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  • Foto do escritorRafael Torres

Chopin - Os Prelúdios, Op. 28 - Análise

Em 1839, Frédéric Chopin publica seu caderno de 24 Prelúdios Op. 28, cada um em uma tonalidade diferente (como J. S. Bach havia feito nos seus dois cadernos chamados "O Cravo Bem Temperado"). Enquanto os de Bach podem ser tocados separadamente, os de Chopin funcionam melhor tocados todos juntos, e na ordem em que estão publicados. É como se fosse uma grande obra formada por pequenas peças. Mesmo assim, às vezes, a gente ouve um ou dois sozinhos, em um concerto, especialmente como encore (bis).


Frédéric Chopin num famoso quadro de Eugène Delacroix, de 1838.
Frédéric Chopin num famoso quadro de Eugène Delacroix, de 1838.

No inverno de 1838, Chopin vai com Georges Sand e os filhos dela para Mallorca (Espanha): morando em Paris desde 1830, o compositor polonês sofria com o frio, sobretudo porque tinha tuberculose. É nessa viagem que ele compõe uma boa parte dos Prelúdios. Ele dedica a obra a Camille Pleyel, o famoso fabricante de pianos da capital francesa, que lhe pagou 2 mil francos (equivalente a 30.000 euros hoje).


É uma obra bem característica do romantismo, em que cada prelúdio tem um caráter sentimental forte, por vezes arrebatador. Alguns são mais fáceis de tocar, outros são extremamente virtuosísticos. Dura em torno de 33 a 35 minutos.


A Obra


Abaixo, o genial pianista russo Mikhail Pletnev executa os 24 prelúdios.

Prelúdio 1, em Dó maior - Agitato

Uma bela e nobre introdução. Hans von Bülow o apelidou de "Reunião", como se ele estivesse fazendo uma recapitulação mental de tudo que sabe para então mostrar toda a sua criatividade.


Prelúdio 2, em Lá menor - Lento (46s)

Meditativo, lento, belo e simples, com uma melodia (de notas longas) na mão direita e o acompanhamento na esquerda. No final ele faz uma cadência surpreendente, como se fosse modular para Mi maior, mas depois ajeita e termina em lá menor.


Prelúdio 3, em Sol maior - Vivace (3m20s)

Esse aqui é um prelúdio com jeitinho de toccata. Meio brincalhão. A mão esquerda faz um movimento perpétuo bem ligeiro até o final.


Prelúdio 4, em Mi menor - Largo (4m20s)

Esse é o mais famoso, talvez. Tom Jobim se inspirou nessa bela melodia e, principalmente, na expressiva harmonia cromática, para fazer sua "Insensatez". Tem desenvolvimento, o que o torna um pouco mais comprido. No funeral de Chopin essa peça foi executada em um órgão.


Prelúdio 5, em Ré maior - Molto allegro (6m31s)

Leve e divertido, conta com uma escrita fragmentada, como era típico de Chopin.


Prelúdio 6, em Si menor - Lento assai (7m07s)

Esse prelúdio lembra o Nº 4, o que nos dá uma sensação de retorno. Mas é outra música, com o mesmo tom funesto. Desta vez a melodia está na mão esquerda, a direita fazendo os acordes.


Prelúdio 7, em Lá Maior - Andantino (9m18s)

Este intrigante prelúdio é curtíssimo. Lindo, um dos favoritos do público. Lembra uma valsa que nunca começa. Ou uma Mazurka, uma dança polonesa que rendeu muitas composições de Chopin.


Prelúdio 8, em Fá Sustenido menor - Molto agitato (10m02s)

Aqui já é o típico Chopin agitado, transtornado, inquieto... A escrita já é mais pianística do que os anteriores, não dá pra tocar em outro instrumento.


Prelúdio 9, em Mi maior - Largo (11m54s)

Esse prelúdio consiste mais de uma progressão harmônica que de uma melodia em si.


