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Foto do escritorRafael Torres

Fortaleza da Manhãzinha

Atualizado: 2 de jul.

Decidi falar, hoje, sobre a minha querida cidade: Fortaleza, do Ceará, do Brasil. Fortaleza tem área 312.353 km² (34 Km de praias) e 2,428,678 habitantes. Isso a torna a quarta maior cidade do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. É, também, a maior cidade do Norte e do Nordeste brasileiros.


É a 11ª cidade do país pelo PIB, com R$ 65 milhões. É a quinta maior e mais populosa do país.

Meninas potiguara
Duas potyguarinhas que devem ser mais ferozes que os nossos filhos.

Mito Inverificável


Diz um mito Inverificável que, antes dos portugueses chegarem, duas expedições espanholas vieram e desembarcaram no Ceará. Uma delas foi a de Vicente Pizón, que hoje nomeia um bairro de Fortaleza. Ele teria aportado no Cabo do Mucuripe. Que hoje, também, é um bairro homônimo da cidade. Mas sua viagem não foi oficializada, por conta do Tratado de Tordesilhas.


Acompanhava-o o seu primo, Diego de Lepe. A história oficial põe ambos desembarcando no Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, mas, atualmente esta visão é muito contestada em favor do Mucuripe.


Rachel de Queiroz, uma das principais escritoras brasileiras do século XX.
Rachel de Queiroz, uma das principais escritoras brasileiras do século XX.

Povoação da Fortaleza Colonial


O nascimento da cidade foi complicado. Quando os portugueses invadiram, havia povos indígenas vivendo aqui, logicamente. Entre 500 AC. e 1.000 DC., o Ceará foi dominado pelos tapuia, que acabaram sendo expulsos do litoral para o interior pelos tupi, que depois ganhariam seu nome regional, potyguara. Ou potiguara.


No início do século XVII, na verdade, a partir, já, de 1597, iniciou-se o processo de povoação de Fortaleza. Isso porque houve o esvaziamento dos arredores do Forte Dos Reis Magos, em Natal, por parte de um braço da tribo Tapuia, que veio se instalar no Ceará. Em uma região que se encontra entre os rios Cocó e Ceará. E que tem como vista as serras de Maranguape e de Aratanha.

Os portugueses se apossaram do local um pouco depois, em 1603. Batizaram a área de Nova Lisboa e a região de Nova Luziânia. Mas logo foram embora, ao se depararem com a seca nordestina e os constantes ataques indígenas.


Em 1649 vieram os holandeses. Foi construído, então, às margens do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch. O forte continua lá. O rio Pajeú, hoje, é um fiapo.

Em 1654, mais uma expulsão holandesa por parte dos portugueses. O Forte recebeu seu apelido final: Forte de Nossa Senhora da Assunção.


Ele, desse jeito caótico, dá nome e sobrenome à cidade.


Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.


Em 1726, o assentamento perto do forte foi elevado a vila. Em 1799 deixamos de ser o seleiro de Pernambuco. Com o desmembramento da capitania do Ceará da de Pernambuco e Fortaleza elevou-se de vila a cidade. Ficou capital do Ceará por uma tecnicidade. Até então, Aracati (mais populosa) e Aquiraz (hoje, anexada à Região Metropolitana de Fortaleza) eram mais cotadas para capital, mas Fortaleza as ultrapassou em população com a explosão populacional trazida pelo plantio de algodão.


Nesse período de tanta luta e domínio, o Ceará foi um estado altamente abolicionista e tendencioso à independência de Portugal. (Leia a história do jangadeiro Dragão do Mar, da Padaria Espiritual e do município de Redenção).

Rio Parque Cocó
O Rio Cocó, no parque estadual do Cocó.

Em 1890, foi formada, por escritores, músicos, pintores e intelectuais, a Padaria Espiritual, que tinha o nobre intuito de trazer a arte para mais próximo do povo.



