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Foto do escritorRafael Torres

A Música Mais Lenta do Mundo: John Cage

A obra do compositor norte-americano John Cage é composta mais por manifestos do que por música. É dele a famosa 4'33''. Que consiste em 4 minutos e 33 segundos de total silêncio. Como a música está aberta ao que acontece na sua duração, isso inclui a reação do público, tosses nervosas ou até vaias e gritos de reprovação. A peça não tem o mesmo efeito se gravada, mas isso nunca impediu ninguém de fazê-lo. Um dos exemplos é a pianista (embora não use uma nota sequer, a peça é para piano!) georgiana Khatia Buniatishvili, que gravou no seu disco Labyrinth.

Confesso que não tenho muita paciência com esse tipo de statement (declaração), em que a intenção é mais importante que a obra em si. No caso dessa peça, Cage ainda inventa de se explicar com uma visão superficial e americanamente simplificada da filosofia budista. "Tudo é permitido, se o zero é tomado como base". Esse tipo de explicação aparentementemente profunda e cheia de referências é o que me enche o saco em certas vertentes da arte moderna, como a de Zé Celso. No fundo o que eles querem é provocar. Mas depois falo sobre isso.


O que eu vim aqui pra falar foi da música mais comprida do mundo. As Slow as Possible (Tão Lento Quanto Possível) foi composta por Cage em 1987. Uma performance pode levar cerca de uma hora, mas no órgao, instrumento em que o som nunca morre, e levando em consideração o título, ela pode durar uma eternidade. Na verdade, uma performance dela começou em 2001 e pretende acabar apenas em 2640.

A, digamos, apresentação, é na Igreja St. Burchardi, em Halberstadt, na Alemanha. Você pode ouvi-la, e poderá por muito tempo, no site https://www.aslsp.org/de/. Pra você ter uma ideia, como ela começa com uma pausa, demorou 17 meses até que se ouvisse o primeiro som. A última mudança ocorreu em setembro de 2020, e a próxima, em fevereiro de 2022. Eu acho bizarro.


Mas o experimento de se ter uma música cuja execução é transgeracional é interessante. A música podia tomar dois caminhos: fazer sentido o tempo todo, para que qualquer um soubesse o que se passa, ou só fazer sentido se apreciada em sua completude, que é o caso aqui. Como ninguém vai viver pra ver o desenrolar da peça, é um experimento mais pro ramo da curiosidade do que da musicologia. Um statement no seu sentido mais clássico.


Se quiser ouvir música mais... mmm... competitiva, confira nossas listas:


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