Prelúdio 10, em Dó Sustenido menor - Molto allegro (13m14s)

Super ligeiro, com uma ideia musical meio macabra, diabólica, bem Chopin.


Prelúdio 11, em Si maior - Vivace (13m50s)

Mais tranquilo, só que sem ser triste.


Prelúdio 12, em Sol Sustenido menor - Presto (14m46s)

É bem virtuosístico, embora Pletnev aí em cima toque um pouco devagar.


Prelúdio 13, em Fá Sustenido maior - Lento (16m03s)

Esse também é muito bonito. Lembra um pouco um Impromptu de Schubert. Tem uma modulação belíssima (17m28s). É em forma A-B-A.


Prelúdio 14, em Mi Bemol menor - Allegro (19m27s)

Alfred Cortot chamou esse aqui de "Medo". Também é muito típico de Chopin.


Prelúdio 15, em Ré Bemol maior - Sostenuto (20m05s)

Já esse aqui é tranquilidade total. Sereno e belo. É o chamado "Pingo de Chuva" (Raindrop). Tem uma parte central mais séria (21m32s), com umas notas repetidas que nos trazem de volta o "medo" do prelúdio anterior. Mas a tranquilidade volta. Também é muito conhecido, sendo às vezes tocado sozinho. É o mais longo de todos do grupo. Termina quase em estado de devaneio.


Prelúdio 16, em Si Bemol menor - Presto con fuoco (25m06s)

Rápido e com fogo (Presto con fuoco). É um dos mais difíceis. Lembra um Impromptu, também, mas do próprio Chopin.


Prelúdio 17, em Lá Bemol maior - Allegretto (26m11s)

Um dos mais longos, também é tranquilo e melódico. Era o favorito de Robert e Clara Schumann e de Mendelssohn. Tem uma recapitulação com uma harmonia difusa (28m20s) extremamente interessante.


Prelúdio 18, em Fá menor - Molto allegro (29m31s)

Esse aqui me lembra o finale da 2ª Sonata. É impossível de ser cantado (sem ficar ridículo). É bem curtinho e explora bem a técnica do pianista.


Prelúdio 19, em Mi Bemol maior - Vivace (30m35s)

Por falar em técnica, esse aqui é provavelmente o mais difícil de todos, com suas figuras arpejadas. Embora não pareça.


Prelúdio 20, em Dó menor - Largo (32m08s)

Esse é bem carregado, com uma harmonia dotada de personalidade. É como uma série de cadências.


Prelúdio 21, em Si Bemol maior - Cantabile (33m45s)

Com uma melodia simples na mão direita e uma harmonia cromática na esquerda, é um prelúdio encantador.


Prelúdio 22, em Sol menor - Molto agitato (35m23s)

Muito agitado (Molto agitato) e atormentado, chamado por Alfred Cortot (um grande pianista que, por algum motivo, colocou um apelido para cada um dos prelúdios) de "Rebelião".


Prelúdio 23, em Fá maior - Moderato (36m10s)

A melodia passeia entre as duas mãos, com um clima meio encantado.


Prelúdio 24, em Ré menor - Allegro appassionato (37m08s)

Também bastante virtuosístico, esse prelúdio. Confere um final triunfante e brilhante para a peça.


Gravações Recomendadas


É simples. Todo grande pianista já gravou esse livro de prelúdios, mas basta você escutar as versões de Martha Argerich (um trovão) e Nelson Freire (a perfeição). Eu disse basta, mas como são peças bastante expressivas, elas abrem espaço para infinitas interpretações, de forma que é bem divertido ver o que cada pianista faz com elas. Também confira Jorge Bolet, Vladimir Ashkenazy, Claudio Arrau e o próprio Alfred Cortot, numa gravação antiga, mas muito interessante.


Martha Argerich -


Nelson Freire (disco 5) -


Jorge Bolet (ao vivo no Carnegie Hall) -


Alfred Cortot -

ou



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