Formada, inicialmente, por Antônio Sales, Lívio Barreto e outros, posteriormente contou com o sanitarista Rodolfo Teófilo, inventor da cajuína, e Antônio Bezerra. Eles começaram montando tendas de café, na Praça do Ferreira, Fortaleza, nas quais se reuniam e faziam circular o "Pão", seu pasquim.


Fortaleza abriga, também, o terceiro maior Parque Estadual das regiões Norte e Nordeste. É o Parque do Cocó.


Corpo da Padaria Espiritual.
Corpo da Padaria Espiritual.

Fortaleza no Brasil Império


No século XIX Fortaleza logrou, como mencionado, de Aracati e Aquiraz, o posto de principal cidade do estado. Tendo sido o Ceará um estado portuário, passa, então a ser um forte produtor de algodão. Houve, à época, um crescimento desenfreado da população da cidade, por conta de ser considerada cidade chave para os investimentos do Governo, o que atraiu retirantes e arruaceiros (e uns cangaceiros).


Os personagens principais dessa época são:


  • Silva Paulet - urbanista português responsável pelo primeiro plano urbanístico de Fortaleza, em 1812, cuja ideia, de planos em xadrez, fora mantida por seu sucessor, Adolfo Hebster, em 1875.

  • A Confederação do Equador, movimento separatista que se deu em todo o nordeste.

  • Seus mártires: o Padre Mororó e Pessoa Anta, mártires da Revolução.


 

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura


Em 1999, o então governador do estado do Ceará, Tasso Jereissati, entregou à capital o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Trata-se de um centro cultural enorme (e com o espaço mal aproveitado), que conta com cinema, teatro, planetário (muito bom}, biblioteca, livraria e restaurantes. Eu e meus amigos temos boas memórias de lá. Ainda funciona, mas eu não posso atestar sobre a segurança.


Costumava ser tão legal que, durante anos, a gente se encontrava lá, muita gente andando de bicicleta, outra na sorveteria, uns conversando com a estátua do Patativa do Assaré...


 

PONTOS TURÍSTICOS


De pontos turísticos, além daqueles sobre os quais já falamos, temos:


O Beach Park - chamado de o 2º maior parque aquático do mundo (quando eu fui, era o primeiro);


A Praia de Iracema - também é um ponto que eu não posso garantir, hoje. Mas, em seu ápice, agregava a nata de uma cidade verdadeiramente boêmia, para o bem e para o mal. Nos anos 80 e 90 era comum você encontrar no Cais Bar um Belchior, um Fausto Nilo, um Manassés,,,


A Catedral Metropolitana de Fortaleza - no centro. Inaugurada em 1978 - Mas não a frequente frequentemente, nem por motivos religiosos. Faz mal à psiquê. Se bem que é linda.


A Feirinha de Artesanato da Beira-Mar, em que você encontra roupas, itens decorativos e castanha (a melhor do mundo).


Em 1921 você podia encontrar, no que hoje é a praça Luísa Távora, o Castelo do Plácido, uma cópia fiel de um palácio veneziano que foi construída pelo comerciante Plácido de Carvalho como pedido de casamento à sua noiva milanesa Pierina. Ao redor deste, Pierina fez construírem-se 6 palacetes, para abrigar os funcionários (edifícios que ainda existem). E que, no início dos anos 70, foi vendido pela herdeira Zaíra para virar supermercado (e nem virou).


