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Foto do escritorRafael Torres

Dvorák - Sinfonia Nº 8 - Análise

A Sinfonia Nº 8, em Sol maior, Op. 88 de Antonín Dvořák, foi composta na República Tcheca (na Boêmia) e finalizada em 1890. Trata-se da segunda sinfonia mais conhecida do compositor Tcheco, depois da 9ª, "Do Novo Mundo". Foi composta para a ocasião da eleição de Dvořák para a Academia Boêmia de Ciências, Literatura e Artes.


Ele a compôs em pouco mais de dois meses em sua casa em Vysoka. Ele quis deliberadamente fazer uma obra com uma densidade diferente da 7ª Sinfonia, uma obra sombria e soturna.

A 8ª tem fortes elementos de música Tcheca e Eslava, e, embora tenha 4 movimentos, apresenta várias inovações e uma abundância de temas incomum. Mesmo consideravelmente mais leve que a anterior, ela não deixa de ser interessante sob vários aspectos, como a orquestração, a forma e a inventividade temática.


Uma das inovações é que ele apresenta uma introdução não apenas no começo do primeiro movimento, mas no começo de cada seção deste (exposição, desenvolvimento, recapitulação).


Quando foi publicada, saiu como Sinfonia Nº 4, pois havia uma grande confusão na publicação das sinfonias de Dvořák (algumas nem foram publicadas durante sua vida; a primeira, ele sempre achou que tinha perdido). E, na verdade, até os anos 50, em alguns LPs, você vai encontrar com essa numeração.


É uma obra lírica, espontânea e muito bonita.


A obra

Capa do manuscrito da 8ª Sinfonia de Antonín Dvořák.
Capa do manuscrito da 8ª Sinfonia de Antonín Dvořák.

Tem cerca de 40 minutos de duração.


A orquestra é a seguinte:


2 Flautas (a segunda alternando para Flautim)

2 Oboés (1 alternando para Corne Inglês)

2 Clarinetes

2 Fagotes

4 Trompas

2 Trompetes

3 Trombones

1 Tuba

Tímpanos

Violinos 1

Violinos 2

Violas

Violoncelos

Contrabaixos


Abaixo, temos a interpretação do maestro Andrés Orozco-Estrada com a Sinfônica da Rádio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester).

1º Movimento - Allegro con brio (19s)

Começa com uma introdução lenta, com uma melodia contemplativa nos violoncelos e clarinetes. Embora não seja um tema formal, a melodia terá importância no movimento. A introdução faz uma modulação (começa em sol menor e termina em sol maior). Desse sol maior nasce o saltitante Ideia temática A (58s), na flauta. A orquestra responde e faz um crescendo (1m20s). A Ideia aparece nas trompas (1m30s). O Tema 1 aparece nos violoncelos e violas (1m38s). A orquestra explode na Ideia temática B (1m53s), com alegria. Aos 2m10s os violinos vazem soar a Ideia temática A. A música se acalma com a trompa e as cordas fazem soar pela primeira vez o Tema 2 (2m29s), de caráter mais calmo. Aos 2m49s a flauta introduz o Tema 3, que tem características da música folclórica tcheca. Uma nova Ideia temática (C) aparece aos 3m26s nos clarinetes e flauta, e é repetido pelos violinos. Temos 6 cores já, representando 6 melodias diferentes que ele vai trabalhar.


O desenvolvimento começa aos 4m21s com a reapresentação da introdução. Aos 5m03s temos a Ideia temática A, novamente na flauta. Mas dessa vez ela tem desdobramentos diferentes. De orquestração sensacional, esse desenvolvimento também é extremamente criativo no tratamento que dá a todos os temas. Repare como o Tema 1 aparece aos 5m56s totalmente adulterado, nas violas, com arabescos da flauta. A primeira frase do Tema 1 é modulada várias vezes nessa passagem, passando por vários instrumentos, num episódio de aumento de tensão até que atingimos os acordes (6m45s). Já completamente desfigurado, é essa primeira frase do Tema 1 que ouvimos no ponto culminante da música, nos contrabaixos (6m54s). Aos 7m15s os trompetes fazem o tema da introdução, também alterado, desprovido de sua tranquilidade original, sob tremolos das cordas.


Agora temos a recapitulação, com o corne inglês fazendo a Ideia temática A (7m54s), com resposta do clarinete e da flauta. O Tema 3 aparece aos 8m27s nos clarinetes. Ouvimos, então, a Ideia temática C (9m03s).


Aos 9m42s temos o coda, encerrando o movimento de forma agitada.


