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Foto do escritorRafael Torres

Disco - Labyrinth de Khatia Buniatishvili



A georgiana Khatia Buniatishvili é uma daquelas pianistas modelos. Porque toca muito bem, certo. Mas também porque é sexy e explora isso na construção da sua persona. Não vejo nada de errado. Tive um professor que estudou com ela no Conservatório de Tblisi, ele diz que ela sempre foi assim. Pelas entrevistas que eu vejo, ela deve ser muito simpática.


Mas o que importa é que toca piano como ninguém. E acaba de lançar um disco novo, Labyrinth, só com souvenirs. Peças que ela tocaria num bis. Vários pianistas lançam esse tipo de disco: Nelson Freire - Encores; Andras Schiff - Encores After Beethoven; Yuja Wang - Berlin Recital Encores; Denis Matsuev - Encores etc. São todos fantásticos, e têm a mesma proposta. Trazer peças conhecidas numa espécie de coletânea meio lounge.


Mas o disco de Khatia é maravilhoso. Aos 33 anos (2020), ela já não precisa mais provar nada sobre sua técnica. Ela é a queridinha do mundo do piano, junto com Yuja Wang. Então, o disco é bem relaxado. O repertório me lembra a minha infância, porque tem peças que eu escutava a minha mãe ensaiando, como Les Barricades Mystérieuses, do barroco François Couperin; ou a Gymnopedie Nº 3, de Erik Satie.


É um disco de clima, que inclui música de cinema: Deborah's Theme de "Era uma Vez na América", de Ennio Morricone; ou I'm Going to Make a Cake, de "The Hours", de Phillip Glass.


Um disco desses, se fosse ter uma peça de Chopin, seria exatamente o Prelúdio Nº 4, em mi menor. Se fosse ter um Liszt, seria a Consolação Nº 3. E tem.


De Rachmaninoff, temos a Vocalise, uma belíssima melodia que ele compôs tanto para orquestra quanto para piano solo.


Temos ainda uma versão nada brasileira, mas muito musical da Valsa da Dor, de Villa-Lobos. Essa música dá arrepios. E Khatia toca com carinho.


A mais estranha é 4'33'' de John Cage. Que consiste em 4 minutos e 33 segundos de silêncio. Não faz meu estilo. Muito monótona. (Na verdade, é mais uma declaração do que uma música. Depois escrevo sobre ela.)


Gvantsa e Khatia Buniatishvili.

De Bach temos a Ária na Corda Sol (ou Ária na 4ª Corda), de sua Suíte Orquestral nº 3. Temos também a Badinerie, num arranjo curtinho que ela toca com sua irmã, Gvantsa Buniatishvili (também tocam juntas Pari Intervallo, de Arvo Pärt).


O disco encerra com o célebre Adagio do concerto para oboé em Ré menor de Marcello, transcrito para piano por Bach.


Podia ser mais um disco com nome misterioso e vago, mas sem substância. Afinal, o repertório é clichê, mas Khatia não faz concessões, não faz rubatos demais, não toca mais lento pra comover. Parece que você entregou uma partitura pra ela e ela lhe devolveu toda colorida.



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