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Foto do escritorRafael Torres

10 Discos para Entender Villa-Lobos

Digo logo que é pouco. 10 discos não abarcam muito da obra de Villa-Lobos, que era um compositor altamente prolífico. Mas os 10 que escolhi vão lhe fazer se apaixonar por essa música rica, bela, por vezes extravagante, mas absolutamente cativante.



Sugiro que, se não conhece o compositor, procure escutar qualquer disco da lista. Devagarzinho. Escute obras curtas, depois mais longas, depois discos inteiros. Não vou dizer que, se terminar essa lista, será um especialista em Villa-Lobos (vai faltar muita coisa na lista), mas vai despertar seu interesse e lhe colocar a par da linguagem única do compositor, repleta de referências brasileiras, impressionistas, modernas e folclóricas.


I. Obras para Piano - Cristina Ortiz (1987)


Nesse disco fenomenal você vai conhecer a música para piano de Villa, ainda desconhecida fora do Brasil. A seleção que Cristina fez foi ultra sensível. Posso dizer que não passo uma semana sem ouvir.


Atenção para as Bachianas Nº 4, versão para piano, tocadas completas; a Caixinha de Música Quebrada; o Poema Singelo; Saudades das Selvas Brasileiras Nº 2; As Três Marias; a Valsa da Dor; e o Ciclo Brasileiro, talvez a obra mais importante de Villa-Lobos para o piano.


Cristina Ortiz é uma pianista absurda, que não tem nada a provar: é provavelmente, ao lado de Sônia Rubinsky, a maior intérprete de Villa-Lobos do mundo.


 

II. Pequena Suíte, Bachianas Brasileiras 2, 5 e 6 - Vários músicos (1994)



Outra pérola daquelas que a gente não cansa de ouvir, esse CD da Marco Polo traz obras de câmera importantes do compositor.


A Pequena Suíte é uma graciosa peça Romântica com 6 pequenos movimentos para voiloncelo e piano. Rebecca Rust e David Apter se encarregam da interpretação exemplar.


Depois temos as Bachianas Nº 6, que é uma das menores e é para flauta e fagote. O flautista é ninguém menos que Emmanuel Pahud, flautista principal da Filarmônica de Berlim e um dos melhores do mundo. Essa Bachiana é uma coisa séria. No primeiro movimento, a flauta fica fazendo ornamentos, quase alheia ao fagote. Mas é o fagote que toca a melodia, um choro de doer. A execução é brilhante.


A violoncelista Rebecca Rust e o pianista David Apter ainda tocam reduções e adaptações de trechos das Bachianas Nº 2 (O Trenzinho do Caipira) e Nº 5 (uma das mais conhecidas). Além de um belo Capricho, de uma Elegia e de um Prelúdio.


No final, temos a maravilhosa Assobio a Jato, uma peça em 3 movimentos para piano, violoncelo e flauta.


 

III. Villa-Lobos: Concertos & Instrumental Works (coletânea de 1998)



Aqui temos novamente a Cristina Ortiz tocando a parte do piano das Bachianas Brasileiras Nº 3 e o Momoprecoce, acompanhada pela New Philharmonia Orchestra (nome provisório da Philharmonia, de Londres), regida pelo magistral Vladimir Ashkenazy, que é bom em tudo (todo tipo de repertório e como regente e como pianista).


No segundo CD (sim, é duplo) tem o conhecidíssimo Concerto para Violão e Pequena Orquestra, com o violonista Angel Romero, a Filarmônica de Londres e o regente Jesús Lópes-Cobos; a Fantasia para Sax Soprano e Orquestra de Câmara, com John Harle no saxofone e a orquestra Academy of St. Martin in the Fields, regida por Neville Marriner.


E ainda temos Cristina tocando peças que não estão no primeiro disco da lista: A Prole do Bebê Nº 1 (uma pequena suíte de 7 peças representando brinquedos do bebê), A Lenda do Caboclo e a Alma Brasileira (que é o Choros Nº 5).


 

IV. Obra Completa para Violão Solo - Fábio Zanon (1997)



Um dos maiores violonistas brasileiros e do mundo toca a obra completa para violão solo (que cabe em um CD). Essas peças (5 Prelúdios, 12 Estudos e a Suíte Popular Brasileira) já foram gravados pelos maiores violonistas espanhóis, americanos, russos e japoneses, mas sem o elán de Zanon.


A obra de Villa-Lobos para violão é importantíssima, pois explora o lirismo, a cantabilidade, o ritmismo e a polifonia do instrumento com uma facilidade assombrosa.


 

V. Sinfonia Nº 12, Uirapuru e Mandu-Çacará - OSESP, Isaac Karabtchevsky (2015)



Estou listando majoritariamente músicos brasileiros tocando Villa. Isso não significa que ele não seja gravado no exterior. Apenas que nós brasileiros, habituados à linguagem do choro, falamos a língua do compositor. Lembro de um CD em que a pianista estrela (e genial) Khatia Buniatishvili gravou a Alma Brasileira de uma maneira peculiar, diferente de tudo com que estamos acostumados. É uma interpretação limpa e válida, mas Cristina Ortiz, Sônia Rubinsky, Nelson Freire e Miguel Proença tocam com muito mais naturalidade.


