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Benjamin Britten - Guia da Orquestra para Jovens - Análise

O compositor inglês Benjamin Britten (1913-1976) pertence ao renascimento inglês, de que falo nessa postagem. Não se trada da renascença. É que a Inglaterra passou quase dois séculos sem apresentar um compositor realmente importante. Depois, no final do século XIX as coisas voltaram ao normal. Houve uma profusão de novos compositores pós românticos e modernos de extrema competência que atingiram fama mundial.

Compositor, pianista e regente Benjamin Britten.
Compositor, pianista e regente Benjamin Britten.

Nascido em Suffolk, em 1913, Britten era um talento. Compunha, regia e tocava piano com habilidade. Muito de sua música é operática ou para solista, mas ele tem peças puramente orquestrais.


Apresentamos o Guia da Orquestra Para Jovens (com o subtítulo Variações e Fuga Sobre um Tema de Purcell), que ele compôs em 1945 como uma espécie de tema com variações sobre um tema de Henry Purcell. A ideia era que a obra servisse de guia para que se conhecessem os instrumentos e naipes da orquestra. No artigo acima mencionado, eu falo dessa tendência que os britânicos modernos tinham de homenagear os britânicos da renascença e do barroco. Purcell (1659-1695) fora um compositor Barroco de extrema importância.

Henry Purcell
Henry Purcell, compositor barroco

Sua suíte Abdelazer serviu como inspiração para o nosso Britten, especificamente o Rondó, do segundo movimento. É um tema encantador, heróico desde sua concepção.


Escrita para um consorte pequeno de cordas, com contínuo, como era praxe na época, Britten o apresentou de forma sinfônica, que jamais seria a intenção de Purcell.


O fato é que funcionou. A obra de Britten é uma perfeita introdução para o entendimento da orquestra, baseada em um tema que não é orquestral (ao menos no sentido atual).


É uma homenagem àquele que foi um dos 2 ou 3 maiores compositores barrocos da Inlgaterra.


Observe a obra original no vídeo abaixo, executado pelo conjunto Voices of Music, especializado em música antiga. Quero que repare na secura das articulações, na completa falta de exageros de dinâmica e no tempo acelerado.


E agora, a versão dilatada e e retrabalhada por Benjamin Britten, executada pela WDR Orchester de Colônia, sob a regência de Jukka Pekka Sasaste. Para começar, temos uma orquestra moderna, e uma bastante grande, com um naipe de percussões avantajado.

A Obra

A peça foi encomendada para um programa educacional britânico chamado Instrumentos da Orquestra, em 1946. Em algumas execuções e gravações, a narração original do documentário é aproveitada, narrada pelo maestro ou por um narrador dedicado.


Britten extraiu esse tema, que sempre foi conhecidíssimo, e fez uma série de variações, destacando os naipes e instrumentos individuais da orquestra. A peça dura cerca de 15 minutos, bem mais que os 2,5 da obra de Purcell.


A orquestração é grandiosa:

1 Piccolo

2 Flautas

2 Clarinetes

2 Oboés

2 Fagotes

4 Trompas

2 Trompetes

3 Trombones

1 Tuba

Percussão: Tímpanos, Bombo Sinfônico, Pratos, Tamborim, Triângulo, Caixa Clara, Woodblocks, Xiolofone, Castanholas, Tamtam e Chicote

Violinos 1

Violinos 2

Violas

Violoncelos

Contrabaixos


Análise


Não há o muito o que analisar na obra, é um simples tema com variaçõs. Mas as aparições dos instrumentos servem para nos fazer conhecê-los. A peça já começa com o tema principal, de Purcel em tutti, toda a orquestra (5s). Aos 24s o tema ameaça ser repetido, mas cai na relativa maior, assim como na música de Purcell. Agora ele vai mostrar os naipes da orquestra. Nesse trecho (27s), as madeiras (flautas, clarinetes, oboés, e fagotes) são protagonistas. Aos 51s, ele apresenta os metais (trompas, trompetes, trombones e tuba), em nova modulação (Mi bemol maior). Em 1m10s é a vez das cordas (violinos 1 e 2, violas, violoncelos e contrabaixos), em Sol menor. Por fim, aos 1m26s ele apresenta as percussões, no que me parece ser um Lá maior.


O tema volta em tutti, majestosamente a 1m42s.


Veja que cada naipe apresentou basicamente o mesmo tema, mas com caracteres diferentes. No tutti ele vem majestoso e marcial; quando as madeiras apresentam, ele aparece de maneira mais doce, em estilo toccata; os metais o trazem em tom dramático e sério; as cordas, tocam com nobreza e de modo escuro; a percussão, por fim, traz o tema quase irreconhecível, num formato que não nos é muito familiar, mas com uma escrita excepcional.


