Les Chansons de Bilitis (Pierre Louÿs)
Em 1894, o poeta francês Pierre Louÿs publicou uma coleção de poemas eróticos chamada As Canções de Bilitis. Segundo o poeta, ele apenas havia traduzido de manuscritos gregos encontrados em um túmulo no Chipre. Eram narrados por Bilitis, uma cortesã contemporânea de Sappho. À maneira de Sappho, os poemas eram eróticos, de teor lésbico e entusiasmaram até os maiores estudiosos.
Ocorre que era uma farsa. Louÿs havia criado, ele mesmo, os poemas e os publicado como se fossem traduções. Como disse, até os mais cultos estudiosos da cultura grega caíram na mentira. O poeta havia emulado com habilidade a escrita clássica e tinha até dedicado uma seção do livro a uma fictícia biografia de Bilitis.
Os 143 poemas em prosa tratavam da intimidade de Bilitis, de sua infância até a velhice. O trabalho, que ficou conhecido como uma pseudotradução, continha uma biografia de Bilitis, do arqueólogo fictício que havia descoberto os poemas e até uma seção não traduzida (em grego clássico).
Embora fosse muito elaborado, com versos próprios de Louÿs e outros emprestados até mesmo dos escritos de Sappho, e com alusões a brincadeiras e costumes gregos antigos, a mentira não tardou a ser descoberta. Mas isso não afetou a popularidade do livro, e Louÿs, em vez de criticado, foi acolhido e celebrado pela sua engenhosidade.
Les Chanson de Bilitis (Claude Debussy)
Três anos depois, o compositor e amigo de Louÿs, Claude Debussy (1862-1918), musicou 3 dos poemas, para soprano e piano. Mas não é isso que nos interessa.
Um pouco mais tarde, em 1900 ele compôs o trabalho que nos detém aqui. Fez uma espécie de música de cena para 12 dos poemas que ele chamou de Música Cênica para As Canções de Bilitis, ou simplesmente As Canções de Bilitis.
Uma mulher lia os poemas e, entre um e outro, havia a música mágica de Debussy. A instrumentação era: duas flautas, duas harpas e celesta, além da narradora. A obra não foi e não é um sucesso, aparentemente tendo apenas uma apresentação na vida de Debussy. Hoje mesmo a peça é pouco conhecida.
Posteriormente, em 1914, ele aproveitou a música para compor as Seis Epígrafes Antigas, para piano, estas, celebradas e tocadas até hoje.
A peça de que tratamos aqui é a Música Cênica para as Canções de Bilitis, que passaremos a chamar de Canções de Bilitis.
Quando eu tinha uns 14 anos ganhei um CD do The Nash Ensemble com música de câmera de Debussy. Fiquei apaionado, porque foi por onde eu descobri sua música. A última obra era exatamente uma interpretação das Canções de Bilitis. Eu não entendia francês muito bem, apenas o suficiente para me encantar.
Chant Pastoral
Il faut chanter un chant pastoral, invoquer Pan, dieu du vent d'été. Je garde mon troupeau et Sélénis le sien, à l'ombre ronde d'un olivier qui tremble. Sélénis est couchée sur le pré. Elle se lève et court, ou cherche des cigales, ou cueille des fleurs avec des herbes, ou lave son visage dans l'eau fraîche du ruisseau. Moi, j'arrache la laine au dos blond des moutons pour en garnir ma quenouille, et je file. Les heures sont lentes. Un aigle passe dans le ciel. L'ombre tourne: changeons de place la corbeille de figues et la jarre de lait. Il faut chanter un chant pastoral, invoquer Pan, dieu du vent d'été.
Canto pastoril (tradução livre)
Devemos cantar um a canção pastoril; invocar
Pan, o deus do vento verão. Guardo o meu
rebanho e Selénis, o seu, à sombra redonda
de uma oliveira que estremece.
Selénis está deitada no prado.
Levanta-se e corre, ou procura cigarras, ou
colhe flores com ervas, ou passa
a água fresca do ribeiro pelo rosto.
Eu, eu arranco lã do dorso branco dos
carneiros para prover a minha roca, e fio.
As horas são lentas.
Uma águia passa pelo céu.
A sombra gira: mudemos de lugar o cesto das flores
e o jarro de leite.
Devemos cantar um a canção pastoril; invocar
Pan, o deus do vento verão.
A obra
Os poemas são, como você viu acima, bem sutis e se fazem de cotidianos. São finamente elaborados. A música que Debussy proveu é simplesmente maravilhosa, constando, às vezes, simplesmente de climas com melodias vagas. A execução dura pouco mais de meia hora.
Gravações recomandadas
As que eu recomendo são justamente as duas que conheço, ambas muito boas. Aliás, os discos que as contém são fabulosos:
- Ensemble Wien-Berlin, narrado por Catherine Deneuve.
- The Nash Ensemble, narrado por Delphine Seyrig.
E, como sempre, o encorajamos a comentar. Nosso dever é difundir a música clássica, e não sabemos exatamente se estamos conseguindo. Às vezes parecemos rádio-amadores, transmitindo para as galáxias (possivelmente) solitárias.
Seu comentário faria muita diferença. Pode ser de pirraça, de elogio, de desabafo, de conversa. O que for. Agradecemos.
Algumas postagens importantes, quadro que ficará sendo eternamente atualizado.
Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia.
Um "pequeno" Glossário de termos musicais.
Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica
Veja aqui: Como Ouvir Música Clássica
As Melhores Orquestras do Mundo:
Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info).
Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de avião, em 1949.
Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021.
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Papo de Arara (Entrevistas)
E, como sempre, o encorajamos a comentar. Nosso dever é difundir a música clássica, e não sabemos exatamente se estamos conseguindo. Às vezes parecemos rádio-amadores, transmitindo para as galáxias (possivelmente) solitárias.
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