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  • Foto do escritorRafael Torres

Devemos evitar Concertos com compositores Russos?

A guerra na Ucrânia criou uma situação muito rara e difícil. Alguns dos mais executados e amados compositores nas salas de concerto são Tchaikovsky, Rachmaninoff, Stravinsky, Prokofiev... São russos.

As orquestras se deparam com uma decisão difícil. Algumas já tinham preparado a temporada inteira muito antes da guerra começar, e certamente incluíram compositores russos.


Alguns defendem que tocar compositores russos nesse momento é, no mínimo, indelicado. Outros acham absurdo prejudicar a difusão da música desses compositores por causa das atitudes de um homem só. Criaram até um termo: Russofobia.


Pois bem. Eu acho que tem 3 soluções:

  1. Tocar a música russa, mas deixando escrito no programa de concerto que não se concorda com a postura do governo russo e que tal compositor nada tem a ver com os desejos imperialistas de Putin, ou talvez o maestro possa dar um discurso antes do concerto explicando isso;

  2. Não tocar, por enquanto, compositores russos.

  3. Tocar a música e reverter parte do faturamento em doações para a Ucrânia;

Eu sou a favor da 3ª opção, que acho que resolve tudo. Se o concerto incluir, por exemplo, Rachmaninoff, vale explicar que ele fugiu da rússia depois da revolução de 1917, além do que mais, ele nunca ficou sabendo quem era esse tal Putin.


O problema tem semelhantes históricos, de modo que podemos nos espelhar nas soluções encontradas. Por exemplo, o compositor soviético Dmitri Shostakovich era frequentemente executdo fora do seu país (no próprio país ele quase era executado de verdade, algumas vezes). Em alguns casos, ele chegava a viajar para ver sua obra tocada nos EUA, por exemplo. Com permissão do Kremlin e cercado de agentes da KGB.


Em 2001 o maestro judeu Daniel Barenboim executou um trecho da ópera Tristão e Isolda, do alemão antissemita Richard Wagner em plena Jerusalém. Houve protestos, mas também ele foi ovacionado de pé e quase levado às lágrimas.


Até aqui, já temos duas nacionalidades que podem levar a complicações. E se encasquetarmos que o maior país imperialista do mundo é Estados Unidos? Ou que os compositores vitorianos nunca se opuseram ao imperialismo da Inglaterra? Se descobrirmos que Beethoven batia em mulher (isso é só uma hipótese, ok?)? Que o Safadão está dentro de um esquema que faz prefeituras pobres pagarem cachês superfaturados para tocar?


Na minha visão, o que deve ser levado em conta é a qualidade do artista. Eu juro que, se a Regina Duarte trabalhasse bem, eu podia gostar dela, mesmo tendo ela passado por uma lavagem cerebral olavista profunda. E juro também que, mesmo que o dinheiro que o Safadão recebesse fosse o mais limpo e reluzente, não iria para um show dele. Não me apetece, sua música. Não podemos parar de tocar música tão nobre quanto a de Stravinsky. (Agora, tocar Stravinsky na Ucrânia, nesse momento está longe de ser uma boa ideia.)


E tem casos mais complicados. Monteiro Lobato sendo o mais emblemático. Era racista, defendia o nazismo e a eugenia. Os livros são excepcionais. Nesse caso, cada um que adote sua postura. Eu, por exemplo, não consigo mais ler O Sítio do Pica-Pau Amarelo. Simplesmente não rola. Mas consigo escutar Wagner. É que, no caso de Wagner, acho eu, o tempo tornou sua postura irrelevante e sua música relevante.


O fato é que, na arte, sempre se buscou valorizar a obra, a despeito do comportamento do artista. Sinto que isto está para mudar e, talvez, precise mudar, mas seria uma perda cultural enorme. O que nos resta fazer é esperar. O tempo resolve tudo.


Mas e você? O que acha disso tudo? Comente aí embaixo!

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