Não é muito a intenção do blog ficar apontando as "10 músicas clássicas para relaxar", ou "10 músicas clássicas mais lindas de todos os tempos" etc. Mas, afinal, quem não é familiarizado com música clássica fica perdido, sem saber por onde começar. Pois eu digo: pegue qualquer uma das sinfonias abaixo e escute com atenção. Se for difícil ficar 1h escutando uma música (até pra mim, às vezes, é cansativo), pegue o primeiro movimento da obra. Geralmente ele vai durar entre 10 e 15 minutos, e é a alma da sinfonia.
Faça isso: dê o play e escute alguns segundos. Depois, a próxima, e a seguinte, até achar uma que te cative. Aí, se dedique a ela. É muito melhor conhecer bem um movimento de uma sinfonia do que conhecer todas elas mal - e isso vale até pra quem é amante de música clássica.
Então, venha comigo explorar, em ordem cronológica, as 10 sinfonias chaves do repertório.
Mozart - Sinfonia Nº 41 "Júpiter" (1788)
A única sinfonia propriamente clássica, isto é, do período musical conhecido por "Classicismo", que eu incluí na lista. As outras, a maioria, pertencem ao "Romantismo", ou seja, são do século XIX.
Wolfgang Amadeus Mozart tem sinfonias mais atraentes, como a 40ª. Mas essa aqui é infinita. Você escuta 100 vezes e não esgota os seus segredos. Foi a última sinfonia que ele compôs, 3 anos antes de morrer.
O nome "Júpiter" não foi dado por Mozart, só apareceu depois de sua morte. Tem a ver com as tormentas do planetão e a música meio tempestuosa.
Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Simon Rattle - Orchestra Mozart, regente: Claudio Abbado
Beethoven - Sinfonia Nº 3 "Eroica" (1804)
Esta Sinfonia é rebelde. A norma culta da música de então tinha padrões muito firmes, não acontecia nada de muito arrebatador numa obra. Os tempos eram bem quadrados, os temas eram bonitos e a orquestra usava principalmente os violinos, com os sopros apenas pontuando agumas ideias. Mas com a "Eroica", Beethoven traz acordes tronchos, acentuações rítmicas em tempos inusitados e uma orquestração muito diversificada.
Tão inovadora é a sinfonia, que seu primeiro ensaio foi um desastre. Os músicos não sabiam o que fazer, as acentuações eram inusitadas, a hora de entrar era esquisita, até os temas eram muito fortes. O que, claro, significa que é genial.
Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Claudio Abbado
Berlioz - Sinfonia Fantástica (1830)
Esta é a Sinfonia que moldou a música do romantismo. Hector Berlioz fala de delírios, tem toda uma história, é descritiva. Cada movimento tem sua personalidade: uma valsa, um pesadelo, uma decapitação... Além de a orquestração ser magnífica.
Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Boston (Boston Symphony Orchestra) - Regente: Seiji Ozawa.
Bramhs - Sinfonia Nº 1 (1876)
Johannes Brahms tinha um problema. A comunidade germânica inteira esperava por um herdeiro de Beethoven. Sobretudo um grande sinfonista. Ele levou 14 anos preparando essa Sinfonia que, em compensação, acabaria por ser apelidada de a 10ª de Beethoven.
Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Herbert von Karajan.
César Franck - Sinfonia em Ré Menor (1888)
O belga César Franck compôs apenas uma Sinfonia. Ela é importantíssima porque faz uso do chamado tratamento temático cíclico, em que as ideias de um movimento invadem os outros. E é linda.
Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony Orchestra) - Regente: Pierre Monteux.
Dvořák - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo" (1893)
Antonin Dvořák era um compositor de melodias nato. Todos os temas dessa sinfonia ficam na nossa cabeça. É uma das mais fáceis de gostar, embora tenha quem não curta sua força trágica. É a "Sinfonia do Novo Mundo", porque ele a escreveu nos Estados Unidos.
Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra) - Regente: Eugene Ormandy.
Tchaikovsky - Sinfonia Nº 6 "Patética" (1893)
Essa é uma das Sinfonias mais profundas já escritas. Pyotr Tchaikovsky possivelmente sabia que ia morrer ou até planejara isso (veremos em um post dedicado). E a concebeu como um Réquiem, uma despedida. Repare que ela parece terminar ao fim do 3º movimento, mas vem um 4º. E este, acaba aos poucos, morrendo...
Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan - Orquestra Filarmônica de Nova Iorque (New York Philharmonic), regente: Leonard Bernstein
Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2 (1907)
As sinfonias de Sergei Rachmaninoff demoraram a ser reconhecidas. Foi lá pelos anos 70, muito depois da sua morte. Essa, a Segunda, é seguramente a mais bela. Especialmente em seu primeiro e terceiro movimentos.
Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Lorin Maazel.
Mahler - Sinfonia Nº 9 (1910)
Gustav Mahler tinha tanto medo de morrer depois da 9ª sinfonia, como tantos compositores, que depois da oitava escreveu uma sinfonia sem número: "A Canção da Terra". Só então escreveu a nona. E morreu. É uma bela obra, um momento de perdão e de conciliação com a morte.
Gravações recomendadas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Claudio Abbado - Orquestra Filarmônica de Seul (Seoul Philharmonic), regente: Myung-Whun Chung
Shostakovich - Sinfonia Nº 5 (1937)
Dmitri Shostakovich escreveu essa sinfonia quando estava mal aos olhos do regime soviético. Sua 4ª tinha sido considerada subversiva. Nessa época, muita gente sumia só por ser subversivo. Mas a Quinta ele fez pra agradar ao Kremlin, e, ao mesmo tempo, deixar um recado de cumplicidade aos seus companheiros soviéticos - é que, por baixo de todo o triunfo que a obra representa, ela é repleta de ironia e de significados.
Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Semyon Bychkov.