Nesse CD da OSESP (Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo) ocorre o mesmo. O poema sinfônico Uirapuru nunca soou tão amazônico. A Sinfonia Nº 12 em si, minha favorita, é uma maravilha. Karabtchevsky mostrou que é verdadeiramente um especialista em Villa-Lobos. Mandu-Çarará é uma peça de 13 minutos e meio para orquestra e coro.


 

VI. Obras para Piano - Nelson Freire (1974)


É impossível não mencionar esse disco gravado em 1974 pelo grande Nelson Freire. O repertório já tem quase todo aqu na lista: A Prole do Bebê Nº 1 e As Três Marias com a Cristina Ortiz. Se você for perspicaz, notará a diferenciação com que ele toca As Três Marias, fazendo as estrelinhas brilharem. É o único caso em que eu o coloco acima dela.


Mas o disco tem novidades. O gigantesco Rudepoêma, uma peça para piano solo de 18 minutos que Villa-Lobos escreveu em homenagem ao pianista Arthur Rubinstein, que é de uma riqueza sem fim.


 

VII. Bachianas Brasileiras Nº 2 e Nº 5 e Concerto para Violão - Krivine (1994)



Aqui temos as Bachianas Nos. 2 e 5 completinhas (no 2º CD da lista elas apareceram em versões adaptadas e cortadas). A verdade é que a tem 4 movimentos e a , 2 movimentos.


Além disso, temos novamente o Concerto para Violão, com Roberto Aussel.


É um exemplo de disco muito bom tocado por estrangeiros. A Orquestra de Lyon e o regente Emmanuel Krivine demonstram reverência à obra do maior compositor das américas.


Tem, ainda, o poema sinfônico Amazonas em sua versão orquestral.


 

VIII. Choros 11, 5 e 7 - OSESP, Neschling, Ortiz (2008)



Os Choros são, juntamente com as Bachianas, as obras pelas quais Villa-Lobos é mais conhecido. O 11º é praticamente um grande concerto para Piano e Orquestra, com elementos rítmicos tipicamente brasileiros.


O é a Alma Brasileira, que já passou por aqui - uma peça de 5 minutos para piano solo.


O Choro Nº 7 é chamado "Settiminio" e é um septeto para flauta, oboé, clarinete, saxofone, fagote, violino e violoncelo (tem ainda a adição opcional de um tam-tam fora do palco, no final).


Para conhecer a obra de Villa-Lobos é essencial que se conheça os Choros, e esses três são ótimas opções para começar.


 

IX. Bachianas Brasileiras Nº 4, Nº5, Nº 7, Nº 9 e Choros Nº 10 - Michael Tilson Thomas


Aqui temos duas Bachianas novas, a e a , que não costumam ser muito gravadas. Além do Choros Nº 10, conhecido como "Rasga o Coração", para coro e orquestra, que deve ser o mais importante do grupo.


O regente americano Michael Tilson Thomas coloco um figurino tropical e posou perto de umas folhas de bananeira e com uma arara a tiracolo e fez essa gravação importantíssima.


A orquestra é a New World Symphony e o disco ainda tem a participação da soprano Renée Fleming.


 

X. Floresta do Amazonas - Neschling OSESP



Esta obra para orquestra, coro e soprano é uma das últimas e mais significativas de Villa-Lobos. Grandiosa, ocupa um CD inteiro, com seus 23 movimentos. Alguns destes movimentos, como a "Melodia Sentimental" e a "Canção de Amor", escaparam das salas de concertos e passaram a ser cantadas por cantores como Djavan, Maria Bethânia, Mônica Salmaso e outros.


Tudo começou quando a MGM contratou Villa para fazer a trilha sonora de um filme chamado Green Mansions, com Audrey Hepburn. Acontece que não ficou satisfeito com os cortes feitos na música para encaixar no filme e resolveu transformá-la nessa grande suíte sinfônica.


É mais uma obra que revela o profundo amor que Villa-Lobos tinha pelo nosso país, pela floresta, pelos indígenas. Aqui tem tudo. O Brasil todo está lá.


 

Considerações finais


Como falei, caberiam muitos mais discos aqui. "Uirapuru", por exemplo, foi gravado várias vezes, e todas as gravações são maravilhosas (Leopold Stokowski, Eleazar de Carvalho...). A pianista Sônia Rubinsky gravou, pela Naxos, toda a obra para piano solo dele. São 8 CDs. As Bachianas completas foram gravadas também várias vezes, a da OSESP com Roberto Minczuc sendo a mais bem-sucedida. Existem discos de piano de Miguel Proença, Roberto Szidon, Arthur Moreira Lima, obras para violoncelo com Antônio Meneses e uma infinidade de discos com a obra para violão. Faltaram os Choros de Câmera, as Sonatas para Violino, os Quartetos de Cordas (!) e as obras corais. Qualquer dia faço uma segunda lista para fazer justiça à obra do nosso amado compositor-patrimônio.


 

Como sempre, sinta-se encorajado a comentar, sugerir, criticar, elogiar, desabafar ou, simplesmente, trocar uma ideia.



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Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info).


Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de avião, em 1949.


Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021.


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