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Foto do escritorRafael Torres

Disco: Yo-Yo Ma - Obrigado, Brazil


Nos anos 90 houve a onda de grandes músicos eruditos gravarem álbuns em que tocavam Piazzolla. O resultado, lembro de alguns, foi bom, no final das contas. Gidon Kremer, violinista letão, Daniel Barenboim, pianista (e regente) argentino e o violoncelista Yo-Yo Ma deixaram enormes contribuições.


No final dos anos 90 pra começo do século XXI, o "crossover" da vez foi com a música brasileira. É sobre um desses álbuns que venho falar hoje. Do mesmo Yo-Yo Ma.


Em seu disco Obrigado, Brazil, de 2003, a seleção que ele fez foi interessante. Evitou algumas escolhas óbvias, como Garota de Ipanema e Tico-Tico no Fubá, e optou por músicas que um músico brasileiro certamente escolheria.


Começa com Cristal, um belo e leve choro de César Camargo Mariano, que o acompanha ao piano. Um tema que dá vontade de cantarolar.


Depois vem Chega de Saudade, de Tom e Vinícius, cheia de charme na voz (e no violão) de Rosa Passos. A percussão é muito apropriada. Na passagem em que caberia uma improvisação, Yo-Yo faz uma linda melodia, que capta bem o espírito melódico brasileiro.


Em A Lenda do Caboclo, obra para piano de Heitor Villa-Lobos, temos um arranjo para violões e violoncelo. É uma das minhas favoritas, essa música nasceu pro violão. Eles, no arranjo de Sérgio Assad, até arriscam um contracanto bacana que não está na música original.


Então vem Doce de Coco, de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho, em arranjo para o violoncelo, clarinete e violão. Um choro-canção de cair o queixo.


A Dansa Brasileira (com S, mesmo), de Camargo Guarnieri, é originalmente para piano, e depois foi transcrita para orquestra pelo próprio compositor. O arranjo aqui é para violoncelo e piano.


Apelo, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, recebe saudade e derrama nostalgia. Tão parecida com Insensatez, de Tom e Vinícius, tem a beleza melódica que era o dom do Baden.


Temos a famosa Dansa Negra, de Camargo Guarnieri, que tem a mesma função nacionalista da Dansa Brasileira, e recebe o mesmo tratamento: violoncelo e piano.


Pixinguinha não falta, com 1X0 e Carinhoso, lindamente tocadas, com um senso de melodia e ritmo perfeitos.


Menino, de Sérgio Assad, que, junto com seu irmão Odair, tem o duo de violões mais importante da atualidade. A música é sublime, com o duo acompanhando Yo-Yo.


Daí vem Samambaia, do César Camargo Mariano. Este compositor e pianista já foi mais conhecido, ele foi casado com a Elis Regina. Mas também, a música popular instrumental já foi mais... bem... popular...


A Alma Brasileira, um choro que não é choro, para piano, de Villa-Lobos, recebe um arranjo perfeitamente digno. Se me pedissem pra encaixar um violoncelo aí, não sei se faria melhor. Se tem uma música que cumpre sua gigantesca proposta de representar a alma brasileira, é essa daqui.


Volta Rosa Passos para mais Tom Jobim e Vinícius de Moraes. O Amor em Paz traz novamente aquela percussão tropical, mas não caricata, que tanto me agrada no disco.


Bodas de Prata & Quatro Cantos, de Geraldo Carneiro e Egberto Gismonti, é uma peça mágica. Com 9 minutos, é a mais longa do disco. Egberto e Yo-Yo Ma tocam em sintonia perfeita.


O momento esbalde do disco é Brasileirinho, que tem cara de que vai encerrar o álbum, mas aí vem a experimental Salvador, de Egberto Gismonti, que às vezes se transforma numa bela lôa à cidade baiana. E, só aqui, o disco tem fim.


Mais deles deveriam fazer discos sobre música brasileira. Barenboim fez o Brazilian Rhapsody e a violinista Victoria Mullova fez Stradivarius in Rio. Muito bons, sobre eles falarei ainda. Deixo o link para o Spotify.


 
 

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