A seguir começam as variações em si, em que ele destacará grupos que contêm o mesmo instrumento (as 2 flautas, os 2 oboés etc.). No final vem a fuga, que mistura e transborda a criatividade do compositor num dos momentos sinfônicos mais emblemáticos da história da música.


Variação A - Presto (2m02s)

Flautas e Flautim


Começamos pelas madeiras, com uma variação que mostra o tímbre e a agilidade das flautas.





Variação B - Lento (2m35s)

Oboés


Na variação dedicada aos oboés, Britten escolheu evidenciar o lirismo quase melancólico de que esse instrumento é capaz.






Variação C - Moderato (3m38s)

Clarinetes


Os clarinetes são mostrados em sua face mais jocosa, como instrumentos quase onomatopéicos, também muito ágeis.




Variação D - Allegro alla marcia (4m20s)

Fagotes


Os fagotes são os instrumentos graves da família das madeiras, mas são capazes de expressar um lirismo e uma cantabilidade únicos.







Variação E - Brillante: alla polacca (5m13s)

Violinos


Entra a sessão das cordas. A orquestra comporta cerca de 30 violinos (16 primeiros e 14 segundos), os instrumentos mais abundantes, muitas vezes detentores das melodias principais.





Variação F - Meno mosso (5m50s)

Violas


As violas são maiores que os violinos e em quantidade menor (cerca de 12). Seu tímbre é rico, escuro, muitas vezes dramático.




Variação G - Lusingando (6m45s)

Violoncelos


Os violoncelos aparecem em número de 8 a 10, sendo uma sessão importantíssima. Seu som grave é análogo ao de uma voz humana.


Variação H - Cominciando lento ma poco a poco accel. al Allegro (7m55s)

Contrabaixos


Aos contrabaixos (6 a 8) não costumam ser confiadas melodias, ficando eles mais responsáveis pela base harmônica da peça. Vemos aqui uma rara aparição melódica do instrumento mais grave da sessão das cordas.








Variação I - Maestoso (8m55s)

Harpa


A harpa é da sessão das cordas, também, mas não está presente em todas as obras. Quando aparece, pode ser uma ou duas (raramente mais). Seu gesto típico é o arpejo, que é uma sucessão ascendente ou descendente de notas.








Variação J - L'istesso tempo (9m45s)

Trompas


Entrando na sessão dos metais, as trompas (que podem ser 2, 4 ou até 8) mostram seu trabalho em grupo, já que é mais comum ouvir o naipe inteiro das trompas do que uma trompa solista.

Variação K - Vivace (10m33s)

Trompetes


Os ágeis e agudos trompetes (geralmente 2 a 4) aparecem nessa seção viva e rápida, aqui, em diálogo com a caixa clara (percussão).


Variação L - Allegro pomposo (11m02s)

Trombones e tuba


Os trombones e a tuba são tratados como complementares. A tuba atinge as notas mais graves, mas tem um tímbre parecido. Observe o caráter marcial dessa seção.



Variação M - Moderato (12m12s)

Percussão


As percussões são muito variadas: os tímpanos tocam notas graves, percussivas, mas com altura definida. No naipe das percussões também aparecem os instrumentos de baquetas, como o xilofone (13m03s).


Fuga - Allegro molto (14m12s)

Tutti


A grande seção final da obra, uma fuga, começa com o flautim, seguido pelas flautas. Aos poucos, outros instrumentos do naipe de madeiras também vão se aglomerando. Depois, entram as cordas e depois os metais e a percussão.


Os trombones anunciam a volta do belo tema de Purcell no coda.


Gravações recomendadas


- Benjamin Britten, regendo a Sinfônica de Londres - Eu escutava várias gravações dessa música, até descobrir a gravação do próprio compositor, de 1963. É de uma vivacidade e controle excepcionais. E a orquestra está sensacional.


- Lorin Maazel, regendo a Orquestra Nacional da França - Para uma versão com narração, esta, de Maazel, de 1962, é perfeita. É comum encontrarmos a narração do maestro em inglês, mas o próprio Maazel gravou a narração também em português (fora casado com uma brasileira). Tenho essa versão em vinil. Ele narra (na versão em português) tanto Pedro e o Lobo, de Prokofiev, quanto o Guia da Orquestra para Jovens.


- Andrew Davis, com a Sinfônica da BBC de Londres - Uma versão um pouco mais moderna (de 1991). Essa orquestra, que com Davis viveu um de seus melhores momentos, está impecável e toca com extrema confiança e técnica.


- Richard Hickox, com a Sinfônica de Bournemouth - Também muito bem tocada e regida por um especialista em Britten, essa versão é de um impacto singular. Muito ritmada e marcada, nem por isso deixa de ter momentos líricos, como os belos solos de oboé. É de 1995.



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