 

Feitos do/no Ceará


  • Cajuína - foi inventada por um piauiense, Rodolfo Teófilo, mas ele criou em Fortaleza, de modo que temos metade do mérito;

  • Praias fantásticas - visite Jericoacoara, Mulungu, Canoa Quebrada e Aracati;

  • Fortaleza já perdeu quase metade de sua população para a fome, em 1877;

  • É a capital brasileira mais próxima da Europa e dos EUA, mas, estranhamente, nem por isso as passagens são mais baratas;

  • Embora esteja Fortaleza fora do eixo do stand up comedy, a cidade desenvolveu há décadas seus "shows de humor", com atores/personagens, por vezes travestidos, como Meirinhha, Zé Modesto e Adamastor Pitaco;

  • Também na seara do humor, temos personagens marcantes que obtiveram consagração nacional e internacional, como Chico Anysio, Tom Cavalcante, Renato Aragão (de Sobral) e Edmilson Filho;

  • O linguajar do fortalezense é repleto de armadilhas. Por conta disso, foram lançados alguns dicionários de "Cearês" em livro ou em blogs, com entradas que servem até aos nativos, como:


  1. Ande, Tonha! - Tanto pode significar um suspiro por um desejo sexual iminente ante uma presença feminina irresistível como pode exprimir o desejo já satisfeito e deselegantemente divulgado. "Eu ainda pego essa menina e ande, Tonha!..." ou "Eu peguei a menina e ande, Tonha!...";

  2. Bãe de Cuia - No jogo de futebol, corresponde a lençol;

  3. Curubau - Ver Canelau;

  4. Canelau - "Gentinha". Ralé. Gente mal vestida. "Não sei como uma menina tão bonita gosta de um cara tão canelau".


 

Dentre os grandes personagens fortalezenses do passado e do presente, encontramos:


  • José de Alencar (o grande escritor do romantismo brasileiro, de cuja casa ainda podemos visitar, no bairro Messejana),

  • Dom Helder Câmara (líder católico, arcebispo de Recife durante a ditadura),

  • Frei Tito (perseguido, preso e torturado na ditadura, cometeu suicídio na França),

  • Humberto Castello Branco (ditador militar, 26º presidente do Brasil),

  • Alberto Nepomuceno, compositor romântico, fundador da música nacionalista no Brasil (aguardem artigo),

  • Rachel de Queiroz (uma das maiores escritoras do século XX, de Memorial de Maria Moura e O XV),

  • Paula Ney (poeta e boêmio da belle époque, os anos 1920),

  • Recentemente, o Cineasta Karim Aïnous, diretor de Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro e A Vida Invisível (forte candidato ao prêmio no último festival de Cannes) e Firebrand

  • e o escritor e biógrafo Lira Neto, autor de uma Trilogia sobre Getúlio Varga; de Maysa: Só numa multidão de amores; O inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar e muitos outros.


Verdades sobre Fortaleza


  • Temos 2 estações (trocadas): o verão, em que o problema é a seca; e o inverno, em que o problema é a chuva;

  • É quente quente. Você não progride um quarteirão sem ficar suado;

  • Teve um dia, de manhãzinha, que os termômetros marcaram 21º. Fiz uma música em homenagem. O comum é 30. De 28 a 34.

  • A chamada "vaia cearense" é motivo de orgulho para alguns e de estresse para os outros;

  • Tem cantores bons e cantores ruins. Os bons são tão bons quanto os ruins são ruins;

  • A cidade é seletivamente perigosa: em alguns bairros você transita em paz; em outros, transita rumo à morte;

  • Mas a parte turística é de boa;

  • Os carros buzinam o dobro do necessário. Talvez o triplo.


O que falta à cidade?


  • Mais centros culturais. Imaginou? O Centro Cultural Ariano Suassuna? O Cego Aderaldo?

  • Facilitação do tráfego de pedestres, especialmente na região da Aldeota. Mas em toda a cidade: o pedestre sofre, também, na Maraponga;

  • A Universidade Fortalezense das Artes, que eu idealizei. Os cursos seriam Música - Licenciatura, Bacharelado em todos os instrumentos de Cordas, Madeiras, Metais, Percussões, Harpa, Piano, instrumentos antigos, Composição, Composição e Regência, enfim, tudo de música, tudo de artes visuais, literárias, estilismo e moda e muito mais. Assim como o Plácido nos deu um castelo, eu daria, de bom grado, essa faculdade...

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