2º Movimento - Adagio (10m40s)

O segundo movimento é lírico, lento e belo. Já começa com o Tema 1 introduzido pelas cordas. Ele é em forma A-B-A-C-B-A. A parte a é nobre e melancólica. Os clarinetes (11m25s) dão um tom misterioso à música. Esse trecho é dominado pelas madeiras e pela trompa. Depois de uma divagação dos violinos, as madeiras caem dramaticamente na frase que inicia o Tema 1 (12m48s). O tema aparece entrecortado por afirmações das cordas. Uma flauta e um oboé o finalizam (13m12s), terminando em tonalidade maior (13m41s).


Aqui já tem início a parte B (13m46s), com o acompanhamento dos contrabaixos e pontuações das trompas. O Tema 2 em si, está na flauta e no oboé, novamente (13m58s). É uma seção completamente contrastante da primeira, sendo suave e até burlesca, em que ouvimos traços da música de Richard Wagner.


Depois de um crescendo da orquestra, ouvimos o Tema 1 (15m37s), mais assertivo, acalmando-se no fim.


Após as intervenções das flautas e dos clarinetes, temos a parte C (17m30s), que é completamente diferente. É atormentada e dramática. O Tema 3 é apresentado pelas trompas. Temos várias modulações e mudanças na textura orquestral.


Até que voltamos quase subitamente à parte B (18m52s). O Tema 2 volta tranquilo nos violinos (18m58s), invertendo os papéis com as flautas, que dessa vez fazem as escalas descendentes.


O Tema 1 volta em forma de coda (20m15s), terminando o movimento de maneira calma.


3º Movimento - Allegretto grazioso - Molto vivace (21m38s)

O terceiro movimento é uma valsa lenta e um tanto inquieta. Já começa apresentando seu Tema 1 nos violinos. As flautas e oboés o repetem. De muita beleza melódica, esse movimento tem características de Johannes Brahms.


A parte B, com o Tema 2, pertence ao oboé e à flauta (23m15s). Ela é mais tranquila e cantante. Os violinos a repetem, e depois ela volta ao oboé e à flauta.


O Tema 1 retorna (25m17s), trazendo de volta uma certa angústia delicada para o movimento.


O ligeiro coda nos traz lembranças do Tema 2 (26m58s), sem, no entanto, apresentá-lo diretamente.


4º Movimento - Allegro ma non troppo (27m45s)

O chamado dos trompetes já é o Tema 1. Ou assim podemos pensar, pois o longo tema principal (Tema 2) é apresentado logo depois pelos violoncelos (28m18s). É uma melodia bela e tranquila, mas vai adquirir feições mais dramáticas. Os contrabaixos, com os fagotes o repetem aos 29m12s ligeiramente alterado. A tensão vai crescendo, em forma de variações sobre o Tema 2. Temos um episódio (variante) na flauta aos 30m15s tocado de maneira excepcional pela primeira flautista Clara Andrada de la Calle.


O Tema 1 volta logo depois (30m43s), na orquestra toda. Seguem-se variações em tom menor e aparições dos dois temas. O ponto culminante é aos 32m34s.


Até que volta o Tema 2 na sua forma original, nos violoncelos (33m05s). Os desdobramentos são ligeiramente diferentes, lembrando-nos que estamos ouvindo uma variação. Outra bela variação, com uma textura etérea, tocada nos contrabaixos é ouvida aos 34m11s. Depois temos uma no clarinete (35m13s), completada pelos violoncelos e oboé.


Uma explosão da orquestra (37m14s) muda a atmosfera da peça, nos aproximando do brilhante coda.


Considerações finais

A Sinfonia foi estreada em 2 de fevereiro de 1890, no Rudolfinum, em Praga, sob a regência de Dvořák. Assim como na 7ª Sinfonia, houve muito transtorno entre o compositor e seu editor Simrock, de forma que a peça não foi publicada por este. Ela foi publicada pela editora inglesa Novello, o que acabou conferindo à sinfonia o apelido ocasional de "Inglesa". Foi um sucesso estrondoso de público e de crítica, fazendo a obra já entrar para o rol das grandes sinfonias do romantismo.


Gravações recomendadas

- Herbert von Karajan regendo a Filarmônica de Viena - Lançada em 1987, e com um som excelente, trata-se da melhor gravação de Karajan da sinfonia (ele a gravou várias vezes).


- George Szell, com a Orquestra de Cleveland - De 1970, tem a Orquestra de Cleveland soando magnífica sob a regência de Szell. Não é tão vigorosa, como se espera deste maestro, mas é muito musical.


- Claudio Abbado, regendo a Filarmônica de Berlim - Essa gravação ao vivo de 1994 é bem trabalhada e tocada. Abbado é empolgante ou lírico nos momentos certos.


- Charles Mackerras, regendo a Orquestra Philharmonia - Uma versão muito competente do australiano Mackerras e da orquestra londrina, é de 2008.


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