebol, corresponde a lençol; na vida real, especialmente das camadas mais pobres, é um banho que se toma da água de uma bacia, com a ajuda de uma cabaça ou de uma panela pequena (antigamente, era cuia, mesmo);

  9. Canelau - "Gentinha". Ralé. Gente mal vestida. "Não sei como uma menina tão bonita gosta de um cara tão canelau";

  10. Cão Chupando Manga - pessoa muito feia;

  11. Cearense - Corruptela de Cearaense, que acabou se tornando o gentílico daqueles que nasceram no estado;

  12. Chulipa - Uma espécie de golpe, aplicado com as pontas dos dedos, na orelha de alguém;

  13. Danação - Travessura praticada, sobretudo, por crianças;

  14. Diabo-A-Quatro - O mesmo que et cetera. "Já estudei química, física, geografia e o diabo-a-quatro."

  15. Dona Maria, ou Domaria - Qualquer mulher que você quiser chamar. O masculino é "Seu Zé";

  16. Eguar - Vagabundear;

  17. Embiocar - Seguir por caminhos de difícil acesso e difícil retorno, por onde é difícil se localizar;

  18. Igualzim - Algo ou alguém muito parecido com outro;

  19. Jararaca - Mulher fofoqueira e de língua ferina;

  20. Pisa - Surra, agressão, coça;


 

Personalidades de Fortaleza

Dentre os grandes personagens fortalezenses do passado e do presente, encontramos:


  • José de Alencar (o grande escritor do romantismo brasileiro, de cuja casa ainda podemos visitar, no bairro Messejana),

  • Dom Helder Câmara (líder católico, arcebispo de Recife durante a ditadura),

  • Frei Tito (perseguido, preso e torturado na ditadura, cometeu suicídio na França, jamais conseguindo se livrar desta memória),

  • Humberto Castelo Branco (o primeiro ditador militar),

  • Alberto Nepomuceno, compositor romântico, fundador da música nacionalista no Brasil (aguardem artigo),

  • Rachel de Queiroz, uma das maiores escritoras do século XX, de Memorial de Maria Moura e O XV, Rachel defendeu, pelo menos por algum tempo, a Ditadura Militar. Mas que isso nos impeça de casar com ela, não de apreciar sua obra.

  • Lino Villaventura, estilista, um dos maiores do Brasil.

  • Paula Ney (poeta e boêmio da belle époque, os anos 1920),

  • Recentemente, o Cineasta Karim Aïnous, diretor de Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro e A Vida Invisível e Firebrand, tornou-se um dos diretores mais representativos do Brasil;

  • O escritor e biógrafo Lira Neto, autor de uma Trilogia sobre Getúlio Vargas; de Maysa: Só numa multidão de amores; O inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar e muitos outros.


 

Verdades sobre Fortaleza


  • Temos 2 estações (trocadas): o verão, em que o problema é a seca; e o inverno, em que o problema é a chuva;

  • É quente, quente. Você não progride um quarteirão sem ficar suado;

  • Teve um dia, de manhãzinha, que os termômetros marcaram 21º. Fiz uma música em homenagem. O comum é 30. De 28 a 34;

  • A chamada "vaia cearense" é motivo de orgulho para alguns e de estresse para os outros;

  • Tem cantores bons e cantores ruins. Os bons são tão bons quanto os ruins são ruins;

  • A cidade é seletivamente perigosa: em alguns bairros você transita em paz; em outros, transita rumo à morte;

  • Mas a parte turística é de boa;

  • Os carros buzinam o dobro do necessário. Talvez o triplo.


 

O que falta à cidade?


  • Mais centros culturais. Imaginou? O Centro Cultural Ariano Suassuna? O Cego Aderaldo?

  • Facilitação do tráfego de pedestres, especialmente na região da Aldeota. Mas em toda a cidade: o pedestre sofre na Maraponga;

  • Uma Orquestra Sinfônica profissional, nos moldes das Filarmônicas de Goiás e de Minas.

  • A Universidade Fortalezense das Artes, que eu idealizei. Os cursos seriam Música - Licenciatura, Bacharelado em todos os instrumentos de Cordas, Madeiras, Metais, Percussões, Harpa, Piano, instrumentos antigos, Composição, Composição e Regência, enfim, tudo de música, tudo de artes visuais, literárias, estilismo e moda e muito mais. Assim como o Plácido nos deu um castelo, eu daria, de bom grado, essa faculdade...


Mas, um passo por vez, vamos remediar isso.


 

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